Rosalie e Emmett estavam sentados à mesa do café da manhã desfrutando de uma refeição leve antes de saírem para o trabalho. Não demorou muito para que eles se acostumassem com a casa nova e a com a vida a dois, na verdade Rosalie se surpreendeu com o quanto foi fácil para eles dois se adaptares. Claro que ainda brigavam vez ou outra por vários motivos diferentes: as bagunças de Emmett, o fato de Rosalie por vezes tirar as coisas dele do lugar e não por de volta, entre outros motivos, apesar disso na maior parte do tempo eles gastavam o tempo juntos em coisas muito mais proveitosas e contornavam cada pequena discussão.

No começou foi estranho ter que adaptar a rotina, mas Emmett ficava orgulhoso em dizer que haviam conseguido fazer e agora, três meses depois pareciam que tinham morado juntos a vida toda, era confortável estarem juntos naquela casinha num bairro de classe média na cidade de Seattle. Pouco a pouco a casa deixou de ser um ambiente neutro em que dividiam o espaço e foi sendo transformada no lar que eles tanto tinham sonhado à medida que davam seu toque pessoal e construíam suas lembranças em cada cômodo: o filme que assistiram na sala na primeira madrugada, o piquenique que fizeram numa tarde de domingo no jardim, o banho de banheira juntos depois de um dia estressante no trabalho, o jantar entre amigos para celebrar as conquistas alcançadas, essas e tantas outras eram a prova de que estavam fazendo o relacionamento dar certo e progredir do jeito que tinham prometido um ao outro. E agora era hora de dar mais um passo importante.

— De que horas o vôo dos seus pais chega mesmo? – Emmett perguntou levando a xícara de café puro aos lábios, soprou a fumaça do líquido fumegante e inalou profundamente. Adorava apreciar o cheiro do café antes desgustá-lo.

— As Seis e Meia. – Ela repetiu apesar de já ter dito a Emmett nos dois dias anteriores. Seu marido era um cabeça de vento.

— E eles vão ficar num hotel? – Perguntou só para ter certeza. Emmett estava ansioso com aquela visita mais do que deixava transparecer, conhecia os pais de Rosalie, mas seria a primeira vez que os encararia na condição de esposo de Rosalie, embora ainda não estivessem oficialmente casados. Quando Emmett tinha visto o senhor e a senhora Hale pela primeira vez foi na condição de amigo de Jasper, uma vez que ele e Rosalie estavam namorando escondidos na época. Agora era a sua oportunidade de impressionar os sogros, passou dias imaginando o que poderia fazer para deixar uma boa impressão. Rosalie quebrou sua linha de raciocínio voltando a falar.

—Sim, eu avisei que poderiam ficar aqui durante toda a estadia deles, afinal são só duas semanas. – Emmett teve que se controlar para não fazer uma careta, uma quinzena com os pais de Rosalie não parecia exatamente um sonho de consumo ou algo que ele desejaria apesar de não ter nada contra eles dois, mas tinha certeza de que não conseguiria levar a loira para a cama sabendo que os pais dela estavam no quarto ao lado e silenciosamente agradeceu aos dois por preferirem um hotel.- Mas eles disseram que já tinham reservado o hotel e não queriam mudar os planos, além do mais afirmaram que se  ficassem aqui teriam que passar um tempo na casa de Jasper também ou ele não os deixaria ter sossego. E conhecendo Jasper como eu conheço tenho certeza de que estão certos.

Emmett riu, por todos os anos que conhecia o amigo sabia que Rosalie estava certa. Tinha conhecido Rosalie e Jasper na época da universidade quando sua prima Bella, tinha insistido que ele fosse junto com ela a uma festa da universidade onde ela encontraria namorado Edward e um grupo de amigos que consistia em Jasper que namorava com Alice que era melhor amiga de Rosalie. Desde então tinham se tornado um grande grupo cuja amizade perdurou para além da faculdade, bem como os relacionamentos, mas deles todos apenas Edward e Bella já tinham casado de papel passado e estavam curtindo a expectativa da chegada do primeiro filho.

 - Enfim, marquei um jantar com eles hoje a noite e também chamei Alice e Jasper e Edward e Bella. Agora não tenho certeza de que foi uma boa ideia. – Ela bebericou seu chá e Emmett viu que ela estava aborrecida.

— E por que não seria? Tenho certeza de que vai ser maravilhoso um jantar em família.

—O problema é que vou ter que ficar até um pouco mais tarde no expediente hoje, a irmã de Kate ficou doente e ela me mandou uma mensagem agora de manhã dizendo que passou a noite com ela no hospital e até agora ela não recebeu alta, o que quer dizer que ela vai precisar faltar. Vou ajudar cobrindo uma parte das funções dela. – Ela soltou o ar com chateação pelos seus planos estarem sendo frustrados. – Eu não gostaria de ter que ir para um restaurante, meus pais vão chegar cansados e algo mais íntimo e menos formal aqui em casa seria o ideal, mas não tenho como cozinhar, vou sair do trabalho e ir busca-los direto no aeroporto.

E ali estava a oportunidade que Emmett tinha esperado para impressionar os sogros. Se a vida real fosse um desenho animado agora haveria uma lâmpada acesa sobre sua cabeça indicando que ele teve uma ideia genial. Seus olhos se arregalaram e brilharam e ele abriu um sorriso que ia de orelha a orelha.

—Emmett....Por que você está me olhando assim e sorrindo desse jeito? Sério, você está me assustando para com isso. – Rosalie disse o encarando e rezando internamente para estar interpretando errado aqueles sinais, sempre que Emmett a olhava daquele jeito ela já sabia que viria alguma ideia ou plano que terminaria em merda.

— Eu já sei. Eu vou cozinhar!  Posso sair mais cedo da empresa hoje. – Ele disse animado e com convicção. Rosalie o olhou atônita e depois gargalhou alto. – Ei, eu estou falando sério. 

Ela teve que respirar fundo algumas vezes para controlar o próprio riso antes de levantar e começar a recolher os pratos do café da manhã para colocar na lava-louças.

—Emmett, isso até que faria algum sentido se você soubesse cozinhar. Você nunca fez nem arroz e está me dizendo que vai fazer um jantar? – Ele se empertigou.

— Eu fritei ovos para o café da manhã ontem. Você disse que tinham ficado bons. – Rosalie mordeu o lábio inferior ficando de costas para o marido enquanto depositava os pratos sujos na máquina. Os ovos estavam quase bons, não fosse pelo excesso de sal e por Emmett ter queimado metade da quantidade que se dispusera a fritar.

— Querido, por mais que eu aprecie sua boa vontade, e eu realmente o faço, fritar ovos não se compara nem de longe a preparar um jantar, Emm. Sério, obrigada, mas não precisa fazer isso.

Ele guardou o leite na geladeira ajudando a tirar a mesa e logo em seguida se aproximou dela que ainda estava de costas segurando firme em sua cintura e beijou seu pescoço.

— Ursinha, eu quero fazer isso. Eu posso fazer isso. Confie em mim. Hum? Confie no seu macaquinho.

Rosalie arfou com o contato e quase deixou um dos pratos se espatifar no chão. Sabia que ia se arrepender, mas não conseguia negar nada quando Emmett pedia daquele jeitinho.

—Certo, tudo bem então. Vou confirmar o jantar com o pessoal. Mas se você tiver qualquer problema tem que me avisar? Ouviu bem?

—Claro, claro. – Emmett sorriu, já nem escutava mais o que Rosalie dizia. Iria conquistar os sogros pela barriga.

X

Emmett deixou a companhia em que trabalhava como engenheiro mecânico as cinco e meia da tarde estipulando que levaria meia hora para chegar em casa, considerando que o voo dos pais de Rosalie chegaria as seis e meia e eles ainda levariam algum tempo indo até o hotel e se preparando para o jantar que seria as sete e meia isso lhe daria uma hora e trinta minutos para trabalhar num aperitivo, prato principal e sobremesa. Sim, poderia fazer aquilo. Estavam em pleno século XXI, pegaria umas receitas na internet e faria o melhor jantar da sua vida.

As ruas estavam com pouco trânsito o que o fez chegar em casa dez minutos antes do previsto, ele aproveitou para tomar um banho e vestir camiseta e moletom ficando confortável.

Depois de analisar o armário decidiu o cardápio, seria algo simples: pão de alho como aperitivo, uma lasanha de frango como prato principal e brownies para a sobremesa.

Emmett lavou as mãos e vestiu o avental decidindo começar pela lasanha que deveria ser o que daria mais trabalho. Tirou o macarrão da embalagem e ligou o fogo colocando uma panela com água para ferver. Em outra panela colocou files de peito de frango e água e foi aí que as dúvidas começaram.

Era pra pôr as verduras junto com a água e o frango? Ou somente o frango com a água e temperar depois? Não sabia, por isso colocou outra panela com água, sal, alho, extrato de tomate (deveria servir no lugar de tomate de verdade, certo?) e cebola no fogo também. No final juntaria tudo e tinha certeza que daria certo.

Quando a água da primeira panela ferveu Emmett colocou o macarrão, três colheres de sopa de sal, ninguém gostava de comida insossa, era a pior coisa que tinha, e meia xícara de óleo.

— Perfeito! Assim não vai grudar. – Ele riu. Se continuasse cozinhando tão bem e naquele ritmo poderia quem saber até se inscrever para o masterchef.

Com o prato principal bastante adiantado em sua concepção ele partiu para os aperitivos. Emmett não esperava o trabalho que um simples creme de alho poderia dar. O primeiro que fez ficou tão fraco que só tinha gosto de margarina, na segunda vez colocou tanto olho que ficou impossível de comer e na terceira vez ele achou que tinha azeite de mais visto que havia pelo menos dois dedos do líquido amarelo brilhando sobre a mistura de ingredientes, bom teria que servir já que ele não tinha mais ingredientes. Cobriu os pães e colocou no forno.

— Ah ! A lasanha. – Lembrou de repente. Quando abriu a panela seu macarrão estava tão mole e quebradiço que ele se perguntou se não seria melhor bater no liquidificador e fazer um suco de lasanha. – Calma, calma, nem tudo está perdido. Vamos lá, Emmett, você consegue. – Desligou o fogo e escorreu o macarrão. E então misturou o conteúdo da panela das verduras com a do frango vendo pedaços da carne boiar no excesso de água. – Vai secar.

Tinha certeza. E se não secasse poderia fazer uma deliciosa canja.

O telefone tocou em seu bolso o assustando e ele não demorou para atender não se dando ao trabalho sequer de ver quem era.

— Alô? – Perguntou assim que atendeu.

— Oi amor, só estou ligando para avisar que já saí do aeroporto e estou levando meus pais para o hotel, okay? Daqui a pouco estaremos chegando. Eles estão mandando um beijo. Está tudo bem por aí?  - Rosalie questionou e Emmett encarou a enorme pilha de pratos na pia, o frango boiando na água e o macarrão inchado e mole na travessa de vidro sobre a mesa. Engoliu em seco.

— Claro! Está tudo certo. Estou ansioso para ver vocês logo. Manda um abraço para os seus pais. Tenho que desligar agora. Beijos, eu amo você. – E então desligou antes que ela pudesse responder. Olhou para o relógio percebendo que já eram quase sete horas.

—CACETE. - O desespero se apoderou de Emmett, ele nem tinha começado a sobremesa ainda. Bateu a mão na testa e respirou fundo tentando forçar seu corpo a se acalmar.

Pegou ovos, manteiga e cacau 100% para fazer seu brownie. Colocou metade do saco de chocolate, cinco ovos e um pote de manteiga batendo tudo rapidamente, não tinha tempo de ver a receita, teria que improvisar, puxou o pote de açúcar da prateleira derramando o de sal e os outros temperos no processo escutando o barulho de vidro se partindo.

— Ah, merda, cacete, como assim?!- Não sabia se limpava a bagunça ou terminava de preparar seu prato. Colocou tudo o que tinha de açúcar dentro da vasilha misturando com o restante dos ingredientes e colocou em outra travessa.

Voltou a encarar o frango que não parecia cozinhar de jeito nenhum. Resolveu apela e pegando os pedaços com um garfo jogou tudo na panela de pressão. Encarou o relógio novamente. Sete e Vinte. Tinha dez minutos.

— As torradas de alho! – Lembrou. Cobriu as mãos com luvas e um pano de prato e tirou a comida do forno, o cheiro de queimado subiu rapidamente pela cozinha e foi com tristeza que ele viu pedaços de pão carbonizados no lugar do que deveria ser sua maravilhosa entrada. – Ah não ! – Colocou a assadeira sobre a pia e enfiou a outra travessa com o brownie no forno, voltando rapidamente para o outro lado da cozinha para ver o que podia salvar dos seus pãezinhos se livrou do pano de prato jogando-o para qualquer lugar sem prestar muita atenção.

Foi então que tudo aconteceu rapidamente: um chiado estranho vindo do fogão o fez girar nos calcanhares a panela de pressão tremia e chacoalhava como se estivesse possuída, um clique soou na maçaneta indicando que alguém chegava em casa, o pano de prato no fogão foi alcançado pelas chamas e começou a pegar fogo. Passos soaram no hall de entrada e então um sonoro “BUM” se fez ouvir.

Rosalie correu em direção a cozinha no exato momento em que pôs os pés dentro de casa e ao chegar lá ela não conseguiu acreditar no que estava vendo. A panela de pressão explodiu atingindo seu micro-ondas novinho e espalhando uma água suja e malcheirosa pelo chão que já estava sujo de vidro e temperos que ela nem soube identificar, havia pedaços de frango grudado em seu teto, um pano de prato queimava em cima do fogão e o fedor de queimado impregnava cada canto da casa. Debaixo da mesa estava um Emmett usando um avental e luvas de cozinha. Ele saiu engatinhando e então se pôs de pé encarando o olhar furioso de Rosalie e a expressão horrorizada de Esme e Carlisle. Sorriu amarelo.

— O jantar está quase pronto.

X

Depois de cumprimentar os pais de Rosalie, organizar a bagunça na cozinha e ouvir um sermão da esposa, Emmett foi tomar um banho e provavelmente ver se conseguia morrer afogado na banheira para ver se salvava o que restou da sua dignidade.

Quando terminou vestiu uma roupa confortável e se jogou na cama apertando o travesseiro contra a cabeça. Conseguia ouvir muitos sons de risadas vindo da sala o que significava que os amigos já tinham chegado. Pouco tempo depois Rosalie entrou no quarto.

— Emmett, está todo mundo te esperando. Bella e Edward chegaram e Alice e Jasper também. – Ele tirou o travesseiro do rosto.

—  Eu não tenho nem cara de ir lá Rosalie. Eu estraguei tudo! – Emmett odiava aquela sensação de incapacidade e frustração. – Você confiou em mim e eu fiz merda. O que vamos servir agora? Não tem nada. Nem o brownie, meu lindo brownie ficou bom. Sou um fracasso. – Seu brownie tinha ficado extremamente preto e amargo por ele ter colocado tanto cacau em pó, estava simplesmente intragável o que fez Rosalie jogar a travessa inteira no lixo.

A loira se compadeceu da expressão triste no rosto do marido, sabia que Emmett deveria estar bem chateado com a situação. Depois da bronca era a hora do carinho.

—Emm, está tudo bem.  Você não é um fracasso. É um marido maravilhoso que teve boas intenções, mas cozinha realmente não é o seu forte.  O jantar já está pronto e só estamos esperando por você.

Ele suspirou e se pôs de pé sendo abraçado pela loira, o gesto o fez se sentir um pouquinho melhor.

— Eu queria tanto impressionar seus pais. – Ele deixou escapar retribuindo o abraço.

— Bem, eu tenho certeza que eles ficaram bem impressionados. Não vão esquecer essa visita nem tão cedo. – Ela gargalhou lembrando da expressão horrorizada dos mais velhos. – E além disso, agora temos mais uma lembrança para acrescentar a tantas outras do nosso cantinho. - Emmett acabou rindo também contagiado pela esposa.

—Essa é uma lembrança que eu bem gostaria de esquecer. – Ele disse enquanto voltava para a sala com ela.

— Eu não acho que você vá conseguir nem se tentar. – A loira respondeu e então indicou os amigos já acomodados na mesa.

— Ugh, eles não vão me deixar esquecer, certo? – Ele perguntou retoricamente rindo.

— Pode apostar que não. – Edward disse alto.

Emmett se surpreendeu ao observar a mesa posta com comidas deliciosas, o cheiro fez seu estômago roncar.

— Você fez isso tudo? – Ele perguntou a Rosalie deslumbrado.

— Claro que não, né, Emmett. – Alice que continuava tão tampinha quanto na época da faculdade se manifestou. – Quando a Rosalie me ligou confirmando o jantar e dizendo que era você quem ia cozinhar eu liguei para nosso restaurante preferido e fiz um pedido de entrega para ser entregue aqui. – A baixinha sorriu muito orgulhosa dos seus feitos

— Eu deveria   me sentir ofendido. – Emmett resmungou se sentando.

—Você deveria se sentir lisonjeado por ter amigos que te conhecem tão bem a ponto de saber que essa ideia de você cozinhar ia dar errado. –  Bella falou suavemente.

— “ Dar errado” com certeza é o eufemismo do século. – Alice cantarolou.

— Jasper, controle esse anão de jardim. – Emmett pediu.

— Ela está certa. – O loiro deu de ombros.

E assim a noite seguiu com risos e provocações enquanto Emmett contava com detalhes sobre sua experiência culinária. Até mesmo seus sogros tinham se juntado a balbúrdia tirando um sarro da sua cara.

X

— Você foi maravilhosa hoje. Obrigado por não ficar zangada. – Emmett disse para a esposa depois que os convidados já tinham ido embora.

— Só me prometa que você não vai chegar nem perto do fogão e das panelas pelos próximos anos. – Ela pediu secando os pratos enquanto Emmett os guardava. – E, você me deve um micro-ondas novo.

— Anos? Mas eu já estava pensando que no seu aniversário ...

— Você vai pagar um restaurante maravilhoso? Concordo totalmente – Ela interrompeu antes que o moreno pudesse continuar.

Ele riu.

—Certo, certo, eu me rendo. - Decretou guardando os talheres.

Quem sabe pudesse tentar de novo no aniversário de casamento deles de cinco ou dez anos? Não se importava, sabia que ainda teria muitas oportunidades ao lado dela para botar em prática seus dotes culinários.