O gosto que a coragem traz escrita por Alice Alamo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic Asahi/Nishinoya ♥



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Os dedos entravam pelos fios dos cabelos castanhos e massageavam a nuca. Era um toque calmo e até preguiçoso podia-se dizer; contudo, era suave, gentil e trazia um conforto que há muito Asahi não sentia dentro daquela quadra.

Deitado sobre o peito de Nishinoya, assistiam, ou melhor, ouviam, um dos treinos após o horário de Kageyama e Hinata. Havia virado um hábito sentarem-se perto da parede para descansar e se perderem admirando a sincronia dos parceiros de time. Entretanto, naquele dia, Nishinoya havia deitado exausto no chão e Asahi o acompanhou, deitando-se primeiro de forma cruzada sobre a barriga do líbero apenas para fazê-lo rir e, depois, subindo e repousando a cabeça sobre o peito dele.

Suspirou, cansado, deixou uma pequena exclamação deleitosa sair pelos lábios ao sentir o elástico que prendia seu cabelo sendo solto e, embora não fosse nunca admitir por pura vergonha, ronronou quando os dedos de Nishinoya voltaram com mais liberdade para o terno carinho que lhe oferecia.

Fechou os olhos sem perceber. Ouvia as bolas cortadas por Hinata, mas agora sua atenção toda estava centrada em outras batidas… O coração de Nishinoya, sob sua orelha, batia rápido, o que ele sinceramente não estranhava. O líbero era uma tempestade, um furacão, nunca que pensaria em encontrar um coração calmo e lento. Era forte, o suficiente para bater mais alto que as bolas no chão, como se reclamassem pela atenção que Asahi não lhe estava dando. E era vivo, fazia Asahi se sentir vivo, como sempre fazia, como sempre tinha feito.

E não era esse o dom de Nishinoya? Ah, sim…

Abriu os olhos, sonolento já, e corou. Viu o outro com os olhos fechados, um sorriso bobo na face, mas sabia que ele não dormia pelo contínuo cafuné que recebia. Moveu-se minimamente para olhar ao redor, buscando os outros, mas, como sempre, só restavam eles, Kageyama e Hinata. Assim, ergueu a mão com hesitação, a ponta dos dedos demoraram até encontrarem a pele lisa da face alheia e foi com timidez que acariciou a bochecha de Nishinoya.

Já havia feito aquilo uma vez, na semana anterior, e tinha gostado de como o corpo sob o seu havia relaxado com o toque. Era simples, discreto, mas tinha esperado que aquilo pudesse mostrar parte do que seu coração sentia. Como se alguém tão agitado e barulhento como Nishinoya fosse reparar e compreender de primeira algo assim… Não tinha coragem, todos sabiam que era um medroso de primeira e que seu nervosismo e sua ansiedade quase sempre botavam tudo a perder. Então, só daquela vez, torcera para que o parceiro de time se atentasse aos detalhes tal como fazia com a bola para uma recepção pós bloqueio, mas Nishinoya não pareceu notar nada, agiu na semana seguinte como sempre, o que, claro, fez Asahi quase surtar de ansiedade em segredo com Sugawara.

Suspirou. Conforme o polegar deslizava pela bochecha de Nishinoya, os músculos dele cediam, relaxavam, como se finalmente ele baixasse a guarda. Sentia um arrepio percorrer suas costas quando os dedos em seu cabelo acabavam por puxar as mechas um pouco e percebeu que agora Nishinoya seguia o ritmo de sua carícia.

Engoliu em seco, os olhos pousaram sobre os lábios do líbero, fechados, aparentavam serem macios e o convidavam a conferir isso. Queria, mas nunca se atreveria… sentiu o próprio coração acelerar e se segurou para não deixar que a respiração saísse do controle. Entretanto, os dedos o desobedeceram, eles deslizaram pelas bochechas e, então, tocaram os lábios rosados.  

Mas o que estava fazendo?

Arregalou os olhos, a respiração de Nishinoya havia ficado mais lenta, forçadamente mais lenta, e o coração, Asahi podia ouvi-lo bater mais rápido e forte. Ainda assim, Nishinoya mantinha os olhos fechados, a postura um tanto quanto rígida, as mãos paradas na nuca de Asahi. Os dedos não se moviam, permaneciam entre os fios de cabelos, mas demoraram até voltarem à carícia e, dessa vez, faziam-na mais lentamente.

Asahi espiou Kageyama e Hinata, ainda entretidos demais no treino para sequer perceberem que havia outras pessoas ali também e, só por isso, respirou fundo enquanto o polegar escorregava pelo lábio inferior de Nishinoya, delimitando-o, conhecendo e guardando na memória suas medidas, textura, e as reações que a ousada ação provocava no líbero. Engoliu em seco, sentia a mão tremer, não era bom (nem um pouco) em controlar seus medos e sua ansiedade e não entendia como havia ido tão longe!

E, mais uma vez, como se o conhecesse bem e o desafiasse, Nishinoya usou a mão livre para segurar seu braço, impedindo-o de recuar. Os olhos castanhos se abriram, a coragem neles contrastava com a covardia dos seus, mas Asahi os amava, os invejava… Havia uma beleza singular na determinação que Nishinoya possuía, era como ficar diante de uma fera decidida a lutar, nunca fugir, e, infelizmente, ele, Asahi, era a presa da vez.

Como alguém tão pequeno conseguia ser tão intenso? Asahi era mais velho, maior, era ele quem devia ter aquela presença poderosa que Nishinoya conseguia com tão pouco passar para qualquer um. E, ainda por cima, tinha aquele magnetismo… Não havia nem ao menos percebido quando tinha se aproximado de Nishinoya, apoiando-se no braço enquanto os rostos ficavam um de frente para o outro.

Deitado, Nishinoya mantinha a mão erguida, firme na nuca de Asahi, puxando-o gradualmente ainda mais para baixo. Conseguia já sentir a respiração acelerada contra seu rosto e sorriu, aquilo era o mais perto que já havia chegado de conseguir alguma atitude de Asahi e também seria até ali que ele levaria a situação; o resto deveria ficar por conta do outro, a decisão final deveria ser de Asahi, era ele quem precisava marcar aquele ponto.

Mas ele tinha medo. Asahi não temia apenas que os companheiros de time os vissem naquela situação, temia também o que aquilo significaria. Seu desejo era claro, disso ele não tinha dúvida! Os lábios de Nishinoya estavam convidativos, tinha uma óbvia permissão para que desse seguimento ao que o coração tanto implorava há tempos, contudo, e depois? O que faria depois? Seguiriam amigos? Seguiriam bem dentro do time? Nunca se perdoaria se sua decisão trouxesse algum problema para Karasuno… E o que era aquilo? Estava sendo aceito? Nishinoya também queria? Então por que não falava? Por que não tinha tomado alguma atitude como sempre fazia quando desejava algo?

Ah não… já tinha pensado em tudo aquilo antes, Suga já havia lhe repreendido uma vez por todos esses pensamentos! Tinha perdido mais do que uma noite remoendo aquelas incertezas até que Sugawara arrastasse Daichi para que ambos começassem a discursar sobre como estava sendo covarde.

A mão em sua nuca o conduzia, ou era isso que queria dizer para o próprio corpo, uma vez que justificaria por que ainda se aproximava mais e mais de Nishinoya. A respiração quente dele misturava-se à sua, e Asahi já não enxergava, os olhos haviam se fechado pela ansiedade e o medo de encarar uma rejeição que, lá no fundo, ele sabia que não aconteceria.

O primeiro toque, o encostar dos lábios, foi exatamente como Nishinoya esperava que seria: lento, tímido, temeroso, quase como se lhe quisesse dar tempo de se afastar e até mesmo fingir que as bocas não haviam se unido. Ainda que não fizesse parte da sua personalidade, aguardou pacientemente, como quando se preparava e ficava à espera de um saque forte que deveria receber.

Ah, e foi bom… tão bom quanto de fato conseguir receber um saque potente, tão bom quanto cortar direto em um bloqueio triplo e ver a bola atravessá-lo e marcar para o time. Aquele era o gosto mais próximo que a vitória podia ter, quente, natural, doce, simplesmente o gosto certo, aquele que somente a pessoa por quem o coração clama teria. E essa certeza fez Asahi suspirar, um misto de alívio e felicidade que o permitiram aprofundar o beijo.

Não havia pressa, ainda, Nishinoya gostava de como Asahi explorava bem o terreno antes de se jogar com tudo nele. Por isso, aproveitava-se para saborear o momento, a língua buscando roubar a cada encontro um pouco mais do medo que ainda fazia Asahi refém, os dedos voltando a acariciar-lhe a nuca num delicado incentivo, que funcionou.

Asahi acariciou a bochecha de Nishinoya e deslizou a mão por ela e pela nuca, segurou-lhe e aproveitou para incliná-lo de modo que o beijo encaixasse melhor. Nishinoya arfou, o que para Asahi era só uma posição melhor, para ele havia sido mais… a mão em sua nuca não tremia, não havia hesitação no modo como Asahi o guiava. Ah, como amava quando ele tomava atitude, como amava quando enfim podia desfrutar cem por cento dele. A boca agora movia-se sobre a sua com mais certeza, gradualmente liberando a fome que detinha e exigindo de si uma resposta à altura! E isso o arrepiava… gemeu baixo, grato pelos lábios de Asahi roubarem sua voz e não deixarem mais ninguém o ouvir, envergonhado pela resposta tão sincera que o corpo não conseguia esconder.  

Os corpos tocavam-se; pela posição, Asahi permanecia parcialmente sobre Nishinoya, o tórax subindo e descendo de acordo com a respiração do líbero, e, céus, ele podia jurar que conseguia sentir o coração dele batendo! Estava assustado, mas agora por outro motivo, estava com medo da confusão em que tinha mergulhado, dos sentimentos e das sensações em que agora se via imerso. O coração de Nishinoya batia acelerado, a respiração dele era irregular e atropelada pelos beijos que se seguiam cada vez mais exigentes e apressados, suas mãos não se mantinham mais paradas, desejavam tocar, apertar, sentir, puxar Nishinoya para si sem lhe permitir qualquer chance de afastamento. Além disso, havia desejo, e não o carnal, quer dizer, não somente esse, mas ia além… era simplesmente o desejo de poder continuar, de se permitir aproveitar, de se achar merecedor daquele momento de prazer. O gosto dos beijos era de longe o melhor sabor que já tinha experimentado, e o modo como Nishinoya parecia correspondê-lo tornava tudo perfeito. E era tão bom, mas tão bom, que até mesmo conseguia vislumbrar um feixe de coragem, mínimo, para ousar…

Os dentes se fecharam com delicadeza ao redor do lábio inferior de Nishinoya, os dedos entraram pelos fios rebeldes do cabelo e os seguraram com mais força, e Asahi suspirou deliciado quando ouviu o pequeno gemido de satisfação, que até podia ter sido baixo, mas que ecoou em sua mente de forma bem audível…

Os olhos não resistiram ao desejo de espiarem, e Nishinoya sorriu de canto ao se ver sendo observado com a mesma surpresa e o mesmo carinho com que admirava Asahi. Sorriram, a voz de Hinata ao longe os fazendo enfim lembraram onde estavam e com quem. Nishinoya ainda puxou Asahi mais uma vez pelo uniforme para um último e desajeitado beijo, mas se afastaram em um feliz e mútuo silêncio em seguida. E eu devo dizer que foi uma decisão inteligente, sabe? Afinal, Hinata ainda não era muito bom em seus saques e não demorou para que Kageyama gritasse, os olhos de Nishinoya se arregalassem e Asahi enfim conhecesse a sensação que Kageyama já conhecia bem: a de ter uma bola sacada diretamente em sua nuca…

Asahi riu, nunca imaginaria que seu primeiro momento com Nishinoya seria daquela forma e, certo, certo, tirando essa última parte e a nuca dolorida, ainda era uma boa lembrança...


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Notas finais do capítulo

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Beijoss



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