Era mais um fim de tarde frio nos terrenos de Hogwarts, algo comum para a Escócia naquela época do ano. Mais um dia onde os alunos se empenhavam em conseguir lugares próximos a lareira da sala comunal da Grifinória. E como o esperado, mais um dia onde Hermione Granger, Ronald Weasley e Harry Potter sentavam-se juntos ao pé da lareira. Hermione para estudar e colocar os deveres em dia, Rony e Harry para jogar conversa fora enquanto tentavam se aproveitar de algum momento de distração da menina para copiar suas respostas.

— Hermione, hoje enquanto eu fazia minha ronda vi mais uma vez aquele seu gato esquisito nas masmorras. O que tanto aquele bicho faz lá, hein? Coisa mais bizarra! – Perguntou Rony com ar indignado, já não gostava muito do gato e ter percebido nos últimos tempos que ele não saia das masmorras parecia mais um bom motivo para implicar com o bicho.

— E como eu vou saber, Ronald? Ele é um gato, gatos saem à noite para caçar. E para ser sincera as masmorras me parecem o lugar perfeito para isso, quer dizer, olha aquele lugar, sempre úmido e frio, deve ser cheio de insetos para serem caçados. – Respondeu Hermione com o mesmo tom que Minerva costumava usar para explicar para os alunos alguma matéria que julgava óbvia.

— Odeio dizer Rony, mas a Hermione tem razão, você fica formulando grandes teorias até com os lugares que o gato anda, tudo por que detesta ele desde o terceiro ano.

— Muito obrigada, Harry! Ao menos alguém aqui tem bom senso e não fica implicando com Bichento o tempo todo. – Disse a menina enquanto colocava um livro em cima de uma das tarefas prontas que o amigo ruivo agora tentava espiar.

O que na realidade nem Harry nem Rony sabiam, era que havia um motivo para o gato de Hermione andar tanto pelas masmorras nos últimos tempos, e esse motivo de nada tinha a ver com insetos ou com o ar frio daquela ala do castelo. A verdade era que Bichento estava passando tanto tempo por lá por que sua dona andava passando muito tempo por lá.

Noites e mais noites.

E talvez Rony tivesse motivos para ficar atento ao comportamento do felino, afinal dizem que os animais imitam o comportamento de seus donos. E realmente existia um motivo para Hermione frequentar as masmorras, um motivo com nome e sobrenome. E até uma capa que podia dar medo em muitos alunos.

Esse motivo se chamava Severus Snape.

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Hermione estava concluindo seu sexto ano letivo e com a chegada do final do ano, estavam chegando também as avaliações. Claro que não eram tão importantes quanto os N.O.M.s ou os N.I.E.M.s, mas para qualquer um que conhecesse Hermione Granger, nem que fosse apenas um pouco, sabia que ela estava histérica. Andava com livros e mais livros por toda a parte, sempre fazendo anotações em resumos e esquemas de tópicos que eram estudados.

Aquela noite não era diferente.

Hermione estava sentada no chão, sobre um tapete verde musgo macio em frente a lareira dos aposentos do professor de poções nas masmorras, com quatro livros de diferentes matérias, inúmeros pergaminhos com resumos e anotações, além de penas e tinteiros a sua volta. A cada página folhada de um livro, mais uma série de rabiscos eram feitos pela menina.

Snape estava sentado em uma poltrona a poucos passos da garota fingindo ler uma edição do profeta diário, quando na verdade o que estava fazendo era observar Hermione. Já tinha corrigido tarefas e preparado as aulas que precisava para o dia seguinte e agora matava o tempo fazendo o que mais gostava de fazer. Observar sua menina.

Como o final do ano já se aproximava, o número de tarefas aumentava. E isso significava que havia menos tempo livre tanto para Severus, que precisava corrigir tarefas, quanto para Hermione, que precisava realizar tarefas das diferentes matérias as quais estudava e ainda estudar para as avaliações. O jeito que encontraram para passarem um tempo juntos era a garota ir estudar nas masmorras. Assim ficavam próximos e Severus ainda a ajudava, lendo suas atividades e dando alguma opinião ou dica.

Mas isso não era suficiente para Hermione se sentir tranquila com os estudos, e por isso ela se afundava cada vez mais em livros e resumos.

Snape achava sem sentido toda aquela preocupação dela, já havia inclusive lhe dito isso milhares de vezes, afinal ela era extremamente inteligente e era lógico que iria se dar bem em tudo. Mas ao mesmo tempo, o professor não podia negar que amava vê-la estudando.

A forma como mordia o lábio concentrada enquanto escrevia algo, ou quando falava alguma frase de um livro em voz alta quando finalmente entendia o sentido de algum tema. Ou quando ela lia para ele trechos que achava interessante, ou quando perguntava qual conteúdo ele achava melhor ela dar ênfase nos estudos. Era mais uma das coisas a qual ele achava belo nela, a forma responsável e dedicada com que ela via os estudos.

Ao mesmo tempo gostava de saber que embora os estudos sendo tão importantes para ela, ainda assim, ela não deixava de ir passar um tempo com ele. Mesmo que esse tempo fosse bem diferente do tempo que passavam a algumas semanas atrás, quando não havia tantas coisas a serem feitas pelos dois e eles podiam ocupar o tempo em baixo dos lençóis de sua cama. Mas Hermione estava ali, mesmo que não estivesse abraçada a ele e sim aos livros, ela estava ali. Apenas para ficar junto dele.

Já estavam nesse romance escondido desde o começo do ano e ainda era difícil para Severus acreditar que havia encontrado alguém como ela, ou melhor, enxergado, já que ela sempre esteve ali, bastava ele abrir os olhos.

Era um romance que havia tudo para dar errado, mas estava dando certo.

Hermione era mais nova, tinha idade para ser sua filha. Era sua aluna. Era Grifinória. No entanto eram essas diferenças que pareciam fazer aquilo dar tão certo. Não só as diferenças mas também as semelhanças. O mesmo gosto literário. A mesma inteligência. O mesmo desprezo por adivinhação. Tudo isso fazia o relacionamento deles dar certo e eles sentirem aquela vontade de estar sempre juntos e nunca mais se separar.

Era a sua menina, como ele gostava de dizer.

Apesar de não ser mais uma menina, de ter se tornado uma mulher em seus braços. Porém, sempre seria sua menina.

Severus Snape parou suas divagações e olhou no relógio, já era tarde, quase duas da madrugada, sua menina precisava dormir se queria continuar se saindo bem nos estudos.

O homem se levantou e foi até Hermione que continuava estudando, se abaixou próximo a menina e com carinhos em suas costas chamou sua atenção.

— Venha Hermione, você precisa dormir! Já estudou o bastante por hoje, já está tarde.

— Ah meu Merlin! Que horas são? – exclamou a garota meio assustada.

— Quase duas horas. Venha, vai dormir aqui comigo hoje, quero ter certeza que terá uma boa noite de sono. Não quero que nada atrapalhe minha menina nos estudos.

Hermione deu um sorriso ao professor enquanto se levantava e era guiada por ele ao quarto. Amava quando ele lhe chama assim, se sentia especial, se sentia dele.

— Mas e meus livros e meus pergaminhos? Preciso arrumar tudo, não posso esquecer nada aqui amanhã quando acordar, se não você já sabe, só posso voltar aqui a noite quando todos estão dormindo e como vou ficar sem meus resumos o dia inteiro? Não, não! Melhor organizar tudo antes de ir deitar. – falou ela se lembrando dos papeis e parando a meio caminho para o quarto do Sonserino.

— Não! – Snape agora foi mais firme - Eu já falei, Hermione, você vai se arrumar e deitar quietinha na minha cama enquanto eu organizo tudo. Amanhã quando se acordar lhe garanto que não vai esquecer de nada.

Com um suspiro de derrota Hermione foi para o quarto, não adiantava nada discutir com Snape. Sabia disso desde antes de eles terem alguma coisa, quando ele ainda era simplesmente seu professor.

Quando Severus entrou no quarto, Hermione já estava deitada em sua cama com uma das muitas camisolas que, assim como as roupas, livros e diversos outros objetos dela, já possuíam lugar em seus aposentos.

Se trocou e foi se deitar ao lado da Grifinória, a ajeitando em seus braços para finalmente dormir.

— Sev?! – cochichou a garota no escuro. – Já está dormindo?

— Estou quase, Hermione, e você também deveria. – Resmungou de olhos fechados. – O que houve?

— Estou com medo. Acho que não vou conseguir tirar boas notas em nenhuma das matérias, estou estudando tanto e não me parece suficiente. – confessou ela o apertando mais entre os braços que o envolviam em baixo dos lençóis.

Severus finalmente abriu os olhos, pegou o rosto da garota entre as mãos e respondeu no mesmo tom baixo em que ela falava.

— Ora, Hermione, você sabe que não deve se preocupar com isso. Você é a bruxa mais inteligente da sua idade, lembra? – Um sorriso tímido foi tirado dela com isso. – E além do mais, eu confio em você, tenho certeza que terá as melhores notas que essa escola já viu em anos. 

— Você acha mesmo? – A menina o olhava fundo nos olhos ao perguntar, ele podia perceber que realmente aquilo era uma dúvida para ela. Algo que de fato a estava perturbando a ponto de externar para ele. Ninguém diria que a brilhante Hermione Granger tivesse questionamentos como esse durante a madrugada.

— Evidente que sim. Agora vem – disse a puxando de volta para seus braços. – vamos dormir para que amanhã você esteja bem disposta e ocorra tudo certo.

— Boa noite, meu amor. – murmurou ela já com menos angustia na voz se aconchegando ao peito do homem.

— Boa noite, minha menina.

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— SNAPE!? SNAPE!? SEVERUS? – gritava Hermione enquanto entrava correndo pelos aposentos do professor.

Fazia pouco tempo que as últimas aulas haviam terminado e Hermione tinha acabado de quebrar uma das regras do casal de só se encontrarem após todos no castelo adormecerem. Mas estava eufórica e feliz e por sorte não haviam alunos por perto, já que todos se dirigiam ao salão principal para a última refeição do dia

— O que é isso, Hermione? Por que essa gritaria toda? Sabe que detesto badernas desse tipo, ainda mais nos meus aposentos. – trovejou Snape com uma expressão de dar medo em qualquer um ao se levantar da mesa aonde anotava os últimos pareceres do ano acerca dos alunos.

Hermione pareceu não reparar no tom raivoso do professor ou em sua expressão assustadora quando pulou em seu pescoço o abraçando com força.

— Eu consegui! Eu consegui! Fui bem em todas as avaliações, eu nem acredito! – anunciou a garota ao mesmo tempo em que ria.

O ânimo do homem mudou no mesmo instante em que ela o abraçou, estava feliz por ela, não que em algum momento tivesse duvidado que este seria o resultado dos esforços dela, mas era bom vê-la tão contente.

— Eu lhe disse desde o início que você iria se sair bem, não disse? – Falou ele saindo do abraço e olhando em seus olhos com um meio sorriso e uma das sobrancelhas levantadas como se a desafiasse a discordar.

— Ah meu amor, obrigada! Obrigada por ter me incentivado e ajudado, e obrigada por ter me aguentado quando eu estava paranoica achando que tudo ia dar errado. – agradeceu ela lhe devolvendo o olhar – Eu consegui! Eu nem posso acreditar! – acrescentou com uma gargalhada o abraçando novamente.

— Bem... então eu acho que agora nós merecemos uma comemoração! – propôs ele com um tom de malicia enquanto a levantava do chão já a carregando em direção ao quarto.

— Mas nós temos que ir para o salão principal, não? Todos já devem estar lá para o jantar. – indagou Hermione sem convencer nem a si mesma de parar.

— Acho que eles sobrevivem a um jantar sem nós dois, minha menina.

Naquela noite o temível professor de poções não compareceu ao jantar no salão comunal, ainda assim, ninguém pareceu dar muita importância, já que era comum isso acontecer. O mais intrigante foi que uma certa aluna da Grifinória também esteve ausente neste mesmo jantar. Mas, por mais curioso que a ausência desses dois pudesse ser, ninguém reparou ou chegou a ligar os pontos, ou se reparou fingiu não reparar.