A maldade humana não tem limites. E a garota confirmava isso a cada dia infernal que sobrevivia. A quem recorrer quando não se tem mais nada? A garota havia aceitado. Nada poderia protegê-la dos insultos, das intimidações e das agressões. Os professores tentavam, mas nunca era o bastante. Nunca era verdadeiramente efetivo... 

Pois a maldade humana é esmagadora. 

Antigamente, a garota se perguntava se todos ao seu redor a escutavam. Se estavam dispostos a estender suas mãos. Porém, a sua incógnita perdera o completo sentido após a realidade lhe bater em sua face. Preferiria ser largada à solidão, ao esquecimento... mas era usada, constantemente, em prol dos outros. Ninguém se importava com ela... Ninguém dava a mínima na sua racionalidade... Do simples fato de ser um ser humano. O coração é fraco por natureza e sempre tenta manter a esperança... Mas como ter esperança quando se tem a própria cabeça agredida por objetos escolares? Mesmo sendo humana como eles, nunca possuiria a dádiva do mais efêmero sentimento. Nunca teria o privilégio de possuir um amor. 

Pois seres humanos quebrados não merecem, nem ao menos, a simples gentileza... 

Ou muito menos o direito de sonhar. 

Sim, a vida é o sonho mais cruel que possa existir. As pessoas normalmente vivem como podem; outros usufruem a vida como se esse simples fato fosse o maior dos prazeres... Mas há pessoas, como a garota, que a vida era apenas um pesadelo inacabável. Ela não conseguia entender. O simples pensamento de dizer que a vida é boa já era um enorme absurdo. Algo impensável. 

E a garota já não mais queria saber como aquele sonho continuava, pois mesmo que progredisse, aquele sonho nunca seria seu mundo ideal. 

A única coisa que ela poderia se gabar era de sua própria desgraça, mas certo fazê-lo? Muitas vezes acreditava que sim, pois muitos apontavam o que tinham de melhor. Ela não poderia apresentar a sua própria desgraça? Mas, no fim, não era necessário afirmar ao mundo sobre o fato. As pessoas ao redor sabiam. Zombavam de si por estar sozinha no mundo, por não ter qualquer ente querido ou um único amigo. Riam das diversas peças e abusos que faziam com a garota impotente. A alegria de suas ações os completava. 

Mas consumiam o resto da humanidade da garota. 

Porém, já não importava mais... 

Agora ela seria livre. Livre para escolher o que mais lhe agradava. Ela poderia ver as estrelas, ou até mesmo voar pelo céu. A garota não compreendia as faces assustadas que as pessoas exibiam ou muito menos os gritos de pavor. Não era isso que eles queriam no fim? O que lutaram para acontecer? A garota só queria poder sonhar também. Sonhar e não ficar mais só. 

E o sonho já havia começado, com as carteiras da classe flutuando pelo cenário tingido por gotas escarlate, como se fossem pétalas de rosas. Não fora o início que desejava já que odiava aqueles móveis. Porém, aquilo era apenas a introdução do novo livro que a garota começava. 

Era o livro ilustrado apenas dela... o livro ilustrado do mundo que sempre desejou... Bastava apenas deixar que seu corpo repousasse uma última vez e virar as páginas daquele livro que ninguém nunca viu. 

E continuar aquele sonho... O seu mais amado sonho eterno.