Como trazer cachorros fofinhos à nova Roma. escrita por Lillac


Capítulo 1
Capítulo único.




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Como sempre, Nico achou a reunião absolutamente horrível. Ele odiava passar a tarde inteira no Senado, ouvindo cada centurião falar sobres os problemas de sua Coorte. Passara a maior parte do tempo cutucando os filetes de palha de sua sandália com a ponta de uma caneta, para falar a verdade.

Infelizmente, aquilo fazia parte do trabalho de Reyna.

O que significava que Nico não poderia vazar.

Nico estiver esperando recostado à porta de saída do Senado enquanto os demais centuriões se retiravam, aguardando distraidamente. Reyna e Frank sempre ficavam até um pouco depois, discutindo algo, e embora ele tivesse certeza que nenhum deles se importaria se ele ouvisse, não tinha muito interesse nas questões de administração do Acampamento Júpiter. Ele só estava esperando por Reyna.

E quase teve um ataque cardíaco quando uma mão firme se fechou em torno do braço dele e uma voz rouca soou.

Nico estava entediado, ok. O que não queria dizer que ele estivera pronto para ouvir da boca da pretora, semideusa lendária, abençoada pela mãe e pela deusa grega da sabedoria, que possuía um manto indestrutível e dois cães mitológicos, e que também era, por coincidência, sua melhor amiga:

— Socorro, eu acho que destruí o meu apartamento com cachorros fofinhos.

 

 

Reyna se dava bem com animais, ele sabia disso. Os seus dois cães de metal eram um bom exemplo, mas não eram apenas cachorros mitológicos movidos à magica romana que gostavam dela. Quando eles saiam juntos pelas ruas de São Francisco, ao menos seis cachorros de ruas viam até ela, abanando os rabos energeticamente. Nico gostava de animais — ao contrário de humanos, eles não julgavam as pessoas pela aparência, não importava a quanto meses ele não cortava o cabelo ou a quantos dias não dormia —, e, enquanto nenhum dos cães jamais se recusara à um carinho da parte dele, eles simplesmente adoravam a garota.

E, bem, Nico achava que o título de “Amiga dos Cavalos” dado pelo Pégaso original, sabe, o que saíra da cabeça da Medusa, o mesmo cavalo imortal e que aparentemente não gostava muito de humanos, falava por si mesmo.

 

 

Reyna se dava bem com animais. Os animais se davam bem com ela.

— O que não quer dizer que você podia adotar dezessete cachorros de uma vez! — Nico sussurrou/gritou, certificando-se de Frank não conseguia ouvir — O que deu em você?

— Eu não sei! — Reyna bateu o pé — Eu só... também não foi completamente impulso. Eu comecei a trazer eles para cá, e quando vi...

— Quando viu, você tinha uma coleção de cachorrinhos da mesma quantidade de um baralho de Mitomagia — Nico completou — isso é loucura. Onde você enfiou eles?

— No meu apartamento, é claro — ela fechou a cara. — Pretores possuem aposentos mais espaçosos, então eu pensei que...

Ela hesitou.

—... Que você ia conseguir viver com dezessete cachorros no mesmo apartamento? — Nico tentou ajudar.

Reyna abriu a boca para responder, mas Frank passou por eles, despedindo-se, e Nico acotovelou-a nas costelas. Eles sorriram para o garoto, mas deveriam ter expressões muito estranhas no rosto, porque Frank balançou a cabeça, confuso, e apressou o passo.

— Por que você sorriu? Você nunca sorri, é estranho. Frank deve ter achado que você ficou louca.

—Nico! — Reyna finalmente aumentou a voz — Eu não sei o que fazer. Hoje eu acordei e o Amendoim estava com o peitoral da minha armadura na boca. Quase tive um infarto. Sem falar que a Pipoca ainda não sabe diferenciar o jornal dela das minhas anotações, e... —

Nico deixou-a falar. Não estava surpreso com Reyna, já tendo nomeado cada um dos cãezinhos. Para falar a verdade, vê-la daquele modo deixava-o mais relaxado. Reyna estava o tempo todo estressada e ocupada, com uma expressão impassível no rosto, não importava a ocasião. Os únicos momentos em que se permitia relaxar eram tão poucos que Nico podia contar com uma mão: quando estava montando Guido, voando livremente pelo céu do Acampamento Júpiter; quando estava falando dos seus bichinhos; e quando estava sentada com Nico na cabine de Hades, shorts de academia, camiseta de pijama e o cabelo solto, tentando aprender todos os níveis de ataque e defesa do baralho de Mitomagia.

Talvez a atitude houvesse sido meio irresponsável, principalmente partindo de alguém como ela. Mas era justamente por ser ela, Reyna, que Nico não tinha a menor intenção de repreendê-la.

— Vamos — Nico segurou o pulso dela —, eu quero ver o quão grande pode ser esse estrago.

 

 

O estrago era bem grande.

Eles haviam passado pelo campo de treinamento antes, onde Will estava treinando com seus irmãos romanos, e o garoto loiro soltou uma risada de tremer o prédio quando Nico abriu a porta distraidamente, ainda absorto na conversa com o namorado, e uma poodle de pelo marrom saltou da mesinha de centro direto na cara dele.

Nico soltou algo que pareceu bastante com um “AAAAAA”, embora ele jamais fosse admitir isso. Ele tentou segurá-la, mas a cachorrinha não parava de se debater e Nico perdeu o equilíbrio, caindo de bunda no chão.

— Deuses — Will parou para tomar fôlego — eu amo os seus cachorros.

— Obrigada, William — Reyna respondeu, levando o elogio muito à sério.

— Eu odeio você, William — Nico atestou, de onde deitava, derrotado, no chão, enquanto a poder lambia seu rosto animadamente.

Da última vez que estivera ali, Reyna tinha cinco cachorros, todos adotados (além de Aurum e Argentum, claro): Sunshine, que parecia uma mistura de labrador com alguma outra raça, que ela havia resgatado de uma morte dolorosa após ter sido deixado para morrer pela pessoa que o atropelara, River, um cachorrinho pequeno, de pelo preto e facilmente assustado, que gostava de se esconder debaixo do sofá (Nico gostava de dar-lhe alguns petiscos, porque era muito fofo assisti-lo deslizar para longe do estofado, abocanhar a comida, e voltar, como se nada houvesse acontecido), Collie, uma cadela alta de fisionomia orgulhosa, mas que na verdade vinha pedir carinho assim que Nico, Will ou Hazel colocavam os pés no apartamento, Milk, um cachorro grande, espaçoso e muito peludo, que precisava ficar no apartamento com o condicionar de ar ligado ao menor indício de um dia quente (até onde Reyna sabia, ele havia sido deixado para trás por uma família que se mudara para outro estado). E, por fim, Nicky, um filhote de husky siberiano misturado com pastor alemão, de pelagem escura e profundos olhos negros, que Reyna nomeara em homenagem à Nico, aparentemente. Ele era para ser um cachorro da polícia, Thalia dissera quando trouxera o filhotinho no verão passado, mas era simplesmente dócil e tímido demais para o trabalho, e seria levado para o abrigo.

Nico gostava deles, de verdade. Mesmo quando eram apenas eles, o apartamento de Reyna já estava bem apertado (não que ela parecesse se importar). Todos eles haviam sido resgatados por ela, e Nico sabia que a pretora possuía um carinho especial por cada um deles. A maioria dos legionários já haviam se acostumado com a imagem dela, ao final da madrugada, caminhando em torno do acampamento com um conjunto de cinco coleiras nas mãos.

Agora, com mais doze bichinhos adicionados à família, o lugar estava impossível. Havia pelo por todo canto, sempre algum deles estava latindo, as tigelas de ração eram chacoalhadas de um lado para o outro, derrubando grãos por todo o chão, e água... céus, de algum modo, River havia conseguido ficar encharcado.

Ainda assim, Collie abriu caminho no meio da bagunça para alcançar Nico, encostando a lateral na perna dele. Nico abaixou-se um pouquinho, acariciando o focinho dela com uma mão, enquanto com a outra devolvia cuidadosamente a poodle ao chão.

Reyna começou a tirar a armadura, e os cães começaram a pular ao ouvirem o barulho. Ela suspirou, derrotada. Quando enfim estava apenas em seu short preto e camiseta roxa, segurou as peças da armadura acima da cabeça, enquanto dois cachorrinhos pulavam em torno dela, tentando alcança-las.

— Eles acham que é um brinquedo — Will contemplou. A expressão de Reyna endureceu:

— É ouro imperial.

— Você sabe disso — o loiro respondeu — eles não.

— Certo — ela concordou, exasperada. Os olhos dela encontraram o do amigo — E agora?

Nico observou o caos — eh, situação. Era óbvio que não havia maneira de Reyna conseguir manter todos aqueles bichinhos sem completamente ficar louca.

Nico abaixou os ombros. Com um suspiro derrotado, admitiu:

— Eu acho que tenho uma ideia.

 

 

A primeira tentativa foi horrivelmente mal. Mesmo com apenas seis cãezinhos, Nico estava tendo mais dificuldade para mantê-los sob controle na cabine de Hades do que ele achava humanamente (ou, é, meio-humanamente?) possível. Certa tarde, ele voltou para o acampamento para descobrir que o travesseiro — que ele havia finalmente conseguido trocar! — havia sido completamente obliterado pela mandíbula da poodle de pelo marrom.

 

 

A segunda tentativa foi bem — até Quíron lhe informar que um dos cães mais altos estava tentando saltar e abocanhar a cabeça falante na parede da Casa Grande.

— Isso — ele continuou — e o fato de que aquela mocinha já derrubou a coca diet do sr. D no chão umas sete vezes. Eu acho que ele está bem perto de mudar o status animal dela para golfinho.

 

 

Três era, aparentemente, o número da sorte.

— Reyna! — Piper exclamou — ela é a coisa mais linda do mundo.

A pretora sorriu com facilidade. Millie, uma cadelinha de olhos heterocromáticos e pelo preto-azulado estava muito confortavelmente aninhada nos braços da filha da Afrodite, e parecia muito contente consigo mesma (Nico chegou a se perguntar se Piper estava usando charme na cadela, porque Millie era geralmente bem agressiva. Mas logo concluiu que aquela hipótese era estúpida. Millie só gostava muito da garota, aparentemente).

— Ela combina com você — Percy comentou, de onde estava sentado no chão, com Mel lambendo seu rosto e Lulu saltando sobre as pernas estendidas dele como se estivesse em algum tipo de competição.

— Percy! — Annabeth exclamou em tom de repreensão, dando uma joelhada no namorado — Pare de insultar a Mille!

Os outros riram, enquanto Piper mostrava a língua para a amiga. Então, inclinou-se até estar da altura de Vic, o chihuahua que Annabeth tinha nos braços, e sussurrou, em tom de sigilo:

— Sinto muito por você Vic, por ter que ir morar com uma dona tão chata.

Enquanto os demais semideuses riam e brincavam com os cachorrinhos, Nico recostou-se na parede externa da cabine de Hades. Ele sentiu um sorriso involuntariamente surgir em seu rosto.

Era engraçado como alguns cachorrinhos, umas piadas e muitas implicâncias fazia tudo parecer certo de novo. Eles eram crianças, arruinadas pela guerra, mas que estavam tentando, peça por peça, construir a si mesmos novamente.

— E você? — Nico empurrou o ombro de Reyna — Vai ficar bem?

A garota sorriu. Ela aproximou-se apenas o suficiente para deitar a cabeça no ombro dele, e soltou um suspiro.

— Eu vou sentir falta deles — admitiu — mas eu sei que eles vão estar felizes.

 

 

Duas semanas depois, Nico, Will e Reyna caminhavam de volta de uma visita ao túmulo simbólico que o rapaz havia feito em homenagem à mãe, na propriedade de uma Igreja Católica ali mesmo, em São Francisco. Nico sentia a luz do sol no rosto, enquanto seu sorvete derretia em uma mão.

Will contou alguma piada que fez Reyna rir como raramente fazia, e eles pararam em um banco, para conversar um pouco.

Um minuto.

Um minuto foi o que levou para o primeiro cachorrinho se aproximar dela.

Reyna arregalou os olhos. Will desatou a rir. O resto do sorvete de Nico terminou de derreter e caiu direto na calça dele.

Quando Reyna começou a fazer carinho na cabeça de pelo cinzento da cadelinha, e o olhou com aqueles olhos escuros e brilhantes, quase tão fofa quanto a filhotinha, Nico soube que não adiantaria argumentar.

 

 

Vestido com seu habitual conjunto de roupas pretas e uma toga igualmente escura, Nico tentou soar o mais sério possível em frente à toda legião romana, em suas armaduras e feições sérias, enquanto apresentava a ideia de um abrigo para animais.

O que foi, é claro, completamente rompido pela exclamação de Jason:

— Tipo, cachorrinhos fofinhos no Acampamento?! Essa é a melhor ideia que eu já ouvi!

Os romanos poderiam ser estoicos e impassíveis, mas, olhando por cima do ombro para Reyna e Frank, que haviam dado suas mais sinceras aprovações, Nico chegou à conclusão de que não haviam muitas pessoas no mundo, gregas, romanas, ou nova iorquinas (ou deuses do vinho muito rabugentos) que resistiriam à ideia de filhotinhos fofos correndo por aí.


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Notas finais do capítulo

Espera que tenham gostado, comentários são sempre apreciados!



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