Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira
Isabelle respondeu:
— Pode continuar me chamando como sempre me chamou, pelo meu nome.
Richard deu um sorriso irônico e respondeu:
— Nada mais é como sempre foi entre nós.
— Ainda assim, acredito que podemos conversar de forma civilizada.
— Entre – convidou Richard.
A avó subiu as escadas e deixou os dois a sós na grande sala de visitas.
A moça começou:
— Eu soube que você e Mabel estão num relacionamento sério...
— Não creio que veio até aqui para falar do meu relacionamento com a sua prima. Por acaso fiz isso com você e Cris? E olha que eu tenho motivos...
— Não vim aqui falar propriamente do seu relacionamento, mas, sei que está influenciando a Mabel...
— Agora vai me acusar de quê?
— De nada. Mas, se você se importa com a Ellie como demonstra, deve entender que ela vai sofrer demais se for afastada do Cris, se você e Mabel a levarem para Los Angeles, se tirarem os direitos de pai do Cris.
— Já entendi. Quer o meu apoio para Cris não perder a preciosa filha. Por que eu faria isso?
— Eu já falei, pelo bem da Ellie.
— Corta essa! Ellie será feliz comigo e com Mabel em Los Angeles. Você e Cris se acham muito perfeitos, acham que eu e Mabel somos perturbados demais para cuidar de uma criança, pode falar!
— Eu nunca disse isso!
— Precisa dizer?
— Eu não entendo porque pensa isso de mim. Nunca te menosprezei, tampouco à Mabel, você e ela que estão atacando a mim e ao Cris!
— Depois de tudo o que nos fizeram ainda se sentem injustiçados?
— Eu sinto muito por tudo, Rick! Mas, seria ainda mais injusto me casar com você amando outro.
— Nós temos uma história, Belinha! – gritou Richard, caindo em sentido pranto.
Isabelle aproximou-se e tocou o ombro de Richard que se esquivou, dizendo:
— Não me toque, você não tem mais esse direito!
— Está bem. Richard, você pode não acreditar, mas, tudo o que vivemos foi real e foi com amor.
— Até o Cris reaparecer na sua vida.
— Eu admirei você mais do que já fui capaz de admirar o Cris. Pra mim, você era o homem mais correto, justo, sensível e amoroso que já conheci. Incapaz de me magoar...
— Falou bem, eu era, até você me magoar primeiro.
— Uma pena que a minha conduta tenha sido capaz de mudar a sua essência. Se eu errei, peço perdão, mas, ainda ouso te pedir que não permita que o mal que te fiz seja tão grande a ponto de mudar quem você é. Seja maior que eu, seja maior que o Cris, maior que todos, seja simplesmente o Richard de antes, supremo na sua sensibilidade e grande no seu coração.
Richard nada disse, ficou sem voz. Isabelle pegou a bolsa largada no sofá e saiu sem olhar para trás.
O dia do julgamento chegou. Grávida de gêmeos aos 7 meses de gestação, Cris não queria que ela o acompanhasse ao Tribunal, mal conseguia disfarçar o próprio nervoso, mas, ainda sim, pensava ser mais importante poupá-la, bem como aos seus filhos, temendo um parto prematuro, tão comum no caso de dois bebês.
Isabelle nunca deu ouvidos a ninguém e foi ao julgamento, ignorando o discurso de Cris. Sentou-se na primeira fileira, dando-se conta de que no fim daquela fileira estava Richard. Trocaram um breve olhar. Ela ainda tinha a esperança de que ele tivesse refletido sobre as suas palavras e convencido Mabel a fazer um acordo, mas, ele pouco expressou com o breve olhar.
Aberto o julgamento, a Juíza logo perguntou se as partes entraram em acordo. Cris tentou argumentar, mas Mabel logo cortou, afirmando que não havia qualquer possibilidade de acordo, ao que a Magistrada esclareceu:
— Sendo assim, terei que passar, sem delongas, ao meu veredicto...
Todos olharam ansiosos para ela, que prosseguiu no discurso:
— A verdade biológica é inquestionável, o Senhor Cristopher Shay não é o pai de Elena Puckett Gibson Shay. Embora eu entenda que há um laço mais forte que o sanguíneo envolvendo o Senhor Shay e a infante, as leis e os precedentes de nosso País ainda não reconhecem esse tipo de paternidade, dita socioafetiva nos países latinos. Dessa forma, como devo seguir a orientação da nossa pátria, não há como atribuir ao Senhor Shay a paternidade e a guarda da menor. Logo, julgo procedente o pedido de destituição do poder familiar e guarda da Senhora Mabel Puckett Gibson e improcedente o pedido da outra parte, destituindo o Senhor Shay do poder familiar e atribuindo o poder e guarda exclusiva da infante para a mãe.
Cris não se conteve mais, caindo em pranto. Isabelle teve vontade de correr para ele, mas, foi contida por Sam, ao seu lado, que segurou seu braço e depois apertou a mão da filha, demonstrando estar com ela e que se contivesse mais um pouco.
A sessão foi declarada encerrada e Isabelle correu para o amado, que ainda chorava. Perto dali, Mabel e Richard comemoravam a vitória com abraços e beijos.
Mabel aproximou-se de Isabelle e Cris e disse, com ar triunfante:
— Passo mais tarde para buscar a Ellie, arrumem as coisas dela.
Richard completou:
— Se faltar alguma coisa, eu mesmo darei a ela, meu amor – beijando os lábios de Mabel – Ela terá um novo pai agora.
Isabelle fitava Richard sem acreditar no que ele se tornara. Cris, sentindo derrotado, disse apenas:
— Está bem.
Isabelle perguntou ao amado:
— Não podemos recorrer ainda?
— Podemos. Mas, por se tratar de uma ação de guarda, nada impede que a Mabel a leve mesmo antes de uma decisão final.
— Então, não vamos perder as esperanças. Pode ser um até logo e não um adeus.
— Tomara. Mas, em poucos dias ela faz 4 anos. Eu nunca passei um aniversário longe dela antes.
— E não vai passar esse também. Você vai visitá-la.
— Se Mabel não permitir?
— Minha mãe pareceu saber algo sobre a tia Melanie. Não gosto de chantagem, mas, é uma emergência.
A moça foi até a mãe que continuava sentada no banco, pensativa.
— Mãe, uma vez a senhora sinalizou saber algo da tia Melanie que poderia ajudar no caso da guarda da Ellie...
— Sei onde quer chegar... Quer que eu a faça obrigar a Mabel a devolver a Ellie? Não sei se minha artilharia chega a tanto...
— Nem tanto. Já seria muito bom se Cris pudesse estar com a filha no dia do aniversário dela de 4 anos.
— Vou ver o que posso fazer.
— Eu sempre posso contar com a senhora – abraçando a mãe.
Mais tarde, Sam tocava a campainha do apart hotel. Sabia que Mabel e Richard estavam no apartamento de Isabelle e Cris, a fim de buscar Ellie.
Melanie logo abriu a porta:
— Se veio discutir a guarda, nada mais pode ser feito. Você ouviu a Juíza no Tribunal...
— Não vim discutir a guarda, mas, tem algo que você pode fazer pela minha família... – empurrando a porta e entrando.
— E por que eu faria?
Sam deu um sorriso irônico antes de abrir a boca e começar a expor o que sabia.
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