P.O.V. Matthew.

Minha pobre Diana. Eu jurei a ela que a protegeria, mas eu fracassei.

Todos esses anos, ela estava viva. Os pesadelos, meus pesadelos imagino que tenha sido o modo que ela encontrou de pedir socorro, mas eu ignorei pensando que fossem apenas sonhos.

—Eu sinto muito Diana. O que aconteceu, tudo o que teve que sofrer... foi minha culpa.

Para minha total surpresa ela respondeu:

—Não. Não foi não.

Ela já estava completamente recuperada. Fisicamente. O peso estava estável e apesar da agorafobia, ela estava indo bem.

Sua noção temporal estava voltando, ela já reconhecia Claire e começava a se lembrar do nosso casamento.

—Eu te amo Mon Coeur. Ma Lionne.

—Eu também te amo Matthew.

O meu coração, a minha leoa. Que lutou ferozmente para nos proteger. 

Diana pegou no próprio cabelo, olhando a mecha.

—Nossa! Isso tá horrível, eu preciso ir ao cabeleireiro urgente. E esse tom de ruivo não me favorece nem um pouco.

Eu ri. É, ela estava voltando a ser a minha Diana.

Então, ela falou séria:

—Ela fez você feliz?

—O que?

—A outra mulher. Bo. Ela fez você feliz?

—Fez. Mas, não tanto quanto você.

Diana abriu o armário e se olhou no espelho.

—Você é maluco.

—Porque?

—Trocar aquela outra mulher com aquela bela comissão de frente, aquele cabelo todo produzido por essa doida. Eu to parecendo alguém que fugiu do hospício. Nada tá combinando, o meu cabelo tá um bagaço.

—Você pode ser doida, mas é a minha doida.

Ela me abraçou.

—Eu senti tanta falta deste som.

—Que som?

—O seu coração.

—Tudo bem. E eu senti falta do seu sotaque britânico.

Eu ri.

—Quando eu achava que não ia mais aguentar, quando queria largar tudo e morrer, eu lembrava de você e da Claire.

Eu a abracei mais forte, apertando-a contra o meu peito.

—Você não vai morrer.

—Você podia me transformar. Porque, se não me transformar, um dia eu vou morrer Matt.

—Eu sei. Mas, se for transformada não vai ter mais o seu poder.

—E foi o meu poder que me enfiou nessa confusão em primeiro lugar. Quem diria que um livro daria todo esse trabalho?

Ela estava falando do Ashmole setecentos e oitenta e dois.

—Mas, salvou as criaturas.

—É. Salvou.

Dei um beijo no topo da cabeça dela. Sentindo o seu inconfundível perfume, até mesmo seu gosto.

—Temos que ter outro encontro. Agora que o Peter Knox não vai mais nos incomodar. Podemos tomar o vinho de violetas roxas, amoras de sebes... fumaça de charutos, groselhas em conhaque...

Ela se esforçou para lembrar todos os ingredientes, mas lembrou.

—Muito bem. Mas, eu passaria toda a eternidade aqui, com você. Sentindo o seu perfume de seiva de salgueiro, mel de camomila, incenso e manto de senhora.

—Eu quero muito ir ao cabeleireiro, ir as compras. Mas, o problema é passar por aquela porta.

Os olhos dela ficaram perdidos.

—Os flashes na minha cabeça, a água entrando nos meus pulmões, as coisas horrorosas que... me deixaram horrorosa também.

—Você não é e nem nunca vai ser horrorosa Diana.

—Você acha?

Perguntou ela com ironia e raiva. Diana tirou as blusas e afastou o cabelo.

—Você acha isso bonito?!

Pude ver as marcas. Aquilo eram marcas de chibatadas. Ela havia sido açoitada. 

Diana passou a mão sob as cicatrizes como se quisesse arrancar a própria pele e começou a chorar compulsivamente, aquilo era desespero.

—Vai ficar tudo bem.

—Não! Não vai não! Eu sou horrível! Tenho cicatrizes em todas as partes do meu corpo, Matthew! Nada disso é bom!

—Ei, vamos dar um jeito nisso. Nós vamos.

—Tenho pânico que as pessoas toquem em mim!

—Há um Spa na cidade. É o melhor, que tal um dia para você e Claire?

—E como vou passar da porta da frente?

—Vai passar.

—Como?

—Tente respirar fundo.