KATHERINE

A cabeça da princesa ainda estava absorvendo tudo que aconteceu. Foi tão rápido, James a tocando, William brigando com o irmão e a levando até sua cabine.

Foi um dia ruim, ser ameaçada por um pirata e quase estuprada por outro, são situações difíceis de absorver.

De manhã ela estava em seu palácio, agora a noite, estava presa em um navio pirata. O desespero que Katherine passou será difícil de esquecer.

—Fique à vontade, mas nem tanto assim —William disse fechando a porta e colocando seu chapéu em uma mesa que continha vários papéis, mapas e um abajur.

Era uma cabine tradicional, com uma cama de casal, um sofá na frente de uma janela enorme, um armário, uma mesa grande no centro. Porém, era bem luxuosa. Katherine conhecia quando algo era de algum metal precioso, e vários detalhes e utensílios da cabine eram feitos de ouro.

—Você deve estar com fome —William mostrou para a princesa um prato de comida sobre a mesa. Havia arroz, batatas e carne.

 —Não vou comer isso —Katherine cruzou os braços, mas seu estômago estava roncando.

—Típico —o pirata revirou os olhos. —Então fica passando fome. —William disse pegando o prato. —Por que toda princesa é nojenta e arrogante?  —ele passou por Katherine com raiva.

—Ei! Eu não estou com nojo da comida, seu idiota —ela o impediu de sair.

—Primeiro, não me chama de idiota —o pirata virou-se para a garota. —Segundo, por que não quer comer?

—Porque pode estar envenenada.

—Você tem valor viva, não morta —William disse e estendeu o prato para a futura rainha.

Katherine suspirou e aceitou, sentando-se na cadeira. A comida estava realmente boa e em poucos minutos o prato estava vazio.

—Parece ter gostado —o pirata deitou-se em sua cama. —Eu sei que assustei você hoje cedo, e não deve ser fácil ter sido separada de sua família, da riqueza em que vivia, eu entendo.

 —A marinha de todos os reinos está me procurando nesse exato momento. —Katherine olhou para William. —Você deveria pedir uma recompensa logo.

 —Não sequestrei você por dinheiro —o rapaz se levantou e foi até a porta. —Tente dormir, foi um dia cansativo.

—Você não entendeu, William —Katherine levantou-se e olhou para o homem.  —Eu sou uma Filha do Sol, meu noivo é um Filho do Fogo. Você não percebe o que isso significa?

—Nossa, estou morrendo de medo —o pirata se aproximou da garota. —Continue.

—Eu sou a futura rainha de Sunrise! —Katherine continuou. —Eu sou a escolhida pela deusa Sigel, sou apadrinhada pelo deus Tyr. Meu reino tem vários aliados, os Filhos do Fogo possuem o maior exército da história e são considerados o reino mais violento e perigoso da Terra. Você não tem ideia no que está se metendo.

William escutou atenciosamente cada palavra que Katherine disse, e no final, apenas sorriu.

—Por que está sorrindo? —a princesa não entendia a reação do pirata. —É sério! Eu tenho muito mais valor para eles do que você imagina…

—Ah majestade —William a interrompeu. —Deixe-me falar agora e ouça com atenção. Eu entendi, você é poderosa, tem reinos ao seu favor. Mas infelizmente, e para a minha sorte, eu tenho algo que você não possui.

Katherine ergueu as sobrancelhas. Ele é apenas um pirata, ela pensou.

—Princesa, eu tenho o mar —o pirata sorriu. —Você é uma Filha do Sol, eu sou um Filho do Oceano. Você pode ter homens, exércitos, reinos… Mas esse território é meu. Eu conheço cada centímetro do mar, eu posso saber onde estamos apenas de escutar o vento batendo no casco do meu navio.

William começou a se aproximar de Katherine e ela a recuar. A princesa começou a ter medo do modo como ele falava e percebeu que ele estava certo. Os reinos mal sabiam como navegar e não conheciam muito além das rotas de comércio.

—Você é a futura rainha de Sunrise e eu sou o futuro líder dos piratas. Você acha que eu não possuo um exército? —William continuava se aproximando e Katherine acabou sendo barrada pela cama e sentou-se. —Eu tenho todos os piratas em minha mão, princesa. Então é o seguinte, não ache que você tem alguma autoridade aqui. Sigel e Tyr não ajudarão você.

Katherine olhou para o chão. Ela sabia que ele estava certo, o mar é o território dele, apenas dos Filhos do Oceano.

William deu as costas para a princesa, indo até a porta, ela olhou para os lados, procurando alguma arma. Em cima da mesa, coberta por alguns papéis, havia um punhal.

A adrenalina tomou conta do corpo de Katherine, ela correu até lá, pegou o punhal e o estendeu para William. O pirata escutou o barulho e virou-se para a princesa.

—O que é isso? —ele cruzou os braços.

—Você vai me libertar —Katherine estava trêmula, mas aproximou-se do rapaz.

—Vou? —William riu.

—Liberte-me ou eu mato você —ela disse ainda com o punhal apontado para o pirata.

—Caramba —William disse sorrindo, ele estava se divertindo muito. —Não sei se você é extremamente corajosa ou absurdamente burra.

—Eu estou falando sério —Katherine disse firme, apesar do medo que sentia.

—Estamos em mar aberto, como quer que eu a liberte?

—Um barco, remos e comida. É tudo que eu preciso.

—Você não duraria dez minutos nessas águas sozinha —o capitão riu a olhando. William gostou dessa ousadia da menina, ameaçar um pirata é muito perigoso, mas ela ignorou isso.

—Vou arriscar —Katherine respondeu, ela só desejava sair desse navio.

Ela estava realmente muito nervosa e com medo, o mar estava calmo até ela ameaçar o pirata, assim que ela o fez e seu coração começou a bater mais forte, o mar começou a mudar. Os ventos aumentaram e as ondas tornaram-se mais violentas.

—Coloque o punhal onde achou —William disse sentindo o mar ficar mais agitado de uma hora para outra e achou muito estranho, isso não acontecia do nada.

—Eu estou falando sério.

—Tá, majestade —William disse impaciente. —Ataque-me, estou sem arma, sou um alvo fácil.

Katherine investiu contra o pirata. William sorriu, bloqueou a investida com um braço e com outro, segurou o pulso da menina.

Com a mão que segurava o punhal ainda estava livre, Katherine tentou acertar o rosto do pirata, que apenas moveu-se para trás e acabou segurando o outro pulso livre, impossibilitando a garota de mexer-se.

Katherine ia chutar William, mas ele percebeu e a bloqueou com a sua perna. Os dois estavam realmente próximos e a princesa impossibilitada de mover-se. O corpo de William estava em êxtase, ele não sabia entender porque ele reagia a Katherine desse modo. Ele ficaria assim o dia inteiro, próximo a ela. As sensações são tão prazerosas, apenas de estar junto a ela.

—Primeiro —William pegou o punhal da mão da garota e a afastou dele, saindo de seu transe. —Sua altura é média, mas você é fraca. Quando for lutar corpo a corpo, é idiotice você atacar. Espere seu adversário investir primeiro. —William aproximou-se dela. —Quando ele investir —o pirata levantou o braço direito e simulou um ataque a princesa. Katherine fechou os olhos achando que ele iria bater nela, mas William pegou o braço direito da princesa, e o levantou —o bloqueie assim. E com o outro braço —o capitão colocou o punhal na mão da princesa e o ergueu —enfie a faca aqui —ele colocou o punhal sobre seu diafragma.

Katherine olhava-o nos olhos. Ela mal fazia ideia de que William estava delirando por dentro apenas pelo fato de estarem próximos. O pirata a olhou, e os dois ficaram calados. William pensava o quanto a garota o atraía e o quanto ela era linda, mas queria saber o motivo de sentir-se assim.

Contudo, Katherine ficou tranquila, não sentia mais medo e o mar foi ficando mais calmo. William percebeu o navio parando de balançar e saiu de seu transe.

—Quer tentar? —William os separou novamente. Ele não queria mais sentir esse desejo pela garota, era torturante.

Katherine confirmou. William aproximou-se e atacou com seu braço, e a princesa fez exatamente como ele ensinou, bloqueou seu braço, mas, quando ela foi apontar o punhal, Katherine lembrou de tudo que aconteceu. William a ameaçando, James a tocando... A jovem princesa sentiu tanta raiva, que enfiou o punhal no pirata.

Katherine afastou-se com as mãos em sua boca.

WILLIAM

Doeu muito.

William sentiu cada centímetro do punhal entrando em seu corpo, e quando olhou para baixo, sua roupa já estava uma poça de sangue.

Katherine estava sem reação. Com os olhos arregalados para a cena, a princesa sentou-se na cama olhando para o pirata.

Porém, William permanecia de pé, a princesa sentia-se mal por ter feito aquilo, mas não entendia o motivo dele não ter caído.

—Não é muito inteligente fazer isso com o capitão do navio —William sorriu e tirou o punhal de si. Katherine olhava completamente assustada para o pirata, não entendia o que estava acontecendo.

—Você…Você deveria estar… —a princesa tentou dizer.

—Morto? É, eu deveria. —William riu olhando a cara da princesa. —Relaxa, não vou guardar rancor. Você não é a primeira mulher que tentou me matar.

—O que… O que você é… —Katherine estava com tanto medo, a princesa não parava de pensar em como ele estava vivo.

—Sou um pirata amaldiçoado —ele piscou para Katherine. —Agora tente dormir, seu dia foi bem difícil.

William deixou a princesa sozinha em sua cabine e subiu até o convés.