17º Capítulo

O que me motivava a ir para as aulas era saber que as férias de Natal estavam próximas. É incrível como o tempo passa. Já faziam dois meses que estava em Tavira a viver na casa da minha tia Dalila e com as minhas primas Mariana e Carolina. É espantoso como em tão pouco tempo tudo mudou. Criei uma inimiga familiar, fiz uma amiga para a vida, apaixonei-me e não pude ficar junto dele e , para compensar, ganhei outro amigo - o João.

Ele tornou-se um amigo para mim desde aquele dia em que a minha prima me disse aquelas coisas. Agora, passeávamos os quatro durante os intervalos da escola : eu , o João, a Ana e o namorado Daniel. Tinham começado a surgir boatos de que eu e o João namorávamos, mas sinceramente não me importava. Sabíamos perfeitamente que era mentira. Ele era apenas um bom amigo.

 Com ele não me lembrava tanto do Sérgio. Mas não podia evitar encontrar-me com ele e com a Ana para fazermos o trabalho de Área de projecto. A boa notícia? Vai ser apresentado para a semana. Final das aulas daqui a duas semanas. Irei saber mesmo bem, não estar uns dias na escola e poder dormir mais um pouco e não ter que me deparar com o Sérgio na escola. Cada vez que o via lembrava-me dos beijos e da nossa conversa, e por último, lembrava-me de como o magoei.

-“Prima? ‘Tás ai?” – perguntava-me a Carolina do outro lado da porta.

-“Entra Carolina. Estou aqui!” – gritei-lhe da cama.

-“Inês não vais às aulas?” – perguntou-me ela atravessando a distância entre a porta e a cama onde eu estava, já sentada.

-“Vou porquê?” – e quando perguntei olhei para o despertador que tinha na cabeceira. Dei um grito - “ OH MEU DEUS! Estou atrasadíssima! AI AI” – saltei da cama correndo para o wc para tomar um duche rápido e tentar despachar-me ao máximo.

-“Queres ajuda?” – gritou ela da cama. Bem de facto, ela podia ajudar-me… escolher a minha roupa enquanto eu tomava banho era uma ajuda. Se havia um maior defeito/qualidade meu era o facto de ser vaidosa. E neste momento, não poderia perder tempo a escolher a roupa.

-“Podes escolher-me uma roupa prima? Sff!” – e fechei a porta do Wc para dar inicio ao duche mais rápido da minha vida. Quando saí do wc tinha a minha roupa em cima da cama, e , até calçado aos pés da cama. Sim senhora! Que eficiente! – pensei para mim e ri-me.

Confesso que a minha prima se tinha esmerado. Escolheu-me um vestido e umas leggins (quentinhas – afinal estávamos em pleno inverno!) , que ficavam lindamente com as botas que tinha. Teria de levar o casaco senão morreria de frio. Apressei-me a secar o cabelo e a maquilhar-me (vaidosa, lembram-se? Enfim…). Fui á cozinha, e lá estava a tigela já com os cereais. A minha prima é mesmo uma querida.

-“Inês demoras muito? Já são 8h00m !” – disse-me ela já com a mochila ás costas, pronta para sair.

-“Nã…Não! Vou jáá…” – disse ainda mastigando os cereais que tinha na boca. Despachei-me o mais rápido que pude. Com aqueles pensamentos na minha cabeça , nem reparei nas horas a passar.

-“Estava a ver que não vinhas hoje Inês! Adormeceste?” – perguntou-me a Ana sorridente como sempre.

-“Por acaso não adormeci. Estive a pensar e distraí-me…” – disse-lhe baixando a cabeça. Não queria voltar a pensar nisso.

-“ A pensar em quê?” – perguntou Daniel não percebendo o assunto. De facto ele não tinha conhecimento destes meus pensamentos triste, nem do que se tinha passado entre mim e o Sérgio. 

-“Coisas femininas Daniel, nem queiras saber!” – disse o João fazendo uma careta. Era mesmo parvo. Não consegui evitar rir – “Bem… estás linda hoje!” – disse-me sorrindo e percorrendo-me o corpo todo com os olhos. Devo dizer que me senti constrangida, sentia as minhas bochechas a ferver. Lindo, agora estou corada. Bolas! – pensei para mim.

-“Ahh… Obrigada. Obrigada João.” – disse meio atrapalhada.

-“De nada. Só estava a dizer a verdade!” – disse ele sorrindo e envolvendo o seu braço por cima do meu ombro. Senti vontade de o sacudir, mas não o fiz. Ele era meu amigo não precisava de me preocupar.

Mal me virei para falar com a Ana , dei de caras com o Sérgio a olhar para mim. O seu olhar estava triste e distante. Mas… olhei-o melhor e, reparei que não me fitava a mim, mas ao João. De facto o João era o seu amigo, e agora – graças a mim – já não andava tanto com Sérgio. Eu de facto só o fazia sofrer. Instintivamente sacudi o meu ombro, para que João tirasse o braço á minha volta.

-“Hey …então?” – queixou-se ele. Mas depressa, se calou quando reparou que o Sérgio estava a olhar para ele. Fez-se um silêncio.

-“João vai lá falar com ele.” – Sussurrei-lhe.

-“Ok… eu vou… eu vou.” – Mas quando se virou, o Sérgio já lá não estava. Olhámos um para o outro em pleno silêncio. Ambos sabíamos o que Sérgio tinha visto e que conclusões tinha tirado.