15º Capítulo

Versão da Inês

-“Inês…” – agarrou-me ele com o olhar vacilante – “Por favor, não me faças isto. Eu sei que não te sou indiferente. Eu senti.” – murmurou.

-“Aí é que te enganas. Tu és um convencido e namoradeiro. Não há nada que me possa interessar em alguém assim. Agora deixa-me ir.” – Nesse momento sei que o magoei. Mas só assim ele me deixaria ir. Não poderia permitir que isto fosse mais longe.

Claro que ele não me é indiferente, mas também não o é para a Mariana. E eu só quero a felicidade da minha família, e agora elas são a minha família. Apressei-me a ir para o pavilhão. Não iria hesitar, não podia voltar para trás e consolá-lo. Nem pensar. Doía-me magoá-lo assim, quando ele não merecia. Era melhor assim.

Entrei na sala, mesmo depois da professora. Não tinha chegado atrasada, ainda bem!

Fui sentar-me no meu lugar habitual, ao pé da janela. Era mesmo o que precisava neste momento – ar puro!

-“Posso sentar-me hoje ao pé de ti prima?”- perguntou-me a Mariana, puxando a cadeira e sentando-se na minha mesa. Olhei para ela, meia atrapalhada.
-“Hmm… claro prima. Senta-te!” – ela já estava sentada, mas ok.

A aula começou normalmente. Alguém bateu á porta.

-“Posso professora? Desculpe o atraso.” – Era o Sérgio. Coitado… vinha de mochila ás costas, com as muletas. Desviei o olhar. Magoava-me olhar para ele, saber que fui injusta e cruel.

Ele sentou-se no seu lugar habitual, dando sinal á professora de que podia continuar com a sua aula.

Estou a escrever os meus apontamentos quando me toca algo na mão. Era um papel. Olhei para a Mariana que me disse sorrindo: -“Lê!”.

“ O que queres do Sérgio?” – li. Olhei para ela, mas ela não desviou o olhar do quadro. Apressei-me a responder e a entregar-lhe discretamente o papel.

“Como assim o que quero dele Mariana? Não percebi. Explica-te!”

“Sabes perfeitamente do que estou a falar. Eu vi-vos aos beijos. O que queres do Sérgio?”

“Tu o quê? Andas a espiar-nos? Enfim…Eu não quero nada com o Sérgio, ou não ouviste isso?” – passei-lhe o papel já furiosa.

“Não vos estava a espiar. Mas também se queriam ser discretos não conseguiram. Estava á vista de toda a gente. Mas também só te queria dizer uma coisa: podes pensar que o Sérgio gosta de ti agora e que vai continuar assim, mas acredita… não falta muito para ele perceber que é comigo que deve ficar. Por isso afasta-te, porque vai ser melhor para ti. Só vieste cá estragar tudo.”

“Eu estragar tudo? Pensei que gostavas de mim Mariana… nunca nos demos mal. E agora que mudo para aqui viramos inimigas? O que mudou?” – sentia-me a fervilhar por dentro. A minha visão ficava turva. Mas não ia chorar.

“O que mudou foi teres-te metido entre mim e o Sérgio. Sabes que gosto dele e mesmo assim andas aos beijos com ele atrás do pavilhão. Que ordinária e falsa me saíste!”

Não aguentei. Uma lágrima caiu no meu caderno. Como queria sair dali a correr, de repente apercebi-me de que tinha saudades de Lisboa. Pensei ter vindo para o paraíso, mas afinal mudei-me para outro Inferno.

Não falámos mais durante a aula - acho que não havia mais nada a dizer, não havia mais ofensas para serem disparadas. No entanto o silêncio magoava-me. Outrora eu e a minha prima dávamo-nos bem e, agora isto. Outra lágrima escorreu pelo meu rosto. Desta vez apressei-me a limpá-la. Não queria que ninguém percebesse o que se estava a passar na minha mesa, naquela aula.

Finalmente deu o toque de saída, fazendo com que a minha prima se levantasse automaticamente, lançando-me um olhar feroz , para depois dizer :”Até logo prima!” sorrindo-me. Nesse momento não aguentei , soltei um grito meio reprimido, a minha garganta doía-me , as lágrimas escorriam-me pelo rosto.

-“Estás bem? “ – perguntou-me alguém, afastando-me as mãos do rosto e enxugando-me as lágrimas.

-“Obrigada!” – respondi.