Estrela Vespertina escrita por Snow Charming


Capítulo 1
Agosto de 2005 - A Primeira Vez que Nos Falamos.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu não devia estar fazendo isso? Não, porque eu tenho minha After All em hiatus e muitas provas vindo! Mas, mas eu simplesmente não resisti!! Perdão.

Essa é minha Original para o Desafio Nyah dia dos namorados: A primeira vez! Espero que vocês curtam bastante, assim como estou gostando de escrevê-la ♥



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A família Souza era apenas mais uma de tantas no Brasil, uma de tantas famílias, e uma de tantas Souza. Seria uma família comum, não fosse por um fato inusitado, Andréa, a mãe, tinha abandonado o marido com os dois filhos, assim que a mais nova nasceu.

Leonardo e Gabriela foram criados pelo pai, o Seu Osvaldo, ou Vavá para os vizinhos e a família, passavam as tardes com a avó, entre desenhos infantis e a Sessão da Tarde. Léo era o mais velho, no auge de seus doze anos, e Gabi a mais nova, com apenas dez anos.

Leonardo era apaixonado por futebol, fazia escolinha desde que aprendeu a andar, e não havia quem o visse sem uma bola embaixo do braço. Os dois estudavam na mesma escola, um colégio particular ali perto, para o qual a avó os levava andando. Foi na escola que o Léo conheceu o Felipe, ou melhor, o Lipe.

Felipe Brandão era o melhor amigo do Léo, apesar de todas as diferenças. Lipe era um grande perna de pau, lia Senhor dos Anéis, jogava Magic, RPG e tinha as melhores notas da sala. Mas torcia pelo Palmeiras, assim como o Léo, e as melhores amizades são formadas quando você encontra o garoto da sua sala, que senta bem ao seu lado, no Palestra Itália. Felipe era tão apaixonado quanto Leonardo, apesar da falta de habilidade, e desde o dia em que se encontraram no estádio, na terceira série, os dois não se desgrudaram mais.

Gabi era completamente diferente do irmão, não gostava de futebol, apesar de andar por aí com a camisa do time do pai, não sabia nem como chutar uma bola; mas era apaixonada por teatro e fazia parte da turma da escola; não era das mais inteligentes, mas estudava muito para manter as notas boas e foi enfurnada na biblioteca, que Gabriela descobriu uma das coisas que virou sua paixão, qualquer coisa que pudesse ler, mas principalmente, livros de fantasia.

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São Paulo, 11 de agosto de 2005.

Matemática parecia pior a cada ano que passava, pelo menos para Leonardo. O segundo semestre estava só começando e já tinha bombado na primeira prova da matéria, a qual recebia exatamente agora, a nota: um grande três. Definitivamente, tomaria uma surra quando chegasse em casa e ficaria uma semana sem poder freqüentar os treinos da escolinha. Resmungou chateado e olhou para a prova de Lipe por cima do ombro do amigo, um belo nove e meio reluzia no papel. Resmungou outra vez, o que fez o outro garoto olhar para trás.

— Como foi? — o da frente perguntou, apesar de já imaginar a resposta.

Leonardo simplesmente virou a prova para o amigo, com uma cara de decepcionado.

— Papai vai acabar me tirando do futebol. Vive dizendo que eu perco tempo demais jogando e deveria estudar — murmurou, olhando por cima do ombro, para ver onde a professora estava. — Para que eu preciso dessa idiotice? Quero jogar bola, não fazer contas!

O rapazinho jogou a prova sobre a mesa e se recostou na cadeira, emburrado.

— Matemática é importante pra todo mundo. — Felipe se virou para trás de vez, sem se preocupar em tomar alguma bronca, afinal, ser o melhor aluno tinha que trazer algum benefício. Pensou por um instante, apoiando os cotovelos na própria mochila, que estava pendurada na cadeira. — E se eu te ajudasse, Leo?

Felipe sorria confiante, mas o Souza o olhava de volta confuso.

— Me ajudar como? — perguntou sem entender. — Nem passar cola você consegue, da última vez que tentou, você passou o papelzinho pro lado errado, aí a Mariana ainda tá achando que você gosta dela. — Ele teve que segurar a risada. — Mas ainda assim, ela tirou oito na prova. Aquele oito era meu.

Felipe bufou e olhou para Mariana, ela era estranha, gostava de sapos e de ciências, mas vinha trazendo chocolates para ele desde aquele dia, então ele continuava sendo legal com ela e mandava Leo parar com as piadas sempre que ela ouvia.

— Não consigo, nem vou te passar cola, mas posso te ajudar a estudar, fazer lição de casa junto, te explicar a aula, essas coisas, Mané. — Lipe esticou a mão e pegou o boné preto que o amigo usava, o colocando na própria cabeça.

Leo precisou de um segundo para pensar. Não sabia se ia dar certo, tinha um belo Playstation muito mais atraente do que toda aquela baboseira de números decimais. Mas, tinha o futebol, a escolinha ia de vento em popa e se ele saísse ia acabar perdendo a dez para o Roberto. Suspirou, derrotado e então olhou de novo para a prova.

— Tá, então amanha você vai lá pra minha casa depois da aula, pode ser?

— Eu tenho que pedir pra minha mãe, né? — o garotinho negro perguntou de modo retórico. — mas acho que se seu pai falar com ela, aí ela deixa.

A professora voltou para frente e olhou para os dois rapazinhos, uma cara feia para Leonardo e um sorriso para Felipe. Quando ela virou de costas, Leo fez uma careta e mostrou a língua, o outro segurou a risada e virou para frente.

Mas logo, Leonardo puxou o boné de volta, o tirando da cabeça de Felipe e vestindo na sua.

— Já que amanhã é sexta, você bem que podia dormir lá em casa. Meu pai comprou um jogo do Crash, a gente podia jogar depois de estudar — falou empolgado, mantendo a voz baixa para que a professora não o escutasse.

Lipe levantou o polegar e balançou a cabeça, animado, para então começar a copiar a correção da prova, que a professora colocava na lousa.

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São Paulo, 12 de agosto de 2005.

Felipe desceu da perua com uma mochila bem mais cheia do que o normal. Tinham combinado tudo por telefone, o Seu Osvaldo e sua mãe, Dona Ana. Felipe passaria a noite lá e almoçaria na casa dos Souza no dia seguinte, a mãe ia buscá-lo à tarde, depois que jogassem um pouco de vídeo-game, para compensar tudo que iriam estudar naquela tarde, além disso, Seu Osvaldo concordou em alugarem um filme para assistirem aquela noite e Lipe tinha toda a intenção do mundo em convencer todos a alugarem pelo menos A Sociedade do Anel, apesar de ele sempre ter pesadelos com os Nazgul, quando assistia, mas bem, o pai do amigo não sabia daquilo, e também não sabia que era por isso que a mãe nunca deixava ele alugar aquele filme.

Entrou na sala e Leo estava tão empolgado quanto ele. Talvez não pelo mesmo motivo, já que tinham aula de educação física e computação naquele dia. Passaram a manhã animados e até se atrasaram para saída, já que Lipe agora mancava, depois de ter chutado a perna de um amigo em vez da bola, durante a última aula.

Quando chegaram até o pátio, Leonardo parou ao lado de uma garota mais nova que lia um livro muito atenta e nem mesmo levantou os olhos para os dois, tão ruiva quanto Leo, o que fez Felipe a olhar curioso.

— Essa aqui é a Gabriela, minha irmã caçula — o Souza falou a contragosto, como se fosse realmente um sacrifício revelar tal segredo.

A garotinha levantou os olhos por apenas um instante e voltou para sua leitura, levantando uma mão, como se pedisse para esperarem.

— Ela é maluca, só lê e ainda faz parte daquele clube de teatro idiota — Leonardo fez questão de apontar.

— Idiota é você — ela respondeu grosseira, sem se preocupar em parar a leitura.

O mais velho olhou para o amigo e balançou a cabeça, para então levar um dedo ao lado da orelha e fazer círculos e caretas, em sinal de que a irmã era completamente louca e o outro não conseguiu não rir.

— Eu estou vendo isso, não sou cega — Gabi reclamou, finalmente fechando o livro.

Foi aí que Felipe ficou boquiaberto e finalmente falou.

— Senhor dos Anéis! — exclamou super animado. — É o meu livro favorito! — Ele levantou as duas mãos para o ar, quase como se comemorasse um gol.

— Eu ainda estou nas duas Torres, então não fale o final. — Ela virou as costas para os dois e guardou o livro dentro da mochila que carregava nas costas.

— Ah, mas você está gostando? — perguntou empolgado. — Diz que está, por favor! Todo mundo odeia Senhor dos Anéis, é horrível ser um grande nerd com um melhor amigo que joga futebol.

Leonardo deu um soco no braço do amigo.

— É horrível ser um nerd, ponto — zombou, e o amigo riu junto com ele.

Gabi revirou os olhos para aquela palhaçada. Garotos eram estranhos e imaturos, mesmo que fossem um ou dois anos mais velhos.

— É horrível ser sua irmã, isso sim — a caçula revidou, se levantando com a mochila nas costas. — Vamos, eu estou com fome.

Leonardo fez uma imitação barata da irmã, com a voz afinada e mexendo a cabeça de um lado para o outro, e os dois garotos gargalharam.

A menina saiu andando na frente e logo eles a seguiram, entre brincadeiras bobas sobre imitações de outras garotas. Até que Felipe correu mais para frente, alcançando Gabriela.

— Olha só, eu sou a Galadriel! — E dito isso, assumiu uma postura séria e misteriosa, andando de costas, para ficar de frente para ela, levantou uma das mãos, como se erguesse um jarro com água e deixasse a água então despejar. — E o espelho mostra muitas coisas, coisas que foram, coisas que são. — Fez uma pausa dramática, olhando para ela, enquanto parava de andar. — E algumas coisas que ainda não aconteceram.

Gabriela começou a gargalhar descontrolada e Lipe a acompanhou naquilo, enquanto Leonardo olhava para os dois sem entender nada.

— Se tivesse visto os filmes, você entenderia, bocó — o amigo repreendeu o outro entre risos.

A ruivinha virou de costas, olhando para o irmão com uma careta.

— É um filme muito inteligente para o Leo, ele nunca entenderia — zombou.

Em resposta, o mais velho mostrou a língua e fez outra imitação da irmã, fazendo Felipe rir de novo e a garota voltar a andar olhando para frente.

O caminho para a casa dos Souza foi rápido, moravam apenas a alguns quarteirões da escola, uma casa pequena, com apenas dois quartos, onde desde o ano anterior, Leonardo tinha passado a dividir o quarto com o pai, enquanto a irmã ganhou o quarto só para ela, mas uma coisa maravilhosa era o enorme quintal, em que dava para jogar bola à vontade, assim como na rua, já que essa era sem saída.

A avó abriu o portão, quando eles chamaram e a comida já estava pronta, com direito a batata frita, já que tinham visita. Depois, a mesa de jantar, virou lugar de estudo e Gabriela foi mandada para o quarto.

Os garotos passaram a tarde entre estudar matemática e conversar sobre o time que não ia assim tão bem no campeonato. Logo, o seu Osvaldo chegou e a Dona Line foi embora, o homem mandou Felipe ir tomar banho e depois foi a vez de Leonardo.

Quando Lipe saiu do banho e Leo entrou, Gabriela estava muito entretida no quarto, com a porta aberta como sempre, deitada com o livro sobre o rosto e uma música tocando no rádio, a mais nova do Charlie Brown.

— Você não respondeu se estava gostando — o garoto puxou assunto, não ia ficar no andar de baixo, com o Seu Osvaldo, era ainda mais estranho. — E aí?

Gabi tomou um susto e abaixou o livro, o que fez Felipe rir, mas ela logo se recompôs, se sentando na cama.

— Gosto das partes em que a Sociedade aparece, Frodo e Sam às vezes me irritam — falou sincera.

Felipe coçou a cabeça e bagunçou os cabelos molhados, enquanto ainda dava para fazer isso, quando os cachinhos se firmavam, aí não tinha mais como.

— Acho que ninguém gosta dessa parte, a gente quer mesmo é ver o Aragorn e também o Légolas e o Gimli implicando um com o outro, é muito mais legal. — Concordou, mexendo a cabeça para cima e para baixo. — O seu pai falou que a gente ia alugar um filme hoje, podia ser A Sociedade do Anel, não acha?

Os olhos de Gabi brilharam.

— Assim seremos dois votos contra dois e como você é a visita, papai vai ter que ceder — ela comemorou.

Gabriela se levantou e andou até Felipe, cuspiu na própria mão e a esticou para ele. Do seu lado, Felipe fez o mesmo, e eles deram as mãos.

— Trato feito — falaram ao mesmo tempo.

A porta do banheiro se abriu e os dois se afastaram depressa, cada um limpando a mão em sua própria calça.

Não demorou para que todos estivessem dentro do carro do Seu Osvaldo, a caminho da Blockbuster mais próxima.

— E então, Felipe, de que tipo de filme você gosta, filho? — o homem perguntou simpático, enquanto dirigia. — Eu e o Leo somos fãs dos filmes do Vin Diesel, não é mesmo filhão?

Leonardo, que ia no banco da frente, levantou a mão e bateu na do pai, ambos concordando.

No banco de trás, Gabriela e Felipe trocaram um olhar, acenando com a cabeça, colocariam o plano em prática.

— Eu não gosto tanto de ação, prefiro uns de aventura, que tenham um pouco de magia, em outros mundos, assim. — Olhou para a irmã do amigo outra vez e ela se esforçava para não sorrir demais. — Tipo Senhor dos Anéis.

Leonardo se virou para o amigo e então para o pai.

— A gente sempre vota para decidir o filme — falou, antes que o pai dissesse qualquer coisa. — Eu voto em A Batalha de Riddick!

Lipe deu de ombros.

— Eu voto em Senhor dos Anéis, o primeiro.

Gabi levantou a mão e sorriu satisfeita.

— Eu voto com o amigo do Leo — falou, olhando vitoriosa para o irmão.

O pai olhou para trás pelo retrovisor e então para o filho, ao seu lado.

— É filhão, as visitas são critério de desempate, então alugamos esse filme aí dos anéis.

Leonardo bufou irritado por ter perdido e ficou com a cara emburrada, nem mesmo quis descer na locadora e no caminho da volta, fez questão de deixar o som desligado e permanecer completamente calado.

Seu Osvaldo pediu a pizza favorita do filho, para amenizar um pouco o bico dele e só depois que o pai começou a falar sobre ele sair do castigo, por estar estudando, foi que Leo decidiu voltar a falar.

O sofá dos Souza era pequeno, para duas pessoas, com certeza não cabiam os quatro ali, então Seu Osvaldo foi até o quarto de Gabriela e trouxe o colchão dela, junto com algumas cobertas e colocou tudo no chão, para que as crianças se sentassem ali.

O homem não demorou nada para dormir, sentado em um canto do sofá, o filme era muito monótono para ele. Leonardo fez questão de reclamar sempre que podia, recebendo “shiu!” da irmã toda vez que abria a boca, até que desistiu e se concentrou em apenas comer a pipoca.

— Vocês dois são muito chatos com esse filme — reclamou depois de Felipe o repreender junto com a irmã. — Fiquem aí vocês dois com esses gnomos — ainda tentou ofender, antes de subir para o sofá de uma vez.

— Hobbits! — Os dois corrigiram Leonardo juntos e então começaram a rir, fazendo o mais velho mostrar a língua para os dois.

Não demorou para o irmão mais velho também acabar dormindo e então, restaram apenas Felipe e Gabriela acordados

— Eu nunca tinha assistido — Gabi falou quando as letras começaram a subir, sorrindo abertamente. — Sempre perdi as votações. Obrigada pela ideia.

Lipe se virou para ela sorrindo animado.

— Você gostou? — perguntou curioso.

A garota acenou com a cabeça várias vezes, Tinha adorado.

— Fico entre esse e o último como meus favoritos — Felipe contou. — Você quer ver o Duas Torres outro dia?

Dessa vez, Gabriela balançou a cabeça para os lados.

— Só vou assistir depois que acabar de ler o livro — disse resoluta.

O rapazinho concordou com a cabeça, logo a encostando no sofá, olhando as letras subirem sem parar pela tela do televisor por algum tempo.

— Eu adoro essa música — comentou depois de alguns minutos, com os olhos fechados. — É a minha favorita.

Mas Gabi não respondeu, já tinha adormecido, encolhida do outro lado do colchão, e Felipe também não falou mais, do lado de cá, também caíra no sono, embalado pela música que tanto gostava.


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Notas finais do capítulo

E é isso por hoje!

Espero que tenham gostado do Lipe e da Gabi e também do bocó do Leo, haha.

Essa história faz parte do desafio, então se preparem para uma short-fic, com um capítulo por semana. Sendo assim, vejo vocês semana que vem =)

Beijinhos!



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