Chapeuzinho vermelho escrita por louie espe


Capítulo 4
Capítulo 4: Um novo companheiro


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora. Vou tentar postar sempre com apenas uma semana de diferença daqui pra frente



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Quando amanheceu, Chapéu acordou rápido e comeu algumas frutas que havia comprado na cidade e passou mais algumas para os cavalos, para Odin e para Abraham.
— Já sabe para onde vai?
— Eu não sei... acho que depois de ontem prefiro estar com você.
— Acha que vai estar mais seguro com uma mulher? – ela sorriu e levantou a sobrancelha.
— Depois de vê-la matando sozinha cinco saqueadores – nesse momento Odin grasnou indignado. – acho que não tem como não confiar.
Chapéu acenou com a cabeça concordando.
— Conheço um lugar onde você pode ficar seguro.
— Confio em você.
Chapéu o analisou com o olhar por um tempo, deixando Abraham nervoso.
— Então é melhor irmos. O inverno chegará em pouco dias e os portões serão abertos em menos tempo ainda.
Eles preparam os cavalos e começaram a cavalgar. Chapéu foi silenciosa a maior parte do tempo e Abraham acabou acompanhando seu silêncio.
“A tensão entre os dois é tão grande que eu conseguiria cortar com meu bico” disse Odin que estava nas costas de rajado. Chapéu riu.
— Do que você está rindo? – perguntou Abraham.
— Não é nada – disse Chapéu com simplicidade.
— Você é sempre tão calada assim?
— Por que?
— Já faz algumas horas desde que começamos a cavalgar e você permaneceu calada.
— Tudo bem. Conte-me então a sua história.
Abraham pensou por algum tempo, então começou:
— Meu nome é Abraham. Eu tenho vinte e três anos. Sou órfão, graças a nossa rainha...
— E por que ela os matou? – interrompeu Chapéu.
— Minha família cuidava da antiga família real.
— Por isso você tem um dos cavalos reais?
— Na verdade a Tulip é filha de um cavalo e uma égua real.
— Rajado também. Por que ela quer tanto te capturar?
— Ela acha que eu sei o paradeiro da princesa.
— E você sabe?
— Não. – Abraham abaixou a cabeça frustrado – na verdade eu nem me lembro dela direito.
— Por que ela acha que você sabe onde a princesa está?
— Quando eu tinha cinco anos, eu e minhas duas irmãs ajudamos a rainha a fugir da ira do rei. Mas depois que saímos do reino nos separamos então eu não faço a mínima idéia.
— Onde suas irmãs estão?
— A minha irmã mais velha morreu tentando salvar a minha irmã mais nova e a mim. Depois de algum tempo eu me separei da minha irmã mais nova para que ela ficasse em segurança.
— E desde então você está sozinho? – Chapéu olhou para ele triste.
— Não se consegue sentir a solidão, quando se vive fugindo. – ele sorriu tristemente.
— Se vivia fugindo, por que está indo comigo para as terras da rainha?
— Eu não sei. Acho que eu só queria ter companhia... ao menos uma vez.
— A vantagem... – disse Chapéu sorrindo delicadamente – é que o oeste é mais quente que o norte.
— Eu sempre pensei que fosse o sul – disse Abraham sem entender.
— Mas é importante ser otimista com aquilo se encara. E é um fato. – disse ela com simplicidade – o oeste é mais quente que o norte.
— Se colocar fogo nele, O norte pode ser mais quente.
Chapéu olhou para ele que parecia sério e se lembrou de uma história que Hunter havia lhe contado alguns meses antes de uma cidade que havia pegado fogo misteriosamente.
— Foi você que incendiou uma das cabanas do senhor daquela cidade?
— Não foi tão difícil assim.
Chapéu soltou uma risada e começou a cavalgar rápido. Abraham a acompanhou.
Depois de algum tempo cavalgando Chapéu olhou para o céu e notou que o sol estava alto e disse para que eles parassem para almoçar. Abraham obedeceu sem problemas e os dois desceram dos cavalos e retiraram as suas celas. Rajado e Tulipa começaram a comer as gramas com tranquilidade e Chapéu fez rapidamente uma fogueira onde colocou os últimos peixes que ela havia pegado e esperava eles assarem.
— Você vai ter que caçar mais, não vai? – perguntou Abraham enquanto comia um dos peixes que já estavam assados.
— Vou, mas o próximo lago é muito longe daqui. – disse Chapéu que também comia - Então vamos ter de sobreviver comendo legumes e talvez roedores que encontrarmos na floresta.
— Não quero comer ratos.
— Quem sabe pequenos esquilos? – perguntou Chapéu séria.
— Chapéu... eu não tive coragem de falar sobre o assalto que você evitou...
— O que foi? – perguntou Chapéu gentilmente.
— Eu não sei direito... você é sempre tão gentil, mas quando enfrentou aqueles homens você estava fria. Não parecia se importar.
— É a mesma coisa que eu disse antes – Chapéu deu uma risadinha e depois ficou séria – eu sou uma pessoa que aprendeu a sempre esperar dois lados de uma pessoa e a me portar de acordo a esses dois lados. Eu sou Chapéu: a garota gentil e boazinha, que sempre vai ajudar as pessoas e sempre vai estar com um sorriso no rosto. Mas eu também posso ser Chapéu: a caçadora, treinada para matar a qualquer tipo de animal que eu julgue que me ameace. Aquela que vai jogar com o inimigo sempre que necessário para destruir ele tanto de dentro pra fora, quanto de fora pra dentro.
— Não sei. Isso não parece algo que...
— Uma mulher teria coragem de fazer? – ela o interrompeu – Talvez, mas eu nunca me importei com esse tipo de coisa. Afinal caçadores tem de caçar e eu sou uma caçadora.
— Entendo...
O silêncio se fez por um tempo.
— Você já caçou, Abraham?
A pergunta surpreendeu Abraham que olhou para ela e parou de comer por um momento.
— Não. – ele voltou a olhar pra frente e comer – Não como você e os outros caçadores de lobos. Eu já cacei algumas coisas e sempre fui bom em causar incêndios, mas nunca em caçar lobos.
— Alguém já te ensinou?
— Não. Eu sempre vivi muito sozinho e fugindo então não tive tempo de ter ninguém para me ensinar.
— E se eu te oferecesse o treinamento? – Abraham a olhou surpreso com o convite – Eu não sei se sou boa professora, mas você está agora comigo e... eu não quero ter que ficar salvando você o tempo todo, e quero que você me ajude também. Você não tinha me dito que queria me devolver às duas vezes que eu salvei a sua vida?
— Sim, eu disse.
— Ótimo – Chapéu sorriu animada e colocou a espinha do peixe de lado e se levantou rápido. Ela pegou um peixe grande e colocou em cima de uma pedra onde Odin pousou e começou a comer devagar. Depois de fazer um carinho na cabeça do pássaro ela olhou para Abraham de relance – vou estar te esperando ali enquanto você termina de comer.
Abraham concordou com a cabeça e continuou a comer devagar. Quando terminou foi até onde estava Chapéu e viu que ela havia preparado um alvo improvisado na árvore com um circulo um pouco torto.
— Quero que acerte o alvo. – disse ela animada.
— Hã...
— Que foi? – disse ela confusa.
— Nunca atirei com arco e flecha.
Chapéu o olhou perplexa. Sendo ela uma guerreira, exceto as mulheres da vila próxima a casa dela e de Hunter todos os homens sabiam atirar. Ouvir alguém dizer isso parecia esquisito, estranho e até mesmo um pouco estranho.
— Tudo bem então. Vamos começar com os passos simples.
Ela foi na direção dele e o colocou em posição. Se aproximando dele para mostrar a forma certa de se atirar com o arco fez Abraham se sentir desconfortável. Entendam, mesmo ela sendo uma garota estava acostumada a viver no meio dos homens já que era a única mulher em meio a todos os caçadores então não sentia vergonha ao estar perto de um, mas Abraham não era assim e senti-la tão perto a ponta de sentir sua respiração o deixava mais que nervoso.
Quando ela terminou de explicá-lo e se afastou ele tentou com a primeira flecha, mas essa mal foi lançada. Abraham ouviu Odin grasnar e abaixou o arco um pouco desconcertado.
— Não zombe dele, Odin. – disse Chapéu brava para o pássaro – esta foi sua primeira flecha. Eu não fui muito diferente disso no começo.
Abraham olhou para ela e sorriu com a sua gentileza, mas ela nem mesmo pareceu olhar para ele. Ele também notou que depois de vários erros ela continuava incentivando e não parecia decepcionada com os erros, mas também não ficava olhando para ele com muito interesse. Talvez Abraham ainda não soubesse, mas a personalidade gentil de Chapéu vinha para praticamente todas as coisas e isso a impedia de ser cruel com um amigo, porém não fazia dela alguém que vivia sua vida para dar atenção aos demais.
Depois de mais ou menos uma hora de treino Abraham já começava a atirar a flecha com sem dificuldade – apesar de só ter conseguido acertar a árvore uma vez e nenhuma dentro do círculo – Chapéu ainda chegou a tentar ensiná-lo a mirar, mas quando se aproximou Abraham se sentiu nervoso e não conseguiu entender quase nada, e chegou a errar até mais.
— Talvez devamos parar por hoje com as flechas.
Sugeriu Chapéu com delicadeza a Abraham que concordou. Ele chegou a ajudá-la a encontrar as flechas que ele havia jogado por todo lugar na floresta e quando pegou a última e as juntou foi até os cavalos guardando elas em uma das bolsas. Chapéu que tirou algo de uma das bolsas de Rajado o surpreendeu novamente. Desta vez ela estendia uma espada embainhada para Abraham.
— Vamos tentar um pouco de esgrima. O que acha.
Ela notou que ele parecia assustado com a proposta e logo em seguida pôs-se a recusar.
— Não quero lutar com você usando uma espada afiada.
Ela jogou a espada na direção dele que por impulso a pegou no ar, mas antes que ele pudesse fazer algo ela já estava com a própria espada na direção do seu pescoço. Ela entortou a cabeça para o lado e o olhou com ferocidade e agitação. Ele se sentiu suando e como muitos devem saber, não existe nada mais assustador que uma mulher desafiadora.
— Você possui prudência, pequeno aprendiz.
— Eu sou mais velho que você e mais alto também.
— Porém, sua coragem é deveras menor que a minha. Rejeitas um desafio meu?
— Não pretendo perder meu pescoço agora.
Chapéu estava brincando com ele, mesmo que o mesmo não soubesse. Pra ela era divertido ver aquela expressão no rosto de alguém. Parecia engraçado saber o quanto as pessoas sempre achavam que ela não poderia realmente fazer aquilo. Abraham continuou a olhar para chapéu por algum momento e ela continuou olhando para ele com divertimento. Odin que descia da árvore parecia desinteressado na vida de Abraham, mesmo assim entreviu na pequena disputa de olhares olhando para Chapéu.
“Acho melhor que deixe isso para uma hora mais apropriada.” Ele posou na cabeça de rajado “melhor sairmos logo daqui”
Chapéu olhou mais um pouco para Abraham com divertimento, mas sabendo que o corvo tinha razão pegou a espada e a embainhou.
— Certo então. – disse ela um pouco decepcionada – vamos para um vilarejo próximo daqui.
— Não podemos ir para uma cidade com os lobos a minha caça. – disse Abraham assustado.
Chapéu foi em sua direção e pegou sua espada de volta. Abraham a olhou um pouco sem entender. Ela era diferente demais de todas as mulheres que ele já vira e o assustava mais até do que a rainha. Depois que Chapéu guardou a espada ela subiu em rajado com rapidez.
— Não disse que vamos para uma cidade. Disse que vamos para um vilarejo. Ele não fica muito longe daqui e não possui nenhum senhor que seja vassalo da rainha.
— Como sabe disso?
— Eu conheço todo o todo o Leste que deveria ser governado pela rainha.
— Deveria?
— Como acabei de dizer. Estamos indo a um lugar que não possui pessoas vassalas da rainha. Sendo assim...
— Nem todos são governados por ela.
— Fico feliz que me entende.
Ela esperou que Abraham subisse em Tulip e depois começou a cavalgar.


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