Eu sabia que estava agindo de forma errada. Sabia, e mesmo assim eu me deitei naquela cama e abracei o loiro, de forma até protetora. Mas o pior de tudo não era a minha consciência de que aquilo deveria parar, pois não teria futuro. Era me sentir bem ali, completo. Como se Uruha fosse uma parte de mim que eu havia perdido há muito tempo, e que agora tinha voltado para o seu lugar.

Suspirei, puxando o loiro para mais perto. Ele parecia tão relaxado, tão calmo, tão... em paz. E aquilo era novo pra mim. Havia me habituado com lágrimas e tristeza quando eu chegava em algum lugar, mas não a trazer calma a alguém. Senti sua mão se fechar sobre o meu ombro, dando sinais de que ele havia acordado.

- Ne, Aoi...

- Hm?

- Você acha que uma pessoa pode gostar de outra, conhecendo tão pouco sobre o outro?

Encarei o teto do quarto dele, pensando sobre a pergunta.

- Eu acho que não existe o impossível, Uruha.

Ele levantou a cabeça, me mostrando seu sorriso mais sincero, depois voltou a se aconchegar contra o meu corpo.

Me sentei no banco da praça relativamente movimentada, tentando pensar no que fazer. Sentia minha mente completamente confusa, e tinha certeza que, se eu fosse um mortal, minha cabeça estaria estourando de dor. Por que era errado me aproximar de Uruha se aquilo me fazia tão bem?

Suspirei, me cansando de não chegar a uma resposta, e senti ma movimentação ao meu lado. Uma menina havia se sentado ali, um enorme algodão doce lilás nas mãos. Não aparentava passar dos doze anos de idade, os cabelos castanhos quase loiros descendo em cachos até sua cintura e um vestido rodado azul claro combinava com seus olhos. Ela se virou pra mim e sorriu.

- Uma vez me disseram que pensar demais faz mal.

Eu sorri de volta e ela me estendeu o algodão doce, me oferecendo.

- Mas as vezes é preciso pensar.

- Eu acho que esse e o problema das pessoas. O tempo que elas gastam pensando se deveriam fazer isso ou aquilo poderia ser usado para aproveitar a vida.

- E as conseqüências?

- Ah, são um mero detalhe. Veja bem... Tudo o que você está vendo à sua volta é passageiro. Vai terminar um dia. Então as conseqüências são o que menos importa.

Eu a olhei longamente, analisando. Ela me parecia estranhamente familiar, mas não sabia dizer de onde. Talvez eu a tivesse visto na rua; aqueles olhos azuis eram penetrantes demais para serem esquecidos.

- Qual o seu nome?

- Mizuki. Shirokawa Mizuki.¹

- Você é uma menina muito esperta, Mizuki-chan.

- Obrigada. – ela respondeu, rindo.

- E já que você é tão esperta, poderia responder a uma pergunta minha?

- Se eu souber.

- O que fazer quando as conseqüências caem sobre uma pessoa muito querida?

- Eu respondo com outra pergunta. Será que não vale a pena arriscar, se você fizer essa pessoa feliz agora?

- É, talvez...

- Lembre do que eu disse. Tudo é passageiro e vai acabar um dia. E quanto às conseqüências... Para tudo dá-se um jeito, só precisa conhecer as pessoas certas.

Ela piscou um olho e sorriu, se levantando.

- Eu tenho que ir agora. Nos vemos por aí...

E antes que eu pudesse responder, ela se foi, logo se misturando com a massa colorida de pessoas e eu a perdi de vista. Fiquei encarando o ponto em que ela havia sumido. Algo me dizia que ela não era apenas uma menina humana, e suas palavras ecoavam na minha mente.

Comecei a rir, negando com a cabeça. Talvez ela tivesse razão.

Continua...