Apaixonados escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Eu li que uma promoção parecida aconteceu em uma cinema, de verdade, e então a fanfic aconteceu rs



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— O que você tem? – Sua voz doce me trouxe de volta.

— Hã? Eu?

— Sim, você está muito mais avoado que o normal – ela sorriu, voltando sua atenção ao Milk-shake que tomava.

Não tem nada mais clichê do que se apaixonar pela melhor amiga.

Eu sei, por que estou apaixonado por ela. Não sei dizer exatamente quando começou, mas sei que nem sempre foi assim, começou com a amizade mesmo.

Moramos no mesmo lugar desde o nascimento e éramos inseparáveis quando crianças.  Na adolescência é que as coisas começaram a mudar.

Como eu disse, não sei ao certo quando começou, mas já sentia alguma coisa por ela quando a achava mais bonita que o normal. Pois a beleza de Hinata sempre foi inegável, com seus cabelos negros, que foram crescendo junto com ela, e seus olhos extremamente claros, formando uma combinação exótica.  Característica de sua família.

E seu corpo...  Disso eu me lembro, porque quando os outros garotos passaram a vê-la como mulher, foi também quando eu passei a desejá-la como uma. Ainda bem assustado com o que isso poderia significar.

Sei também que quando alguns garotos me pediam para conseguir uma chance com ela eu ficava possesso. E dizia sempre que estava apenas protegendo minha amiga, mas estava só mentindo pra mim mesmo.

— Ah, desculpe. É que eu me lembrei de uma coisa.

— Te dei um gatilho?

— Gatilho?

— Sim, quando uma palavra te desperta na memória alguma outra coisa, sabe? Como um gatilho.

— Ahhh, sim – Sorri me lembrando de alguns episódios bem engraçados envolvendo Hinata e esses “gatilhos” – Você que sempre teve muitos gatilhos na memória. Sempre que eu dizia alguma coisa que te lembrava de um filme, você reproduzia a fala, igual o personagem. Ou cantava um trecho de uma música... Ou, se fosse um comercial, você tentava me vender o produto.

— Verdade – disse sorrindo – Que bobeira.

— Bobeira nada. Jamais vou esquecer o melhor de todos os seus gatilhos. Sempre que você ouvia a frase “Parou de funcionar”... – digo, aumentando um pouco a voz e colocando bastante ênfase na frase – Você levantava os braços como um juiz de duelo e dizia...

— Para Naruto, senta ai – disse corada quando eu fiquei de pé com os braços levantados.

— “Parou de funcionar, e o vencedor é METABEE” – digo alto, baixando um dos braços e apontando para um vencedor imaginário. Quando voltei meu olhar para Hinata, ela ria. Maravilhosamente. A risada linda que domina todos os meus sonhos. Então me recompus e sentei de novo – Por causa do desenho Metabots. E depois você ficava vermelha, igual um pimentão, de vergonha – Suspiro – Essa sempre foi a melhor parte do meu dia.

— Idiota. É automático, sabe que eu quase não consigo controlar – disse ainda rindo.

— Hinata, eu preciso te confessar uma coisa – meu tom de voz era sério e meu olhar firme.

— O que? – respondeu um pouco tensa.

— Ver essa sua performance era a única coisa que me fazia acordar de manhã – completei e ela voltou a rir, jogando duas de suas batatas fritas, que ela nunca conseguia comer tudo, em mim – É serio, não ri não. Eu podia ter morrido nesses últimos meses em que estivemos afastados – O tom era de brincadeira, mas com aquela pontada de verdade.

Posso não saber quando esse sentimento começou, mas sei exatamente quando eu assumi o que sentia. Foi quando ela começou a namorar o Toneri, no final do segundo ano. Aquilo me afetou de uma maneira indescritível e eu me arrependi de não ter admito antes o que eu sentia.

Naturalmente, nos afastamos. E eu passei a lamentar, dia após dia, a minha covardia.

— Eu sei, me desculpe – Respondeu, enquanto sua expressão alegre suavizava – Eu não queria me afastar, mas Toneri não entendia nossa amizade, ele...

— Que isso Hina, para – Eu a corto. Claro que Toneri via nossa proximidade como uma ameaça, por isso nos afastamos quase completamente. E, apesar de ficar sim chateado, nem posso questioná-lo, pois eu queria mesmo ficar com namorada dele, então... – Eu entendo o Toneri, de verdade. Não significa que eu tenha gostado, obvio.

— Eu também não gostei. Senti tanta falta das nossas conversas, dessas nossas saídas – disse adoravelmente corada, sua marca registrada.

— Não mais do que eu – completei mais intenso do que gostaria, então limpei a garganta – Afinal, o dia dos namorados estava chegando e eu não teria minha parceira de consolação.

 Faz um mês que Hinata terminou com Toneri.

Criamos a tradição de sairmos juntos no dia dos Namorados, já que nenhum de nós namorava, então curtíamos juntos o dia. Esse seria o primeiro que eu passaria sozinho em anos...

Estou me torturando, preciso dizer a ela o que eu sinto. Mas... O engraçado é que a urgência em dizer é tão forte quanto o medo.

Porém o medo ainda está ganhando.

E apesar de eu ter dito que não perderia uma segunda chance, eu não tenho ideia de como dizer que eu quero namorá-la. Até porque ela acabou de sair de um relacionamento de quase seis meses. Quando eu perguntei o que aconteceu, tudo o que ela me disse foi: “Ele não é o cara certo.”.

Melhor pra mim, já que voltamos a ter a mesma proximidade com a qual eu já estava habituado. Ela não precisa saber exatamente agora que eu quero bem mais do que isso, não é?

Ah, olha eu caindo em mais do mesmo de novo. Meu único avanço em relação aquele Naruto que não se confessou para ela, é que hoje eu admito estar apaixonado... E parou por ai mesmo.

— Acho que devíamos ver um filme – Suas bochechas ainda estavam levemente ruborizadas.

— Quando? Agora?

— Sim. No cinema.

— Que filme você quer ver?

— Sei lá... Vamos só ver um filme que estiver prestes a começar, o que acha?

— Hm. Interessante. Eu topo, mas tem que ser o que tiver.

— Então vamos antes que eu mude de ideia. Come minhas batatas se não eu vou jogar fora.

— Por que você pega as batatas se sabe que não vai comer?

— Porque você come – sorriu, levando as bandejas para o local apropriado.

Conversamos o caminho todo. E no inicio eu estava respondendo, estava mesmo interessado no assunto, porém eu sempre me disperso olhando para ela, e quando percebo... Ela está chamando minha atenção.

Já estamos na fila para comprar os ingressos e ela está de frente pra mim, falando alguma coisa que eu juro que estava prestando atenção. Mas, olhar esses olhos lindos de perto é desconcertante até mesmo para quem não está apaixonado por ela, imagina eu?

Ela é tão importante pra mim que em momentos assim, travo uma guerra interior entre a minha insegurança e a minha necessidade dela.

Desde que ela começou a namorar, nos afastamos e agora que eu a tenho de volta, não quero que aconteça de novo.  Se ela souber, pode não querer mais estar comigo. Talvez ela não se sinta à vontade. E não conversaríamos com essa intimidade, nem nos olharíamos com essa proximidade... Nem sairíamos mais, como hoje.

Mas, eu quero mais, eu quero muito mais.

— Você nem está ouvindo o que eu estou falando...

— Estou sim, sua boba... A maior parte, pelo menos, eu ouvi – impliquei.

— A pessoa falante da relação é você, mas por incrível que pareça, só eu estou falando...

— Depois de tantos anos, eu já usei minha cota toda de conversas e uma parte da sua... Então aproveita enquanto estou sendo legal e te deixando falar – Ela sorriu e me deu um “soquinho” no ombro.

— Finalmente a nossa vez.

— Bem vindos, qual é o filme? – disse a atendente muito sorridente.

— Qual a próxima sessão que vai começar? Não importa o filme – perguntei.

— Bom... – Olhou brevemente a programação na tela – Invasão Zumbi. Começa em dois minutos, mas ainda posso vender os ingressos pra vocês dois, se quiserem.

— Zumbis Hina? – Sorrio, enquanto a observo frisar os lábios em desagrado.  Ela odeia zumbis e eu sei bem disso. Porém, quem sabe eu não possa usar essa situação ao meu favor. Ela pode segurar minha mão, me agarrar, coisas desse tipo – Você disse que veria.

— Eu sei, eu sei. Vai esse mesmo – Concordou.

— Podem escolher os lugares.

— A ultima fileira está livre – a morena comentou, segurando meu braço com delicadeza. Qualquer mínimo contato dela me agrada demais, então me inclino mais para perto.

— Ótimo, que tal, esses dois lugares?

— Perfeito

— Dez e onze da ultima fileira, por favor.

— São inteiras?

— Sim.

— Vocês vão se beijar?

— Oi? – Eu ouvi o que eu acho que ouvi? Estou começando a delirar, é isso?

— A promoção do dia dos Namorados – A atendente disse naturalmente – No dia dos namorados, os casais que se beijarem ganham um ingresso grátis. São um casal, certo?

Fiquei em choque. Não tinha prestado atenção nisso, não tinha visto nada dessa promoção e só a menção em beijar Hinata já tinha fritado meus neurônios.  Hina estava corada até as orelhas, por isso eu já estava pronto para desfazer o engano. Mas, ela conseguiu me deixar ainda mais chocado.

— S-sim... Somos sim – afirmou e em seguida, me fitou – É só um beijo querido... E vamos ganhar um ingresso – afirmou sorridente, apesar de estar vermelha como um tomate.

Droga! Não sei se agradeço a oportunidade ou só blasfemo contra o destino, já que, definitivamente, não vai ser só um beijo pra mim. E eu que não sou louco de recusar.

Viro-me um pouco mais para ela, com mais expectativa do que gostaria de demonstrar e toco sua face. Aproximo-me antes que a coragem fuja e pressiono meus lábios aos dela.

Meu corpo inteiro treme. Eu sabia que gostava dela, estou apaixonado, mas ainda assim me surpreendo com a intensidade com que me atinge.

Minha boca se abre e eu continuo pelo simples fato de que eu não quero parar.

— Vocês podem continuar lá dentro – A atendente disse sugestiva, me trazendo de volta a consciência então me afastei, à contra gosto.

Paguei o ingresso, peguei os tickets do cinema e segurei sua mão enquanto íamos para a sessão, pois o filme logo começaria.

Não falamos nada enquanto caminhávamos. Hinata apenas se deixou ser guiada.

Algumas pessoas já estavam na sessão, mas as ultimas duas fileiras estavam vazias.

Sentamos em nossos lugares, os trailers já rolavam. Logo começou o filme e meu coração ainda estava totalmente fora de controle.  Eu simplesmente não conseguia me acalmar.

Excelente, agora eu definitivamente preciso me confessar porque jamais vou conseguir conviver com essa lembrança.  

— Você ainda está segurando minha mão – ela sussurrou.

— Eu sei...

— Você ficou chateado?

— O que? Não! – Falei alto, enquanto a fitei alarmado. Observei algumas cabeças se voltarem para nós, então esperei um pouco.

— Me desculpe Naruto...

— Não, Hina, você não fez nada... Sou eu, eu é que... – bufo – É que o beijo... Eu não... – Não consigo organizar meus pensamentos para formar uma única frase coerente.

— F-foi de propósito. Eu sabia, e-eu já sabia – Ela soltou minha mão e a levou ao próprio pescoço. Sinal de que ela estava desconfortável.

E ela nunca mais gaguejou perto de mim. Isso quer dizer que... Ela sabia sobre o que eu sinto?

— Sabia? – Soltei sem saber se estava com expectativa ou assustado.

Não, eu com certeza estou assustado.

— Sim... E-eu já sabia sobre a promoção... E-eu esperava... E-eu esperava que o beijo acontecesse. Eu fiquei perto... Eu queria que a... Que a atendente, pensasse...

— Espera – disse alto e dessa vez um senhor falou alguma coisa pra mim, então baixei a voz. Se ela planejou isso, então significa que...  – Você queria me beijar?

— S-sim. A v-verdade é... – ela suspirou – É que eu... – Não acredito... Depois de todo esse tempo me torturando, eu não acredito que ela... – Eu gosto de você, Naruto. Eu sempre gostei de você, pronto.

— Sempre?

— Desde q-quando o conheci... Desculpe. Eu sei que...

Ela estava ansiosa e se esforçava para dizer coisas que eu estou escutando, mas estou tendo dificuldade de assimilar. Meu peito se aquece e eu fico completamente sem reação.

Ela gosta de mim... Não, ela sempre gostou de mim.

Impressionante! Quando eu achei que não tinha como eu ser mais lesado...

Então, depois do breve momento de choque, minha reação a tudo isso foi bem a minha cara. Eu ri, mas não foi uma risada sutil, de alegria... Eu gargalhei mesmo. A ponto de me mandarem calar a boca.

Tentei me conter antes que fossemos expulsos. Respirei fundo e percebi que ela estava constrangida, mas eu não conseguia parar de rir.

— Naruto, você... – Coloquei uma mão em sua nuca e a puxei para um beijo, que foi bem recebido. Eu finalmente podia beijar essa morena sem medo, ou arrependimentos, e foi o que eu fiz. O melhor beijo de toda a minha vida.

— Sou apaixonado por você, menina – confessei baixinho, ainda bem próximo dela.

— Você... É? De verdade?

— Claro que sim, por isso eu comecei a rir agora. Faz muito tempo que eu quero você.

— E você nunca me disse nada?

— Eu tinha medo de falar e você se afastar, sei lá. Então veio o Toneri e te afastou de mim, que revolta me deu.

— Então porque não me falou nada depois?

— Você tinha acabado terminar o namoro, não dava pra eu tentar nada. Você que devia ter falado antes, sabia? Sabe que eu sou devagar.

— Eu não conseguia. Ah! – disse, colocando as mãos no rosto – Que perda de tempo.

— Perda de tempo é ficar lamentando – Puxei suas mãos de volta, e a fitei, mesmo naquele escuro, e toquei sua face com delicadeza – Que bom que você não gosta desse filme, porque eu não vou te deixar assistir.

E voltei a beijá-la.

Não tem nada mais clichê do que sua melhor amiga se apaixonar por você.

Nem nada mais maravilhoso também.


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Notas finais do capítulo

Feliz dia dos Namorados ♥