Destino escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Long time ago, in a galaxy far far away...



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A capital da República estava mais calma do que ela conseguia se lembrar. E não se haviam passado dois meses desde que estivera ali pela última vez. Coruscant, o planeta-cidade, dormia o que parecia ser uma boa madrugada sem nuvens e estrelas no céu.

O transporte que trouxe a mestra Jedi Luminara Unduli de volta aportara a menos de uma hora. Do espaçoporto, ela tomou um táxi e desembarcou na entrada de seu prédio. Depois de passar pelos turboelevadores e, finalmente, chegar em seu andar, sentiu um cheiro que há muito desejava.

O cheiro de casa.

Exausta e um pouco trêmula — mas aliviada —, passou pelo reconhecimento de retina, de digitais e de voz. A voz artificial do sistema de segurança da porta a saudou com um gentil “Bem-vinda de volta, senhora Unduli!”. A porta de hiperaço se abriu, impregnando Luminara com aquele cheiro gostoso de lar. Ela morava sozinha e não havia comida pronta, mas aquele cheiro era único.

Descanso. Ela merecia.

Depois de viver os horrores que as Guerra Clônicas arrastavam pela galáxia inteira e das notícias trágicas a respeito de sua padawan, Barriss Offee: seu atentado terrorista ao Templo, a incriminação de Ahsoka Tano e, finalmente, a prisão e confissão de Barriss, na qual ela declarou ao plenário inteiro do Senado Galáctico, em um tom nada arrependido, ser autora da explosão no Templo Jedi, Luminara, que não estava em Coruscant e recebera tudo aquilo com um pesar e culpa no coração, soltou um longo suspiro. Percebeu que estava mais cansada do que havia imaginado. Física e psicologicamente. A viagem tinha sido longa e dura, passando por trás das fileiras separatistas até chegar a segurança dos territórios da República.

Desatou o cinto, removeu o turbante da cabeça e jogou-se sobre a cama sem qualquer cerimônia. Ela não poderia querer nada melhor do que aquilo naquele momento. O silêncio de poucas horas restantes da madrugada coruscantiana eram bem melhores que os ruídos de blasters, gritos de dor e explosões zumbindo em seus ouvidos. Por instantes, permitiu-se relaxar no conforto de seus lençóis enquanto a natureza tratava de cuidar das dores musculares.

Infelizmente, nada dura para sempre.

Antes que pudesse pegar no sono, um bipe agudo e repetitivo soou em seu quarto. Meio zonza, levantou o corpo da cama e caminhou penosamente até a fonte do barulho: o holotransmissor.

O pequeno monitor indicou o emissor da chamada. Luminara balbuciou um murmúrio. “A essa hora? Não é possível.”.

Aceitou a chamada e viu um holograma em miniatura do mestre Jedi Mace Windu surgir em meio ao escuro.

— Eu soube que retornou hoje, Luminara. Sei que está cansada, mas há um assunto de extrema urgência que precisamos tratar com você. — Mestre Windu continuava o mesmo, pensou Luminara. A rigidez e o distanciamento das relações interpessoais, além da objetividade. Jamais poderia esperar um “boa noite” ou alguma coisa parecida.

E se já não bastasse uma chamada incômoda durante a madrugada, ouvir “extrema urgência” foi como um soco no estômago.

— O que aconteceu? — A voz de Luminara soou mais baixa do que ela gostaria, mas não se importou. Estava cansada e fazia questão de demonstrar isso, não importasse o quão alto fosse o grau de Mace Windu dentro da Ordem.

Pela hesitação de Windu, a voz cansada veio a calhar.

— Descanse. Pela manhã, venha até a sala do Conselho. Lá trataremos melhor do problema — ponderou Windu.

E desligou, sem mais nem menos.

Luminara pôs uma mão sobre a cabeça, suspirando. Com certeza a chamada nada tinha a ver com sua missão em Malastare. Não, era bem mais do que um relatório do ocorrido. Algo acontecera. Algo grave. E Luminara teve a estranha sensação de que, o que quer que tivesse acontecido, fora perto. Talvez até ali mesmo em Coruscant.

— Muito bom — disse consigo mesma, em um tom fatigado. — Realmente.

Pensou em comer algo, mas a ideia, tão rápido como veio, se foi. Assim, do jeito que estava, desabou sobre a cama novamente.

O sono custou a chegar desta vez, e quando Luminara despertou, cedo pela manhã, não estava nada revigorada. Olhou de relance para o relógio e murmurou sobre o travesseiro.

Era hora de levantar.

 

 

A sala do Conselho Jedi estava mais vazia do que de costume e não era para menos. Com o andar lento e desgastante das Guerras Clônicas, os Jedi se viram obrigados a se espalhar ainda mais galáxia a fora. O próprio Templo não estava cheio como meses atrás. Quase todos os membros do Conselho ali estavam presentes holograficamente, exceto os mestres Plo Koon, Agen Kolar, Saesee Tiin, Mace Windu e Yoda, presentes pessoalmente.

— Eu os saúdo, mestres. — Luminara Unduli inclinou-se brevemente ante Windu e Yoda. Mace Windu era o atual mestre da Ordem, ou seja, o atual presidente das reuniões do Conselho. Yoda era o grande mestre Jedi, o líder de toda a Ordem Jedi.

— Seja bem-vinda, mestra Unduli. — Sorriu ao sentir a positividade que a voz bondosa de Yoda lhe trazia aos ouvidos. Diferente de mestre Windu, Yoda conseguia ser responsável e sério sem, no entanto, levar-se pela rigidez e autodisciplina. Sentia saudades de tê-lo como mentor. — Produtiva sua missão foi?

Os olhares inquietantes dos membros do Conselho claramente não se remetiam aos detalhes da missão de Luminara no sistema Malastare. Talvez porque deveriam pensar exatamente o mesmo que ela pensou quando aceitou a missão, aparentemente diplomática; talvez porque a maioria deles estava ausente em missões, tendo seus próprios problemas com a guerra desenfreada; talvez pelo motivo que levara mestre Windu a chamá-la pela madrugada. Ela logo descobriria.

— Produtiva, sim, mestre — revelou Luminara, sem qualquer emoção. — Mas inesperada. Os Dugs nos traíram e começaram a fornecer combustível para os separatistas. O próprio Grievous esperava por mim quando pousei em Malastare. Quase todo o meu batalhão de escolta foi aniquilado no planeta e por muito pouco escapamos. A batalha perdurou na órbita de Malastare. As naves separatistas estavam em maior número e nos cercaram. Conseguimos criar uma brecha e saltamos para o hiperespaço, no sistema Naar. Quando terminamos de contabilizar as baixas, percebemos que havíamos perdido mais de 80% do nosso contingente. Por isso decidimos voltar a Coruscant.

Yoda e Windu se entreolharam. A expressão no olhar dos mestres não era das melhores. Yoda estava pesaroso, como se sentisse a morte em todos os lugares; Windu estava relutante.

— Por seu infortúnio lamentamos, mestra Unduli — disse Yoda. — Saber que retornou a salvo ao meu coração alegria traz.

— Obrigada, mestre. — E virou-se para Mace Windu, que também a observava.

— Há algo que você precisa saber — falou Windu, por fim. — O motivo pelo qual convoquei esta reunião.

“Lá vem”, pensou Luminara.

 

                                              * * *

 

Presídio de Segurança Máxima-Clone “Lua Negra”, Coruscant.

Três dias antes do retorno de Luminara Unduli a Coruscant.

Os andares da solitária eram os mais baixos naquele poço carcerário. Presos considerados perigosos demais eram despachados para o fundo da prisão e esquecidos, sem qualquer visitação ou contato com o sol. As galerias superiores, onde ficavam os demais presos, eram dispostas em salões arredondados gigantescos, pelos quais uma plataforma flutuante poderia levar de uma cela a outra — e os presos eram expostos como animais enjaulados em um zoológico.

Ali em baixo, era bem diferente. Ali em baixo, ficavam os animais proibidos. E eram poucos, mesmo entre os próprios operadores-clone, que estavam autorizados a descer até o andar mais profundo dos turboelevadores.

Há quase um quilômetro abaixo do nível do solo, Barriss Offee meditava em sua cela. Estava bem mais magra que o de costume, e há quase um mês não comia nada, usando a Força para se manter sustentada. A gosma roxa chamada de “almoço” estava intacta, no mesmo lugar que o guarda havia deixado. A aparência decadente, contudo, em nada refletia sua comunhão com a Força. O jejum e o enclausuramento na solitária permitiram a Barriss mergulhar ainda mais na Força, passando horas e, às vezes, dias em estado de transe graças a meditação. Se por um lado seu exterior era deplorável, por outro, seu poder havia crescido exponencialmente.

Barriss sabia muito bem que aquele era o dia. Sua última esperança de fuga. O dia seguinte seria o de sua execução, de acordo com o próprio diretor Ross, responsável pela administração da Lua Negra. Pela manhã, viriam buscá-la para conduzi-la até a praça de fuzilamento, onde o almirante Tarkin dirigiria a cerimônia, junto com alguns membros do Senado e da Ordem Jedi.

Se Barriss ainda quisesse escapar deveria ser naquele dia, naquela hora.

A noite chegou rapidamente e, com ela, a hora do jantar. Na Lua Negra, os presos das galerias superiores eram agrupados no refeitório, servindo-se periodicamente em cinco grupos: de A até E. Os grupos eram pré-selecionados com base em requisitos já estabelecidos pelo sistema prisional. Fatores como tipicidade de conduta criminal, hediondez ou não do crime, reincidência e, principalmente, prováveis rivalidades entre os detentos eram os critérios de seleção. As medidas eram justificadas para preservar a integridade física e psicológica dos presos.  Era um sistema razoavelmente eficaz.

Os presos das solitárias, sob qualquer hipótese, deixavam suas celas. Suas refeições eram entregues em horas exatas por um ou dois guardas selecionados e devidamente protegidos. No caso de Barriss Offee, sempre eram dois. Por se tratar de uma senciente à Força, Barriss era, antes de qualquer outro procedimento, “domesticada” com gás tóxico, cuja liberação era ativada remotamente por um dos guardas. A toxina exalava por ventoinhas instaladas no interior da cela. Com Barriss grogue e incapaz de reagir, o outro guarda, desativava parcialmente o escudo de energia, abrindo uma pequena fenda na parte inferior do escudo, e lançava a tigela de comida para dentro da cela. Todos os dias, todas as vezes, o procedimento era o mesmo.

Não foi diferente naquela noite.

Os guardas, dois soldados, trajando capacete, armadura vermelha e branca, rifles blasters e bastões de energia, surgiram do turboelevador. Eram os mesmos que sempre iam lhe entregar as refeições. Ninguém mais veio junto.

“Bom”, pensou Barriss, “o diretor Ross não veio dar uma última olhada em mim e me dizer que vou ser executada amanhã”.

O primeiro guarda levou a mão ao pulso, onde o controle remoto do gás tóxico estava acoplado. Ergueu a cabeça, como para examiná-la, e disse:

— A mesma história de sempre, Barriss — falou. — Você não come mais nada e ainda assim temos que descer aqui e acalmar você. Acho que você não se valoriza mesmo. Ao menos tocaria nessa gororoba aqui, já que é por ela que você respira o gás.

Barriss estava de pernas cruzadas, com as mãos sobre as coxas, de olhos fechados. E assim continuou.

— Tsc, esses Jedi — disse ainda o primeiro guarda. — Só sabem meditar.

Antes que o guarda pressionasse o indicador sobre o controle remoto, Barriss abriu os olhos, encarando-o. O guarda parou por um instante, sentindo-se provocado, como se esperasse que a ex-padawan fosse fazer alguma coisa que ele adoraria arruinar.

Os olhos de Barriss eram imóveis, quase como se estivessem sob efeito hipnótico. Fixavam-se no guarda responsável pelo gás. Parecia um réptil que esperava o momento certo de dar o bote.

— Você quer me atacar, não quer? — desdenhou o guarda.

— Você irá matar o seu parceiro, abrir esta cela e me dar os códigos de acesso de todas as portas.

O guarda não pôde conter a risada.

— Esse velho truque mental não funciona em mim, garota — disse. — Não sou um idiota de mente fraca! Eu deveria te-

— Eu vou matar o meu parceiro, abrir esta cela e te dar os códigos de acesso de todas as portas — roboticamente, e para o terror do primeiro guarda, o segundo soldado sacou rapidamente o blaster e disparou. Bastou um único tiro na nuca para que o outro caísse morto. O olhar de Barriss acompanhou o cadáver até que este tombasse no chão.

— Desculpe — falou, quando o escudo de energia foi liberado, olhando para o corpo tombado —, mas não estava falando com você.

Assim que conseguiu os códigos de acesso, Barriss olhou pensativa para o guarda remanescente. Cogitou fazê-lo abrir todas as celas dos andares das solitárias, mas um pandemônio era tudo o que ela não precisava para escapar. Se algo fosse detectado errado, ela já sabia o que aconteceria: em cinco minutos, todas as passagens estariam seladas; em dez minutos, pelo menos dois batalhões-clones estariam esperando de prontidão em cada uma delas; em quinze, no máximo, haveria pelo menos um Jedi ali. Definitivamente, Barriss Offee não precisava de companhia para ajudá-la na fuga.

Estendeu a mão para o guarda e terminou o serviço.

Antes de acessar os turboelevadores, ela sondou a Força, expandindo sua mente ao máximo. Barriss fazia uma varredura do local, demarcando posições dos guardas, de câmeras e demais dispositivos de segurança, descobrindo possíveis rotas. Infelizmente, a Lua Negra era um inferno quase inescapável. Com um murmúrio frustrado, percebeu que jamais escaparia de lá sem ser detectada em algum momento.

Ciente de suas chances, sabia o que precisava ser feito.

 

 

Um corredor de metal com uma porta de acesso aos turboelevador dos andares superiores separava a região das solitárias das demais regiões da Lua Negra. No final dele, antes da porta de acesso, havia um dispositivo de identificação. Nenhum guarda ou oficial, não importasse quem, entrava ou saía dos andares inferiores sem antes ter sua identidade confirmada.

Barriss observou o display azulado do dispositivo.

Identificação, por favor — pedia a voz eletrônica.

Era ali que o elemento surpresa ia por água abaixo.

Respirou fundo, concentrando-se. Os dedos estalaram quando Barriss cerrou os punhos, erguendo-os bruscamente para frente com um grito agudo. Tudo diante dela foi jogado para longe com violência e explosão, o hiperaço das portas e paredes rasgou-se como papel de uma vez só; um golpe forte da Força, que exigia muito de alguém debilitado como ela.

Correu para sua nova passagem segundos antes das sirenes alertarem o caos.

Quando o turboelevador parou, a porta deu lugar a uma plataforma anelar. Barriss olhou para cima. Estava nas galerias superiores. Não havia corredores, escadas ou turboelevadores. Era tudo um fosso enorme, cujo fim não era visível, fosse para cima ou para baixo. Não fosse a vontade desesperada de escapar, Barriss questionaria a profundidade na qual estava trancafiada. Nas paredes do fosso metálico, as celas — milhares de pontos amarelados por todos os lados — com seus escudos de energia e, dentro delas, criminosos de todas as espécies e tamanhos. Barriss havia posto alguns lá, quando ainda era um membro da Ordem. Era irônico ver que, por um período de tempo, dividira o teto com todos eles.

No fim da plataforma, Barriss encontrou planadores, como os que o Senado Galáctico usava em suas sessões. Aquele era o único meu de subir ou descer dentro das galerias. Estava para correr para um deles, quando uma voz a impeliu a se virar:

— Ei, você! — Era um guarda-clone. Ele ergueu o rifle e apontou para Barriss, que não hesitou. Com a mão direita estendida, curvou os dedos. A garganta daquele soldado, de longe, era tão palpável, tão frágil... Barriss esmagou-a com um fechar de mão.

Acionou o planador e decolou. Dez, vinte, trinta andares... a viagem nas galerias parecia interminável, um poço de metal cinzento decorado por luzes amarelas em toda parte.

Quando finalmente chegou ao fim das galerias, Barriss localizou um corredor no fim da plataforma, que, segundo sua sondagem, daria para os primeiros andares da prisão. Pela frente, teria mais alguns corredores e guardas — agora em um número muito maior, principalmente de o alarme já ter sido acionado.  Luzes vermelhas e um ruído grosseiro a vinham irritando os sentidos desde que rompera o sistema de segurança das solitárias. Em breve, todo aquele lugar estaria completamente fechado. Barriss corria contra o tempo.

Virou à esquerda, acessando outro corredor. Tinha uma porta de hiperaço revestido que Barriss deduziu só poder ser a dos turboelevadores — os últimos até os dois primeiros andares.

E, diante dela, trinta soldados-clone organizados em falange. Tinham blasters modelo WESTAR-M5, capazes de penetrar na blindagem de um tanque de guerra, todos apontando para o mesmo alvo.

— Barriss Offee — O oficial-clone responsável por aquele batalhão fez um sinal para que seus homens aguardassem. —, está tudo acabado. Renda-se e aceite a condução até sua cela.

Bem antes que Barriss pudesse fazer algum movimento, outro grupo — menor, porém igualmente bem armado — de soldados apareceu pela retaguarda. Estava cercada por quase cinquenta clones com rifles. E ela não tinha arma alguma.

— Última chance, Barriss Offee — bradou o oficial.

Ela fechou os olhos, suspirando devagar. A porta estava distante, bloqueada pelo contingente maior de clones. Se resolvesse atacá-los, morreria ali, na hora. Ainda que usasse a Força para criar uma onda de choque, estava cercada e sem seu sabre de luz. Além disso, os clones lutavam lado a lado dos Jedi e, portanto, tinham uma ligeira noção do que Barriss poderia tentar fazer. E estavam prontos para qualquer ataque.

Ou deveriam.

Com um estrondo similar a uma explosão a distância, o corredor inteiro foi mergulhado no escuro. Por meio da Força, Barriss havia destruído de uma vez todo o sistema de energia daquele andar. No susto, alguns clones dispararam. A luz fraca e ligeira dos tiros zuniu no vazio, e Barriss Offee, como um fantasma, desaparecera completamente.

Barriss sabia muito bem que os soldados do Exército da República dispunham de visão noturna em seus capacetes, como sabia também que, dentro de um largo e extenso corredor de hiperaço, este recurso — incapaz de cobrir muitos metros à frente — não seria suficiente para salvá-los. Com seus sentidos guiados pela Força, Barriss, de repente, tornou-se uma predadora a espreita. E os clones sabiam disso.

Ela sentia o medo dentro deles, quase podendo ouvir seus corações disparando ansiosos. Usou a Força para ampliar sua mente, focalizando-a em pontos específicos. A meditação diária e o mergulho na Força permitiam a Barriss atingir níveis de concentração jamais antes experimentados por ela, enquanto padawan de Luminara Unduli. Em seu confinamento, seus caminhos se abriram na Força viva, e Barriss se permitiu envolver.

O que faria a seguir era repudiável para qualquer Jedi ou seguidor do Lado Luminoso.

Em meios a exclamações desesperadas e gritos de pânico, Barriss havia atingido seu objetivo. Conseguira segurar e manipular as mãos de cada clone ali presente no corredor. Ela girou o próprio braço e suas presas, involuntariamente, fizeram o mesmo, apontando os blasters para os próprios capacetes. Depois de devidamente posicionadas as armas, Barriss dobrou o dedo indicador, como se estivesse puxando um gatilho imaginário.

Dezena de feixes luminosos irromperam e morreram na escuridão, acompanhados por um único silvo agudo de disparo. Depois disso, tudo estava acabado e houve só o silêncio.

Barriss estendeu a mão para a porta de hiperaço, erguendo-a e atravessando-a. Desapareceu elevador acima.

A porta do turboelevador se abriu no primeiro andar. Dez clones esperando a menos de dois metros da porta, ergueram as armas, imaginando encontrar a fugitiva que, àquela altura, já tinha disso identificada. Outro batalhão, com vinte soldados-clone, organizava-se em posições mais recuadas por todo o primeiro andar; armas apontadas para o elevador. O próprio diretor prisional Ross também estava lá. Todos, exceto Barriss Offee, quando a porta se abriu.

— Impossível! — gritou o diretor Ross, responsável pela Lua Negra. — Onde ela...?

A voz do diretor prisional morreu quando ele tomou a frente dos clones. Ligeiramente pasmo e, logo em seguida, tomado pela raiva, trincou os dentes ao encontrar o rombo no teto do elevador.

— Isolem este andar! — ordenou aos berros. — E liberem o gás no sistema de ventilação. Máscaras, agora!

Assim foi feito, no entanto, Barriss estava fora de alcance àquela altura. Com um gesto libertador, ela arrebentou a escotilha do duto de ventilação e saltou para fora. Depois de um mês inteiro enjaulada, viu o céu escuro de Coruscant.

Ainda estava dentro do presídio e, se continuasse parada, não demorariam a encontrá-la ali. Camuflou-se nas sombras enquanto observava, de longe, a correria dos clones no vão esforço de tentar recapturá-la.

Esperou a hora certa e se moveu.

 

                                                 * * *

 

— Entendo — disse Luminara. — Barriss escapou da prisão.

— O diretor Ross reportou o ocorrido ao almirante Tarkin e este veio, pessoalmente, falar conosco. — Windu inclinou-se sobre a cadeira, ligeiramente incomodado. — Aparentemente, Offee não deixou Coruscant assim que fugiu.

Luminara estreitou os olhos e esperou o esclarecimento.

— O Palácio do Alto Comando foi invadido na mesma noite — disse o mestre Kit Fisto, por meio de holograma. — A invasão ocorreu um pouco depois de Barriss ter fugido.

Luminara se virou para o holograma de Fisto.

— E...?

— Barriss furtou objetos de dentro do palácio — completou Fisto. — Tarkin trabalha lá dentro e, inevitavelmente, a invasão de Barriss foi interpretada pelo Alto Comando do Exército como um possível atentado.

Luminara encolheu os ombros, procurando relaxar. Já tinha uma noção do que a padawan teria furtado no prédio do Alto Comando do Exército. Mesmo assim, perguntou.

— Um traje e os sabres de luz de Asajj Ventress. — Foi a resposta.

A intuição de Luminara havia acertado.

— O Conselho deveria ter requisitado ao Alto Comando para que os sabres de Ventress fossem guardados no Templo Jedi — disse Luminara. — Estariam mais seguros.

— O Conselho requisitou — contrapôs Windu. — Contudo, o Alto Comando julgou ser propriedade militar, e não dos Jedi, os sabres de luz da criminosa Asajj Ventress, principalmente depois dos crimes de Barriss Offee. O chanceler Palpatine ratificou a decisão.

— Equivocada desde o princípio a decisão do Alto Comando foi — lamentou Yoda. — Devidamente armada agora Barriss está.

Aquela reunião caminhava para um fim indesejado por Luminara, ela podia sentir. Estava serena e focada no ali e no agora; era uma mestra Jedi, afinal. Mas apesar de toda concentração que seu treinamento e personalidade poderiam lhe proporcionar, era incapaz de trair seus sentimentos. Pensar em Barriss livre era, ao mesmo tempo, reconfortante e perturbador.

— Distraída está, mestra Unduli? — perguntou Yoda, sondando as emoções da Jedi. Luminara respondeu que não, mostrando foco. Mas sabia ela que Yoda, dentre todos ali, não se enganaria.

— O chanceler requisitou ao Conselho que a fugitiva Barriss Offee fosse recapturada e trazida de volta a Coruscant para responder por seus novos atos — disse Mace Windu, com os olhos pensativos. — Esta missão é de caráter emergencial.

O queixo de Luminara quase caiu.

— No meio de uma guerra, o chanceler quer Barriss? Por quê?

Pela expressão no rosto de Mace Windu, Luminara percebeu que ele havia feito a mesma pergunta a si mesmo. E não havia se contentado com a resposta.

— Offee é considerava pelo chanceler, pelo Senado e pelos militares uma ameaça a República — disse ele. — Ela atentou contra o Templo, matando inclusive civis e clones. O Alto Comando teme que ela se una a Dookan e revele assuntos sigilosos da República aos separatistas.

— Como o mestre Pong Krell fez — lembrou o mestre Saesee Tiin.

Ainda assim, Luminara não havia se convencido.

— Apesar de os Jedi estarem à frente do Exército da República, é bem improvável que Barriss tenha alguma informação relevante para Dookan — argumentou. — Barriss ficou um mês em solitária e as Guerras Clônicas são dinâmicas. Duvido muito que ela esteja atualizada sobre o andar da guerra.

Windu fez uma careta assentindo, como se pensasse a mesma coisa.

— Mesmo assim, o chanceler não quer correr riscos — disse. — E sem Ventress, Dookan pode encontrar em Offee uma nova assassina.

— Forte na Força a jovem Offee se tornou — completou Yoda. — E perdida sua padawan está, Luminara. Em uma linha tênue entre a luz e o Lado Negro Barriss Offee caminha.

Saesee Tiin pontuou:

— Ela fez um civil engolir nanodróides explosivos e os ativou no Templo, matando clones, civis e Jedi. Executou a esposa deste civil e incriminou a padawan de Skywalker e até mesmo lutou com ele! Alguém com esses feitos foi para o Lado Negro da Força. Você mesmo disse isso, mestre Yoda

Yoda meneou negativa e pacientemente com a cabeça.

— Nem tudo o que parece é, mestre Tiin. — respondeu Yoda. — “Ir” mais de um significado pode ter. Quando pela primeira vez um Jedi o poder do Lado Negro experimenta, para o Lado Negro foi ele. Mas muita diferença há entre cair e permanecer caído. Tentados somos nós todos. Raiva, tristeza, medo, agressão, angústia, ansiedade, ódio... sentimos isso nós todos. Que esses sentimentos nos guiem, escolha nossa isso é. Policiar-nos para que isso jamais ocorra luta diária e constante nossa é. Decepcionada com a Ordem Jedi Barriss Offee está. Atitudes sombrias ela teve.

E, desviando o rosto, encontrando os olhos de Luminara Unduli, completou:

— Mas mergulhada no Lado Negro Barriss Offee não foi.

Aquilo soou como um remédio para Luminara, que havia treinado Barriss quando esta ainda era bem jovem. Não era à toa que, dentre todos os Jedi, Yoda era o grande mestre. E merecidamente; era, de longe, o mais sábio de todos. Com um sorriso discreto, Luminara agradeceu às palavras de Yoda.

— Mesmo assim — falava a mestra Shaak Ti —, a Força se tornou poderosa em sua aprendiz, Luminara. Eu sinto uma perturbação na Força.

— Eu também senti — apoiou Kit Fisto. — Fui pessoalmente à Lua Negra, momentos depois de Barriss ter fugido. Eu pude sentir ainda vestígios da presença dela, mesmo após ela ter escapado. É evidente que a Força cresceu nela.

— Se ela se unir a Dookan — completou Agen Kolar —, poderá se tornar uma assassina tão perigosa quanto Ventress.

Mace Windu tomou a palavra.

— A missão de recapturar Barriss Offee caberá a você, Luminara — falou. — Como sua antiga mestra, ninguém pode prever o que ela pensa melhor do que você. Além disso, sua conexão com ela é forte; isso certamente ajudará a encontrá-la.

Luminara escutou em silêncio, enquanto analisava consigo mesma suas condições de realizar aquela missão. Não poderia deixar de se sentir pressionada e culpada pela queda da aprendiz e imaginar um possível duelo era algo ainda mais cruel que o destino poderia lhe dar. Barriss era como uma filha para Luminara.

No entanto, se outro Jedi fosse atrás de Barriss poderia trazê-la de volta, matá-la ou até ser morto por ela. Luminara soube que sua padawan havia roubado os sabres de luz de Asajj Ventress, a assassina mortal de Dookan — que quase havia matado Luminara, não fosse Ahsoka Tano —, depois de nocauteá-la. E se Barriss realmente havia crescido na Força, como diziam todos, então estaria mais perigosa do que nunca.

Era dever dela, e somente dela, ir atrás da padawan.

— Entendo o que quer dizer, mestre — falou séria e calmamente a Windu. — Irei arrumar minhas coisas imediatamente e partirei ainda hoje.

Windu assentiu, com uma ressalva.

— Você não irá sozinha — disse. — Escolha outros mestres para acompanhá-la nesta missão.

Aquilo soou quase como um insulto.

— Mestre Windu, eu não acho que...

— ... que ameaça para você sua padawan é — interrompeu Yoda, percebendo os pensamentos de Luminara. —  E acha que sozinha você ir deve, que de ajuda você não precisa e que falha sua Barriss Offee é. Pacífico nesta decisão o Conselho está. Seu julgamento atrapalhado por suas emoções pode ficar, mestra Unduli. Atrás de Barriss Offee sozinha você não irá.

E era isto. Estava decidido e Luminara nada poderia fazer. Respeitosamente, inclinou a cabeça para Yoda.

— Compreendo, mestre.

 

 

 

— Entendi. — Obi-wan apoiou o queixo sobre uma das mãos galantemente enquanto conversava com Luminara por holograma. — E você quer a minha ajuda?

— Sim, mestre Kenobi — respondeu ela. — Não consigo pensar em ninguém melhor.

Do holograma, Obi-wan sorriu.

— Quando partirá de Coruscant?

— Esta noite. Irei ao sistema Nar Shaddaa para reabastecer primeiro. De lá, encontrarei seu cruzador.

— Ótimo! — falou Obi-wan. — Estaremos em órbita para recebê-la.

Uma inquietação veio à mente de Luminara. Uma que ela não pôde deixar de perguntar.

— A padawan de Skywalker, Ahsoka, deixou a Ordem Jedi por causa de Barriss — pontuou. — Como ele está lidando com a perda da padawan? Ahsoka era muito querida por Skywalker e receio, Obi-wan, que ele não verá com bons olhos a ideia de ir atrás de Barriss.

A expressão de Obi-wan falava por si só.

— Ainda não falei com Anakin sobre a missão, mas não se preocupe. Ele sabe separar o emocional do trabalho.

E nem mesmo Obi-wan Kenobi estava certo do que dizia. Luminara fingiu não notar.

— Muito bom. Então nos encontraremos em breve, mestre Kenobi.

Assim que a ligação foi encerrada, Luminara olhou uma última vez para o apartamento. Ainda havia muita coisa que ela gostaria de arrumar. E imaginou quando poderia sentir aquele cheiro agradável de lar outra vez.

Prendeu o sabre de luz no cinto e fechou a porta.


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Notas finais do capítulo

Directed by (ainda bem que não o Rian Johnson) Dracule Mihawk.



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