Seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas sua boca não ouviu e beijou.

— Adriana Falcão

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Os lábios se tocaram com rudeza, as línguas no entanto se encontraram com certa gentileza. Tobirama puxou mais o outro para dentro de seus braços, precisou se curvar para frente a fim de aprofundar mais o beijo. Izuna ainda tinha os olhos arregalados pelo susto enquanto fitava os globos carmesins do Senju e não demorou para que ambos se entregasse de vez ao ato, olhos se fechando gradativamente até que os lábios começarem a mover em sincronia.

O albino conseguia ouvir as vozes de seu irmão e de Madara atrás de si, o Uchiha provavelmente estava espumando raiva por ele estar beijando Izuna. E provavelmente ele acabaria levando outro jutsu de fogo poderoso do outro, mas Tobirama não ligava, muito pelo contrário isso apenas o incentivou a mover a face com mais dedicação.  

Izuna agarrava a gola de seu kimono com força, apertando-o cada vez que seus braços subiam pelo corpo.

Os lábios se abriram mais e Izuna moveu sua língua para dentro, suas mãos deslizaram da cintura para cima, passando pelas costas por cima do yukata grosso, sentindo o corpo em seus braços se arrepiar, ao chegar na nuca Tobirama depositou preciosos segundos naquela área, afagando os fios negros e o ouvindo gemer entre o ato. Seu próprio corpo já tremia pela ousadia que acabara de cometer, sabia que provavelmente no futuro não tão distante poderia sair não só com um soco de Izuna pela afronta, os pelos de sua nuca se arrepiaram quando os dedos gelados do outro passearam pela área.

Havia uma batalha interna acontecendo dentro de si fazia semanas e agora que recolheu coragem o suficiente, não perderia tempo.

Bom… Seria exagero dizer que foi pura coragem, ah não. Durante três semanas, a coragem de Tobirama nem sequer havia dado as caras, enquanto seus sentimentos e racionalidade travaram uma árdua batalha em seu corpo, a coragem do Braço Direito do Shodaime estava plenamente adormecida em seu âmago. O que de fato era muito estranho, já que o albino era muitas coisas e covarde com certeza não era uma delas.

No entanto, o que se poderia fazer quando seu alvo era nada menos que o Uchiha na qual quase tirou a vida? Creiamos que a coragem, ou melhor a falta dela, era justificável.

Izuna Uchiha não mais guardava rancor, e ele sabia. Todavia, saber e sentir era duas coisas diferentes. Ambos tinham conhecimentos que na guerra, a honra de seus clãs estavam em primeiro lugar e mesmo depois da aliança entre eles graças a seus irmãos mais velhos, ambos ainda possuíam uma certa inimizade que perdurou bons anos.

Ele não se lembrava bem de quando os olhares arrogantes e superiores se transformaram em palavras rudes e muito menos se recordava de quando suas kunais começaram a falar por eles. Não era surpresa que encontrassem ambos na floresta da vila treinando ou como diria Izuna;

— Aquilo foi um empate, eu quero uma revanche.

Tobirama sorriu em meio ao beijo se recordando das lembranças de vários Izuna bufando quando perdia ou fazendo trocadilhos quando vencia.

Mas ele se lembrava do primeiro olhar, olhar aquele que não possuía arrogância ou desdém. Naquele dia Tobirama estava mais irritado que o normal, Hashirama havia anunciado seu noivado com Mito Uzumaki e o que era pra ser apenas mais uma vitória no placar contra os Uchihas, passou a ser uma dor de  cabeça sem fim. Hashirama estava inconsolável sem a presença do melhor amigo que havia partido em uma missão com objetivo de aliança com outros clãs.

Izuna havia tomado seu lugar provisoriamente e o albino achou que não teria paz. Uma lição valiosa que ele aprendeu foi que a realidade poderia ser tão doce quanto um dango. O Uchiha era competente e quase não lhe dirigia palavras que não fosse profissionalmente, Hashirama notou o mesmo que si, e não poupou elogios ao mais novo que corava surpreso e sorria sincero.

Foi questão de tempo para Tobirama descobrir estar apaixonado.

Após o primeiro sorriso, foi fácil notar os outros. Izuna puxava muito o canto dos lábios e deixava uma covinha amostra, seu sorriso eram dirigidos muita das vezes a Madara. Ele conheceu diversos sorrisos enquanto passava minutos observando o Uchiha.

Havia o sorriso arrogante; pingando desdém que ele já bem conhecia. O sorriso curto; que surgia muitas das vezes ao ver um gato na rua, fato esse que sabia ser genética, aparentemente Uchihas apreciavam muito gatos. E também havia o sorriso largo que chegava a mostrar os dentes, sorriso que Tobirama viu apenas uma vez.  

Passar a conseguir qualquer um deles se tornou um passatempo e sua mente foi o primeiro a reclamar.

Perguntas que antes jamais cruzaram sua mente  passaram a ser frequentes. Seus dedos coçaram para agirem enquanto seu coração se apertava cada vez que Izuna sorria e nenhum deles era dirigidos a sua pessoa.

Quando seu coração começou a gritar com sua mente, dizendo que ele deveria parar de proferir palavras contrárias ao que realmente queria dizer. Treinar no espelho foi o cúmulo do absurdo, palavras eram trocadas e muitas das vezes queria bater com a cabeça no vidro. Seu humor passou a piorar cada vez mais e se havia algo que Tobirama se arrependia mais do que ter aceitado ser padrinho do irmão, era escutá-lo. Conversar com Hashirama muita das vezes resolvia seus problemas, menos quando eles eram amorosos, ai tendia a piorar. Ele admitia que Hashirama era bom para  muitas coisas e conselhos amorosos não era uma delas.

— Siga seu coração, irmão, ele muitas das vezes está sempre certo.

Seguir seu coração não foi seu melhor plano, a bola foi passada para sua cabeça, que decidiu deixar nas mãos da sua coragem que apenas riu. Em frente ao espelho Tobirama suspirou e voltou a se trocar, seu dia passou normalmente e seu primeiro destino ao sair de casa foi se dirigir ao prédio do Hokage. Um “Bom dia” foi dito assim que entrou na sala principal naquela tarde e os irmãos Uchihas estavam entre risos e gracejos com Hashirama. Madara havia voltado de missão e pode notar pelas roupas e o pergaminho que deveria ser os relatório, os primeiros minutos foram passados entre olhares discretos a Izuna que ria pela interação do Shodaime e seu Braço Esquerdo. Hashirama em algum momento se levantou e pediu que Madara o seguisse, entre xingamentos e puxões de cabelos, ambos deixaram a sala.

Izuna foi o primeiro a puxar assunto perguntando sobre o projeto da Acadêmia Ninja que Hashirama propôs, Tobirama puxou alguns papéis e entregou ao moreno. Os primeiros dez minutos passaram correndo e ele esqueceu seu pequeno problema interno. Todavia, era como o velho ditado… ditava; tudo que é bom dura pouco. E foi apenas ao ouvir a risada baixa do Uchiha que as três semanas voltaram como um tapa. Tobirama suspirou e fechou os olhos e foi contando numero por numero tentando ignorar os gritos internos, e ao abri-los  Izuna perguntou se ele estava bem. A resposta, entretanto não chegou a ser proferida, no momento que percebeu, Izuna estava entre seus braços e sua boca beijava a do outro.

O ar fez falta e tudo o que os unia após o fim do beijo era um filete grosso de saliva.

— Eu gosto de vo-

Muita das vezes não queria dizer sempre.

O soco soou alto e forte, fazendo o virar o rosto, sua bochecha direita ardeu de imediato e Tobirama sentiu o gosto ferroso do sangue.

— Você perdeu o juízo?! - Izuna estava ofegante e seu rosto estava quente.

— Eu…

— O que passa nessa sua cabeça de vento? Você não pode sair beijando as pessoas assim do nada!

— Eu sei. - Tobirama se levantou e tirou a poeira da calça.

— Não foi o que pareceu! - o moreno franziu o cenho e cerrou os punhos. Os lábios estavam vermelhos pelos chupões e mordidas, e o albino mordeu o lábio inferior. Sua vontade era de repetir a dose, mas não queria arriscar outro soco.

— Eu gosto de você, Izuna. - repetiu.

— Eu sei!

— Perdão? - a manga do yukata negro do Uchiha ficou entre os lábios.

— Eu disse que eu sei! - o braço foi abaixado e Izuna corava, o Senju duvidava que fosse de vergonha.

Tobirama se achava um homem sã na maioria das vezes, então foi fácil ignorar sua consciência apitando que havia dedo de Hashirama no meio.

— Como?

— Hashirama-sama me disse.

BINGO.

Ele só não virou o rosto para encarar seu irmão, porque não queria lembrar que havia plateia.

— E se fingiu de dissimulado o tempo todo?

Ele não conseguia controlar sua boca desde que se apaixonou, ele poderia se preocupar com isso depois, parar um segundo soco foi prioridade.

— Dissimulado? Senjus são todos assim, arrogantes?

A reclamação de Hashirama foi ignorada.

— Você sabia esse tempo todo? - os olhos de Tobirama se apertaram.

— Larga meu pulso. - Izuna o encarou na mesma intensidade.

Ali estava um dos motivo de ter se apaixonado justamente por ele, Izuna sempre recrutava no mesmo nível.

— Eu prefiro segurar. - os dedos subiram pela palma e se fecharam sob os dedos. — Responde minha pergunta, Izuna. - a voz soou mais baixa.

— Eu sabia já faz um tempo, na maioria dele eu queria afundar sua cara no chão, então quis saber até onde você iria. - sorriu quando o albino torceu o rosto em uma careta. — Só não entendo porquê você enrolou tanto.

— Porque eu sou um idiota e ainda escuto o meu irmão.

Ambos ignoraram a reclamação de Hashirama.

Tobirama bufou e pinçou o meio dos olhos com os dedos, Izuna soltou um sorriso de canto  inclinou-se para cima, roubando mais um beijo entre sorrisos.

— Então isso é um sim? - perguntou assim que os lábios se afastaram.

— Quem sabe. - Izuna deu de ombros e se aproximou mais uma vez, roubando outro beijo e dessa vez, não havia euforia ou pressa, apenas dois corações batendo tão rapidamente em seus peitos…

E um Madara Uchiha sendo impedido por Hashirama de invocar qualquer selo que fizesse nada menos que um belo estrago em Tobirama por se atrever a colocar as mãos em seu irmão mais novo.

Mas bem, isso é outra história.