Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 5
Corações unidos




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Cristopher terminava de dar o leite para Ellie quando viu um envelope passando por baixo da porta. Mabel não estava em casa, era seu dia de pilates pela manhã. Carly e Gibby tinham ido ao trabalho e Sophie ao colégio. Como o rapaz só iria ao trabalho no período da tarde naquele dia da semana, era costume passar a manhã com a filha.

Ele abriu a porta na esperança de ver quem havia deixado o envelope, mas não viu ninguém. Pegou-o do chão e o abriu, surpreendendo-se ao ver que era o convite de casamento de Isabelle e Richard. Estava endereçado a ele e Mabel. Sentiu um peso na correspondência e reparou que existia um volume no fundo. Tratava-se do colar com metade do coração, inscrito com o seu nome, dado à Isabelle há 6 anos atrás, quando se despediram na ida dela para a universidade.

Foi puxado de seus pensamentos por Ellie, que o indagou:

— Pá-pá, vamo na pachinha (pracinha)?

— Vamos querida, mas, antes, o papai precisa guardar isso – mostrando o envelope.

Ele entrou no seu antigo quarto, no primeiro andar do triplex, onde agora dormia Sophie e, no seu antigo armário, atrás de um fundo falso, pegou uma caixa. Dentro dela havia a outra metade do coração, no antigo colar que nunca havia tirado do pescoço até o dia em que se casou com Mabel. Juntou os dois pingentes, fechando o coração. Apreciou o objeto e soltou um suspiro profundo.

Ellie já estava grudada nas suas calças o puxando para fora do quarto:

— Vamo logo, pá-pá.

Cris pegou a pequena no colo e saíram com destino à pracinha. Quando entraram no elevador, o moreno se surpreendeu ao ver Isabelle. Mas, também havia outra vizinha, uma senhora com fama de fofoqueira.

Ele entrou e cumprimentou educadamente a ambas, mas não se conteve e começou a cantarolar baixo, de modo que Isabelle pudesse ouvir:

— O tempo passou e eu sofri calado, não deu pra tirar ela do pensamento, eu ia dizer que estava apaixonado, recebi o convite do seu casamento, com letras douradas num papel bonito, chorei de emoção quando acabei de ler, no convite rabiscado no verso, ela disse meu amor eu confesso, tô casando, mas o grande amor da minha vida é você.

A senhora também ouviu e comentou:

— Essa música é muito bonita. Quando eu era jovem, tive um admirador, mas não me casei com ele...

Isabelle e Cris não prestaram a mínima atenção na longa história que a vizinha parecia contar, fitaram-se por um instante, na conversa muda que apenas dois corações afins são capazes de entabular.

O elevador parou no térreo. A senhora continuava falando e assim abriu a porta. Cris deu passagem para Isabelle, que jogou a bolsa a tira-colo para trás, a fim de tampar a própria bunda.

Richard esperava a noiva na portaria. Quando Isabelle o viu, correu até ele e o beijou na boca, iniciando de forma voraz nos lábios e logo pedindo passagem para a língua. Ele se surpreendeu, mas correspondeu.

Cristopher sentiu-se incomodado com a cena e apressou-se em sair do prédio com Ellie no colo.

Quando Isabelle cessou o beijo, Richard sentia-se sem ar. Mas, questionou:

— O que foi isso, Belle?

— Não posso dar um beijo no meu noivo?

— Você não me beija assim desde Nova York. O que houve?

— Se não gostou, não faço mais.

— Você sabe o quanto gosto dos seus beijos, só achei estranho.

— Deixa de ser cismado, vamos logo que temos que encontrar a cerimonialista para ver os salões de festas disponíveis em Seattle para data.

Ela pegou a mão do noivo e saíram de mãos dadas.

Na calçada, Richard viu Cristopher, ajoelhado, amarrando o tênis de Ellie e logo entendeu que ele havia acabado de sair do Bushwell. Os dois rapazes se cumprimentaram rapidamente.

Quando se afastaram de Cris e Ellie, Rick falou:

— Agora entendi aquele seu excesso de demonstração de afeto – com a expressão fechada.

— O quê?

— Cris estava saindo no prédio e você quis provocá-lo.

— Por que eu faria isso? Eu o detesto!

— Você passou a vida dizendo que detestava o Cris, mas, na verdade, amava ele. Então, como posso saber que é diferente agora?

— Ele me magoou profundamente como nunca havia feito antes, ele me traiu com a minha prima. Além disso, você não deveria se preocupar com ele, mas acreditar mais no nosso amor e na história que construímos juntos. Se você não acredita, creio que não devêssemos levar esse casamento adiante, afinal, é um passo muito importante e os envolvidos não podem ter dúvidas.

— Se quer terminar comigo para ficar com o Cris não precisa jogar a culpa em cima de mim, simplesmente assuma!

Isabelle tirou a aliança de noivado, jogou em cima de Rick, e saiu correndo e chorando, de volta do Bushwell. O noivo se sentiu culpado e foi atrás, alcançando a noiva:

— Belle, perdoa-me, eu não quis falar isso. Foi o meu ciúme, a minha insegurança. Eu te amo tanto que tenho medo de te perder. Você anda tão distante ultimamente. Às vezes sinto que não me ama mais como antes.

— Eu estou nervosa, Rick. Tem muita coisa acontecendo. Todos os preparativos do casamento, ter que aturar Cris e Mabel no mesmo prédio, depois de tudo o que me fizeram. Além disso, estamos na casa dos meus pais e eu já disse que não me sinto confortável...

— Eu sei de tudo isso. Mais uma vez, peço perdão. Não há nada que eu queira mais no mundo do que me casar com você.

— Tá perdoado – falou ela, enxugando as lágrimas.

Richard tentou colocar a aliança de volta no dedo de Isabelle, mas ela se esquivou, dizendo:

— Eu quero do jeito certo. Faça a proposta.

Richard se ajoelhou na calçada diante dela e perguntou:

— Isabelle Puckett Benson, aceita se casar com esse homem que lhe ama mais que tudo?

— É claro que aceito, meu amor.

Ele colocou a aliança no dedo dela e a beijou, levantando-a no ar. Cris assistia a tudo distante e uma lágrima teimou em cair de um dos seus olhos. Enxugou-a rapidamente e resolveu colocar Ellie no balanço, onde a balançou por um bom tempo.

Sam e Freddie estavam animados no jantar daquela noite. Ele anunciou ao genro:

— Meu caro, Rick, sinto informar que terá que dormir no sofá a partir de amanhã, porque meus filhos Eddie e Nick estarão de volta, vindo especialmente para o casamento da irmã.

— Rick vai ter que dormir no sofá, pai? – indagou Isabelle, contrariada.

— No seu quarto é que não vai. Não sob o meu teto antes do casamento – respondeu Freddie.

Richard se manifestou:

— Não tem problema, senhor Benson. Eu vou para casa da minha avó. Meus pais e minha irmã também chegam essa semana, então, vai ser até bom ficar lá com eles.

O jantar seguiu sem maiores incidentes.

Na manhã seguinte, Richard estava de malas prontas. Isabelle desceu com ele até a portaria, onde se beijaram em despedida. O choffer da avó já o esperava e o ajudou a colocar as malas no carro de luxo. Isabelle acenou para o noivo quando o veículo deu a partida.

Cris estava de saída para o trabalho, mas parou para observar a cena e não deixou de provocar Isabelle:

— Seu noivo já está indo embora? Tão cedo? Ele foi esperto e desistiu do casamento?

— Boa piada, senhor Shay – disse Isabelle, forçando uma risada irônica – Você ta é com inveja da sorte dele!

— Belinha, a vontade de revidar, como nos velhos tempos, é gigante! Mas, somos bem grandinhos, né?

— Se você tá dizendo... – respondeu ela, ainda com ironia no olhar.

— Eu só gostaria que você me respondesse uma pergunta, olhando nos meus olhos.

— Pode fazer a pergunta, agora, se vou responder, aí já é outra história. Afinal, aqui é a América e eu não sou obrigada a nada.

— Você está feliz com esse casamento? De verdade? O Richard é o amor da sua vida? Você me esqueceu completamente?

— Você fez quatro perguntas e me disse que só faria uma. A resposta é sim para uma delas, pelo menos.

— Como assim?

— Coloca a cabeça pra funcionar, gênio!

Ela deu uma risada debochada e pegou o elevador, de volta ao apartamento dos pais.

Cris ficou pensativo e ela ainda tinha vontade de rir. Havia se esquecido do quanto era divertido provocar o rapaz.

Pouco depois do almoço, Eddie e Nick chegaram. Os rapazes estavam tão crescidos que os pais e a irmã estranharam. Aos 20 anos, eram muito bonitos.

 

Eddie continuava com o seu jeito nerd e Nick com a sua personalidade expansiva e sorriso largo.

Depois dos abraços e comentários da família sobre a aparência dos gêmeos, todos se sentaram nos sofás da sala para saber as novidades.

Nick contou que já tinha namorado algumas moças, mas nada sério e que Eddie só queria saber de estudar, afirmando que o irmão ficaria para tio desse jeito. Eddie rebateu, afirmando que não era ofensa.

Os gêmeos continuavam se provocando, como nos velhos tempos. Algumas coisas nunca mudam.

Sam fez um jantar especial para família. Ao tirar a lasanha do forno, Freddie não deixou de reparar que a esposa cantarolava e não parava de sorrir. Depois que ele colocou o prato quente sobre a mesa da cozinha, o marido indagou:

— Feliz, meu amor?

— Como não poderia estar? Os nossos três filhos estão aqui, como antigamente! Você sabe o quanto eu senti falta disso? Da casa cheia, das crianças, da nossa família!

— Claro que eu sei, amor. Também senti muito, mesmo. Mas, Belinha está prestes a se casar. Logo, nos dará netos. É uma pena que Nova York fique tão longe – com o semblante triste.

— Não vamos pensar nisso hoje, está bem? Hoje é dia de alegria!

— Você tem razão, como sempre – dando um beijo estalado nos lábios da esposa.

Sam serviu o prato principal e acompanhamentos e todos se deliciaram, inclusive, com a sobremesa que veio depois.

Já era tarde quando todos foram se deitar. Isabelle se acomodou na sua velha cama de solteiro, na qual havia passado toda a infância e adolescência. Antes de apagar o abajur, reparou no porta-retrato no criado-mudo, com a foto do ICarly, composto por ela, Alison, Cris e Rick. Ela sorriu, sentindo uma pontada de saudade no peito. A vida passava mais rápido do que ela gostaria.

Gostaria de ser a senhora do tempo, mas tinha dúvidas se, ainda assim, poderia também controlar as ações das pessoas, chegou à conclusão de que não. Afinal, se mal tinha controle do seu próprio coração, o que dirá dos pensamentos, sentimentos e ações dos outros.

A presença de Cris estava mexendo com o seu coração e não podia mais negar isso para sua mente consciente. Porém, essa mesma mente lhe dizia que o melhor a se fazer era prosseguir firme naquilo que era o certo: casar-se com Richard, o homem mais perfeito que ela conhecia, aquele incapaz de lhe magoar.


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