Katherine

William a puxou antes da princesa ter a oportunidade de falar com Charlotte.

—Eu não ia brigar com ela —Katherine disse olhando para trás, onde a garota os observava.

—Sua cara dizia outra coisa. E a Charlotte... —William suspirou —Tem que ter paciência, ela é muito possessiva.

Katherine ficou em silêncio, um pouco enciumada, já que aquela mulher e seu noivo tinham um passado juntos. Na verdade, com quem William não tinha um passado?

Deixando esse pensamento de lado, Katherine viu seis soldados dos Filhos do Fogo ajoelhados enfrente a vários piratas, entre eles, Robert Thatch.

—Desde quando a gente deixa sobreviventes? —William perguntou.

—Os Filhos da Noite que os capturaram tentando fugir —Gus respondeu.

Katherine analisou cada homem. Quatro deles estavam sérios, sem demonstrar nenhum medo, já os outros dois, tentavam disfarçar o medo, mas era inevitável perceber já que eles tremiam.

—Onde os Filhos do Fogo estão concentrados? —a princesa perguntou ficando de frente para eles.

Nenhuma resposta.

—Eu fiz uma pergunta —Katherine disse firme.

—Você deveria estar morta —um soldado, com o rosto sangrando devido a um corte recente, a olhou com raiva.

Os piratas se entreolharam e William arqueou as sobrancelhas ao escutar.

—Sério? —Katherine sorriu de lado.

—Logo você estará —ele continuou. —Igual a seus pais.

O corpo de Katherine esfriou no mesmo instante e ela achou que seu coração sairia pela boca a qualquer momento. O mar começou a se agitar, o que chamou atenção de outros piratas, que se aproximaram. William continuou quieto, ele e Robert estavam analisando o soldado.

—O-O que você está dizendo? —ela perguntou trêmula e com a voz falhando.

—Isso mesmo —o Filho do Fogo sorriu, deixando aparecer seus dentes ensanguentados. —Logo você se juntará a sua maldita família em Nifheim... Ah você deveria ter ouvido os gritos... Como se chama? Seu irmão menor? Henry? Ah... —o soldado gargalhou. —Ele gritou por você.

O coração de Katherine disparou e ela ficou sem ar. O mar correspondia cada sensação da garota. Seus olhos já não seguravam mais as lágrimas e a agonia que sentia era insuportável só de imaginar a cena.

Robert olhou para o horizonte e começou a ver ondas imensas se formarem. O líder dos piratas olhou para o filho, que estava sério para o soldado. Logo o olhar dos dois se encontraram e o Thatch só teve certeza do que já sabia.

—Tomara que você sofra mais do que eles, sua vadia —o Filho do Fogo sorria ao ver o estado que a princesa estava.

—Devia ter escolhido melhor as últimas palavras —William se aproximou desembainhando a espada.

—O quê? —o homem entrou em desespero ao ver o pirata se aproximando. —NÃO! EU POSSO DIZER ONDE O EXÉRCITO ESTÁ!! EU POSSO...

Ele não teve a chance de concluir a frase. William segurou os cabelos do soldado, o puxando para trás e deixando seu pescoço a mostra. Sem nenhum esforço ou hesitação, o Thatch o cortou e empurrou o homem, que caiu sangrando no chão.

A princesa nem sabia como estava de pé ainda de tanto que tremia.

—Ele tá mentindo — William disse ao ver Katherine ficar cada vez mais pálida. Mas a Lecerf estava muito abalada para prestar atenção em suas palavras. —Katherine —ele disse mais firme, chamando atenção dela. —Ele estava mentindo.

—C-Como p-pode t-ter t-tanta c-certeza? —ela custou a dizer em meio as lágrimas.

—Experiência —Robert observava a garota com interesse e olhou para o mar, que começava a se acalmar. —Nós somos bons em mentir, majestade. Sabemos quando algo é verdade.

—Você —William foi até um dos homens que estava com medo e visivelmente assustado ao ver o colega morto. O Thatch fez a mesma coisa, segurou seus cabelos e os puxou para trás, mas apenas pressionou a espada em sua garganta. — A família da princesa está morta?

—NÃO! NÃO SENHOR! ELE MENTIU! EU JURO PELOS DEUSES, EU JURO POR ODIN E POR FREYA E POR... —o homem gritou chorando compulsivamente.

William o soltou e voltou para onde estava, vendo Katherine limpar as lágrimas no rosto.

—Onde está minha família? —a princesa perguntou depois de um tempo, controlando a respiração.

O homem estava realmente desesperado. Ele olhava para os lados, até que viu William o observar sério, na mesma hora o homem respondeu.

—Não sei! Eu não sei!

Os soldados ao seu lado o olharam com desaprovação.

—Por favor, eu não quero morrer —o homem voltou a chorar.

—Para com isso —o militar ao seu lado o olhou com raiva. —Acha que os deuses te aceitarão em Valhala se ficar choramingando assim?

—Eu quero saber onde está a minha família —Katherine insistiu, não acreditando que ele não sabia.

—Eu não tenho notícias! Quando fomos nos concentrar nas Terras de Ninguém, na fronteira de Sunrise, sua família estava presa no palácio, serão executados, mas apenas depois da senhora ser morta! Por favor princesa, tenha misericórdia...

—Quantos homens? —William perguntou enquanto observava Katherine se afastar, muito abalada para continuar conversando com o soldado. —Quantos Filhos do Fogo estão aqui?

—É o maior exército concentrado a séculos... Nem na quinta guerra mundial se viram tantos homens...

—Eu quero números.

—Uns trezentos mil, senhor. Escute, eu não sou militar, eu sou um agricultor... Por favor, eu imploro! Tenho família, filhos em Sanguinem...

—Ninguém se importa —Robert o interrompeu. —Levem-no para a prisão do Death, ele pode ser útil mais tarde. Com o restante... Foda-se, façam o que quiserem.

O líder dos piratas também se afastou enquanto os piratas sorriam olhando os soldados que estavam desesperados.

WILLIAM

William procurou Katherine, e a viu distante, ajoelhada na margem do mar. Ele foi até ela, e chegando perto, percebeu que a água começava a se congelar ao redor da garota. O pirata franziu as sobrancelhas ao ver esse fenômeno nada normal. Katherine estava realmente muito esgotada para o mar reagir dessa forma.

—Eu sei que você acha que tem que aguentar isso sozinha. —ele foi até o lado da princesa e sentou-se, não se importando de molhar suas vestes. —Mas você não tem —ele a olhou.

Katherine estava péssima, seu rosto não havia sinal nenhum de esperança, seus olhos estavam fechados e as lágrimas não paravam de percorrer sua face.

—É tudo culpa minha —ela disse depois de alguns minutos.

—Qual é Kate, não é culpa sua —William tocou seu ombro e imediatamente a princesa abriu os olhos. Eles estavam castanhos azulados, o que fez o pirata a soltar.

—Tem razão —ela o olhou friamente. —É tudo culpa sua.

—O quê? —ele sorriu de canto, não entendendo a garota.

Katherine se levantou com raiva. William fez o mesmo e se afastou um pouco, já que sentia que a princesa era capaz de avançar para cima dele.

—Se você não tivesse aparecido, nada disso estaria acontecendo! —Katherine gritou, e quem estava por perto olhou para a cena.

—Amor —William sorriu paciente. —Você está com medo e o medo faz você agir por impulso e...

—Medo? Eu estou com medo? —o mar se agitou a cada palavra da garota e as ondas batiam violentamente no calcanhar de William, como se quisesse que ele se afastasse do mar, e assim ele fez, voltando devagar pra a areia. —Eu estou com raiva, William, com raiva de você ter aparecido na minha vida! Já era para eu estar casada com Frederick... A minha família estaria bem! Eu estaria bem!

Os olhos agora de Katherine não estavam nada castanhos, apenas azuis e William não acreditava no que estava escutando.

—Bem? Você odiava sua vida em Sunrise, majestade —o Thatch sorriu de lado, tentando manter a calma com ela.

—Minha vida bastava. —ela caminhou até o pirata, que dessa vez não se afastou. —Frederick me bastava, viver em um palácio me bastava —William agora a observava sério. —Até você aparecer —ela o empurrou. —Até você aparecer e me mostrar o que é ser livre! E... Pelos deuses —Katherine colocou as mãos nos cabelos e riu, mas não de felicidade, e sim de arrependimento. —Eu ia desistir de tudo por você! Eu ia desistir do meu irmão por você! E enquanto eles estavam aqui sofrendo o que eu fazia? Me deitava com um... Com um... —ela dizia com desgosto.

—Um pirata? —William completou para ela, não conseguindo levar mais os insultos na esportiva. 

William sempre foi muito paciente, ainda mais com quem ele ama. Mas entre ele e Katherine, havia a maldição. A maldição de ser ligado ao mar fazia cada palavra de Katherine doer em seu coração, como se o mar o rejeitasse, e ainda pior para o Thatch, ela estava o rejeitando. Mesmo não querendo acreditar no que a princesa dizia, as palavras da Lecerf o convenciam que aquilo era o que ela realmente pensava.

—Henry precisava de mim, o meu povo precisava de mim... —Katherine falava em prantos. —E nesse tempo eu deixava você me falar que eu deveria pensar apenas em mim e esquecer eles! —William nunca viu esse olhar de ódio da princesa, nem quando ele a sequestrou. —Você... Você estragou tudo... Eu queria não ter te conhecido.

William sentiu o mesmo que levar uma facada em seu peito. Uma não, milhares. Depois de um tempo com os dois se olhando, ele conseguiu recuperar a voz.

—O que você quer? Se casar com Frederick? —a garganta do Thatch apertou ao falar isso e ele teve que segurar para seus olhos não lacrimejarem. —Ele tá no Vingança. Ao invés de guerrear apenas se case com ele e retome a aliança com os Filhos do Fogo. Não é isso que você quer? Que tudo volte a ser como era antes?

—É William, é isso que eu quero.

O coração de William doía ao escutar Katherine. Ele suspirou, tentando não demonstrar o que realmente sentia.

—Eu te libero do acordo com os piratas. —ele parecia forte por fora, mas por dentro estava desmoronando. —Espero que sua vida em Sunrise seja tão perfeita como você imagina que será. —William a olhou com amargura. Ele a amava mais do que tudo nesse mundo, mas não conseguia não sentir raiva dela nesse momento, depois de tudo que escutou. —Me enganei sobre você, Lecerf.

Ele olhou para a princesa e se afastou com raiva. Katherine voltou para o mar e caiu de joelhos, voltando a chorar.