Seu Amor Em Mim #Aurieta escrita por euimaginoassim


Capítulo 8
Enfim sós


Notas iniciais do capítulo

IMPORTANTE: O capítulo de hoje, excepcionalmente, foi escrito sob a ótica e interpretação de Aurélio. Já conhecemos Julieta o bastante pra saber como ela pensa e reage em algumas situações, então, eu quis imaginar como ele se sente. Gosto muito de Aurélio e achei que ele também merecia atenção ♥



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A vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Até ontem eu estava certo de que iria à Recife e deixaria para trás o fracasso nos negócios e no amor, que tanto me atormentava. E agora estava ali, enrolando entre os meus dedos os cabelos de Julieta, que dormia frágil e serena ao meu lado. Ela finalmente havia aceitado o seu amor por mim e não havia instrumento no mundo capaz de medir a minha felicidade. Toda aquela briga e nosso afastamento, apesar de doloroso, só fortaleceram a nossa relação. Ela confiava mais em mim e eu a admirava como nunca.

Eu queria acordá-la aos beijos! Rolar com ela na cama e carregá-la no colo até o banheiro para um banho matinal. Eu a desejava. Mas, sabia que qualquer movimento exagerado meu poderia assustá-la. Então, me contentei em tocar sua testa com a ponta dos dedos e a vi despertar com um sorriso tímido que me enchia de amor. Ela era Linda!

Como prometido, levei Julieta e Soberano de volta à fazenda. Trombamos com Susana na chegada e Julieta a fez se desculpar comigo. Foi engraçado vê-la naquela situação, pois era nítido o quão estava contrariada, ao mesmo tempo em que não era capaz de negar o pedido da patroa. Eu gostei de ver Julieta me defender, não nego. Passei o resto do dia colocando a vida no lugar. Desfazendo as malas e os planos que havia feito ao longo da semana. Apesar de ter desistido de ir embora, aquela era, sem dúvidas, a data de um recomeço.  

Os dias seguiram em paz. Eu e Julieta estávamos cada vez mais próximos um do outro, mais amigos e confidentes. Ela aceitava de bom grado minhas opiniões sobre as questões da fazenda e, ao anoitecer, antes de voltar para a pequena casa que ela novamente me cedeu em suas terras, eu podia encontrá-la e apreciar seus beijos com sabor de café. Num desses fins de tarde ela me contou que iria para São Paulo ver o filho e eu logo me dispus a ir junto.

— Dessa vez eu quero que vá comigo!

Partiríamos no dia seguinte, sozinhos. Ela finalmente havia preferido a mim para acompanhá-la e eu vi nessa viagem a oportunidade que faltava para darmos mais um passo em nossa relação. Eu estava feliz com o nosso namoro às escondidas. Na verdade, eu estava feliz com tudo que viesse dela e só queria mais. Mais uma noite juntos. Beijos mais demorados, abraços mais fortes, carinhos mais ousados e mais uma noite. Eu queria todas as noites com ela. Talvez a mansão em São Paulo nos desse a privacidade que ela precisava para se livrar se alguns pudores e se entregar a nossa paixão. Eu estava esperançoso e empolgado.

Fomos o caminho inteiro conversando sobre nossos gostos, habilidades, defeitos, filhos. Eu ficava impressionado com nossa sintonia. Era como se nos conhecêssemos há muito tempo e nem eu mesmo podia acreditar que meses atrás éramos dois adversários brigando a cada encontro. Eu me sentia livre pra brincar com os dedos dela e ela se permitia deitar a cabeça no meu ombro para descansar. Acho que nunca havíamos passado tanto tempo juntos e nem a estafa das longas horas de viagem puderam minimizar minha felicidade por estar ali.

Mal nos vimos nos dois primeiros dias em São Paulo. Julieta tinha muitas questões pessoais para resolver fora de casa e por algum motivo, preferia que eu não a acompanhasse. Eu respeitava a sua decisão apesar de ficar curioso e desejoso de que ela se abrisse inteiramente comigo. Aproveitei para visitar velhos amigos na cidade e o tempo que eu passava na mansão gastava procurando algum vestígio do passado de Julieta que me explicasse a frieza e a indiferença que ela distribuía gratuitamente quando eu a conheci.

Eu sabia que seu casamento havia sido arranjado e pelas poucas vezes que ela falou algo sobre, pude perceber que nunca houve amor naquele enlace. Raros eram os quadros em que havia alguma referência a Osório Bitencourt, mas, ele era claramente um senhor de meia idade à época do casamento, enquanto Julieta era apenas uma menina. Aquela união por conveniência deve ter frustrado alguns de seus sonhos mais puros, disso eu não tinha dúvidas. Mas infelizmente, tratar o casamento como um contrato era comum em nossa sociedade e, por mais penoso que fosse, se houvesse o mínimo de respeito e admiração de ambas as partes, a convivência não precisava ser tão degradante como parecia ter sido pra Julieta. Havia algo além da infelicidade de conviver com alguém que não se ama, algo além dos sonhos que ela deixou para trás. Mas, esse mistério eu não era capaz de decifrar sozinho.

“Depois que ela se entregar inteiramente a mim e ao nosso amor, ela vai se abrir sobre o passado naturalmente, sem que eu nada precise perguntar ou inferir.”

Eu estava totalmente perdido entre esses pensamentos quando finalmente a vi adentrar pela sala. Estava linda como sempre e um pouco mais sorridente que o normal.

— Seria esse um sorriso de vitória? Vamos, estou curioso. Conte-me sobre sua conversa com Camilo!

— Sim, não há como esconder. Me sinto vitoriosa! – Ela disse enquanto se aproximava e segurava minhas mãos. – Eu abracei meu filho, Aurélio! Eu conversei com ele sem que houvesse ofensas ou cobranças. Disse o quanto o amava e sinto que ele está cada vez mais aberto para me ter novamente em sua vida. Ainda temos um longo caminho a percorrer, eu sei. Mas, já me sinto tão leve.  

— Eu posso ver! E acho que temos um ótimo motivo para comemorar, não é? Me acompanha em uma taça de vinho?

Ela aceitou meu convite de pronto e sem que pudéssemos perceber já estávamos na terceira ou quarta taça. Ela parecia ainda mais bonita agora que sorria também com os olhos.

Eu a desejava como nunca. Precisava tocá-la, precisava sentir seu cheiro e conhecer a pele escondida por baixo daquele vestido preto que insistia em nos separar. Me aproximei para um beijo demorado que a essa altura era inevitável. Ela não resistiu dessa vez. Não se afastou. E então eu entendi que podia seguir em frente. Era o momento certo para fazer real a fantasia que alimentei desde o dia em que a vi pela primeira vez.  

Intensifiquei nosso beijo. Segurei forte sua cintura e a ergui alguns centímetros do chão para que eu pudesse caminhar com ela ainda em meus braços. Ela não me largou nem por um segundo. Apoiei o corpo dela sobre o primeiro móvel que encontrei e passei a beijar seu pescoço e sua nuca, sedento para sentir um pouco mais da pele macia que eu tanto desejava. Ela também me beijava, tocava e acarinhava enquanto eu libertava seus cabelos de todos os grampos que encontrei.

Minhas mãos já trabalhavam com os botões do vestido quando eu a senti tocar meus ombros forçando um pouco de afastamento. Mas, eu não ia desistir tão fácil. Segurei as mãos dela, que transpiravam muito, iniciei um novo beijo e me assustei quando senti uma lágrima ainda quente unir nossos rostos. Ela estava chorando. Voltei a si imediatamente e percebi que ela também tremia, não de desejo ou paixão. Ela tinha medo. E eu me senti o pior dos homens por não ter parado ao primeiro sinal.

— Meu amor, não chore. Me perdoe! Eu não queria te magoar nem te machucar. Eu achei que você também queria seguir em frente.

— EU QUERO! Mas, eu não consigo. Aurélio, eu... Você nunca vai entender.

— É claro que eu vou entender. Seja lá o que for, eu só preciso que você me fale. Você está tremendo, eu posso sentir. Você está com medo de mim?

— Não é você, não é sua culpa! Eu também o desejo. Mas, eu não consigo e acho que nunca vou conseguir... Me desculpe.

Ela se soltou dos meus braços ainda chorando e eu fiquei desesperado e arrependido por fazê-la sofrer e pior, eu não sabia como reverter aquela situação.

— Não me peça desculpas. Eu que tenho que pedir. Eu deixei o desejo tomar conta de mim, Julieta. Mas, eu juro por tudo de mais sagrado que isso não vai se repetir. Eu posso me controlar, eu sei que posso.

— Vai se repetir sim, Aurélio. E eu entendo. Você tem seus instintos e desejos e nunca vai conseguir concretizá-los comigo. Mas, eu não vou estender esse sofrimento por mais tempo. Você é um homem jovem, bonito, sensível. Merece refazer a vida com uma mulher que saiba te amar melhor do que eu.

— Julieta, pare de se torturar assim. O que você está dizendo?

— Eu estou te libertando de mim, Aurélio. É isso. Eu quero você livre para viver tudo o que não pode viver comigo. É isso.

Ela correu para o quarto. Eu a segui, mas, encontrei a porta já trancada.

— Eu não vou sair daqui, Julieta. E nós não vamos adiar essa conversa! Eu não preciso encontrar mulher nenhuma, porque eu já encontrei. É você que eu quero, é você que eu amo. Só você!

Ela não me respondia, mas eu podia ouvir seu choro, por mais abafado que estivesse. Então, tomei coragem pra perguntar algo que já pairava em meus pensamentos há algum tempo. 

— Foi seu marido, não foi? Ele fez algo contra você, Julieta? Ele te batia, é isso? Esse maldito te batia? Meu amor, eu imploro, confie em mim. Eu estou preocupado, eu quero ouvir a sua voz.

Ela não ia me atender, mas, eu também não iria sair dali. Não conseguia deixá-la só. Então, me sentei recostado na porta pra que ela pudesse ouvir minha respiração do outro lado e soubesse que eu estava lá. Foram horas pensando no mistério que envolvia Julieta e seu passado, sem resposta alguma, e de tanto pensar, dormi. Acordei com o girar da chave e da maçaneta da porta. Para o bem ou para o mal, conversaríamos.


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Notas finais do capítulo

Como vcs viram, tentei fazer um paralelo com a realidade atual da novela, a cena da "sedução" e tal. Tô demorando mais a postar, mas, não vou abandonar, prometo. ♥