E se ela disser escrita por Despercebida


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores, esta é minha primeira história no universo de Arrow e se for bem aceita, pretendo voltar com novos projetos.
Boa leitura!



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   Bufei frustrado observando meu reflexo no grande espelho da mansão. A gravata escura suspensa em meus ombros, denunciava minha falha com aquele pedaço de pano tão importante para o dia de hoje.

— Por que Felicity tem que ser tão boa com isso? – questionei irritado – Por que não posso vê-la?

— Ele é sempre mal humorado assim quando fica longe dela? – fitei Sara pelo espelho ajudando meu melhor amigo – Ou só em dias especiais?

— Não o provoque, Sara. – Tommy a repreendeu, lançando à loira um olhar de advertência, da mesma forma que fiz alguns meses atrás, quando meu amigo era o noivo de mãos tremulas, temendo a mesma coisa que eu.

   Me virei os encarando. O vestido azul claro, escolhido a dedo por minha noiva, realçava os olhos de Sara, seu sorriso de orelha à orelha transmitia toda a confiança que me faltava naqueles últimos minutos antes de meu casamento.

— Venha cá, bonitão. Preciso dar um jeito nessa gravata. – me aproximei, sorrindo amarelo.

   O frio na espinha prendeu meus olhos na parede branca atrás de Tommy, enquanto Sara finalizava o nó. Eu sentia seus olhos avaliativos sobre mim, meu melhor amigo me conhecia bem, um olhar bastaria para lançar uma bomba de perguntas. E perguntas era tudo que queria evitar naquele momento.

— Ela não vai desistir, Olie.

   Tommy transformou em palavras minha insegurança. Sabia que não deveria temer aquilo, mas era inevitável. Um novo passo, um novo caminho e eu só me via fazendo isso com ela.

   Contudo, os “e se” rondavam minha mente como urubus esperando a carniça.

— E se Felicity achar que estamos dando esse passo cedo demais? – os encarei, sem esperar por uma resposta – E se essa não for a escolha certa para o momento? E se ela disser “não”?

   Toda a confiança que eu carregava alguns meses atrás, quando a pedi em casamento, se esgotaram. Sequei minhas mãos suadas na perna, dando alguns passos para trás. Me sentia patético com aquelas perguntas retóricas, ainda mais recebendo olhares de compreensão dos padrinhos.

— Felicity deve estar enlouquecendo Cait com as mesmas perguntas, Olie. – Sara segurou minhas mãos, sorrindo – E Diggle deve estar nesse momento bancando o conselheiro com a loirinha, porque vocês dois nasceram com o dom de serem cabeça dura. John deve estar dizendo o que eu e toda Starling já sabemos. Vocês são aquelas pessoas sortudas que nasceram um para o outro, seus olhos brilham quando mencionamos o nome dela e o mesmo acontece com Felicity, porque vocês se amam. Sua futura esposa não vai desistir, tenho certeza que essa não é uma opção para ela, não é Tommy?

   Encarei meu padrinho de casamento, e em meu íntimo, eu precisava daquela confirmação.

— É evidente que Sara fala a verdade. – assentiu, pousando sua mão em meu ombro - Todas essas perguntas bobas ficam para trás quando você a vê caminhando até o altar, parceiro. As peças se encaixam, é... simples.

   Fechei meus olhos. Por hora, aquela agitação sessou. Eu conseguia visualizar Felicity usando o tradicional vestido branco, destacando sua barriga pouco perceptível e as bochechas coradas, ressaltando ainda mais toda sua beleza.

   Felicity conseguia ser linda, por dentro e por fora. Eu não recordo quando me apaixonei por ela, mas em poucas semanas era impossível não parar para apreciar suas manias ou me ver ansioso pela próxima reunião entre nossas empresas. Talvez tenha sido gradativo ou talvez no momento em que nossas mãos se tocaram em um aperto cordial, em uma sexta-feira de agosto.

   Consegui sair de meus pensamentos, logo recebendo um olhar malicioso de meu amigo, como se a todo momento estivesse lendo meus pensamentos. O ignorei, correndo meu olhos até Sara, que abria a porta do quarto para alguém.

   O corpo de Caitlin surgiu atrás da porta de madeira, o sorriso que ela carregava demostrava satisfação ao ver Sara trajando um vestido tão parecido com o seu. Logo a morena nos notou, sorrindo para seu marido.

— Querido, Felicity precisa de um favorzinho seu. Pode pegar a chave do carro e a carteira?

   Engoli em seco.

— O que aconteceu, baby?

   Agradeci mentalmente pela pergunta que eu não consegui fazer. Minha língua parecia pesar uma tonelada, voz alguma saia e eu só queria saber como Felicity e um carro cabiam na mesma sentença.

— Ela desistiu, não foi, Cait? Tommy será o piloto de fuga e...

— Não é nada disso, Queen. Você e Felicity são iguais. – soltei o ar que notei estar preso em meus pulmões, não deixando de notar a trocar de olhares entre as mulheres – Felicity está com desejo, croissant de queijo e goiabada. Tommy ficará responsável de procurar.

— O que vocês não me pedem chorando que eu não faço sorrindo. – Tommy a beijo, se despedindo.

   Logo ele caminhou até suas coisas em cima da mesa de centro. Segui seus passos pelo quarto, talvez tentando achar, mesmo que sem êxito, a minha calmaria, todavia ela estava alguns quartos ao lado, provavelmente na mesma ansiedade que eu.

   Bufei, quem havia criado essa maldita tradição de que noivos não podem se ver antes do casamento, tinha noção alguma sobre o quão desafiadora e angustiante ela era.

— Você tem alguma ideia onde posso encontrar croissant de queijo e goiabada?

— Já perdeu a prática, Merlyn? – minha amiga não evitou a provocação.

— Cafeteria na Bentley, esquina com a Madison, você saberá quando chegar. – passei o endereço da pequena confeitaria onde passei os últimos dias comprando croissant dos mais variados tipos; tudo por uma mamãe satisfeita e um bebê saudável.

— Não ouse subir naquele maldito altar sem mim, preciso prevenir que minha futura norinha nasça com cara de croissant.

— Só por cima do meu cadáver, Merlyn! – gritei, sentindo o falso arrependimento de ter o escolhido como padrinho para minha garotinha.

***

— Felicity está linda, Queen. – Sara adentrou no cômodo que eu me recusei a sair há alguns minutos atrás – E devo acrescentar que, inesperadamente, menos nervosa que você.

   A loira puxou a leve poltrona até estar em minha frente, na cama, e ajeitou seu longo vestido para sentar. Sara me conhecia como sua palma da mão, provavelmente estava tentando decifrar meu silêncio repentino ou o vinco entre minhas sobrancelhas.

   Já não era tarde para afirmar meu estômago revirando, a gravata enlaçada em meu pescoço parecia se apertar cada vez mais, dificultando a chegada do ar até meus pulmões. As opções para manter a calma já haviam esgotado há muito tempo, e pelo sol que ainda raiava no céu, eu estava realmente fodido se não encontrasse uma nova alternativa.

— Você está com aquela cara. – murmurou Sara, deitando levemente a cabeça ao notar meu desentendimento – Elas estão bem, se é isso que te preocupa. – assenti, incapaz de agradecê-la – Me dê suas mãos, Olie. – mesmo relutante, a obedeci, notando o contraste de suas mãos quente e meus dedos gelados – Agora feche os olhos. Consegue voltar alguns anos atrás?

   Abri meus olhos no mesmo instante, fazendo minha melhor cara de confusão.

— O que? – questionei, perdido em sua paciência.

— Apenas faça o que pedi, Oliver Queen. – talvez nem tanta paciência assim. – Feche os olhos, respire devagar e volte no tempo. – notoriamente sua voz suave ordenou – Consegue se lembrar da primeira vez que beijou Felicity? – sorri com sua pergunta, assentindo sem pensar duas vezes.

   “Apesar de ter acontecido há quatro anos atrás, a primeira vez que meus lábios tocaram nos de Felicity, todo outro beijo não deveria ser contado. E nós nem namorávamos ainda.

   Era outro sábado qualquer, a lua crescente ganhava espaço no céu pouco estrelado. Meus ombros tensos me lembravam da manhã tediosa atrás de pilhas de papéis necessários para a próxima semana, e tudo que meu corpo clamava era um bom banho quente. Entretanto, a ligação nada repentina de Felicity confirmava mais uma noite de sábado segurando a famosa vela para nosso casal de amigos, e de bônus, um filme qualquer em sua companhia.

   Eu amava as diferentes formas de expressão que Felicity esboçava no decorrer do filme, e eu poderia afirmar veemente que elas não mudaram nada com o passar dos anos. A loira deitou ao meu lado, apoiando seu corpo no meu, o perfume de amoras emanado de suas madeixas claras inibiam qualquer concentração que eu poderia ter naquele filme antigo.

   Fitei seus traços leves, decorando-os como se precisasse para viver, e talvez eu realmente precisasse. Sua boca rosada entreaberta ajudava na respiração pelo clima seco do frio, os fios longos e loiros bagunçados pela carícia que eu fazia só me deixava mais perdido por Felicity Megan Smoak.

— Se continuar, eu vou acabar dormindo. – ela sussurrou para mim, me encarando com aqueles lindos olhos azuis, que mais de uma vez, me deixava sem fala.

   Sorri para ela, suspendendo uma mecha que caia sobre seu rosto corado, cessando minha carícia.

— Não precisava parar, Oliver. – resmungou, fazendo biquinho – Só não me deixe dormir, está bem? – completou rápida ao ver minha incompreensão.

   Sustentei nossos olhares, enquanto ela esperava por uma resposta que veio com um leve manear de cabeça.

   Talvez estivesse na metade do filme, o clímax se aproximando; eu não fazia ideia. Porém, antes que Felicity conseguisse voltar sua atenção à televisão ou eu retomasse com o emaranhado que fazia com seu cabelo, nossa atenção voou para o recém casal no sofá ao lado.

   Vi Felicity revirar os olhos ao captar a imagem de Tommy e Caitlin aos beijos, ignorando completamente as cenas do filme. A loira ao meu lado conseguia ficar ainda mais bela fazendo sua melhor cara de irritada pelo que presenciava, mas no fundo, eu sabia que ela estava tão feliz quanto eu ao ver nossos amigos, enrolados, dando aquele passo.

— Vocês não conseguem se conter nem com um filme de suspense? – alfinetou a loira, cortando o barato dos nossos amigos.

   Tommy se virou para nós, vestindo sua melhor máscara de inocência, enquanto Cait escondia seu rosto no pescoço do meu melhor amigo, como adolescentes pegos no flagra pelos pais após aprontar.

— Nós não temos culpa pela lerdeza do Olie, loirinha. – meu melhor amigo cutucou a onça com vara curta, abusando da sua sorte.

   Eu quis rir de seu comentário, contudo sabia que não deveria o fazer. A sala ficou silenciosa de repente, e eu me vi afetado por aquele frase. A pequena brincadeira de alfinetadas elevou-se à outro patamar.

   Senti meu coração pulsar mais rápido ao examinar a face corada de Felicity. Daria um dólar para adivinhar seus pensamentos, provavelmente tão conflituosos quanto os meus. Entretanto, antes que eu pudesse lê-los através das íris claras de seus olhos, a loira se pôs em pé, esticando sua mão para mim.

— Vamos ver algo no meu quarto, antes que presenciamos outra cena desses dois. – ignorei sua provocação ao casal, eu faria qualquer coisa com Felicity sorrindo daquela forma para mim.

   A partir daquele ponto nós voltamos à mesma posição que estávamos no sofá, só que desta vez na cama da Smoak, bem mais confortáveis e bem menos concentrado na continuação do filme.

   Eu quis me prender ao enredo da história, Felicity falaria por horas dele comigo mais tarde e eu mal me lembrava o nome, não quando a loira parecia ter um ímã natural feito sob medida para mim.

— Você vai acabar não entendo o final se continuar olhando para mim.

   Inexplicavelmente, eu não consegui me esclarecer, os objetos a nossa voltar se tornaram um borrão qualquer, e tudo que meu cérebro conseguia processar era a intensidade que Felicity me encarava. Acompanhei atento o sorriso dela se desmanchar aos poucos, logo passando a língua sobre o lábio lentamente.

   Aquilo foi o ápice para meu coração agitado. Tão devagar quanto o tempo que perdi sem tomar uma atitude, fechei meus olhos e tomei os lábios de Felicity em um beijo.

   Dizem que quando se beija a pessoa certa, você sabe. Todas as outras vezes deixam de existir e só há uma única vez. Beijar Felicity Smoak era melhor que tomar chocolate quente com marshmallow na casa da vovó nos feriados. Era melhor que repetir a sobremesa depois do jantar e, incontestavelmente melhor que passar uma noite na Verdant.

   Aprofundei nosso beijo, sentindo seus lábios macios como nuvens.

  - Devemos agradecer ao Tommy depois. – sussurrou contra meus lábios, me deixando sorrir bobo antes de roubar um beijo.

   A partir daquele dia, eu passei a me sentir o cara mais sortudo.”

— Esse sorrisinho só confirma que apesar dos anos, as lembranças continuam frescas na sua mente. – Sara rompeu meus pensamentos, notando um ponto com malícia.

   Assenti, mesmo que minimamente. Felicity conseguia exercer sua calmaria sobre mim até mesmo em pensamentos.

— Vamos continuar... – a loira apertou minhas mãos, levando alguns segundos até sua nova exigência – Hum. Agora quero que se lembre, Olie, da forma que Felicity conquistou sua família. Como todos, até mesmo sua mãe, notaram aquela coisa especial que ela tem, e que você se apaixonou.

   “O fim de tarde se iniciava como o planejado. Poderia dizer que aquela era mais uma quinta-feira qualquer, se não fosse a tinta vermelha que a destacava, com um círculo, no meu calendário.

   As reuniões para aquela tarde haviam sido transferidas, tudo porque meu foco estava no compromisso de mais tarde. Analisei as planilhas de orçamentos durante o dia, usando pastilhas de menta para inibir meu nervosismo que crescia lentamente com o passar das horas.

   Era inevitável não sorrir ao lembrar do receio e ansiedade de Felicity ao finalmente poder conhecer minha família. Entretanto, dos mais confusos meios, sempre havia um contratempo que impedia o acontecimento do jantar remarcado para hoje. Felicity e eu estávamos juntos há alguns pares de semanas, até a sua mãe, que morava em outra cidade, eu já havia conhecido.

   Mas, desta noite não passaria. Estava cansado de descrever Felicity aos meus pais, eu jamais conseguiria expressar em palavras tudo o que aquele furacão de mulher era. Com Felicity, eu havia me torna uma outra pessoa, a melhor versão de mim mesmo.

   Sai de meus pensamentos ao sentir o vibrar de meu celular em cima da mesa. Sorri ao ver uma mensagem de Felicity expressando seu nervosismo em muitos caracteres e emoji, logo avisando estar indo para casa se arrumar para mais tarde.

   Ultimamente, sorrir era uma das ações que eu mais fazia em meu dia, além de pensar em certa loira sem filtro.

   Não tardou para eu estar a caminho de meu loft. Porém, antes que eu pudesse comemorar, vitorioso, por finalmente a noite de hoje estar a poucas horas de acontecer, a ligação de mamãe fez com que todo aquele conjunto de emoções fossem ao vento junto de minha cor.

   Talvez, se eu não estivesse com o carro parado no sinal vermelho, outra tragédia teria acontecido na família Queen. Sem ao menos pensar duas vezes, desviei de minha rota habitual para casa e parti com o carro em direção ao hospital que minha família estava, pedindo aos céus que nada levasse Thea de nós.

   O caminho era um borrão em minha mente. Fui irresponsável ao dirigir naquelas condições, lembrava vagamente de como cheguei até meus pais, em um corredor longo e branco, desolados e tão sem chão quanto eu.

   Alguns minutos naquele ambiente e eu já me via louco sem notícias de Speedy. O assaltante levara mais que sua bolsa e o colar de aniversário que eu lhe dei, aquele marzinalzinho estava levando sua vida também.

   Aproveitei que meu pai ia em busca de informações para acessar meus contatos, ligando para Felicity. Mais um jantar cancelado, desta vez não por um desencontro de horários ou uma reunião indesejada. Desejei tê-la ali, me acalmando com um único sorriso doce, sabendo que estava segura.

   Bastou meia dúzia de toques para eu sorrir em meio ao caos. Felicity era minha calmaria na tempestade, era a última faísca de fogo no frio cortante. Fechei os olhos momentaneamente, deixando a linha muda, me contemplando com sua respiração leve do outro lado.

Oliver, está aí? — notei sua entonação preocupada, esta era a deixa para recuperar minha voz.

Sim, eu... eu estou.— tentei não deixar que as lágrimas influenciassem em meu tom de voz, tarefa difícil quando Felicity parece me conhecer melhor que a mim mesmo.

O que aconteceu, amor?

   Da forma mais delicada, ela me perguntou. Deixei a linha muda. Com a necessidade de levantar, plantei um beijo castro em mamãe, e segui para o outro lado do corredor, sentindo seu olhar sobre mim.

   Não havia uma forma menos dolorosa de contar, não quando eu me sentia no escuro em relação a situação de Thea. Não quando, pela primeira vez, enfrentávamos aquilo. Não quando a cada palavra, a dor em meu peito se intensificava, sufocando-me.

Thea foi assaltada, Felicity. Ela está na sala de cirurgia já faz algum tempo, não sabemos o que houve.— contei, secando a maldita lágrima que insistia em cair – Eu estou no escuro, amor. Estou sem chão.

   Segredei minhas últimas palavras.

Amor, nada vai acontecer à Thea, ok? Não fique pensando no pior, Speedy é mais forte do que imaginamos. Eu estou a caminho.— bastou ouvi-la para sentir o peso do mundo em meus ombros diminuir, como bálsamo.

   Talvez com alguns pontos na carteira por infringir sinais vermelho de transito, Felicity entrou em meu campo de visão minutos mais tarde. Se não fosse a névoa de preocupação em sua face, sem dúvidas eu poderia afirmar seu receio em estar cara à cara com meu pais, da forma menos planejada possível.

   Sem esperar, caminhei os poucos metros que ainda nos separavam, e a tomei em um abraço inesperado, tirando-a poucos centímetros do chão. A calmaria chegou junto de seu aroma de amoras, não queria soltá-la e Felicity pareceu notar, envolvendo meu pescoço em um carinho gentil.

— Você está bem? – sussurrou, aflita

— Agora eu estou. – fitei seus olhos claros, transbordando preocupação.

— Alguma notícia de Thea? – questionou, alisando a lateral de meu rosto como sempre fazia sem perceber.

   Neguei, incapaz de tornar aquilo mais real.

— Venha, quero que conheça minha mãe. – plantei um beijo duradouro em sua testa, puxando-a para um abraço lateral.

   O clima pesou e eu senti meu coração apertar ao ver minha mãe, em pé, impaciente, andando de um lado ao outro do corredor. O lenço em suas mãos sempre em contato com as maçãs do rosto, secava as lágrimas traiçoeiras que corriam sem consentimento.

   Seu olhar sobre nós não havia se desviado uma única vez desde que Felicity chegara. Apesar do momento, Moira sorriu, da mesma forma que sorria quando eu a presenteava com uma flor do jardim, no auge dos meus sete anos.

— Mamãe, esta é Felicity, minha namorada. Felicity, esta é Moira, minha mãe.

   E como eu havia dito mais cedo, desta noite não passou.

— A famosa Felicity. – a frase saiu num sussurro de Moira, alto o suficiente para dar cor as bochechas de Felicity – Encantadora, como disse, filho.

   Lancei a minha mãe um olhar de repreensão, ignorado com um leve balançar de ombros pela mesma. Tão fácil quanto respirar, e o medo por Thea havia evaporado momentaneamente, assim como a dor dilacerante em meu peito e as lágrimas de mamãe.

— É um prazer conhecê-la, senhora Queen. Apesar das circunstâncias. – lamentou minha namorada, segurando uma das mãos de minha mãe, num carinho zeloso – Conheço Thea há poucas semanas, mas sei da força que ela possui, senhora Queen. Adoro ouvir as histórias que Oliver conta sobre a irmã, tenho certeza que em algum lugar deste hospital, Speedy está mostrando sua valentia.

   Roubando mais do que um sorriso meu, minha mãe – aquela que não se deixava levar fácil -, puxou Felicity para um longo e apertado abraço.

   Speedy adoraria ver essa cena, e eu lamentei por registrá-la apenas em minhas memórias, àquelas surreais e inesquecíveis. Apesar de sorrir como um bobo, não deixei de notar a confidência singular entre duas, das três mulheres mais importantes da minha vida – naquela época. Quis espreitar em meio ao sussurro delas, todavia, a presença de meu pai se tornou meu centro.

— Sem notícias de Thea. Tudo o que aquelas enfermeiras conseguiram fazer foi me enrolar. – tão frio como o longo corredor que estávamos, meu pai respondeu à minha pergunta entre linhas.

   Não consegui evitar de não pensar no pior. Os minutos haviam se tornado horas e tudo que tínhamos eram as informações de testemunhas na hora do assalto. O medo me corroía de dentro para fora, e meu único porto seguro eram os olhos azuis daquela brilhante mulher.

— Eu sei que você deveria me apresentar ao seu pai, uma vez que já o fez com sua mãe, apesar do nosso jantar de apresentação ter sido cancelado, de novo. Não que eu esteja reclamando, longe disso! Apesar de achar que merecíamos fazer isso na presença da sua irmã, mas a questão é... – nem com o passar dos anos, os balbucios e a forma como Felicity se perdia nas palavras, perderam o efeito sobre mim. Contendo seu rubor ao notar ser o centro das atenções de seus sogros, pousei minha mão sobre seu ombro, afagando – Acho que posso usar o meu jeito de obter informações sobre Thea.

— Felicity, você não está pensando em hackear o sistema do hospital, não é?

— Hackear é uma palavra tão feia, querido. – sussurrou e sorriu inocente, logo virando-se para meus pais – Apesar de ser fácil como arrancar doce de criança, eu não vou entrar no sistema do hospital. Não que eu tenha roubado doce de criança algum dia! – talvez Felicity ainda não soubesse, mas em menos de minutos, minha namorada já havia conquistado meus pais e feito eu me apaixonar ainda mais por ela. – Caitlin, uma amiga minha e do Oliver, trabalha na pediatria do hospital. Preciso checar se esta noite está em seu plantão; tenho certeza que minha amiga não nos negará ajuda e saberá como obter as informações que precisamos.

— Tenho certeza que se sua amiga for como você, ela nos ajudará.

   Eu jamais seria grato o suficiente por ter Felicity em minha vida. Antes que ela pudesse partir em busca da nossa amiga, selei nossos lábios em um beijo tão rápido como a forma que minha vida havia se transformado com Felicity nela. Seu rosto ganhou um tom rosado, do mesmo modo que me lembro até hoje; e sumiu pelos corredores daquele enorme hospital.

— Você tinha razão, filho. Felicity é realmente notável.

   E aquela não foi mais uma quinta-feira qualquer.”

— Sinto muito por Thea. – minha amiga lamentou, e mesmo eu estando de olhos fechados, sentia seu arrependimento por me fazer lembrar.

— Tudo bem, Sara. – apertei sua mão, reconfortando-a – Thea deve estar lá embaixo, ajudando com os convidados ou opinando sobre a decoração.

— Fico com a segunda opção. – rio, concordando – Sei que não está fazendo sentido algum fazer você relembrar de alguns momentos com Felicity, mas antes mesmo de você pôr um anel no dedo da loirinha, isso aqui já a pertencia. – Sara tocou meu peito, indicando meu coração, e continuou: – Molly, fruto do amor de vocês, está a caminho. Vocês estão dando mais esse passo, juntos. – frisou sua última palavra, me encarando com intensidade – Mas em algum momento, nem tudo serão flores, Olie. Às vezes, seu dia será desgastante e isso te deixará irritado, você vai querer desistir, e é neste momento que quero que se recorde desta conversa. Quero que se lembre da sensação ao vê-la pela primeira vez, quero que se lembre do sorrisinho pintado em seu rosto ao pensar na vez que a beijou. Recorde como Felicity foi seu pilar durante toda a recuperação de Thea naquele hospital. Relembre de hoje, do seu nervosismo, do temor por não tê-la por perto e em como a loirinha conseguiu espantar tudo isso para longe e ainda trazer a calmaria, tudo porque ela, também, sempre esteve aqui. – finalizou, tocando seu indicador na minha testa.

   Processei suas informações, definitivamente, Sara havia me deixado sem palavras. Ao notar meu embaraço, a loira acariciou meu rosto, e eu lhe lancei um olhar grato, por ser quem era e por sempre estar ao meu lado.

— Se mudar para o apartamento de Nyssa te tornou conselheira amorosa barra filósofa ou você está tendo umas aulinhas com o Diggle?

   Plantei um beijo em seu rosto, quebrando o silêncio duradouro.

— Calado, Queen! – vociferou, revirando os olhos por saber que eu falava a verdade – Me dê suas mãos, nós ainda temos alguns minutos antes de você alterar, oficialmente, seu status de relacionamento no Facebook para casado. – acatei seu pedido, engolindo o riso preso na garganta e fechei meus olhos também – Eu jamais conseguiria resumir toda sua trajetória com Felicity, mas consigo definir com apenas um nome: Molly. – sorri bobo só com a menção de seu nome – Você já sabe o que fazer, bonitão.

   “Eu poderia ter me lembrado de como foi minha reação épica – palavras de Felicity, não minhas – ao descobrir que minha noiva estava grávida, da mesma forma que eu podia relembrar de como foi ouvir o coraçãozinho forte do bebê pela primeira vez ou de como chorei feito uma criança ao cortar aquele bolo revelação, em um domingo à tarde na mansão de mamãe, e descobrir que teríamos uma menininha. Eu também poderia me lembrar da madrugada que Felicity e eu passamos acordados, decidindo qual nome daríamos para aquele pequeno ser que crescia vagarosamente.

   Entretanto, a primeira cena que veio-me a mente, foi um início de noite, aqueles que levam até seu último fio de sanidade e te deixam exausto pós intermináveis horas de reunião com negociantes chineses. Desta forma, eu dirigi para casa – aquela de cercadinhos branco, gramado verde e todas as proteções possíveis para o bebê a caminho. Ansiei por um banho quente, lasanha de forno e os braços de minha futura esposa. Tinha plena consciência que esta última arquitetava minha morte, afinal, eu havia quebrado a promessa de reduzir minhas horas na empresa, pela quarta vez no mês.

   Estranhamente, a casa estava mais silenciosa que o habitual. As luzes do primeiro andar apagadas e droga!, a louça do jantar suja na pia. No sofá da sala, deixei minhas pastas, a chave do carro na mesinha de centro e encarei a escada, notando o pequeno feixe de luz emanado pela fresta da porta do nosso quarto. Subi os degraus no mais repleto silêncio, temendo confundir Felicity com minha chegada.

   Parei no batente da porta, analisando minha eterna namorada sentada em nossa cama, analisando ruidosamente algo no tablet, enquanto alisava sem perceber sua barriga. Cenas como esta aqueciam meu peito e tornavam ainda mais real meu anseio em ver nossa filha, por mais que ainda faltassem alguns meses para seu nascimento.

   Bati meus dedos contra o material de madeira, anunciando minha chegada. Adentrei no cômodo ao ser notado por Felicity, esta ao me ver sorriu, e ao perceber tal feito, fechou a expressão e voltou sua atenção para o aparelho em mãos.

— Hey, amor. – beijei seu cabelo úmido, inalando o máximo de seu perfume de amoras – Como vocês estão?

— Você quebrou a promessa. – ignorou-me desgostosa, ainda sem me encarar – Pela o quê, quarta, quinta vez? – suas perguntas retóricas saiam incrivelmente calmas.

   Suspirei, sentando-me aos seus pés na cama, merecendo aquilo.

— Tive outra reunião que se estendeu mais que o imaginado. – expliquei, esperando ganhar sua atenção – Desculpe por não ter avisado, amor.

   Felicity largou o tablet na cama, e mesmo relutante, me analisou pela primeira vez desde que cheguei e me permitiu fazer o mesmo. Seus olhos extremamente claros não carregavam a irritação que eu esperava ter, mas sim, a preocupação absurda, e desconhecida por mim.

— Não gosto que fique na empresa até tarde, Oliver. – Felicity expôs paciente, alisando sua barriga com ternura, sanando minha dúvida – Não por não confiar na sua capacidade de trabalhar com Isabel-Perfeita-Rochev nessas reuniões. – continuou, murmurando aquela última frase com acidez – Eu só... eu só tenho medo que ande sozinho pelas ruas de Starling nesse horário. Você viu os noticiários, estão assaltando e pior, sequestrando pessoas em todos os bairros da cidade... – Felicity se interrompeu de propósito, desviando o olhar ao senti-los transbordar pelas lágrimas – Só não quero que você seja uma dessas pessoas, Oliver, eu não suportaria acordar de madrugada com a polícia batendo na porta.

   Sussurrou, como se o simples falar tornasse real.

— Amor. – pronunciei aquele apelido carinhoso, ganhando sua atenção para mim. Sem ao menos pensar duas vezes, me aproximei mais de Felicity, segurando suas mãos e plantando um beijo longo e zeloso em sua pele sedosa – Isso não vai acontecer, está bem? Pedirei que marquem e remarquem as próximas reuniões da empresa para que eu possa chegar em casa a tempo de vê-la cantar para nossa garotinha, ok?

   Mesmo relutante, Felicity balançou a cabeça positivamente, ganhando um sorriso meu.

   “Obrigada.” Movimentou a boca sem emitir som.

   Desta vez eu cumpriria minha promessa.

   “Amo você.” A imitei, sendo contemplado com seu tímido sorriso e bochechas coradas.

— Posso pedir minhas desculpas em forma de donuts? – esbocei minha melhor cara de arrependido ao vê-la semicerrar os olhos – Seus favoritos. Comprei assim que sai da empresa. – completei para ninguém em especial, uma vez que Felicity parecia hipnotizada na embalagem marrom que eu balançava.

   Mais rápido que meu olhos puderam acompanhar, e o doce já estava em sua boca. Ri de suas expressões; a loira fechou os olhos, resmungando o quão boa aquela massa era, como se fosse a primeira vez comendo – o que eu poderia afirmar que não era.

— Acho que isso paga uns sessenta por cento por não ter me telefonado, Queen. – murmurou, antes de lamber o dedo com o recheio.

— Só sessenta por cento, Felicity? – fingi indignação, roubando um selinho seu – Acho que mereço mais do que isso.

   Voltei a me sentar nos pés da cama, ganhando apenas um balançar de ombros.

— Como passaram o dia hoje? – perguntei, brincando com os dedos de sua mão livre.

— Sua família, minha família, nossas amigas, todas, fizeram um complô contra mim hoje, acredita? – respondeu emburrada, pegando mais um donuts da embalagem – Passamos o dia atrás do meu vestido de noiva, apesar de ter que mexer em alguns pontos por causa da barriga que tende a crescer mais até o dia do casamento, ele é perfeito, Oliver. – suspirou sonhadora, instigando minha curiosidade adormecida.

— E quando poderei vê-lo?

— Quando você estiver no altar e eu andando até você, no dia do nosso casamento. – respondeu como se fosse o óbvio – Sabe que da azar o noivo ver o vestido, querido.

— Isso é tão injusto, Felicity. – resmunguei, realmente chateado com essas malditas tradições.

   Felicity apenas riu, como se houve previsto minha reação, logo me entregando o embrulho marrom, contendo mais da metade dos donuts que comprei.

— É melhor deixar a embalagem longe de mim. Por mais que eu ache isto a coisa mais gostosa do mundo, Molly não anda me deixando comer nada que não seja aquela gororoba verde que você faz. – reprimiu um careta de nojo – Não estou afim de desafia-la com esses donuts maravilhosos, ainda mais porque fui eu quem fiz a gororoba verde hoje, e você sabe como sou na cozinha. – sussurrou a última parte como um segredo de Estado, e só assim, liguei o que ela dizia com a louça na pia, lá embaixo.

— Não chame a receita que passa de geração à geração na minha família de “gororoba verde”, amor. – defendi minha sopa ao vê-la revirar os olhos pelo discurso que uso há meses – Vovó ficaria decepcionada.

— Sua avó perdoaria uma grávida, ainda mais a que carrega alguém do sangue dela. – argumentou, sorrindo para mim como se houvesse ganho nossa mútua disputa – Acho que vou ter que deixar de usar meus saltos mais cedo do que calculei. – Felicity ficou pensativa, logo deitando-se melhor na cama, mal reparando seu balbucio.

— Eles estão incomodando? – questionei, trazendo suas pernas para meu colo.

— Eu fiz de novo? – assenti para seu lamento – Infelizmente, essas coisas lindas estão apertando meus pés e me deixando mais cansada do que gostaria de admitir.

   Ela suspirou, fechando os olhos, provavelmente esgotada pelo dia de hoje. Apesar da correria que enfrentei desde cedo e o cansaço pela longa reunião, não lamentei em pegar o creme de uva para pés que minha noiva constantemente usava, passando uma quantia generosa no local indicado, massageando para livra-la da dor. Felicity ora resmungava, ora ria pelas cócegas que sentia com meus dedos em contato com seu pé.

— Agora você chegou nos noventa por cento, Queen. – decretou, ainda de olhos fechados – Acho que pode atingir os cem por cento se deitar aqui comigo. – sorriu, sugestiva.

   Retribui o sorriso, deixando o pote roxo de lado para aproximar meu rosto do seu. Seus olhos me encaravam com intensidade, beirando a inocência fingida, da mesma forma que seus lábios rosados escondiam um sorriso levado. Aproximei-me mais, apenas selando nossos lábios sem segundas intenções, logo sussurrando:

— Preciso me livrar desse terno antes, querida. – sai em direção ao closet, não deixando de ouvir seu bufo frustrado ao não ter o que queria.

   Mesmo estando alguns metros longes, com paredes atrapalhando a passagem de sons, eu conseguia ouvir, de forma abafada, sua voz calma, transbordando amor ao cantar para o nosso bebê. Apressei em retirar aquela roupa grossa, pegando o que havia mais perto para vestir, não querendo perder mais um segundo longe daquele momento.

   Entretanto, bastava apenas vestir a camisa de algodão para encontrar minhas garotas, quando ouvi Felicity me chamar com a urgência na voz. Deixando a camisa jogada no chão pelo caminho e a luz acessa do closet, corri apavorado em direção ao nosso quarto, pensando no pior.

   Mas o que encontrei bastou para que o ar voltasse a correr em direção aos meus pulmões. Felicity estava sentada no seu lado da cama, sua expressão era oposta do que eu esperava encontrar; seu rosto tinha um sorriso que chegava à seus olhos, capaz de iluminar todo e qualquer vale escuro. Seus olhos azuis, mesmo cheios de lágrimas contidas, me encaravam com mesma intensidade de quando me contou que estava grávida, e naquele momento eu soube que algo bom tinha acontecido.

— Ela mexeu, Oliver. – sua voz saiu embargada e tão baixa, que se não fosse nossa aproximação, eu não seria capaz de ouvi-la  – Ela mexeu. – repetiu sussurrando, como se um simples ruído mais alto fosse capaz de acabar com aquele movimento.

   Sua mão pousou em determinado ponto da barriga, como se dali viessem os movimentos que Molly fazia. Seu olhar de compaixão caiu sobre mim, me chamando mutuamente para o seu lado, porém, meus pés pareciam ter virado chumbo, presos ao chão quando tudo que eu queria fazer era ir de encontro a Felicity e poder ser presenteado como ela com os primeiros movimento da nossa pequena garotinha. Aquele pensamento me fez sorrir ainda mais – se aquilo fosse possível.

— Vem, amor. Acho que a Molly quer saber se o papai está por perto. – pediu atenciosa, estendo a mão livre para mim, ao notar meu estado aéreo.

   Com o ímã natural feito sob medida para mim, Felicity me atraiu até nossa cama. Sentei-me ansioso naquele grande espaço acolchoado, logo a sentindo se encostar em meu peito e pegar minha mão gelada pelo susto anterior. Como se fizesse aquilo por uma vida inteira, minha noiva levou nossas mãos até sua barriga e logo eu pude sentir um movimento tímido por debaixo da mão, como se nossa garotinha estivesse reconhecendo-me.

   Em um milhão de palavras, nenhuma, jamais seria boa o suficiente para explicar aquela sensação. Contagiado pela maior das felicidades, encarei Felicity que sorria observando detalhadamente minha face, decorando cada parte da mesma forma que eu fazia.

   Não havia a necessidade de palavras entre nós naquele momento, em nossa bolha, meus olhos confessavam todo meu amor e gratidão que eu sentia por ela e por nossa filha, nossa Molly.

   Sem aguentar mais um segundo, encaixei nossos lábios em um beijo calmo. A sensação de estar nas nuvens com um simples beijo, afloravam meu estômago como se fosse a primeira vez.

   Felicity para sempre seria minha calmaria.

   Naquela noite dormi sabendo que minha futura esposa jamais guardaria somente para si minha reação aérea. O futuro estava bem ali, e Molly nem havia nascido ainda.”

— Acho que você está apaixonado. – Sara apertou minha bochecha, orgulhosa, tirando-me do transe – Lembra quando te disse isso pela primeira vez?

   Massageei o local dolorido por seu aperto nada sutil, sorrindo como confirmação.

— Ainda bem que Felicity não te ouviu aquela vez, estava entretida demais conversando com Tommy. – cuspi desgostoso aquela lembrança que me fez estremecer.

— Você estava com ciúmes. – me acusou, rindo de minha careta – Você ainda está com ciúmes, Queen.

— Obrigada pela lembrança do meu melhor amigo flertando com minha futura esposa, Sara. – cruzei meus braços irritado, como um garotinho mimado ao ser repreendido pela mãe.

   Sua risada estridente ecoou pela quarto e eu mordi o lábio inferior, evitando o riso e incapaz de deixá-la ter o gostinho da razão.

— Supera isso, Olie. Já fazem quatro anos e você está a minutos de ir para o altar. – apesar de seu tom brincalhão, seus olhos claros me encaravam com tamanha seriedade e cumplicidade – Pensei que fosse mais confiante, Oliver. – cantarolou.

   Arqueei minha sobrancelha, indignado com sua ousadia.

— E eu sou! – retruquei, fingindo ofensa.

   O cômodo ganhou um silêncio confortável, sabia que as tentativas de Sara em me acalmar haviam sido planejadas milimetricamente por minha noiva. Felicity me conhecia bem, provavelmente deveria estar no mesmo estado que eu, no outro quarto, e mesmo assim se manteve preocupada comigo.

   Eu era o sortudo afinal, sempre fui.

   Quebrando a distância entre mim e Sara, a envolvi em um abraço longo, sussurrando minha gratidão por ter me aturado durante aquelas últimas horas e por ter conseguido trazer a calmaria de Felicity para meu coração apavorado.

   Sem mais delongas, minha mãe apareceu no quarto que estávamos e eu soube que aquele era o momento. Ficar eternos minutos no altar, sendo o foco da atenção de dezenas de pessoas foi a parte fácil, porque quando a música clássica começou a ser tocada pela banda, anunciando da forma mais majestosa a chegada de minha noiva, minha Felicity, eu não consegui segurar minhas lágrimas.

   Meu melhor amigo tinha razão, quando você a vê caminhando pelo extenso tapete vermelho até o altar, absolutamente tudo fica para trás.

   Minhas inseguranças tornaram-se pó.

   Felicity caminhava vagarosamente, acompanhada de sua mãe. Esta última sorria para os convidados, enquanto minha futura esposa tinha seus belos olhos presos aos meus. Como ímãs.

   Minha eterna calmaria tinha bochechas coradas, olhos marejados e sorria apaixonadamente para mim, assim como eu para ela.

   E Felicity tinha razão – como sempre –, ela trajava o mais perfeito vestido de noiva.


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Notas finais do capítulo

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