A viagem de Chihiro 2 escrita por A viajante do tempo


Capítulo 1
Capítulo 1




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—Ogino— san...

Sem resposta.

—Ogino-san!

Chihiro assustou –se e se virou na direção da voz.

—Sim!?

—Francamente Ogino-san, você precisa ficar mais atenta as aulas, se não serei obrigado a lhe inscrever nas aulas de reforço.

—Me perdoe Matsuda- sensei!Isso não vai acontecer novamente!

—Certo. – O professor suspirou. – Já ouvi isso antes...

O sinal tocou. De repente, a sala virou uma bagunça. Todos apressavam-se para sair da sala.

— Amanhã vai começar as apresentações dos seminários!Não se atrasem! – berrou o professor.

Enquanto Chihiro guardava suas coisas, duas meninas se aproximaram.

— Chihiro, quer vir com a gente assistir ao filme da Ghibli? – perguntou a mais alta.

— Depois a gente vai tomar sorvete. – acrescentou a mais baixa.

—Desculpe, mas eu tenho de ir a um lugar hoje, meninas. – respondeu Chihiro.

—Não me diga que vai para aquela velha estação de trem de novo!Você não foi lá semana passada?

—Sim, mas eu preciso ir de novo...

—Eu sei, eu sei. Você tem de esperar aquela pessoa. – Concluiu a mais alta.

—Chihiro nada disse, apenas confirmou com a cabeça. As amigas já haviam escutado tantas vezes aquela história, que ela nada tinha mais a dizer.

— Tudo bem. - Suspirou a mais alta. - Sei que um dia você vai encontrá-lo, Chihiro. – E a abraçou. A amiga mais baixa também se juntou, envolvendo as outras duas em um abraço. Chihiro ficou surpresa e sentiu lágrimas rolarem por seu rosto.

— Obrigada, Mio –chan , Asuna – chan...

        Chihiro se despediu das amigas, que desapareciam na subida da rua da escola, à medida que se afastavam. Ela montou em sua bicicleta e desceu a rua, ganhando velocidade, o vento tirava lhe lágrimas dos olhos. Passou pelo cruzamento das ruas em alta velocidade, apenas soube que alguém lhe gritou e que um carro buzinou em sua passagem, porém ela já estava longe. Pedalando pelas ruas da cidade, passava por diversos cenários diferentes: uma mãe pegando o sorvete que o filho derrubou no chão, este chorando sem parar, um velho regando um jardim, um guarda de trânsito e...Patos!

       Chihiro freou o mais rápido que pôde a bicicleta, gastando a sola de seus sapatos. Bem a tempo, pois uma fila de patos que passava em sua frente. Depois que eles passaram, ela retomou a corrida.

        Quando avistou a rua arborizada que levava para sua casa, ela acelerou para ganhar embalo e subir o aclive. Foi uma subida árdua, tanto que, quando chegou ao fim da ladeira, ela teve parar para respirar. Naquela altura, dava para ver toda a cidade e os morros mais ao longe e o céu parecia intocável. Ao olhá-lo  ela sempre se lembrava de quando voou com Haku. Eles foram bem alto, mesmo assim ela não se lembrava de ter sentido medo, pelo contrário estava muito feliz.Porém agora, olhar para o céu lhe era doloroso, porque quando via aquela imensidão azul e cheia de nuvens, imaginava uma fita branca, ao longe, serpentear pelo céu. E seu coração apertava-se. Ela voltou a si e se lembrou que tinha que voltar logo para casa. Pisou no pedal e partiu.

 - Cheguei! – gritou Chihiro, ao passar pela porta de casa.

 - Estou na cozinha, filha! – era a voz de sua mãe. – Bem vinda!Vá lavar as mãos, o almoço está quase pronto.

—Ok!

Quando Chihiro estava passando pela sala, em direção as escadas, ela viu fotografias espalhadas pela mesa, com seu pai, um homem grande e robusto, inclinado sobre elas.

— O que está fazendo, papai?

—Ah, Chihiro! – disse ele, dando se conta de que a filha estava ali. – Só estou organizando o álbum de fotografias. Desde que nos mudamos, não colocamos as fotos novas. – Olhe está aqui.

Ela olhou : era uma foto dela dormindo de boca aberta, no banco traseiro do carro, no dia em que mudaram de casa.

— Hum...pai, não vai por esta foto, vai?

Seu pai gargalhou.

—E por que não?Você ficou tão cansada depois que saímos daquele ponto turístico, que praticamente  desmaiou no carro.- E voltou a gargalhar.

“Se eles soubessem pelo que realmente passamos, não estranhariam eu estar desmaiada no banco do carro.”- pensou ela.

Ela ficou observando as fotos. Uma na antiga casa, outra com os amigos da antiga escola, outra de cara amarrada no banco traseiro do carro...

—Fique com esta aqui. – disse seu pai, entregando-lhe uma foto: seu pai, sua mãe e ela juntos. Era uma foto bem família, como aquelas de retratos de mesa.

—Obrigada! – agradeceu feliz. – Ela ficou linda!

—Ficou mesmo. Tem outra igual aqui. Acho que vou colocá-la na parede da sala.

—Legal. Olha, eu preciso subir e trocar de roupa. – Ela já estava se virando para a escada. – Ah, pai!Ia me esquecendo, o senhor pode me levar ao trabalho?

— Claro, filha!

— Obrigada! – E subiu as escadas.

Olhem, não se esqueçam de passar no supermercado e comprar as coisas que pedi! – Recomendou a mãe de Chihiro, enquanto ela e seu pai entravam no carro.

— Tá bem!- responderam os dois.

— E Jorge, não demore! Precisa de tempo para o frango pegar tempero.

—Querida, eu só vou levar a Chihiro no trabalho, daí eu passo no supermercado, compro o frango e volto pra casa.

— Eu sei...Chihiro arrume essa blusa!

— Vamos indo Chi, do contrário não sairemos daqui hoje. - sussurrou o pai. – Adeus, amor!

— Adeus! Tomem cuidado! – gritou a mãe.

— Tchau, mamãe!

        A viagem não era longa até a livraria em que ela trabalhava. Era apenas longe o bastante para não ir a pé, por isso o pai lhe levava ou pegava  um ônibus. Chihiro teve o cuidado de arranjar um emprego perto da velha estação de trem, assim poderia ir lá com mais freqüência. No começo os pais se opuseram, mas ela insistiu que o trabalho era fácil e pagava bem – apesar de ser mentira. Ao menos, só trabalhava aos sábados.

       Sempre que saía, à tarde, ia para a velha estação. Ela atravessava o túnel e caminhava pelo campo, pelas vielas da cidade fantasma, pelos vários restaurantes que nunca abriam, pelas casas coloridas desbotadas e, finalmente, a casa de banhos, que estava sempre fechada. Era nessas horas que sentia seu peito afundar. Era como se tudo houvesse perdido o brilho, a magia. Era doloroso estar ali, no entanto não podia deixar de ir. Verificar, sempre, se alguma coisa voltara...

       Finalmente, chegara a hora de sair do trabalho. Daqui a umas duas horas, o pai voltaria para buscá-la, por isso tinha de correr. Por sorte, não era muito longe até a estrada dentro da floresta, assim logo ela estava caminhando pela alameda ladrilhada. O sol já estava se pondo. Ela caminhou pela mata, até que, em fim, avistou a velha estação. A aparência do lugar era a mesma de cinco anos atrás. Em frente ao túnel, o vento passava por ela, como se a sugasse suavemente. Ela entrou. Já do lado de dentro, como de costume, ela caminhou em direção à saída oposta, porém parou, imaginando ter visto um vulto com o canto dos olhos.

 “Não é nada.”, pensou com tristeza.

      Do lado de fora, o vento balançava a relva do imenso campo. Como sempre, fez sua excursão pelos prédios abandonados. Nada de novo, nem ninguém à vista. Foi, então, em direção à ponte, que dava para a casa de banhos; o vento atravessava os corredores de casas fazendo um assobio em sua passagem, como algo vivo, o único ali além dela. A casa de banhos como sempre continuava fechada. Deu alguns passos automáticos em direção a entrada, porém parou, no meio da ponte, sentindo as lágrimas virem. Deu meia volta e saiu correndo, em direção a estação.No entanto, parou na escada onde havia uma estátua de sapo. Ali se sentou, apoiando a cabeça nos joelhos e deixou que as lágrimas viessem.

“- Haku,a gente vai se ver de novo?

— Claro.

— Você promete?

— Prometo.  “

        Ela lembrou-se de quando largaram as mãos um do outro. Não olhou para trás, como ele pedira; agora, passaram-se cinco anos e ele não apareceu. Desde então ela esperou, sempre procurando. Não sabia mais o que sentir, se raiva ou indignação, só sabia que nenhuma delas conseguia tapar aquela sensação de ausência em seu peito.

— Não olhei pra trás, Haku.- ela chorou – então por que você volta?

“Alguma coisa deve ter acontecido”, ela pensava, “Ou apenas ele desistiu de mim?”. Ao pensar isto, ela voltou a chorar ininterruptamente.

 Não soube por quanto tempo chorou, porém uma hora caiu no sono, sentindo que o vento passava por ela, indiferente à sua dor. Quando acordou, o vento, estranhamente, havia cessado. Sentiu que havia algo molhado nos pés, levantou-se abruptamente e viu que seus pés estavam sendo molhados pela água do mar...

 Mar!

      Era noite e, ao longe, viam-se as luzes da cidade misteriosa. Por alguns segundos, ela ficou paralisada. Podia ser que havia finalmente voltado? Estava no mundo dos espíritos mais uma vez? Logo depois legria e esperança a dominaram, quando percebeu que aquela água que molhava seus pés era sim do mar, que as inúmeras estrelas acima da sua cabeça, em um céu tão inacreditável, não podiam pertencer ao seu mundo. Estava de volta! Finalmente, estava mais perto de Haku!

      Levantou-se num pulo e correu em direção à casa de banhos. Passar pela calçada dos restaurantes, era um feliz deja-vú: as mesmas lanternas vermelhas, fantasmas que passavam por ela, lançando lhe olhares curiosos, outros que a chamavam para comer as comidas que, ela sabia, a transformaria em um animal e a prenderiam naquele mundo. Mesmo assim, o simples fato de haver vida naquele lugar outrora abandonado, a deixava de tal maneira, que ela esquecia se do perigo que aquilo uma vez representou. Porém, ela notou que alguns começavam a lhe seguir, então achou melhor apressar-se e encontrar Haku, ele a protegeria.

      Quando alcançou a ponte, misturou-se aos clientes, um mais estranho que o outro, para entrar na casa de banhos. Mas foi surpreendida por uma voz que conhecia bem.

— Humana!- Ela se virou. Era o sapo de quimono que recepcionava os clientes. – Ei, você não pode entrar!

— Não se lembra de mim? – Perguntou ela.

—Hum... mas é a Sen! – Exclamou ele, naquela voz anasalada.

— Que bom que você lembrou!

— Mesmo assim, não pode entrar!

— O quê?! – Ela então lembrou. –Mas...mas eu vim pedir trabalho a Yubaba!

— Humanos não entram aqui! – Ele pulou.

— Ah... – Ela chiou. Deu meia volta e começou a se distanciar, porém viu um dos clientes, que parecia ser um sapo enorme usando um quimono longo, e teve uma ideia.


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