Eu posso jurar com todas as minhas forças que nenhuma das vezes que tive vontade de socar a cara estúpida de Benjamin foi por motivos fúteis ou até mesmo irrelevantes. Claro que sempre teve um motivo e o mais comum era que ele me irritava a todo tempo. Nossa professora de teatro, Aline, nos avisou que isso poderia muito bem acabar em casamento, mas quem disse que eu confio nessa doida? Ela faz ioga no mínimo duas vezes por semana e é super zen, só Deus sabe o que se passa na cabeça dela.

O que realmente importa é que estava tudo indo bem até Benjamin me tirar da maior enrascada que já me meti na minha vida. Estava saindo da aula um pouco mais tarde do que previsto e alguns babacas completamente bêbados foram mexer comigo. Veja bem, eu sou uma pessoa minúscula e mirrada, qualquer sopro mais forte consegue me derrubar porque minha alimentação é uma droga. Enquanto voltava para casa, esses caras me barraram e tentaram fazer merda comigo. Por sorte, Benjamin estava passando ali perto de carro e fez menção de os atropelar se não me deixassem em paz. Nunca tremi ou chorei tanto na minha vida como naquele dia.

O caso é que eu disse a Benjamin que faria qualquer coisa para agradece-lo pelo que ele havia feito por mim. Apesar de ter sido extremamente cuidadoso comigo, Benjamin não é bobo nem nada. Pediu "o encontro mais romântico que eu teria na minha vida". Eu ri, porque era óbvio que ele estava brincando com a minha cara.

— Vamos? — Benjamin me pergunta assim que abro a porta de casa. Reviro os olhos e concordo com a cabeça. — Você está um chuchu, Alice.

Na verdade, eu estou normal. Uma calça jeans branca, tênis branco e uma regata (surpresa!) também branca, quase uma enfermeira do hospital das clínicas. Acontece que Benjamin me chamou para sair depois daquele episódio fatídico e sequer me contou para onde vamos, só exigiu que eu usasse roupas completamente brancas e o cabelo limpo.

— Para onde vamos? — Pergunto assim que entro no carro dele. Benjamin senta ao meu lado, me analisa e sorri.

Pode parecer loucura, já que eu o odeio com todas as minhas forças, mas meu coração dá uma batida completamente errada quando ele solta esse sorriso idiota dele. Respiro fundo e olho para a frente, tentando evitar o contato com o sorriso do babaca.

— Vamos para a festa das cores, Ali.

Algo em minha mente desperta de um jeito maluco, uma vontade que tenho desde pequena. Apesar de ser algo atual, o Happy Holi é um desejo que eu tenho desde criança, um sonho de consumo que durante os anos se tornou realidade para muitas pessoas, mas para mim não, já que nunca aconteceu tão perto de onde moro.

Agora tudo faz sentido: a roupa branca, o cabelo limpo, o rosto livre de maquiagem (não sei se isso é um ponto positivo ou negativo), as toalhas no banco de trás do carro... tudo começa a fazer um sentido imenso. Até mesmo Benjamin ter me chamado para vir, até isso faz um sentido que eu não tenho ideia de como expressar.

— Obrigada... — sussurro e olho para a cidade que passa correndo pela janela.

— Pelo que?

— Por me ajudar aquele dia e agora por me levar nesse festival incrível. Você é irritante, mas também é ótimo Benjamin. — Olho para ele e dou um sorriso minúsculo, apenas para mostrar que sou grata.

— Ah, cale a boca, eu sou incrível. — Ele dá de ombros mesmo sem olhar para mim, mantendo o foco na estrada para não sofrermos um acidente, já que ele dirige super mal.

Reviro os olhos e aperto o cinto de segurança. Continuo odiando Benjamin, apesar do meu ódio estar diminuindo só um pouquinho.