jamie

Ela bateu a varinha em seus olhos fechados, abrindo em seguida.

Jamie Potter deu um leve sorriso para o rosto sardento que a encarava no banheiro coletivo do sexto andar. Limpou a garganta e passou a mão nos cachos negros, apontados para várias direções. Esquivou-se das garotas que a rodeava, com o crachá de Monitora Chefe realmente brilhando em seu peito. Por mais que ela tivesse seus um metro e sessenta, era difícil não notar Jamie Potter, onde quer que ela estivesse. Primeiro porque ela era realmente conhecida, e segundo que todos sempre tinham alguma história para contar sobre ela.

Entretanto, ser conhecida não quer dizer ser querida.

Subiu alguns andares em direção da Sala Comunal da Grifinória, onde alguns alunos se calaram ao vê-la. Ela os olhou, impassível, até seus olhos encontrarem Liam, conversando algo com um garoto do quinto ano. Tentou se aproximar mas o garoto desviou o olhar de forma gélida, virando o corpo de forma não convidativa, deixando claro que não havia perdoado a discussão de sexta. Jamie respirou fundo e subiu para o dormitório.

— Onde está Serena? – perguntou ao ver Remy mexer em sua câmera, deitada em sua cama. A garota de cabelos castanhos deu de ombros, sem desviar o olhar da maquinaria que enfeitiçava lentamente com sua varinha torta. – E Pietra?

— Você está a vendo aqui? – retrucou, com uma voz pouco convidativa.

— Ok, estúpida, você sabe se elas estão com o Mapa pelo menos? – perguntou, tirando sua capa, mas pegando o crachá para colocar sob o suéter. Remy finalmente descansou a câmera, a colocando na cabeceira e sentou-se na cama, arrumando-se sem olhar para Jamie.

— Sabe, você não precisa ficar com o crachá vinte e quatro horas. – disse, finalmente olhando a garota de cachos. A Potter, respirou fundo, sem piscar.

— Vamos resolver isso agora. – decidiu, séria. Remy levantou-se, dando de ombros.

— Resolver o que? – ela deu um mini sorriso de escárnio e Jamie quis soca-la como fizera no terceiro ano. O risco recente que atravessava o rosto da amiga já não a incomodava, aquilo era um presenta dos primeiros meses do sétimo ano, onde Remy simplesmente decidiu que nenhuma das marotas iam acompanha-la para a Lua Cheia.

— Você está com raiva porque eu me tornei Monitora Chefe no seu lugar. E tudo bem, eu também ficaria. – Remy continuou impassível, mas Jamie não vacilou. – Dumbledore provavelmente viu que você não ia aguentar o tranco.

Remy já estava com lágrimas nos olhos, mas segurou um sorriso, como se ela estivesse revendo a cena de um filme que ainda a tocava, mas ela sabia exatamente o que ia acontecer. A garota que se aproximava era mais alta que Jamie, mas ainda assim a Potter parecia maior. Ela cruzou os braços sob o casaco verde musgo, assentindo.

— Como você consegue ser tão arrogante?— sussurrou, quase com desprezo.

Jamie não piscou.

— Não tirei seu valor, apenas disse a verdade. Não ser Monitora, não tira seu potencial. É apenas administração de tempo.

— Eu exerci meu papel muito bem por dois anos.

— Foram dois anos sem os N.I.E.M’s. – corrigiu Jamie como se fosse uma enciclopédia. – Suas transformações estavam mais violentas pelo estresse.

— E daí? Eu já era monitora quando tivemos os N.O.M’s! E como Dumbledore iria saber que minhas-

Jamie segurou um sorriso solidário. Os olhos amendoados de Remy se arregalaram entre lágrimas.

— Você tinha prometido. – sussurrou ela, vermelha. Jamie rolou os olhos.

— Eu estava tentando te ajudar, você estava tipo, morrendo a cada Lua Cheia. Era muita responsabilidade!

— VOCÊ ROUBOU ISSO DE MIM! — Remy empurrou Jamie diretamente no crachá, fazendo a garota de cachos quase tombar para trás. Ela tocou o peito com dor, enrugando a testa. A Lupin já estava chorando a aquela altura. – Como eu não desconfiei antes? Logo de você, que sempre joga sujo!

— Eu jogo sujo?— esganiçou Jamie. – Eu faço por merecer, eu me esforço, eu trabalho, eu faço acontecer! Eu não pedi esse cargo, ele foi conquistado!

— Não, você é dissimulada, arrogante e egoísta, Jamie, não pensa em ninguém que não seja você mesma, em nada que não dê lucro a você! – riu Remy entre lágrimas. – E talvez no seu mundinho particular, fazer o que você fez seja normal, mas não é. Não é.

Remy saiu do quarto, batendo seu ombro no de Jamie com tanta força que faltou pouco para a garota cair. Ela segurou-se no dossel da cama, respirando fundo. O suor pingou em sua nuca enquanto ela flexionava o pescoço, séria. Olhou para o quarto vazio, passando os olhos no espelho de Serena que mostrava parte de seu corpo.

Olhou seus olhos escuros em silêncio, sentindo que aquela cena acontecera mil vezes de formas diferentes.

Saiu do quarto novamente, passando pela Sala Comunal parando com o panfleto berrante no Quadro de Avisos:

FAÇA PARTE DO TIME!

Estamos precisando de um batedor talentoso. Venha mostrar seu talento esta quinta, no Campo, às 18h00!

Jamie Potter arregalou os olhos de pavor, sabendo exatamente quem planejara aquilo. Arrancou o panfleto de forma barulhenta, atraindo a atenção da sala. Olhou o lugar atentamente, tentando achar o culpado, mas sabia onde ele estava. Passou pelo Quadro, furiosa, descendo as escadas em pulos, sentindo o ódio tomar conta de seu rosto, assustando as pessoas que a olhavam. Ela sequer olhou a vidraçaria quebrada que dava no pátio, conhecida por ser a primeira vidraça de mil e quinhentos anos que ela e Serena quebraram no primeiro ano em Hogwarts.

— MCKINNON!— urrou, marchando em direção do garoto louro rodeado de outros garotos, que gargalhavam. Ele avistou a garota que marchava em sua direção e desviou o olhar, já suspirando, fazendo os outros garotos rirem. Eles abriram espaço para a Potter e os vinte e cinco centímetros de diferença entre ela e os olhos ficou gritante enquanto os garotos a olhavam, entre analises demoradas nos seios e um claro descaso no rosto dos poucos que a fitavam nos olhos. – O que é isso? – questionou mostrando o panfleto roxo.

— Um panfleto. – sorriu.

— Eu sou a Capitã, eu decido as coisas. – McKinnon molhou os lábios, segurando um riso. – O quê?

— Olha, Frank estava certo quando te colocou no time, você é talentosa, mas não é uma estrategista, ok? – ela riu, mas o garoto continuou. – Você está me forçando a jogar com uma garota que não sabe ficar mais de vinte minutos no jogo sem cometer uma falta, isso é-

— Isso é totalmente não da sua conta. – cortou a Potter, fria. – Eu sou a Capitã, e como você mesmo disse, o Longbottom me escolheu para o cargo antes de sair. Eu não posso fazer muito além de expulsar você, caso esteja insatisfeito com o time.

O McKinnon ficou sério e os garotos começaram a se entreolhar.

— Você ficou louca?

— Vai pagar para ver? – desafiou, sem piscar. O garoto louro riu, passando a mão no rosto, cruzando os braços.

— Ok, estou fora. – sorriu.

Jamie não estava esperando por aquilo, ficou imóvel até dar de ombros, engolindo emoções.

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— Tudo bem, faça bom proveito do seu tempo livre. – a garota fechou os olhos com força após dar as costas para o garoto, sabendo que aquilo acarretaria em uma guerra com o time. McKinnon era o astro do time da Grifinória, ela ia ser queimada viva até o fim do dia caso não pensasse em algo para mudar o quadro. Voltou para os corredores, indo para onde deveria ter ido desde o início do dia. 

Subiu as escadas novamente, indo para o quarto andar, passando pela grande vidraça de troféus. Dessa vez ela não parou, como normalmente parava, mas ali estava todas as medalhas por ser a primeira em todas as classes, desde 1971. Jamie Potter definitivamente sabia focar suas compulsões em algo produtivo. Ela era ambiciosa demais, não costumava deixar as coisas ficarem no seu caminho e provavelmente mataria McKinnon antes de deixa-lo arruinar sua carreira como Capitã, como ele tem tentado desde o sexto ano.

Abriu a porta do Armário de Vassouras e entrou, já batendo a varinha no tijolo enfeitiçado, assistindo um portal abrir-se diante dela, entrando no pequeno quarto mal cheiroso de cigarro. A garota de olhos cinzentos, extremamente claros assustou-se, erguendo a cabeça enquanto sua boca segurava um cigarro, tragando loucamente.

— E aí? – sorriu Serena Black.

Jamie sentou-se na poltrona vazia, assistindo a amiga pintar as unhas do pé tranquilamente, após quatro dias desaparecida, provavelmente enfurnada no quartinho enfeitiçado que as quatro conservam desde o terceiro ano. Uma música triste do David Bowie ressoava pelo local quando a Potter passou a mão no rosto, com vontade de chorar.

Serena a fitou, quieta.

A menina de cachos deu um soluço, engasgada com o choro. Cobriu a boca, tentando engoli-lo, mas chegava a doer a garganta. Algumas lágrimas escaparam quando ela conseguiu impedir o desabamento. Respirou fundo, assentindo. Ficou em silêncio por mais um tempo antes de se levantar, indo até a escrivaninha.

Sentou-se e abriu seus livros, iniciando seus estudos.