Ok, 8 dias não eram nada, não é mesmo? Eu não tinha motivos pra estar preocupada. Não tinha.

Ou eu tinha? Apesar de que Deus fez o mundo em 7 dias, imagina o que poderia estar acontecendo dentro de mim a 8 dias de atraso da minha menstruação.

 Minha menstruação nunca atrasou!

 Eu estava sentada na poltrona da minha sala há uma hora olhando o aplicativo do meu celular e vendo o histórico das minhas menstruações, e todas elas vieram no mesmo dia com no máximo 1 ou 2 dias de atraso. Ótimo, agora eu estou em pânico.

Deus não é possível que isso vai acontecer comigo, não é possível!

Depois de um tempo, deixei de ser covarde e fui até uma farmácia comprar testes de gravidez. Meu Deus eu parecia tão idiota fazendo isso. Isso não entrava na minha cabeça, mas ok, eu não vou ficar com essa duvida, vou fazer esse teste e provar a mim mesma que eu estou ficando louca.

 Voltei pra casa minutos depois e joguei os testes na pia do banheiro. Eu li mais ou menos como fazia e fiz o primeiro. Fiz xixi no palitinho e coloquei ele em cima da pia. Fiquei sentada na privada e eu podia ouvir meu próprio coração bater forte na minha goela. Tinha que esperar dois minutos, eu esperei e fui olhar.

 Minhas mãos tremiam quando peguei o teste na mão.

—Mas que porra é essa? – eu perguntei pra mim mesma.

Tinha um risco forte e um bem fraquinho do lado, quase não dava pra ver. Ah ótimo. Vamos fazer o outro.

 Fiz o segundo teste de gravidez e se eu já estava nervosa no primeiro, imagina agora. Fiz tudo certinho, fiz xixi no palitinho e esperei os dois minutos. Quando peguei o teste de gravidez pensei que fosse desmaiar de novo, nele tinham as duas listras bem forte e evidente.

—O que isso quer dizer? – murmurei pra mim mesma irritada. Eu li de novo a caixinha e estava escrito que uma listra era negativo e duas eram positivo – Ai ta de brincadeira!

Eu dei um soco na pia e depois xinguei com a dor que estava na minha mão. Puta merda, isso não esta acontecendo. Eu tomei pílula do dia seguinte depois que transei com Ethan. Isso não pode estar acontecendo.

 O choro saiu livre da minha garganta e eu me encolhi no chão do banheiro. Eu não queria isso, meu Deus. Eu não quero ser mãe, mas eu também não quero dar meu filho. Isso só me fez lembrar-me de Ethan, ele ia pirar quando soubesse, céus ele ia ter um ataque de alegria. Era tudo que ele queria, me engravidar e porra ele conseguiu, eu não sei como, mas ele conseguiu me engravidar.

Que filho da puta!

Eu não quero isso, não sei o que vou fazer. As lagrimas desciam do meu rosto uma atrás da outra e eu chorava de soluçar. Um filho não estava nos meus planos, eu não tenho instintos maternais e sei que quando Ethan souber, se ele souber, a guerra vai estar declarada, porque ele vai querer esse bebe pra ele e eu não vou poder dar. 

 Eu não acredito que isso esta acontecendo. Eu estou perdendo o Ethan e tudo que a gente tem, ele vai querer ser meu inimigo agora. Cacete o que eu vou fazer?

—Bel?- Ouvi a voz do Ethan e corri pra trancar a porta do banheiro. Eu não ia falar nada agora, a minha ficha nem tinha caído.

—Já vou – gritei do banheiro.

 Engoli o choro e lavei o rosto. Coloquei todos os testes dentro da sacola em baixo da pia. Respirei fundo com os olhos fechados.

Relaxa Bel, relaxa...

Eu abri a porta do banheiro e dei de cara com ele me encarando.

—Você esta bem? – perguntou desconfiado.

—Perfeitamente bem – forcei um sorriso e fechei a porta do banheiro atrás de mim e fui pra sala.

—Fez a sua coisa? – perguntou ele me seguindo.

—Que coisa?

—A coisa que você disse que precisava fazer Izobel – ele falou se sentando ao meu lado no sofá.

—Ah sim, eu já fiz. – me acomodei no sofá e abracei uma almofada escondendo metade do meu rosto nela. Ethan estava me encarando – O que foi?

—Você esta estranha.

—Impressão sua – disse forçando um sorriso pra disfarçar.

—Tudo bem. – ele se remexeu no lugar – Tenho novidades. A clinica de fertilização me ligou hoje, disse que acharam outra pessoa com o perfil que eu queria. Não é ótimo? – ele disse animado e eu engoli em seco.

—É sim, que bom que conseguiu o que queria.

—É, eu preciso ir lá assinar alguns papeis, dar o meu esperma. Essas coisas, mas as chances são muito grandes de dar certo agora.

—Eu fico feliz por você.

—Obrigada, sabe o quanto isso é importante pra mim, o quanto eu quero isso. Saber que eu estou tão perto de conseguir o que eu sempre quis me deixa em êxtase!

 Eu engoli em seco e fiquei com vontade de chorar, mas segui firme. Fiquei olhando aquele sorriso dele e não aguentei tive que fazer uma pergunta.

—Ethan – ele me encarou – Se eu te pedisse pra escolher entre mim e seu filho, quem você escolheria?

 Ele franziu o cenho confuso, mas respondeu.

—Acho que todo pai escolheria um filho não é? Não é o certo? – ele disse como uma pergunta.

—Eu não sei – sussurrei.

—Bom, só sei que quando eu tiver um filho ele vai ser a prioridade na minha vida. Eu mataria e morreria por ele – ele disse orgulhoso e aquilo só me deixou com mais medo. – Mas porque perguntou isso?

—Nada, besteira. - dei de ombros.

—Já esta com ciúmes de um filho que nem tenho ainda? – ele perguntou rindo.

Mal sabia ele que teria. E estava mais perto disso do que ele imaginava.

—Logico que não – eu revirei os olhos e aquilo pra mim bastou – Hoje foi um dia cansativo pra mim, acho que eu vou deitar, você vem?

—Eu não vou dormir aqui hoje, só vim te dar a noticia, achei que ia ficar feliz por mim. – ele disse se levantando.

 Eu me levantei também.

—E eu fiquei. Meus parabéns – disse e eu joguei meus braços em volta do seu pescoço o abraçando. Ele me apertou forte e eu acabei chorando de novo. Mal sabia ele que no meu ventre estava o seu filho.

—Ta chorando? – ele perguntou sem me soltar.

—É – sequei as lagrimas bem rápido – Emoção.

—Esta tudo bem mesmo com você? – ele passou os dedos pelos meus olhos secando algumas lagrimas minhas e eu suspirei – Eu estou começando a ficar preocupado. É serio.

—Eu já disse que estou bem. Agora vai, você também precisa descansar. Boa sorte amanha na clinica – eu dei um beijo na sua bochecha e me soltei dos seus braços.

 Eu nem esperei ele sair ou falar nada, só fui pro quarto me deitar e quando ouvi a porta sendo fechada eu comecei a chorar.

Chorei a noite inteira e até dormir. Chorei abraçada ao meu travesseiro, com soluços e encolhida no canto da camada. Fiquei imaginando minha vida como seria daqui pra frente, até adormecer.

[...]

 Sim eu ainda não acreditava no que estava acontecendo. Pensei que fosse acordar e tudo isso não ia passar apenas de um sonho. Mas não, era tudo real. Um pesadelo em tempo real.

 Sem tomar café, nem comer nada. Eu me levantei e me arrumei pra ir ao hospital. Fui a uma clinica ginecológica e levei os testes.

 O medico me atendeu e tirou todas as minha duvidas, primeiro ele fez um exame de sangue, e depois um exame de toque, então ele avaliou meu teste de gravidez de farmácia.

—Eu não entendo como posso estar gravida, eu tomei pílula do dia seguinte quando transei sem camisinha doutor. – falei ainda deitada na maca enquanto ele preparava o ultrassom.

—Querida, a pílula do dia seguinte não é 100% eficaz. Fora que se você estivesse ovulando no ato da transa e ele ejaculou dentro da senhorita, logo você já engravidou e a pílula não é abortiva. Então não tem muito o que fazer. O exame de sangue deu positivo, os testes também e o colo do seu útero esta fechado, o que indica gravidez – eu suspirei derrotada – Agora vamos ver, se tem alguém ai dentro.

 Ele fez uma ultrassom transvaginal por ser muito cedo ainda. Ele colocou aquele troço em mim e ficou mexendo até aquela tela mostrar alguma coisa.

—Esta vendo? – perguntou o doutor passando o dedo por um borrão. – É o seu bebe!

 Eu fiquei ali olhando aquele borrão que pra mim não parecia um bebê, era nada além de um monte de células que estava crescendo dentro de mim e eu entrei em choque.

—Você esta de 4 semanas. Um mês certinho. - disse. O doutor ficou falando varias coisas e eu não prestei atenção em mais nada.

 No fim da consulta ele me disse uma data pra voltar e os cuidados que eu devia tomar, deixou um termo assinado também para o caso de eu querer abortar e imprimiu a foto daquele nada que mostrava na ultrassom. O que? Não dava pra ver nada mesmo.

 Eu voltei pra casa e fiquei sentada no sofá olhando pras minhas mãos. Na mão direita estava o termo pra abortar, que já estava assinado pelo medico, era só levar numa clinica especializada e pronto. Na outra mão estava a foto da minha ultrassom.

 Eu já não tinha mais lagrimas pra chorar. Eu ficava olhando pro teto desejando com tanta fé que ele desabasse em mim e eu morresse. Mas nada de lagrimas, eu acho que era a ficha caindo, só pode. Eu estava em pânico por dentro mas por fora não conseguia nem formular uma frase ou esboçar uma reação.

 Eu queria sair daqui, não ia saber lidar com a reação do Ethan, com os julgamentos das outras pessoas. Com a cara dele pra mim em saber que não estou feliz com essa situação. Em saber que ele vai querer tirar de mim algo que também é meu. Fora que não sei se eu tiro antes dele saber, ou se conto e dou pra ele. Mas ele vai fazer tudo isso do jeito que eu não quero.

Droga!

Se eu pudesse fugir, eu fugiria. Pra bem longe, pra poder pensar, decidir minha vida e como seria daqui pra frente. Não quero ser pressionada.

 Meu celular começou a tocar e eu sabia que era ele, eu peguei e taquei ele longe e do nada uma luz no fim do túnel surgiu na minha memoria.

 Fui correndo até o quarto e peguei meu notebook abrindo meu e-mail

“Ola Francis, tudo bem? Me perdoa pela demora para te responder. Eu gostei da proposta e estou interessada em ir pra Austrália o mais rápido possível”

Enviei.

Droga o que eu estava fazendo? E se ele já tivesse desistido de mim e achado outra pessoa para o emprego? Eu já estava começando a entrar em pânico quando chegou  um e-mail dele respondendo:

“Sabia que podia contar com você Izobel,vamos ficar felizes em recebe-la aqui. Me passe seu numero e vamos resolver sua vinda pra cá!”

Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas sabia que era o que eu precisava fazer agora. Um tempo longe de tudo e de todo mundo, e principalmente do Ethan.