Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 17
Capítulo 16




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Jane não tinha muitas referências de monarquia feminina na Nova Germânia.

A rainha Victoria do Reino Unido era alemã, mas reinou em outro país. A maior parte das imperatrizes e rainhas dos antigos reinos que residiam o território germânico eram consortes, só tinham esses títulos por causa de casamentos com reis e imperadores.

Theophana Skleros e Maria Theresia von Österreich eram as únicas que, apesar de consortes, tinham chegado a governar sozinhas, pelo que ela se lembrava. Theophana tinha governado enquanto o filho era menor de idade, na época do Sacro Império Romano-Germânico. Maria Theresia foi a única mulher a governar os terrenos habsburgos, que incluíam nove reinos.

Sua mãe era filha única e mulher em muitas gerações, rainha de nascimento. Por esse motivo, o seu pai pegou o sobrenome Potter dela. Era a regra, o rei consorte pegava o sobrenome de sua esposa, independentemente de ser mulher, independentemente das regras de sobrenome existentes no resto do mundo.

Na Hispânia, o sobrenome das mulheres era o que prevalecia sempre, em último na sucessão de nomes e sobrenomes.

Liam nunca tinha lhe mostrado o quarto da princesa no terceiro andar, mas ela sabia que existia. Já tinha escutado falar sobre ele. Como os reis tiveram dois filhos, eles tinham dois quartos como esse. Talvez houvesse mais, trancados por falta de uso.

— É aqui que ficará agora — disse a rainha Doralice.

Designaram outras criadas e outros guardas para ela. Sim, no plural.

Não tinha mais Pomona ou Hope para conversar, mas talvez fosse melhor assim. Nem mesmo McKinnon para ajudá-la com suas ideias loucas ou soltar alguma piada irônica fora de hora.

Havia uma porta na parede que dava para o quarto de Liam. Uma porta que ela não pretendia abrir.

Olívia Hornby tinha encontrado o corpo de Myrtle, uma das criadas tinha comentado. Um único buraco de bala na testa, o que queria dizer que o assassino atirou de uma considerável distância, não precisou entrar no quarto. Não houve luta, um simples e limpo tiro.

Ela ficava caçoando da Myrtle, mas agora se sentia mal por sua morte, elas tinham dito. Hipócrita, tinham a chamado. Invejosa, por não conseguir servir às selecionadas, enquanto Myrtle, que era mais nova no palácio do que ela, tinha conseguido essa “promoção”.

Uma promoção que custou a sua vida.

Jane ficou dois dias inteiros sem conseguir dormir, até que, no terceiro dia, a doparam. Colocaram calmantes na sua sopa e, como ela estava cansada demais, não conseguiu resistir ao sono. Dormiu sem sonhos ou pesadelos, o que era um alívio.

O que as outras selecionadas deviam estar pensando? Que ela foi eliminada? Que ela se escondendo com medo? Ou talvez respeitassem o seu luto, embora duvidava que elas pudessem entender alguém que tivesse uma amizade com uma criada.

Reyna e Sirena entendiam. Elas não se viam desde aquele dia no baile. Nem teve a chance de se despedir de Cher e das outras garotas.
Não conseguia se importar o suficiente com esses detalhes.

A porta que dividia os quartos dela e de Liam estava fechada desde que ela se mudou para lá, e a porta da frente só era aberta pelas criadas quando traziam a sua comida. Todos a deixavam quieta em seu canto, ninguém a obrigava a levantar da cama ou a sair do quarto, ninguém ia visitá-la.

Myrtle tinha morrido porque estava no seu quarto.  Quantas mais pessoas sofreriam esse destino terrível apenas por encobri-la? Por protegê-la?

A porta da frente se abriu.

O almoço já tinha passado, ela tinha deixado o prato intocado.

Ainda não era hora do jantar.

— Eu achei bem curioso o que os jornalistas disseram no dia do baile — disse Liam, puxando a cadeira intocada da penteadeira para sentar-se.

“Por favor, vá embora” ela pensou, mas não conseguiu abrir a boca para falar.

— Na sua ficha de inscrição da Seleção, não diz que você tem contato com a rainha.

— Eu já disse que não tenho — Jane encontrou voz para responder.

— Mas isso não é verdade, não é?

Não acreditava que ele tinha escolhido aquele momento para querer tirar satisfações com ela.

Ironicamente, isso lhe deu forças para sentar-se na cama.

— Por que não colocou isso na ficha? — Liam perguntou.

— Porque eu não estava com vontade — retrucou Jane, rude — Mais alguma pergunta?

Ele estava segurando um arquivo nas mãos, provavelmente o seu.

— Uma pessoa deixa muitos rastros, mesmo sendo de uma casta baixa, como a Cinco — disse, parecendo sombrio — Principalmente quando sai do país. Só pode sair de Illéa com permissão e você disse que já tinha ido a Nova Germânia para fotografar.

— Talvez eu tenha mentido. Não é o que está sugerindo? — perguntou Jane.

— Eu só quero a verdade. Só quero que me diga o que isso significa.

Liam parecia perdido, quase que desesperado para que ela respondesse.

— Não sei o que quer que eu diga — ela deu de ombros.

— Janeth Mirren não existe. Você usou um nome falso, documentos falsos... Quem te ajudou com isso? É quase impossível uma inscrição falsa passar pelo conselho para o sorteio. Foi algum conselheiro?

Não, foi sua mãe.

— Bom, o seu conselho não é tão bom quanto diz.

Liam jogou o arquivo com força na mesa da penteadeira, tentando expressar toda a sua frustração por não ter as respostas que pedia. Passou as mãos pelo cabelo, de um jeito que Jane nunca viu ele fazer.

— Senhorita... seja lá quem você for — ele virou-se para ela, mudando a postura — Eu exijo que me conte a verdade. Antes era um pedido, agora é uma ordem.

Jane levantou-se da cama, aproximando-se dele.

— Eu não respondo a Vossa Alteza — respondeu.

Ela nunca trairia a ajuda que Doralice tinha lhe dado.

Liam ficou mais desolado com sua resposta do que irritado.

— Então eu não tenho escolha — ele virou as costas para ela.

A porta abriu-se novamente e os guardas que guardavam o seu quarto entraram, indo em sua direção.

— Senhorita, por falsificação de documentos e possível envolvimento com a causa rebelde dos Todesser...

— O quê? — perguntou Jane, indignada — Envolvimento? Estive há três dias na cama chorando porque eles mataram a minha criada, a minha amiga!

— Eles podem ter dado um recado — Liam disse — Para que você não se esquecesse do motivo pelo qual está aqui.

— E qual seria? Seduzir a Vossa Alteza? Não sou eu quem tem ajudado-o a eliminar as selecionadas.

Os guardas puseram as mãos em seus braços, e Liam não disse nada.

Sentiu-se traída.

Como ele podia não confiar nela?

— Ela está fazendo a sua cabeça, não é? — sussurrou.

— Quem tem feito a minha cabeça aparentemente foi você — Liam respondeu.

Antes que os guardas a levassem, a rainha Doralice entrou pela porta aberta.

— O que significa isso? — ela trovejou em direção ao filho.

— Mãe — Liam piscou, parecendo desorientado — Eu descobri irregularidades na inscrição da...

— Podem ir.

A rainha dispensou os guardas, que obedeceram rapidamente.

Ela era uma posição acima do príncipe na hierarquia, então não era tão estranho isso.

Liam olhou surpreso para a mãe, que seguiu os guardas para fechar as portas atrás deles. Pôde escutá-la sussurrar “Não deixem ninguém entrar”, antes de voltar para perto deles.

— Você sabia — ele disse.

— É claro que eu sabia — Doralice ainda encontrava ânimo para sorrir, naquela situação — Eu sei de tudo o que acontece no meu palácio.

— Eu não entendo.

Ela indicou que ele voltasse a se sentar.

— Você viu o que aconteceu com a criada outro dia. Aquele tiro não era para ela, era para a Jane — disse Doralice — Ela teve o infortúnio de estar no lugar errado, na hora errada.

— Então a trouxe para a Seleção para protegê-la? De quem? Por quê? Quem é ela? — perguntou Liam, cruzando os braços, intrigado.

A rainha caminhou até uma das gavetas vazias do quarto e abriu-a.

— Eu tive que tirar essa foto do gabinete, ou você a reconheceria rapidamente — ela puxou um porta retrato de dentro e entregou a ele.

Jane ajeitou-se para ver de longe a foto que ela reconhecia.

Ela devia ter uns 10 anos, foi a última vez que viu Liam. Era um dos casamentos que eles eram obrigados a ir. Eles estavam próximos dos noivos e dos padrinhos.
Liam pareceu não entender. Olhando para a foto com cenho franzido.

— Mas essa é a... — então ele parou, o seu cenho desfranzindo, finalmente entendendo.

— Jane Potter da Nova Germânia — completou Doralice, embora fosse desnecessário àquele ponto — Você certamente escutou a mim e ao seu pai conversando sobre o assassinato do pai dela, o rei Fleamont. Ela foi a única testemunha e precisava de proteção.

— Vocês não planejavam fazer a Seleção, planejavam? — perguntou Liam, os olhos ainda fixos na foto.

— Não. Foi a forma que encontramos para escondê-la sem despertar desconfiança ou curiosidade.

— Pôs civis em perigo.

Doralice assentiu com a cabeça, sem abalar-se com a acusação.

— É um risco que as selecionadas correm naturalmente, estando dentro dessas paredes — ela disse — Inclusive na Seleção de seu irmão...

— Não houve um único ataque — Liam interrompeu-a.

— Se eles soubessem que ela estava aqui, teriam finalizado o serviço muito antes.

O rosto dele deu um espasmo para o lado, como se ele fosse trocar um olhar com ela, mas pareceu ter mudado de ideia, mantendo-se ignorando a sua presença no quarto. Jane quase considerou dar licença a eles para conversar, exceto que era o quarto temporário dela.

Talvez estivesse pensando na tentativa de envenenamento. Pensar que tinham sido rebeldes germanos era melhor do que pensar que alguma de suas selecionadas tinham tido aquela capacidade.

Liam ficou em silêncio por mais um tempo e então levantou-se da cadeira, devolvendo o porta retrato para a mãe e saindo do quarto sem dirigir um único olhar ou palavra a Jane.

Ela odiava ser ignorada tão friamente por ele, preferia que ele gritasse com ela, como pareceu quase fazer antes da chegada de sua mãe.

— Ele vai nos perdoar — Doralice disse, olhando para a foto.

Era difícil dizer se estava falando com ela ou consigo mesma.

— Não quero ser hostil, mas gostaria de ficar um pouco sozinha, se a Vossa Majestade permitir — disse Jane.

A rainha olhou para ela, deixando o porta retrato em cima da mesa.

— É claro — ela disse — Se quiser conversar, eu estou a duas portas de distância.

— Está bem — Jane concordou com a cabeça.

Doralice caminhou até a porta e então hesitou, como se estivesse considerando se deveria mesmo sair, mas por fim abriu a porta.

Ela voltou a deitar-se, subindo as pernas com lentidão de volta para a cama. Deitada de lado, encolhida, pôde ainda enxergar o porta retrato posto na vertical.

Também tinha sido incapaz de se reconhecer na fotografia, tinha mudado muito nos últimos 6 anos. Assim como Liam. Lembrou-se de quando o viu pela primeira vez, no Jornal Oficial de Illéa. E também de quando o viu quando chegou ao palácio, quando ele interrompeu a aula de McGonagall para conversar com elas.

Nunca tinha se perguntado com quem seus pais a planejavam casar, antes de toda aquela confusão. Talvez ela tivesse medo da resposta, mas agora gostaria muito de saber se, em uma realidade alternativa, eles poderiam ter ficado juntos.

Quase riu, fechando os olhos.

Não bastava estar sofrendo por Myrtle, ela também sofria constantemente por causa de Liam.

Se ela tivesse contado a ele, a reação teria sido diferente?

Se tivessem ficado juntos nas últimas semanas, em vez de discutir por causa da Snape...?

Agora com certeza ela seria escolhida a nova princesa.
Tinha conseguido tirá-la do jogo sem nem mesmo tentar. Bem, isso se não contasse com o lance dos frutos do mar na festa. Ela com certeza tinha alguma relação com isso.

Sentiria saudades de confabular com Gintare, ficarem conversando sobre teorias da conspiração envolvendo a Sete. De rir com as brincadeiras de Stelle e Fabiane. De cozinhar com Reyna e a sua mãe. Das conversas com Sirena.

Ela nunca teve amigas em casa, nem mesmo as suas empregadas.

Com certeza levaria boas recordações do seu tempo em Illéa.

Quer dizer, ela teria que retornar, certo? Mas... Quando? Ela teria que suportar ver Liam escolher outra mulher e vê-lo casar-se com ela? Só de imaginar a situação, ela sentiu os olhos marejarem.

Sua mãe a mataria por dizer aquelas palavras, mas Sie war in den Arsch.

♛♛♛

Na maior parte do tempo, os guardas impediam a aproximação das selecionadas no terceiro andar, mas daquela vez, Sirena conseguiu chegar até a porta do quarto da princesa.

— Jane, você precisa sair — ela disse, dando umas batidas leves na porta — Não pode ficar aí para sempre. Ficar sozinha não vai te ajudar em nada. Por favor, deixa a gente te ajudar.

Eram frases muito ensaiadas e calculadas.

Com certeza Reyna tinha dito para ela falar aquilo.

— Jane, os guardas vão voltar daqui a pouco e aí eu vou ser presa. É isso que você quer que aconteça?

Jane revirou os olhos.

É claro que ela ia falar alguma coisa daquele tipo.

— É sério. Eu vou ser presa. Não vou sair daqui e o terceiro andar é proibido, ainda mais agora, depois da re...

Ela parou de falar quando a porta foi aberta.

Sirena olhou-a de cima a baixo, parecendo não reconhecer quem estava na sua frente.

— Eu deveria me curvar? — ela perguntou.

Jane olhou pelo corredor, notando que ele estava vazio e perguntou, sarcástica:

— Sem tornozelos torcidos dessa vez?

— Não é inteligente usar o mesmo truque mais de uma vez.

Ela assentiu, sem saber o que responder.

— Anda, vamos — Sirena pegou-a pelo braço, sem se mover para que ela o fizesse primeiro.

A sua vontade de sair do quarto ainda era nula, mas ela sabia que não a deixariam em paz, então obrigou-se a fechar a porta e seguir até as escadas.

— Durchlaucht — um guarda cruzou com elas na escadaria e parou, parecendo surpreso.

Nunca entenderia a necessidade dos guardas, que sempre falaram inglês com ela, resolverem começar a praticar o germânico, só porque de repente todos sabiam que ela era uma princesa.

— Geh zurück zu deinem Station, Soldat — disse Jane, firme.

A mensagem era clara: volte para o seu posto e eu finjo que não notei a sua saída.

Apesar de não ser a chefe dele, aparentemente os guardas tratavam as realezas de outros países da mesma forma que os seus soberanos. Um grande erro. Ele curvou-se para elas e voltou a subir as escadas, deixando-as seguir em frente.

— De repente, todos me tratam diferente — Jane resmungou, assim que ele estava longe o suficiente para não escutá-la — Como se eu não estivesse aqui há meses.

Sirena olhou-a como se tivesse levado um tapa na cara.

— Eu fiz isso, não fiz? — ela perguntou, sentindo-se culpada.

— É, você fez.

Antes que pudessem entrar no Salão das Mulheres, que estava com a porta um pouco aberta por ser um dia quente, Sirena pôs-se à frente dela, parando-a.

— Antes que você entre, precisa saber — ela sussurrou, olhando para os lados — Só Reyna e eu sabemos sobre isso.

— Como? — perguntou Jane.

— Eu... insisti muito — Sirena deu uma resposta vaga — Outra coisa: Edge, Fabiane, Benny, Stelle e Edelweiss foram eliminadas na noite da recepção. Voltaram para casa junto com os outros convidados.

— Tão de pressa?

— O príncipe declarou a Elite. Disse que estávamos em perigo depois de... Você sabe.

Sim, ela não precisava que a lembrassem de quem tinha morrido naquela noite.

E se tivesse sido Hope? Reyna teria ficado arrasada.

Ou Pomona? Ela não era tão próxima da criada, mas não tinha nada contra ela. Ela teria parentes para lamentarem?

Myrtle tinha parentes?

— Vou sentir a falta dela — disse Jane e então corrigiu-se — Delas.

— Eu também vou — Sirena murmurou.

Então elas viraram e foram para dentro do Salão das Mulheres.

O cômodo parecia bem mais vazio tendo somente dez delas.

Lucy, Amethyst e Severina estavam em volta da televisão, enquanto conversavam. Queensley, Chavelle, Gintare e Amora estavam mais afastadas, próximas da janela, parecendo observar algo lá do lado de fora. Reyna estava sozinha no centro da sala, lendo algum livro que tinha pegado da biblioteca.

— Ainda estão se dando um gelo? — foi o que Reyna perguntou, quando Jane e Sirena sentaram-se com ela.

— Eu nunca dei gelo nela — disse Jane.

— Estava falando do Liam.

Ela inclinou-se levemente para o lado, fingindo estar se ajeitando no sofá.

— Ele não quer falar comigo no momento — sussurrou.

— Eu pensei que ele sabia — disse Sirena.

— Ele nunca aceitaria uma coisa dessas — Reyna negou com a cabeça.

— Aumenta o volume — escutaram Gintare pedir.

Amethyst inclinou-se para perto do televisor, aumentando o volume manualmente.

— ...é incomum na Nova Germânia que as realezas se casem com conselheiros, mas dada a necessidade de um herdeiro para o trono, após confirmada a morte da princesa Jane Potter...

Jane levantou-se do sofá, ignorando a mão de Reyna que tentou puxá-la de volta, aproximando-se da televisão.

— A rainha Euphemia anunciou o noivado com o conselheiro Tom Marvolo Riddle esta manhã.

Não.

Não, não, não.

Sirena pôs a mão na boca, sem entender realmente a gravidade da notícia. Talvez se concentrando apenas pelo fato de ter sido dada como morta.

Sua mãe nunca aceitaria se casar com outro homem depois da morte de seu marido, mesmo que sua filha tivesse sido morta, mesmo que o reino dependesse disso. Elas ainda tinham primos, apesar da ideia não agradar.

Ela estava sendo ameaçada. Tinha certeza disso. Não podia permitir que aquele casamento acontecesse, não podia permitir que sua mãe pensasse ter perdido sua única filha.

Mas como?

— Há muitos anos um rei não é assassinado e agora a princesa também — comentou Queensley.

Foi exatamente assim que o fim da monarquia nos tempos antigos iniciou-se.

Jane girou os calcanhares e saiu do Salão, sendo seguida pelos olhares das garotas na janela. Reyna e Sirena levantaram-se no mesmo instante e foram atrás dela.

— Jane, espera! — a morena dos olhos azuis exclamou, sem importar-se com os modos.

Um simples olhar bastou para que nenhum dos guardas tentasse impedir Reyna e Sirena de seguirem-na até o seu quarto.

— Eu entendo como é difícil, mas você não pode fazer nada — Reyna começou a dizer, assim que fecharam a porta.

— Não, vocês não entendem — Jane jogou um jarro contra a parede, interrompendo-a — É ele! Ele matou meu pai! E assim que conseguir o que quer, matará minha mãe também!

Elas ficaram em silêncio, absorvendo suas palavras. Jane sentou-se na ponta da cama, pondo as ideias no lugar.

— Eu preciso tirá-la de lá — disse.

— Você não pode... — Sirena negou.

— Peça ajuda a Liam — Reyna aconselhou.

— Não há nada que Doralice ou Charles possam fazer — disse Jane — Não vão dispor de seus exércitos quando nem sequer temos um acordo matrimonial em jogo.

— Pensei que a Nova Germânia era aliada de Illéa — retrucou Reyna.

— A rainha não pediu por ajuda.

— Então planeja ir até lá sozinha? Isso é insanidade!

Reyna olhou para Sirena, pedindo por seu apoio na discussão.

— O quer que a gente faça? — ela perguntou, sem olhar para a amiga.

— Fale com McKinnon, ele não é mais o meu guarda. Só conseguirei com a ajuda dele.

Sirena concordou.

— Não pode estar falando sério! — Reyna reclamou — Se retornar sozinha, vai morrer.

Àquela altura, não fazia mais diferença para Jane. Ela não disse isso.

— Obrigada — ela disse.

Sirena não respondeu, saindo do quarto rapidamente. Reyna permaneceu ainda por alguns segundos, olhando sem acreditar para Jane, antes de também sair rapidamente.

Jane suspirou. Olhou para as suas malas, pensando no que fazer. Ela não precisaria levar nada, se o plano desse certo. Apenas pegaria a sua mãe e retornaria. Era simples.

O problema era convencê-la a abandonar o reino. Isso seria complicado. Sua mãe era muito orgulhosa e leal aos súditos. Talvez pudessem pensar em um plano quando chegassem em Illéa. Talvez se Jane entrasse em contato com algum outro reino, se ela formasse um acordo, conseguiriam um exército e retornariam.

Não sabia dizer quando que a sua vida mudou tanto. Que outra monarquia estava preocupada com esses assuntos naquele momento? No máximo eram revoltas rebeldes insignificantes, que não atravessavam as paredes de seus fortes.

De quem tinha sido o erro? Quem era culpado por permitir que Tom Riddle ganhasse tanta confiança? Ele estava acima de todas as suspeitas.

Seus pensamentos foram interrompidos com batidas na porta.

— Entre.

McKinnon estava desacompanhado e parecia levemente perturbado.

— Mandou me chamar, Majestade? — ele perguntou.

— Feche a porta — pediu Jane — E eu não sou Majestade.

Ele concordou, obedecendo-a. Nunca o viu agir de forma tão séria como naquele momento.

— Eu preciso da sua ajuda — ela disse.

— Está me pedindo para trair o meu país — ele a interrompeu.

— Não, estou pedindo para que salve o meu.

Jane aproximou-se dele, pondo a mão em seu braço.

— Por favor. Eu só preciso de um transporte que me leve até lá, para que eu possa pegar a minha mãe e voltar em segurança. É só o que estou pedindo.

— Um transporte e um piloto — acrescentou McKinnon.

Talvez ela tivesse que roubar um helicóptero, se ele não a ajudasse. Visualizou a arma no coldre do seu uniforme.

Talvez tivesse que falsificar uma ordem assinada pelo rei ou pelo príncipe para ser transportada.

Ela não ia desistir.

— Na hora do jantar — ele disse — No corredor sem saída do primeiro andar.

McKinnon saiu do quarto, sem esperar por sua resposta.

Sentiu-se soltar a respiração que estava prendendo e não tinha notado. Ele ia ajudá-la, apesar de estar descumprindo as ordens de seus senhores. Podia perder o emprego ou pior, mas ia ajudá-la.

Ele devia ter muito apreço por Sirena para correr esse risco.

Não era tola de pensar que era por si.

Tinha notado os olhares que eles trocavam. Eles tinham personalidades bem parecidas. Tinha escutado muito que os opostos eram quem se atraíam, mas baseada na sua experiência com Liam, precisava discordar. Eles podiam se atrair, mas não funcionavam. Não davam certo.

Com quem sua mãe a faria se casar quando tudo terminasse? Certamente tinha alguém em mente. Certamente ela e seu pai tinham planos para ela, naquela época, antes de Tom Riddle.

Não importava. Tentou convencer-se disso.

Ela sabia desde criança que, como princesa, não teria a chance de ser feliz com quem quisesse, por mais que seus pais fossem flexíveis. Não era possível mudar tudo, só tornar mais suportável.

Sirena e Reyna não voltaram para se despedir. Talvez considerassem desnecessário, já que ela voltaria, ou talvez acreditassem que ela não voltaria e não suportariam.

Tentava não pensar na possibilidade, mas e se ela não retornasse? E se Tom Riddle conseguisse pegá-la? A mataria? A obrigaria a se casar com ele? A manteria como refém?

Talvez pudesse trocar a sua liberdade pela de sua mãe. Faria isso sem pestanejar. Sem hesitar.

O relógio marcou 18h. Ela dispensou as criadas e os guardas. Gostaria de alguns momentos a sós.

Sentia que não usufruiria dessa paz por um bom tempo.


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