Fascinação escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 1
Prelúdio


Notas iniciais do capítulo

Yeah pessoal! Mais uma história de Contos de Além Mundo para vocês.
Demorou pra caramba, eu sei, eu sei. Mas estamos aqui, e espero fazer com que a história do Salazar seja tão interessante e única quanto a de Vega, e qualquer uma das outras que postei antes.

Ei, espera! Você não conhece o projeto? Nunca ouviu falar em Louise no Mundo dos Sonhos? Não tem problema! Seja bem vindo do mesmo jeito, e espero que se divirta com essa leitura.



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A noite descera, trazendo um cheiro peculiar de mistério e a fragrância requintada das flores notívagas, que desabrochavam nos campos além daquela pequena vila. Do caminho que cortava a floresta um pouco mais distante, era possível ver uma suave luz de tom azulado surgir, como um fogo-fátuo, oscilante em meio a escuridão e aos galhos de árvore. Para os moradores que se localizavam mais próximos daquele limite, certa apreensão era mais do que esperada. Afinal de contas, aquele era o Sonhar, e por mais que Pesadelos em geral ficassem limitados a seu próprio Reino, era de conhecimento comum que algumas vezes um ou outro escapulia para causar estragos pelo mundo afora.

Entretanto, o que se destacou das árvores, andando tranquilamente em direção aos habitantes, não foi mais do que um homem de aparência jovem. Ainda assim, ele não tinha nada de comum, a começar pela aura que emanava. Era como se chamasse a atenção de todos, mas ao mesmo tempo não estivesse ali. Sua altura era superior a criaturas humanoides comuns. A pele muito pálida tinha inúmeras marcas que a percorriam, em forma de flores e folhas, com baixo-relevo… como se alguma planta tivesse outrora enroscado-se nele a tal ponto que sua superfície ficasse irremediavelmente deformada (muito embora, numa observação geral, isso contribuísse para dar-lhe uma certa beleza exótica).

Seu rosto tinha algo de mistério entranhado, efeito que era maximizado pelas marcas de folhas que tomavam todo o lado esquerdo deste. O lado direito era normal, branco como uma tela vazia… como se estivesse a espera que algo fosse gravado ali, afinal parecia ser o único ponto visível daquele corpo em que as marcas não chegaram.

Os olhos dele eram alaranjados, como o pôr do sol ou uma pedra de âmbar… brilhavam exatamente como esta última, uma luz que sobressaía sobre toda aquela aparência desbotada, refletida nos cabelos acinzentados, presos por um laço branco em frente ao ombro direito. Suas vestes eram as de qualquer andarilho, uma blusa e uma calça em tons de marrom, botas de caminhada e uma capa escura com capuz, que deveria cobri-lo quase por completo quando devidamente colocada.

Mas o que chamava mais a atenção, independente de sua própria figura, era um lampião que carregava, confeccionado com ferro enegrecido, cujo bastão era tão alto quanto seu próprio dono e possuía uma criaturinha azul acomodada dentro do recipiente de vidro. Uma criatura que estava pegando fogo… não, ela era feita de fogo. A dedução mais lógica era que tratava-se de uma salamandra, mas… salamandras não eram azuis.

Basicamente, de todos os tipos de seres que habitavam o Sonhar naquela época, aquela coisinha não poderia ser identificada como nenhum deles.

Seria uma anomalia?

Um sobrevivente de Reinícios anteriores?

Alguém que viera de além das Terras de Ninguém?

Era um mistério.

 

E, para deixá-lo ainda maior, como se não bastasse toda aquela estranheza… na outra mão do homem, havia uma caixa. Uma caixa que ficava em sua palma, perfeitamente alinhada, um pequeno embrulho dividido em listras violetas e pretas…

Não… não era uma caixa.

Quando o homem de fato aproximou-se dos aldeões, com um sorriso dúbio, que fez com que eles automaticamente puxassem as armas que estivessem mais próximas de suas mãos, conseguiram ter uma visão melhor daquilo… tratava-se de uma miniatura de uma tenda. Provavelmente de circo, visto os contornos chamativos.

Automaticamente, tudo pareceu fazer sentido, e as ferramentas de morte recém-puxadas foram deixadas de lado novamente em questão de segundos. Só havia um circo em todo o Sonhar… e era uma honra sem igual recebê-lo em sua vila, pois era dito que seu espetáculo era fascinante. Aquele receio logo transformou-se em alegria e curiosidade, e com o questionamento simples do homem desconhecido, que referia-se ao local onde poderiam assentar-se, aqueles que estavam presentes apontaram para o campo de flores.

Enquanto o homem estranho e sua criatura azul tomavam aquele rumo, alguns dos moradores retornava para as próprias casas. Crianças foram despertas, mulheres foram convidadas a deixar seus afazeres noturnos e os outros seres que estavam presentes naquela vila também foram chamados para ver o Espetáculo mais Fantástico de Todo o Sonhar.

 

O desconhecido parou em frente ao começo do campo. Com um movimento vigoroso, ele fincou o lampião no solo, estendendo a palma onde estava a diminuta tenda para a frente. A entrada dela foi aberta por uma lufada de vento, que ficou mais veloz a cada minuto que passava, arrancando pedaços do tecido e formando cordas coloridas, cujas quais pareciam não ter fim e rumavam em direção ao campo de flores, assentando-se ali.

Não demorou muito para que as cordas dessem lugar a uma tenda de grandes proporções, que ficava muito próxima ao solo, sem contudo tocá-lo. Ela também não amassava as pétalas que haviam desabrochado com o crepúsculo, mantendo-se poucos centímetros acima do tapete florido. Uma música suave começou a brotar de seu interior, uma melodia que remetia a flautas e citaras, mas animada e cativante. Mais uma vez, o extenso pavilhão abriu-se, deixando um tapete multicolorido estender-se até o ponto em que as flores acabavam, este dobrando-se como se fosse um pequeno degrau. A música foi aumentando a intensidade, ficando mais alegre, mais chamativa.

A este ponto, as pessoas que não tivessem sido despertadas pelos seus familiares responsáveis pela vigília do vilarejo, já poderiam acordar por conta do som, vibrante e encantador. Era como se ele adentrasse a mente dos habitantes do Sonhar, naturalmente incapaz de produzir sonhos, e os incitasse a abrir seus olhos, a descobrir suas maravilhas. Todo o vilarejo, agora, estava de pé, observando a entrada do circo, entusiasmo refletido em cada par de olhos.

Então, o homem desconhecido que trouxera aquele espetáculo retirou seu cajado do solo, caminhou lentamente até um dos lados do tapete de entrada e postou-se ali, a criaturinha azul dentro do objeto flutuando calmamente de cabeça para baixo e soltando risinhos. Se os habitantes conseguissem ouvi-los sobre a música de fundo, pensariam em uma brasa queimando um punhado de lenha.

Do interior da tenda, flashes de cores começaram a surgir. O efeito era similar ao de uma luz batendo contra uma superfície de joia preciosa. Ela se fragmentava em várias direções, movendo-se de acordo com a silhueta que aproximava-se daqueles no exterior. Uma mulher entrou no campo de visão deles, seus cabelos eram amarelos e tinham a consistência de ouro, seus olhos lembravam duas opalas, de um profundo azul. O rosto era fino, de longe parecia algum tipo de ave de rapina. Mesmo assim, seus lábios cheios e o corpo cheio de curvas davam-lhe certa delicadeza sensual. Vestia-se como uma apresentadora de circo, com seu fraque violeta sobre uma camisa branca cheia de babados e uma gravata negra. Uma calça colada repleta de losangos brancos e roxos cobria suas pernas, e uma bota de salto agulha num tom perolado finalizava o traje, assim como a cartola preta com arabescos prateados.

O mais interessante, contudo, eram as asas que deixavam suas costas, as quais causavam a reflexão das luzes: elas lembravam vários cristais de diamante, de diversas cores e tonalidades, saindo de suas omoplatas como um afloramento de pedras preciosas, ao mesmo tempo delicadas e brutas. Para uma pessoa no mundo real seria difícil imaginar que alguém poderia levantar voo com aquele tipo de “penas”, mas aquele era o Reino dos Sonhos, e no Reino dos Sonhos tudo era possível.

A mulher abriu um sorriso sutil, abrindo bem os braços, sua mera presença causando suspiros e admiração na plateia. Então, ela falou. E sua voz era, ela própria, um soar de cítara.

— Nós agradecemos pela acolhida, Senhoras e Senhores. Nossos artistas estão prontos, nosso palco está armado e esperamos por vocês. Venham todos e desfrutem… maravilhem-se com o Espetáculo mais Fantástico de Todo o Sonhar!


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Notas finais do capítulo

Yei, espero que estejam curiosos com nosso circo itinerante. Esse é só prelúdio e há muitas coisas a serem mostradas, assim como nosso proagonista. :p


Algumas considerações finais:

Fraque é um tipo de terno um pouco mais longo, que possuí a aparência de uma "calda" atrás.

Essa história deveria ter sido escrita em forma de roteiro para simular melhor o espetáculo que eu tinha em mente, mas eu tenho um problema sério com roteiros, tanto para ler quanto para escrever. Eu preferi manter a narrativa normal que sempre uso. Ainda assim, espero dar um clima exótico e único a fic.

Acho que é só isso por hora.
Kisses kisses para vocês e até mais. ♥



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