Seu Amor Em Mim #Aurieta escrita por euimaginoassim


Capítulo 6
O encontro




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Nem mesmo as grossas camadas do meu vestido preto me protegeram do vento frio. Meu corpo tremia e eu mal podia sentir as pernas. Não bastasse a escuridão noturna, meus olhos estavam cheios de poeira, o que deixava ainda mais turva a minha visão. Eu sentia arder pequenos arranhões que ganhei dos galhos pelo caminho e como esperado, eu era uma péssima guia para Soberano. A essa altura, o pobre cavalo já devia estar me odiando também, tantas foram as poças de lama em que o fiz pisar.  Lembrei-me da minha imagem no espelho. Se antes de deixar a fazenda era degradante, agora, devia estar destruída. Restavam apenas resquícios da mulher elegante e luxuosa que sempre fui.

Não faço ideia de quanto já durava minha pequena aventura quando eu, quase tomada pelo cansaço finalmente avistei de longe as poucas luzes da cidade. Meu coração se encheu de esperança e ao mesmo tempo eu tive medo. “E se ele não quiser me ver? Eu o decepcionei tanto, mas tanto, que não ficaria surpresa caso ele preferisse me ignorar. Na conversa com Brandão ele não demonstrou raiva enquanto falava a meu respeito, mas, também não demonstrou amor. Parecia até bem conformado em se afastar de mim e satisfeito com a viagem.” Eu fechei os olhos buscando espantar os maus pensamentos e mantive o foco na estrada. Se eu iria recuperar a estima de Aurélio ou não, antes eu precisava chegar para saber.

Cheguei. Fiquei um tempo parada em frente à hospedaria. Minhas pernas estavam tão bambas que eu quase caí do cavalo, literalmente. Respirei fundo como tantas vezes naquela madrugada gelada, procurando a coragem que faltava para caminhar até a porta de entrada do pequeno hotel. Na recepção, fiz valer o meu título de Rainha do Café. Perguntei ofegante pelo quarto de Aurélio e pedi uma cópia da chave, caso houvesse. O homem me olhou assustado. Não sei se mais pelo meu pedido ou pela minha aparência. Quando eu vi que ele hesitava em satisfazer meu pedido, lhe ofereci dinheiro. Infelizmente, eu ainda não havia me transformado o suficiente para acreditar tão fácil na honestidade alheia, então fiquei surpresa quando aquele simples interiorano não aceitou minha oferta.

— Conheço Aurélio Cavalcante desde menino. Sei que ele trabalha para a senhora e a tem em alta conta. Não lhe entreguei a chave de imediato porque convenhamos, isso não é nada comum e eu como proprietário do hotel, devo zelar pela privacidade dos meus hóspedes. Mas, vejo uma certa urgência em seu olhar...

Eu já estava quase roubando aquelas chaves. Mas, o deixei continuar.

— Aqui está. Não acho que a rainha do café faria algo contra o senhor Aurélio. Seja lá o que deseja fazer, conte com minha discrição.

— Obrigada. Não esquecerei a sua gentiliza, fique certo disso.

Abri a porta do quarto com cuidado e me atentei para as duas malas dispostas ao lado do tapete. Constatar que ele estava pronto para partir fez meu coração apertar. Aurélio tinha um sono profundo e sereno. Não pude conter a felicidade em vê-lo ali, tão perto de mim, ainda dormindo. “Será que eu era digna de seus sonhos?” Deixei uma lágrima escorrer, mas logo limpei o rosto. Eu não queria chorar, não agora, mas, era quase impossível controlar a emoção. Gastei o restante das minhas forças tentando me conter, o que me fazia sentir um grande nó se formar em minha garganta, me sufocando. Era inacreditável como depois de tudo que passei àquela noite, eu finalmente estava ali, em frente ao meu amor e nem ao menos conseguia pronunciar o seu nome. Eu não tinha forças para falar.

— Aurélio! – Falei com dificuldade, mas ele nem se moveu. – Aurélio, por favor, eu..

“Chega!” Se eu não podia falar iria acordá-lo de outra maneira. Praticamente, me arrastei até a cama e cai de joelhos ao seu redor. Apoiei os cotovelos na parte livre do pequeno colchão. Cheirei e beijei os cabelos e o rosto dele. “Sua pele está quente e eu tenho tanto frio!” eu pensei sedenta pelo calor do seu corpo. Aurélio acordou assustado.

— Julieta? Julieta, o que faz aqui? Como você entrou aqui?

Ele segurou minha mão e sentou-se na cama ainda perturbado com o que via. Eu abri a boca numa tentativa frustrada de falar, mas, não consegui. Estava totalmente debilitada. Foi então que ele, agora mais desperto, pôde ver melhor o estado em que eu me encontrava.

— Julieta, o que aconteceu com você? Está gelada! – Ele tinha um olhar preocupado e percorria meus braços com suas mãos, conferindo se eu estava inteira. – Foi o Xavier, não foi? Aquele crápula te atacou novamente. Que arranhões são esses? Ele te machucou? Vamos Julieta, diga alguma coisa! Eu estou começando a ficar nervoso, meu amor.

Arregalei os olhos ao mesmo tempo em que buscava o ar para respirar. Meu amor! Ele disse “meu amor”, eu ouvi muito bem. Não pude mais conter as lágrimas. Era um choro de alívio, afinal.

— Meu amor? Eu... ainda sou o seu amor? – Falei baixo e entre soluços.

— Julieta, não chore. Você está tremendo, venha cá.

Foi então que ele sentou no chão ao meu lado, me puxou para o seu colo e me envolveu num forte e reconfortante abraço. Eu enterrei o rosto no peito dele e me deixei ser abraçada como nunca por homem nenhum. Era tão bom estar ali. Aos poucos meu choro cessava e eu voltava a ter forças. Não sei quanto tempo ficamos abraçados, mas certamente, se eu pudesse escolher, seria para sempre.

Eu estava em transe, mas, Aurélio queria uma resposta. Ele descolou nossos corpos e fez meu olhar se cruzar novamente com os seu.

— Agora que está mais calma, conte-me! O que te fez vir até aqui de madrugada e porque está assim, tão... Desarranjada? Se Xavier fez algo contra você precisamos denunciá-lo agora mesmo, Julieta! Eu sei que não confia plenamente em mim, mas, se está aqui agora é porque sabe que pode contar comigo.

— Não Aurélio, não, eu... Eu confio!

Ele me olhava confuso e não era pra menos, levando em conta minhas acusações e a forma como o enxotei da minha vida naquela maldita conversa.

— Xavier não tem nada a ver com isso. Eu precisava vir porque... Aurélio, eu soube que você está de partida para Recife e eu não podia deixa-lo ir embora do Vale do Café sem antes me desculpar por todas as barbaridades que te falei aquele dia. Eu estava tão cega de raiva que não medi minhas palavras nem minhas atitudes. Tenho tanta vergonha da forma como te demiti, cobrando uma dívida que nem existia de fato. Eu passei de todos os limites com você e não sei se...

— Julieta, não se martirize tanto, eu compreendo que...

— Não diminua o mal que lhe causei Aurélio! Agora eu vejo o quanto fui injusta e você MERECE que eu peça perdão. Já eu, não sei se mereço ser perdoada. Mas, apesar de estar em frangalhos, acredite, eu sou uma mulher forte. Não quero que tenha pena de mim, quero a verdade! Você seria capaz de me perdoar?

Ele me olhava sério e benevolente. Era um homem tão generoso que antes de sua resposta eu já podia prever que ele não me negaria o perdão, então, mesmo receosa do que ouviria eu resolvi ir mais fundo em meu questionamento.

— Melhor dizendo... Aurélio, você seria capaz de gostar de mim de novo?


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Notas finais do capítulo

Aah, qual será a resposta de Aurelindo pra Julieta?



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