Eu nunca olho para trás quando subo as escadas do dirigível. Não gosto da visão de você parado ao longe, acenando para mim. Dá a impressão de que a despedida é para sempre. Eu não sou idiota, Leorio. Sei que um dia eu talvez não volte. E isso dói. Dói imaginar que eu talvez não veja o seu sorriso de novo, que eu talvez não abrace o Kurode. Eu trocaria um ano inteiro de submissão aos seus filmes estúpidos pela certeza de que ainda estarei vivo daqui a dez anos.

Encontro Arrietty na estação. Ela está feliz. Passou os últimos dias com o namorado. Bem, eu acho que é namorado. Arrietty nunca fala muito sobre sua vida pessoal, mas estou ok com isso, pois não falo muito de minha própria vida também. Nós nos entendemos no silêncio, como gatos que trocam olhares e não precisam de mais nada.

Nos dias que se seguem, caçamos alguns olhos. Temos um inimigo poderoso em nosso encalço. Acho que foi contratado para me matar. Os boatos sobre o último Kuruta já circulam pelo submundo. E alguns monstros pagariam uma fortuna por minha cabeça. Isso apenas aumenta o meu ódio.

Depois de uma missão fracassada, eu me atiro no sofá e cubro o rosto. Mordo os lábios, tentando conter a frustração. Arrietty senta-se perto de mim e segura meu pulso. Olho para ela. Não gosto de como tenta bancar minha mãe nesses momentos difíceis. Mas ela me surpreende de novo. Diz que estou com cheiro de popô de cachorro. E a frase é tão sem sentido e irreal, que eu acabo sorrindo.