"Vou continuar me levantando quando eu cair no chão Oh, nunca vou desistir, não, nunca vou desistir, não. Vou encontrar o meu caminho para casa." Never Give Up

Já era de noite quando Brice teve a primeira visão, em um segundo estava dentro do seu quarto no orfanato e no segundo seguinte estava em pé olhando para uma janela alta, com uma visão para uma grande floresta. Havia uma tempestade. O vento e a chuva açoitavam os galhos das árvores. Não estava em Montemor.

Um barulho chamou sua atenção e foi quando se virou, Catarina estava em uma cama amarrada, suas roupas estavam sujas, seu rosto com manchas de lágrimas, mas ela estava com um olhar determinado tentando tirar suas amarras, uma tentativa vã, já que a posição que ela estava não permitia que conseguisse se mover com facilidade, seus braços estavam esticados, amarrados em cada lado da cama, o que dificultava qualquer tentativa de se levantar ou deitar, ela apenas podia ficar sentada. Brice olhou o quarto tentando descobrir onde estava, mas não descobriu muita coisa, era um quarto de um castelo, notou dois guardas vigiando a porta do lado de fora, mesmo que por um milagre Catarina conseguisse se soltar, o quarto era muito alto para conseguir sair pela janela, e era impossível sair pela porta.

"Brice por favor, para que serve a droga desse anel?" Catarina resmungou, mas era por causa do anel e da tentativa de Catarina em usa-lo que fez com que a bruxa tivesse a visão.

"Droga!" Brice resmungou quando foi sugada de volta para o seu quarto. Catarina estava em perigo, em um lugar que não tinha a menor ideia de onde era. Precisava avisar o rei imediatamente, mas como ela iria explicar o que sabia? Respirou fundo, não tinha alternativas, a vida de sua melhor amiga estava em risco. Ficou em pé e fechou os olhos antes de deixar as palavras fluírem por seus lábios "suscipe me in arce Montis Majoris" era um latim antigo, que traduzido significava: Leve-me até o castelo de Montemor.

Um vento forte soprou, e quando abriu os olhos estava em um dos corredores dentro do castelo, olhou ao redor para ver se alguém tinha notado sua presença, mas o corredor estava vazio.

"Tudo bem." Disse para si mesma, precisava achar Delano, sabia que não conseguiria chegar até o rei Afonso sozinha ou sem revelar sua identidade. Andou com passos rápidos pelos corredores até que encontrou um guarda.

"Eu preciso encontrar Delano urgente, é sobre a rainha Catarina." Brice falou e foi levada imediatamente para uma sala grande que ficava antes das portas de entrada do castelo.

Ela avistou Delano encostado na parede, conversando baixo com uma mulher, olhando mais de perto percebeu se tratar da dama de companhia da Catarina, Lucíola. Como nenhum dos dois não sentiram a falta de sua rainha?

"Brice?" Delano falou com surpresa em sua voz.

"Onde está a rainha?" ela falou com urgência, pela calma dele ainda não tinham dado falta dela. "Ela estava com você no inicio da manhã, depois disso não a vi. Você esteve com ela hoje Lucíola?" Ele perguntou virando-se para a mulher.

"Não, meu senhor, ela não requisitou minha presença hoje." A mulher falou como se pedisse desculpas.

"Bem como ela não saiu do castelo e nem precisou da dama de companhia, deve estar participando da reunião junto ao rei na sala de reuniões. Você precisa de algo?" Ele perguntou sem entender a urgência da mulher a sua frente.

"Ela não está lá, ela foi sequestrada!" Brice falou de uma vez.

"Impossível, somente pessoas autorizadas estão entrando no castelo e ninguém sai sem ser revistado" Ele falou convicto.

"Então vamos até essa sala, Delano não temos tempo a perder." Ela falou, o homem a sua frente suspirou e começou a andar em direção a sala onde acreditava estar sua rainha.

"Espere aqui." Ele falou em frente a porta, dois soltados estavam em frente a sala e deram passagem quando viram de quem se tratava, Delano entrou na sala e fez uma pequena reverência anunciando sua chegada, ao levantar os olhos varreu o local e não encontrou Catarina.

"Alguma informação importante Delano?" Afonso perguntou cansado, passara o dia inteiro dentro daquela sala, com Rodolfo, Virgílio, e os melhores generais de Artena e Montemor. Ainda estavam esperando os reis e regentes de cada reino chegar, mas não podia perder nenhum minuto.

"A rainha Catarina, ela já se retirou?" o soldado perguntou começando a se preocupar. O rei olhou sem entender, Apesar de Catarina o estar ignorando de todas as formas possíveis ela não perdia uma única reunião sobre a guerra, e em nenhum momento foi até a sala aquele dia. O que de fato era estranho, mas esteve tão ocupado que não parou para pensar sobre isso.

"Delano, ela não veio aqui hoje." Afonso falou suspirando, mas o olhar do soldado o colocou em alerta. "O que está acontecendo soldado, onde está Catarina?" Perguntou com urgência em sua voz.

"Ela foi sequestrada!" Brice falou entrando na sala, cada minuto perdido era um minuto a mais que sua amiga estava em perigo. Afonso reconheceu a mulher a sua frente, afinal ela era a melhor amiga de sua esposa.

"Do que você está falando Brice? Ela estava com você de manhã!" Afonso falou já saindo da sala, caminhando a passos rápidos em direção aos seus aposentos, tendo Brice ao seu lado, acompanhando cada passo seu. Rodolfo e Delano seguiram logo atrás, tensão envolvia o ambiente.

"Isso foi a treze horas atrás. São dez da noite, para onde estamos indo?" Ela perguntou frustrada.

"Para o quarto, é o único lugar onde ela poderia está uma hora dessas." Afonso falou ao virar o corredor, mas parou e segurou o braço de Brice impedindo que ela continuasse. Ela o olhou confusa, mas Afonso apenas olhou para Delano e apontou para a porta do quarto, onde deveria ter dois guardas. Delano rapidamente puxou sua espada e tomou a frente, andaram a passos lentos até o quarto, Afonso abriu a porta e Delano entrou com sua espada em mãos. Mas a cena que encontraram a sua frente não era nada do que esperavam.

Os dois guardas que deveriam estar fazendo a vigília estavam mortos dentro do quarto e nenhum sinal de Catarina. "Onde ela está?" Afonso perguntou segurando fortemente o braço de Brice.

"Tire suas mãos de mim!" Ela falou mortalmente, Afonso afrouxou o aperto, mas não largou o seu braço. "E eu não seu onde ela está." Falou frustrada.

"Então como você sabia que ela foi sequestrada?" Rodolfo perguntou analisando o quarto, em busca de qualquer informação. Brice ficou calada, como iria explicar? Diante de seu silêncio três pessoas viraram em sua direção, em busca de respostas.

"Brice acho melhor você começar a falar o que sabe." Delano falou se aproximando. Mas ela não estava mais ali, seus olhos estavam totalmente negros, o soldado deu um passo atrás e levantou sua espada. "Uma feiticeira" Falou assustado.

"Catarina" Ela balbuciou angustiada.

"Espere." Afonso falou impedindo que Delano fizesse algo com a mulher.

Brice estava de volta ao quarto, mas a cena a sua frente era pior do que a primeira. Catarina continuava presa na cama, mas dessa vez não estava mais sozinha

"Como estão as acomodações minha rainha?" Otávio perguntou, passando um dedo pelo rosto de Catarina, descendo seu dedo até o vale de seus seios. Catarina sentiu o corpo inteiro encolher com repulsa.

"Afaste-se de mim seu porco!" a rainha falou para logo em seguida cuspir no rosto do homem que lhe tocava, ele sorriu limpando o rosto.

"Isso apenas torna tudo melhor minha pequena serpente. Mas dessa noite você não me escapa!" Falou puxando seu rosto bruscamente em busca de um beijo, e colocou suas mãos no vestido de Catarina com a intenção de rasgar o mesmo.

"Não, por favor não!" Catarina falou em desespero, tentando se desvencilhar do homem. Brice fechou os olhos, colocou dois dedos em frente a palma de sua mão, e puxou a mão em direção ao seu peito enquanto falava as seguintes palavras "nunc somnum" Catarina sentiu o anel em seu dedo esquentar, sentiu quando uma pequena energia passou por seu corpo e logo em seguida Otávio caiu em um sono profundo em cima de si, se revirou na cama, para tirar aquele corpo de cima do seu, e usou seus pés para joga-lo no chão, seus braços estavam doloridos por conta da posição em que ela estava, mas uma lágrima de felicidade escapou de seus olhos, mesmo sem saber o seu futuro. Ela sabia que Brice tinha feito aquilo.

"Obrigada." A rainha sussurrou. Brice olhou para a amiga, querendo mais do que nunca abraça-la, mas apenas respondeu, mesmo sabendo que sua amiga não ia ouvir. "Eu disse que não deixaria ninguém te machucar." E então foi sugada de volta para o quarto do castelo. Três pares de olhos a encaravam, eles não sabiam o que tinha acontecido, mas ouviram as palavras que saiu da boca de Brice e o estranho movimento que fez com as mãos.

Ela sabia que não tinha mais como esconder, todos eles viram o que aconteceu, ela poderia simplesmente sumir dali e eles nunca a achariam, mas poderia condenar sua amiga a morte ao fazer isso, Catarina estava em perigo e toda a ajuda era bem vinda, ela olhou para Afonso, mas seus olhos não a acusavam, nem via medo nele, apenas curiosidade.

Afonso sempre amou o poder, e sabia que diante de si tinha uma mulher muito poderosa. "Você é uma bruxa." Ele começou pelo lógico.

"Sim." Ela falou por fim, Delano ainda se mantinha afasto. "Ela deve ser levada para a fogueira majestade." Ele falou, mas Brice apenas o encarou e sorriu para ele, antes de voltar a atenção para o rei.

"Você a viu, como isso é possível?" Afonso perguntou ainda tentando colher todas as informações possíveis antes de começar a agir. Brice mostrou a pedra em seu colar. "Eu fiz um feitiço de conexão empática, ligando essa pedra a pedra do anel que dei a ela, quando ela tenta de alguma maneira entrar em contato comigo ou se encontra em perigo extremo eu tenho como se fosse uma visão. Minha mente é levada até onde está, mas ela não consegue me ver nem ouvir." Ela tentou explicar da melhor maneira possível. Afonso apenas concordou com a cabeça, tentando absorver tudo.

"E o que você viu, as palavras que disse e o gesto com a sua mão. O que foi isso?" Rodolfo enfim se manifestou de onde ele estava.

"Na primeira visão que tive, descobri ela está em um quarto, eu não consegui identificar onde, aparentemente é em um castelo. Tem vista para uma grande floresta e estava chovendo forte, eu consegui ver muitos pinheiros, ela está amarrada em uma cama, tem dois soldados vigiando a porta." Brice começou a falar, andando de um lado para o outro do quarto. Fechou os olhos ao lembrar do que viu agora.

"Mas agora, quando a vi novamente Otávio estava dentro do quarto, ele ia estuprá-la." Ela falou e viu quando todos no quarto ficaram tensos. "O sinal que fiz e as palavras que falei pertencem a um latim antigo, a única coisa que conseguir fazer através de nossa conexão, foi com que ele caísse em um sono profundo. Vai demorar algumas horas para acordar." Brice terminou de explicar tudo.

"Majestades?" Delano chamou a atenção apontando para uma pequena caixa, similar a que foi entregue a rainha contendo o polvo dentro. Afonso pegou a caixa bruscamente, e a abriu.

Dentro tinha um pequeno papel dobrando. "Xeque" Ele leu em voz alta e depois pegou a pequena peça de xadrez que estava ali. A rainha.