Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 46
O pai da Mabel




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Gibby desceu e cumprimentou a filha. Ela parecia nervosa. O pai perguntou:

— Está tudo bem, Mabel? Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu, pai. Eu nem sei como falar, como te contar isso...

— Você não é compatível comigo, não é? Não poderá me doar o rim?

— Sim, quero dizer, não sou.

— Fique sossegada, você sempre se pareceu em quase tudo muito mais à sua mãe que a mim, para a sua sorte – rindo – Guppy retornou da Europa, onde vive com a esposa e a filha, tem uma empresa que faz festas de aniversário, quando soube da minha necessidade de transplante de rim. Fez os exames e veja só: ele é compatível e está disposto a me fazer a doação.

— Que ótima notícia, pai! Eu fico muito contente pelo senhor e um pouco mais aliviada também.

— Pode ficar totalmente aliviada. Os médicos falaram que devido à nossa proximidade genética, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, as chances de sucesso do transplante são altas. Vai dar certo, pode acreditar! Você não vai se livrar do seu velho pai tão cedo! – rindo.

— Eu jamais iria querer me livrar de você, pai. O senhor é o melhor pai do mundo! Tenho tanto medo de perdê-lo.

— Eu já disse que isso não vai acontecer.

— O senhor continuaria me amando e cuidando de mim, mesmo se soubesse que não sou a sua filha?

— Eu amo e cuido de você há mais de 2 décadas, mesmo quando não concordo com as suas decisões, não a desamparo, faria o mesmo para sempre ainda que não fosse minha filha de sangue, porque é minha filha também no coração. Mas, de onde tirou essa bobagem agora? Você é a minha filha de sangue e de coração! Você não ter compatibilidade para doar o rim, não significa que não seja minha filha, o médico explicou isso...

— Eu não sou a sua filha!

Gibby tossiu engasgado, até conseguir indagar:

— Que brincadeira é essa?

— Infelizmente não é brincadeira! A minha mãe confirmou. Eu não sou a sua filha de sangue. Meu sangue é até incompatível com o seu. Sou B positivo. Não é seu sangue, nem o da mamãe. É o do meu pai biológico que nem sei quem é e nem quero saber. Para mim, você será para sempre meu único e querido pai. Se não ficar com raiva de mim, claro.

Gibby disse:

— Eu ainda não posso acreditar no que me diz. Mas, se isso for verdade mesmo, eu jamais terei raiva de você. Entre nós, nada muda, mas a sua mãe vai ter que me dar boas explicações.

Gibby pegou a chave do carro e de casa e caminhou até a porta, Mabel perguntou:

— Aonde vai?

— Ter um particular com a sua mãe.

Mabel sentou-se no sofá, nervosa. Carly descia as escadas e percebeu a aflição da enteada:

— O que houve, Mabel? Cadê o seu pai?

— Eu acho que ele foi matar a minha mãe e a culpa é minha – deixando as lágrimas rolarem.

— O que você fez?

— Contei para ele que não sou sua filha biológica.

Foi a vez de Carly se sentir fraca e sentar-se no sofá.

Melanie checava os seus e-mails no pear phone quando anunciaram que Gibby estava subindo ao seu quarto de hotel. Abriu a porta ainda surpresa com a visita do ex-marido:

— Ao que devo a honra? Há tantos anos você não me visita! Lembra-se quando éramos namorados e você ia até Cambridge para me ver? Eu esperava tanto por isso...

— Esperava mesmo, Melanie? Ou será que tinha outro otário lá para te fazer companhia na minha ausência? – empurrando a porta e entrando.

Melanie sentiu o sangue fugir das suas faces, deu-se conta de que Mabel certamente contara a Gibby toda a verdade.

Gibby prosseguiu:

— Não pode mais negar que me traiu, não é mesmo?

— Gibby, isso já faz muito tempo. Nós éramos muito jovens, eu não tinha relacionamento sério com mais ninguém além de você, aconteceu apenas uma vez com um vizinho, num momento de carência, nem eu poderia imaginar que essa noite bastou para gerar a Mabel, nós tínhamos relações íntimas com bem mais frequência...

— Cale-se! Não tem desculpa ou justificativa para o que fez! Enganou a mim e a sua filha por mais de 20 anos!

— Eu não fiz de propósito, nunca desconfie que Mabel não fosse sua.

— E não se arrepende?

— Nem um pouco! Mesmo que hoje eu conheça a verdade, porque dei à minha filha o melhor pai que ela poderia ter!

Gibby viu sinceridade nos olhos de Melanie, mas não soube como agir:

— Já disse tudo o que queria, vou embora agora – saindo do quarto de hotel sem olhar para trás.

Melanie ficou só num pranto sentido.

Enquanto isso, Isabelle, de repouso, observava os filhos dormindo ao seu lado. Cris entrou com Ellie no colo:

— A pequena aqui não consegue mais ficar longe dos maninhos. Apenas pedi que fale baixinho e não faça barulho, para não acordá-los.

Ellie sentou-se na cama ao lado dos irmãos. Cris sentou-se do outro lado, perto da noiva e cochichou no ouvido dela:

— Para completar a nossa felicidade, só falta oficializarmos a nossa união.

— Assim que eu conseguir ficar de pé. Coloco os pés no chão e parece que essa cesariana vai abrir de tanta dor.

— Vai passar, meu amor. Tudo passa, nós bem sabemos disso.

Os dois deram um beijo estalado nos lábios.

As primeiras noites foram difíceis para o casal, com choros, fraldas e fomes para darem conta nas madrugadas e tudo de forma dobrada. Sam e Carly alternavam-se para ajudar os filhos, mas apenas durante os dias.

Dois meses se passaram e Cris não quis mais adiar o matrimônio, os bebês estavam fortes e saudáveis e o casal habituado à nova rotina. Isabelle concordou com o casamento para dali há um mês.

Seria uma cerimônia simples, contando com a benção do padre e do rabino, em vista das religiões dos nubentes. Nos jardins da mansão de Charles, que dada a idade avançada, pouco podia sair de casa.

O grande dia chegou. Isabelle, trajando um lindo vestido de noiva, ingressou no jardim, perto dali, tudo pronto para a cerimônia, Cris já a esperava ansioso. Ela se desvencilhou do braço de Freddie e pediu:

— Preciso respirar um pouco – afastando-se um pouco e respirando profundamente, aspirando o delicioso aroma do jardim.

— Está nervosa, minha filha?

— Não vou negar que sim.

— Alguma dúvida paira na sua cabeça depois de tudo?

— Nenhuma! Hoje é um dia tão especial que meu coração parece querer sair pela boca. Minha vida parece tão perfeita e tão feliz agora que chego a ter medo do futuro.

Freddie tomou as mãos da filha:

— A felicidade é real e você é merecedora dela. Porém, como um homem casado há quase 26 anos, não posso lhe afirmar que sua vida será um mar de rosas. Haverão altos e baixos, alegrias e tristezas, por isso, o amor de você deverá ser mais forte do que tudo para que um dia possam comemorar bodas de prata como eu e sua mãe o fizemos no ano passado. Esteja preparada para essa aventura, ao lado do seu marido e dos seus filhos. Para o que precisar, sempre poderá contar com os conselhos desse seu velho pai, se é que valem de alguma coisa.

— Sempre valerão muito, papai.

Ele deu o braço novamente à filha e caminharam em direção ao altar.


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