Catarina passou o dia inteiro no hospital, acompanhando uma consulta das muitas que sua mãe faria daquele dia em diante. Era uma péssima maneira de começar uma segunda feira, mas ao menos conseguira um atestado de acompanhante para o trabalho. Sentia-se culpada por não estar com Maria quando ela recebeu a notícia de sua doença e, por isso, prometera tentar acompanhá-la em todos os futuros atendimentos.
 Embora a idosa tenha dito que era desnecessário, Catarina sabia que isso era o mínimo que poderia fazer. Sua mãe era a única pessoa existente que sempre estivera presente: guiando para o melhor caminho e ajudando a superar as decisões erradas.
 Ao chegar em casa teve uma surpresa muito agradável, pouco condizente com o resto do dia. Juliano não tinha ido deixar Manuel na escolinha para procurar emprego (tendo abandonado o Rio de Janeiro, encontrava-se desempregado). O homem estava apresentando a Pitoco um universo desconhecido para qualquer daquela idade. Se tratava de desenhos antigos, porém de muito bom gosto.
 A bibliotecária mal conseguiu esconder o sorriso quando percebeu o que acontecia. Abasteceu o pote de ração de Uggie e juntou-se aos rapazes de sua vida naquele pequeno e nostálgico momento. O episódio que passava, da antiga animação “Pingu”, protagonizada por um pinguim de massinha, era traduzido como “Os Pais de Pingu vão a um Concerto” e, pelo nome, não era muito difícil adivinhar o conteúdo do capítulo.
 Basicamente, os pais do pinguim saíam em um encontro noturno para assistir alguma espécie de orquestra ou ópera e o protagonista, juntamente de seu irmão pequeno, fazia uma grande bagunça na casa.
 Manuel ficou insistindo para arremessarem uma panqueca no teto, como Pingu fazia no episódio, disse que iria morar em um iglu quando crescesse e começou a imitar a maneira de andar dos pinguins do desenho. No entanto, nada disso arrancou mais gargalhadas do casal do que ouvi-lo implorar por um irmão, igual o que o protagonista da animação possuía.
 Naquele instante, Catarina, pega de surpresa pela criança, entendeu que sua vida nunca mais seria a mesma — e isso era maravilhoso. Tinha agora uma família maior e mais estruturada, não precisaria enfrentar todos os problemas sozinha com o peso do mundo nos ombros.
 Preparada para superar a doença de sua mãe e todos os próximos momentos difíceis de sua vida, Cat se deu conta dos sinais singelos, como um desenho infantil, que trazem à tona toda a poesia e felicidade da existência. Só é preciso saber olhar. E, de agora em diante, a moça iria enxergá-los por duas pessoas — ela própria e sua mãe.