Série Paradise - Serena(Degustação) escrita por moni


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindas, espero que gostem
Serão quatro histórias, quatro garotas e seus pares. Conto com vocês.
Obrigada
Ah! A pré-venda de Um amor como vingança começa domingo
A loja do blog será o lugar
www.autoramonicacristia.com.br






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   14 de Fevereiro de 2011

   Serena

   — “Nova York é linda no inverno, Serena. É a terra das oportunidades. Vamos voltar ricos para o México, casar e ter nossos filhos”. Como pude acreditar nele por um ano inteiro? Como vim parar aqui? – A chuva cai sem piedade, minhas botas estão encharcadas, ando tentando me esconder em toldos por dois quarteirões. O frio corta a pele do rosto, e queima meu nariz enquanto caminho. – Quem tem cinco dólares para um guarda-chuva hoje em dia? – Todo mundo, menos eu. Falar sozinha parece que será um novo hábito. Agora que Ramirez partiu.

   Que belo dia de San Valentin. Começou com ele anunciando que me enganou durante todo esse tempo, que uma garota grávida o esperava no México e ele estava voltando para se casar com ela.

   Eu ainda dei a ele tudo que juntamos em três meses aqui. Eu não podia ser mais idiota. Não tenho dinheiro nem para viver até o fim da semana e dei minhas economias ao idiota do meu namorado... ex-namorado, para ele voltar para casa sem mim e viver a vida que sonhamos juntos, com outra pessoa.

   Quando Ramirez bateu a porta eu decidi que nunca mais voltaria ao México e que aqui iria construir minha vida, foi uma cena digna de novela, bem no estilo “E o vento levou”, depois da promessa, me atirei na cama e chorei por duas horas, até me lembrar que preciso de dinheiro e ficar de pé. A droga do jornal anuncia mil vagas, mas claro que a cada tentativa, algo dá errado. Nunca vão me dar uma oportunidade na terra das oportunidades. Ironia? Não, burrice pura e simples. Eu sou mexicana, meu diploma de técnica em enfermagem não serve por aqui, nada em mim serve por aqui.

   Meu pé esquerdo afunda em poça de água suja quando viro a esquina. Nos filmes eles dançam na chuva, sapateiam naquela água limpinha e tudo parece mágico e lindo. Na vida real, é só lama e poeira e quando o gelo derrete, aí vira esse caldo preto e não tem qualquer glamour em se caminhar por essas ruas.

   As pessoas passaram o dia apressadas, comprando presentes para seus namorados, todos dispostos a comemorar a data enquanto eu era presenteada com traição e adeus.

   Aproveito um toldo verde de uma pequena loja de discos para tentar olhar o jornal, abro procurando o endereço. É um consultório de odontologia, devo ser capaz de atender telefones e anotar recados, quem sabe ajudar o dentista em seus procedimentos? A chuva ganha força, o excesso de água sobre o toldo pesa, cede e a água acumulada cai em uma cascata sobre mim, salto para o lado, evito o banho completo, mas o jornal termina inutilizado. É tarde, sete da noite, eu não encontraria mais o consultório aberto. Atiro o jornal se decompondo na lixeira, ergo a gola do casaco pesado e apresso meu passo.

   Um quarteirão é tudo que consigo andar. A chuva se torna ainda mais forte. Tento me proteger mais uma vez.

   — Bar Paradise. — O nome escrito nas janelas me faz pensar em chocolate quente e meias secas, é isso o paraíso. Encosto a testa na porta apesar da placa indicar que está fechado. Uma loira limpa um balcão longo de madeira com um pano branco imaculado. Toco a maçaneta e a porta se abre. Não penso muito, apenas salto para dentro grata por me livrar da chuva.

   Uma gostosa sensação de calor me invade. Sim, é o paraíso. Corro os olhos pelo lugar, uma mulher está sentada sozinha em uma das mesas, com ela uma taça de champanhe. Me volto para a jovem atrás do balcão.

   — Fechado! – Ela avisa como se eu não tivesse visto a placa.

   — Só quero me proteger um pouco da chuva. – Comunico em um tipo de pedido. — Ainda resta uma cliente e só preciso me secar um pouco.

   — Tudo bem. – Posso ver a pena refletida em seu olhar.

   Atrás dela, uma parede inteira de espelhos onde prateleiras abrigam dezenas de garrafas de bebidas. Posso ver uma garota loira refletida no espelho, ela está sentada em baixo do balcão e parece escrever em um caderno.

   — Sente-se aqui, garota da camiseta molhada. Eu te pago um drink. – Me volto para a mulher sentada, ela é linda, longos cabelos cobre completamente arrumados, cada fio em seu devido lugar, unhas longas e vermelhas, pulseiras e maquiagem impecável.

   — Desculpe, eu gosto de menino! – Aviso, ela ri, é uma risada alta e cheia de vida. – Se está me oferecendo uma bebida com segundas intenções, saiba que não vou dormir com você.

   —Ótimo, porque eu estou sem sono. – Ela faz sinal me convidando.

   — Olha, se tem uma coisa que aprendi é que ninguém oferece uma bebida em um bar sem intenções.

   —Garota chata! – Ela reclama. Reviro os olhos, procuro o olhar da garçonete, ela tem um tipo de sorriso escondido. Continua a limpar o balcão e organizar copos. – Vem, não quero dormir com você. Gosto de homens, na verdade, eu os detesto, mas aceito que as vezes, eles são úteis. Eles são como roupas de grife, te deixam linda, mas não se pode repetir muitas vezes que logo perde a graça.

   — Você é maluca! – Digo a ela para o caso dela ainda não ter se dado conta.

   — E você está encharcando meu piso de madeira. – A garçonete se pronuncia. – Deixe as botas e o casaco na entrada, vá se sentar que sirvo uma bebida.

   — Oh, me desculpe. – Me apresso a atender seu pedido, penduro o casado na entrada, encaro as botas, estamos sozinhas, o bar está fechado, acho que tudo bem. Tiro as botas e as meias. Assim que piso o chão de madeira, sinto um tipo de conforto me atingir. Caminho para a mesa da mulher elegante, me sento e a garçonete se aproxima trazendo uma taça.

   — Pegue uma para você também. – A mulher diz a garçonete. – Vamos, venha se sentar e conversar. É a droga do dia de San Valentin, devíamos estar na cama com alguém, mas estamos aqui, vamos beber juntas. Traga a garotinha escondida atrás do balcão. – A mulher loira fica surpresa. Arregala os olhos.

   — Achou que a estava escondendo ou não sabe que tem uma garota lá? – Pergunto. – Por que se quer esconde-la é melhor escolher um lugar sem espelhos.

   —Dakota! – Ela chama, olhamos para o balcão, uma jovenzinha surge com os cabelos dourados e os olhos verdes um tanto constrangidos. Ela dá um sorriso sem graça. A garçonete faz um sinal. – Vem, traz mais duas taças.

   A garota obedece, acabamos as quatro sentadas em torno de uma mesa elegante, a dona da garrafa de champanhe serve as taças.

   — Eu sou Dominique Chermont, nascida em três de março de mil novecentos e oitenta e três, em Paris, minha mãe é francesa e meu pai americano. Meu namorado me deixou descobrir essa manhã que é casado e tem três filhos.

   — Que canalha! – Digo sem pensar muito.

   — Não é mesmo? Quem tem três filhos hoje em dia? – Ela me deixa surpresa, os filhos parecem ofende-la mais do que a traição. – Apresentem se. – Dominique incentiva. – Parece que a chuva não vai parar tão cedo.

   A garçonete toma um gole do champanhe. Depois encara a taça, a outra loira a seu lado, então suspira.

   — Savannah Jones, nascida em dez de janeiro de mil novecentos e oitenta e quatro, no Arizona, cheguei a Nova York aos dezoito, trabalho aqui desde os dezenove e se querem mesmo os detalhes sórdidos, essa manhã, descobri que meu namorado teve uma boa razão para não voltar para casa noite passada, ele roubou todas as minhas economias. – Ela vira a taça em um só gole. Dominique ri com gosto, faz o mesmo, bebe o liquido todo de uma vez e volta a encher os copos das duas.

   — Dakota Jones, irmã mais nova da Savannah, nascida... isso é muito idiota, mas... nasci em doze de julho de mil novecentos e noventa e seis. Moro com a minha irmã, me escondo aqui as vezes quando não quero ficar sozinha em casa, não tenho namorado, só.... – Ela se cala. Gira a taça, olha para a irmã. – Posso?

   — Um gole, depois vá lá buscar um refrigerante, não queremos ser presas. – A irmã avisa e ela faz careta. – Ela tem apenas quinze anos. – Savannah explica.

   —Obrigada, estava perdida aqui fazendo contas escondida, não sou boa em matemática. – Eu conto a elas, dessa vez sou eu a virar a taça. Me dá força para contar. – Vamos lá, eu sou Serena Rodríguez, nasci no dia vinte e nove de outubro de mil novecentos e oitenta e sete. No México, país. – Elas fazem um ar divertido. – Sei lá se aqui tem uma cidade com esse nome, ou uma pessoa, elas são, Dakota e Savannah, então... me perdi. O que estava dizendo?

   — Agora é a hora em que nos conta porque está aqui, molhada e sozinha na noite do amor.

   — Dominique, temos muito em comum. Meu namorado me deixou essa manhã, ele está agora mesmo voando para o México, vai se casar com a namorada, uma que eu não sabia que existia, já que achei que era eu sua namorada, e achei isso por um ano.

   — Eles são bons em ser maus. – Dakota suspira penalizada.

   — Mas acho que vou ganhar o prêmio de estupidez. — anuncio sem medo da humilhação. — Juntamos algumas economias esses meses aqui, para o nosso futuro juntos, eu dei tudo a ele, porque... a garota está grávida. A namorada, a que não sou eu.

   — Acho que estamos empatadas. – Savannah decide.

   — Dakota ainda não contou seus infortúnios. – Dominique encara Dakota, ela dá de ombros, fica muda. – Vamos “petit”, tenho certeza que já descobriu que a vida não é perfeita. Aposto que tem um carinha habitando seus pensamentos. – Dakota dá um sorriso triste.

   —Eric Howard, o garoto mais bonito do colégio, mais bonito que já vi na vida, capitão do time, está na minha sala de literatura, senta atrás de mim, somos amigos dentro da sala, ajudo ele, amo a aula de literatura, ele não é muito bom, está sempre brincando com meus cabelos, sentamos juntos as vezes, para ler e fazer trabalho, achei... bobagem minha, ele é importante, então... mas eu pensei que estava acontecendo algo entre nós e hoje ele chegou com uma caixa de bombons em forma de coração. Achei que era para mim. – Ela fica corada só com a lembrança. — Amanda ganhou os bombons, ela é líder de torcida, é linda, fui boba. Ele não quer nada comigo.

   —Um brinde as quatro idiotas do ano. Três muito bem treinadas e Dakota, ainda em fase de aprendizado! – Dominique levanta sua taça, trocamos um olhar. No fim, todas erguemos as taças e o tilintar dos vidros me faz sorrir. É bom não se sentir sozinha. Saber que outras pessoas também têm problemas tornam os meus menos pesados.

   — Decreto dia internacional da libertação das garotas Paradise! – Savannah anuncia ainda com o copo erguido.

   —Apoio! – Dominique volta a tocar sua taça na taça de Savannah. – Vamos, Serena, você também Dakota. – Olho para a garotinha loira e penso em quem poderia ter coragem de magoar alguém tão angelical. Minha taça toca as outras e Dakota faz como eu.

   — Esperem! – Savannah diz alto. – Isso merece algo mais quente! – Ela fica de pé. – Uma homenagem a nossa mexicana. – Savannah deixa a mesa, vai até o balcão, se debruça, ficamos olhando enquanto ouvimos o barulho de vidro e quando ela se volta, está com uma garrafa de tequila e quatro copos. – É isso. Tequila! – Ela diz em um espanhol divertido. Pisca e caminha de volta em um tipo de dança sensual. Dominique está aplaudindo e assobiando. Dakota sorrindo um tanto tímida.

   — Eu sirvo! – Anuncio ficando de pé. Encho os copos. Nasci na terra da tequila. Não que eu beba com frequência, mas uma dose ou duas não é nada demais. – Peguem seus copos meninas.

   Dakota faz um ar surpreso, mas eu coloco apenas um gole em seu copinho de vidro.

   — Às garotas Paradise! – Savannah Ergue sua taça.

   —Ao dia mundial da liberdade! – Dominique incentiva. Mais uma vez, eu e Dakota apenas brindamos. Em seguida, de modo sincronizado, viramos os copos. Dakota devolve o copo a mesa em uma crise de tosse. Nos leva a uma crise de riso. As quatro sentadas em torno de uma mesa de bar enquanto o céu parece desabar lá fora em pleno dia dos namorados.

   O riso vai sumindo, vamos nos dando conta de nossas vidas. Calando, pensando. Bebericando o champanhe.

   — Tentei economizar cada centavo. Não era muito o que tinha. Quando a Dakota teve que vir morar comigo os gastos dobraram, mas era meu e me enchia de esperanças. Meu sonho é comprar esse bar, ele é minha casa, posso dar um pouco mais de vida a ele, criar novos drinks, atrair os executivos. Agora... – Savannah suspira. A irmã baixa os olhos como ela. Uma pena mesmo.

   — Ele sempre foi um safado? – Dominique pergunta.

   — No fundo eu sei que sim, eu fui muito burra, ele tinha um jeito durão, parecia disposto a ser protetor e eu... carência. Só isso. Abri a guarda, ele começou a dormir em casa e dei uma chave a ele. Sai para trabalhar pela manhã, Dakota saiu comigo para o colégio. O dinheiro ficava bem escondido. Ninguém sabia, nem a Dakota e então...

   — Cheguei do colégio e estava tudo revirado. – Dakota continua a história. – Liguei para minha irmã, já era tarde, ele desapareceu. Nem os amigos sabem dele.

   — Só hoje pela manhã que resolvi olhar o esconderijo, tinha certeza que ele não tinha encontrado. Sempre que penso nisso me sinto estúpida.

   — Somos todas estúpidas ao menos uma vez na vida. – Tento aplacar sua dor. Ela toca minha mão com carinho, dá um meio sorriso e volta a encher o copo com tequila. Vira mais uma dose.

   —É isso aí, Savannah, vamos afogar as magoas. – Dominique diz enchendo o seu pequeno copo para mais um shot. – Phill não era grande coisa, eu achava muito estranho os horários dele, mas ele dizia que era por conta do trabalho e aceitei. Namoramos seis meses. Nunca quis casar e ter filhos, minha mãe já se casou cinco vezes, então... sei que casamento é uma droga e não quero para mim. Ver o Phill tão pouco era até muito bom.

   — Como descobriu? – Pergunto curiosa.

   — Acho que ele estava cansado de me esconder e não tinha coragem de contar, então, depois de uma noite quente de sexo, ele foi tomar banho e deixou o computador aberto sobre a cômoda, com as fotos da sua família, esposa grávida, ele com os filhos, foto de comercial de televisão. Saiu do chuveiro nu, secando os cabelos, como se nada demais tivesse acontecido.

   — Que canalha! – Savannah mostra sua indignação. – O que você fez?

   — Atirei ele no corredor, nu inclusive. – Olhamos todas para ela chocadas. – Eu atirei as coisas dele pela janela, ele já deve estar vestido essa hora.

   — Eu digo que você é maluca! – Não acredito que ela fez isso.

   —Três filhos? Por favor, quem tem tantas crianças hoje em dia? Sabiam que elas falam, babam, se movem e até respiram? E tudo isso sem qualquer organização.

   — Não está falando sério. – Eu condeno. Amo crianças, meu sonho é ser mãe e ter uma família, talvez isso seja o que mais me doa, ele me deixou para ter um filho com outra, filho que ele jurava que não estava pronto para ter comigo. – Ficaria com ele se ele não tivesse filhos?

   — Provavelmente não, mas não o acharia tão canalha, pensaria que ele estava em uma crise conjugal, quem sabe arrependido de um casamento de impulso. Eu mesma me casei aos dezoito em Las Vegas, durou uma semana, papai conseguiu a anulação.

   — Dominique, você casou aos dezoito anos em Las Vegas? – Dakota sorri, os olhos cintilam. – Conte.

   — Fui comemorar dezoito anos em Las Vegas, vocês sabem, o que acontece em Vegas, fica em Vegas e eu bebi champanhe demais, ele era lindo.

   —Elvis foi seu padrinho? – Savannah pergunta as gargalhadas.

   — Não. Elvis foi o noivo. – Cuspo a tequila em um ataque de riso. – Pois fiquem sabendo que ele cantou Suspicious Mind na cama, ao menos eu acho que cantou, não tenho certeza. Papai conseguiu anular e posso dizer que fui casada com Elvis Presley. – Ela da de ombros e enche sua taça de champanhe.

   — Já eu nunca desconfiei que o Ramirez me traía, ele dizia que tínhamos que juntar dinheiro, que levaria alguns anos para termos uma família, mas eu achava que podia dar certo. Então ele... nem sei se ele sempre soube que não ficaríamos juntos ou se pelo menos em algum momento ele me amou.

   — Você não o amava. Eu não amava o Phill e a Savannah não amava o.... como se chama o seu namorado ladrão?

   — Ex... ex-namorado ladrão, e ele se chama Wilson.

   — Wilson! – Dominique diz alto como se estivesse chamando por ele. – Não resisto, me lembro do náufrago. Enfim, estamos muito bem para ser amor.

   — Então Dominique é romântica?

   — Serena, acredite, se tem uma coisa que não sou é romântica.

   —Eu sou! – Dakota sorri. – Acho que algo especial sempre pode acontecer.

   — Boa sorte, irmãzinha. – Savannah suspira. – Já fui assim, deem um desconto a ela, isso passa. – Ela vira mais uma dose. Eu parei na segunda, Dakota beberica seu refrigerante, já Savannah e Dominique, bebem sem medo.

   —Onde mora? – Dakota me pergunta.

   — Em um quarto atrás de uma farmácia uns quarteirões daqui, mas só por mais uma semana, depois o dinheiro acaba e vou morar sob algum viaduto. É permitido morar sob viadutos em Nova York?

   — Como é que foi dar todos eu dinheiro ao canalha? – Savannah pergunta chocada.

   — Amo crianças e a ideia de que ele ia ter um bebê... foi demais para mim. Preciso de um emprego. Lavei pratos em um restaurante a semana toda, trabalhei de arrumadeira em um motel no período noturno também, mas eram temporários. Agora acabou e preciso achar algo. – As três me olham solidárias.

   — Vai ficar conosco até achar um lugar. – Savannah avisa. – Moramos aqui na esquina. Dois quartos apenas, cozinha e uma sala. Fica com o sofá.

   —É melhor que o viaduto. – Dominique brinca. – Poderia ficar lá em casa também, mas estou em um hotel essa semana, estou fazendo uma reforma em casa. Culpa pelo quinto casamento. Ganhei de presente da mamãe. Ele é mais novo que eu, ela está cada dia mais ousada, mamãe a ideia de casamento, tudo que ele quer é dinheiro, tudo que ela quer é o corpo jovem, eles se merecem.

   —Cinco casamentos é muito otimismo.

   — Não, Serena, é burrice mesmo. – Dominique reclama. – Meu pai está nas Bahamas com a esposa, mora lá, segunda esposa, mas já faz uns quinze anos, nos vemos pouco.

   — Meu pai também está no segundo casamento. Está no Arizona, minha mãe morreu e não me dou bem com a esposa dele, por isso vim morar com a Savannah. – Dakota conta. Elas me olham.

   — Alguns tios e tias espalhados pelo México, ninguém muito próximo. Não volto mais ao México, decidi ficar, tenho visto por um tempo, depois... tento outro, não sei, quero ficar aqui.

   — Vai conseguir. Procura que tipo de trabalho? – Savannah questiona. – Conheço muita gente, clientes que frequentam o bar há anos.

   — Qualquer coisa. Sou técnica em enfermagem, mas meu diploma não vale aqui. Então não sei, talvez babá, acho que seria algo que meu diploma ajudaria.

   — É, não sei se posso ajudar, os caras que frequentam o bar não querem se lembrar que tem filhos quando estão aqui. Ninguém quer pensar muito em nada quando está em um bar.

   —“Évident” conheço alguém! – Dominique diz ansiosa. – Theodor Fitzalan. Ele tem um filho, acho que ficou sabendo disso ontem, ou qualquer coisa assim, mamãe é amiga da mãe dele e eu as ouvi conversando. Ele está procurando uma babá.

   — Você diz Theodor Fitzalan da corporação Fitzalan? – Savannah parece surpresa. Dominique afirma despreocupada.

   — Um papel. Me empresta uma caneta, “petit”. – Dakota pega a caneta em seu estojo e corre até ela.

   — Aqui. – Ela entrega. – Ele deve pagar muito bem, tomara que consiga.

   — Quem é ele?

   — CEO de uma corporação. Rico, lindo e... isso basta, ao menos para ele. – Dominique conta enquanto escreve em um guardanapo. – Aqui. É o endereço dele, da casa dele. Vá até lá, diga que foi para a entrevista de babá. Claro que ele deve ter chamado algumas de agência, mas você vai e faz a entrevista, é com você.

   Olho para o papel. O que de pior pode acontecer? Um não, mas já tive tantos, será só mais um, vou arriscar. – Dobro com cuidado o papel e coloco no bolso.

   — Obrigada. O dia começou péssimo, mas acho que está indo muito bem agora. É bom conhecer vocês. Acho que podemos ser amigas.

   —Já somos. – Savannah diz enchendo copos para todas. Incluindo a irmã que franze a testa surpresa. Savannah bebeu demais. – Quatro mulheres lindas e solteiras, fomos passadas para trás hoje, mas não vamos deixar se repetir. – Ela ergue seu copo meio rápido demais, umas gotas pingam em torno. – Abaixo os homens! – Grita em um brinde que não encontra solidariedade. Nenhuma de nós ergue os copos.

   — Vá com calma, amiga. – Dominique brinca. – Não sejamos tão radicais.

   —É vocês têm razão. – Ela ri. – Mas vou beber mesmo assim. – Vira o copo e deposita na mesa com força.

   —Acho que chega por hoje, irmã. – Dakota pede. Ela afirma rindo.

   — Sim, por hoje chega. Amanhã trabalho e você tem escola e a madame aqui não vai fazer nada e a Serena vai procurar emprego com o gatão milionário. Será um grande dia para todas, um dia igual a todos os outros, mas sem canalhas amanhecendo em nossas camas. Só... esqueci o que estava dizendo.

   —A chuva diminuiu, acho que preciso ir. – Aviso com pena de deixa-las.

   — Te dou uma carona, estou de carro, perdi meu motorista. – Dominique avisa depois de um suspiro. – Mamãe casou com ele. Depois me jogam na cara meu casamento com o Elvis, ao menos ele tinha idade para casar.

   Ela tira algumas notas e deixa sobre a mesa, parece bem mais do que consumiu, mas já entendi que Dominique é muito rica. Savannah também fica de pé.

   — O convite está de pé. Pode morar lá em casa por um tempo. – Nos abraçamos como velhas amigas. – Passe aqui depois da entrevista e combinamos.

   —Obrigada, talvez eu tenha que aceitar. – É terrível, mas é bem possível que acabe vivendo de favor.

   —Nos vemos. Agora somos as garotas Paradise, vamos nos encontrar sempre aqui. – Dominique se despede também.

   — Aos domingos fecho as quatro da tarde. Aproveito para fazer faxina. Podem vir para conversar e tomar um drink. Menos você Dakota, hoje foi um caso a parte. – Outro abraço, Savannah abraça todas nós pelo menos duas vezes.

   — Ficam bem sozinhas? – Eu pergunto a Dakota.

   — Sim, estamos de partida também, o ar da noite e a chuva vai fazer bem a ela. – Dakota responde apoiando a irmã.

   Calço as botas e visto o casaco ainda molhado, meus pés parecem mergulhado em um balde de gelo. Estremeço. Elas se compadecem. Dominique se apressa a deixar o bar, ainda chove e venta, o carro está no estacionamento ao lado do bar, ela liga o ar quando me sento ao seu lado.

   — Me indica o caminho? – Afirmo. – Fitzalan é um tremendo cínico, é o que dizem, mas é rico e muito honesto. Sabe reconhecer o valor dos funcionários e paga muito bem, dizem que é a única razão para ainda ter funcionários. Não o conheço pessoalmente, mas nos cruzamos em festas por aí. Ele é lindo. Não se impressione, ou se impressione, não é como se pudesse evitar.

   —Só quero uma chance, não vou nem olhar para ele. Vire à direita no farol. – Ela obedece, as ruas estão calmas por conta da chuva. Um casal passa dividindo um guarda-chuva a moça leva um buquê de rosas vermelhas e ostenta um sorriso enquanto o rapaz carrega o guarda-chuva e tem um braço protetor sobre seu ombro. – San Valentin. – Bufo. Aquele idiota acabou com meu dia dos namorados. – É aquela construção depois da curva. – Dominique diminui até parar o carro. — Obrigada. É aqui mesmo.

   — De nada, me liga, anotei meu número junto com o endereço. Boa sorte.

   — Vou precisar. – Abro a porta e salto. Ela acena e parte, fico ainda um momento sob a chuva pensando em tudo que aconteceu. Depois giro nos calcanhares e só penso em meias secas e chocolate quente. Meu estômago reclama, acho que bebi demais.

                                        


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Notas finais do capítulo

Beijosssss
Agora as postagens vão ser. terça a quinta, sabado e domingo. ou seja, não vou postar de segunda nem sexta. novidades para futuro.



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