Singular escrita por Miima, Babs Júnia


Capítulo 1
Capítulo I ✩ "Era tudo liberdade"


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera! Tudo bem com vocês? Esperamos muito que sim!

Esperamos que gostem desse conto focado nos nossos filhotes mais fofos de A Ilha do Náufrago ♥


O tema desse primeiro capítulo é: A primeira vez que nos falamos.

Boa leitura!



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Capítulo I “Era tudo liberdade”

A brisa salgada bagunçou os fios lisos e negros que caíam sobre a metade livre do rosto e trouxe o aroma característico do mar. Estavam novamente em Tortuga com seus sons, cores e cheiros já tão conhecidos.

O horizonte pintava-se em um melancólico pôr do sol avermelhado envolto por riscos tão dourados quanto as moedas que sumiam e surgiam em seus dedos.

O negro dos olhos recebia o cintilar do ouro e o deixava ainda mais misterioso no conjunto de capuz, máscara e as roupas escuras e pesadas. Era aquela mania de corvo que o acompanhava desde sempre, mas observar o ouro o fazia refletir sobre acontecimentos recentes.

Aquela era a primeira parada após Náufrago e os ânimos necessitavam de serem recuperados. Os tripulantes buscavam por suas recompensas na famosa ilha onde a pirataria era livre e a tripulação teria tempo para descansar do mar e buscar alento no rum, nos jogos de azar e nos braços de alguma meretriz.

Todos precisavam apagar de suas memórias o cenário que os acompanhou dias atrás.

Estevan teria mais silêncio para refletir na casa onde vivia quando aportavam na ilha. Ainda refletia sobre cabelos rubros e olhos azuis. Sobre um genuíno sorriso e ar inocente. Sobre um par de braços que rodeou sua cintura no momento em que colocou os pés na prancha de embarque.

Sua capa tornou-se um aquecido refúgio e seu corpo foi apertado de maneira desajeitada e inesperada.

Desde o dia em que pagou por aquele garoto, o que tinha agora era um parceiro para suas vigílias noturnas pelo Sombra da Noite, o navio o qual fazia parte como sendo o músico e algo além. O ruivo o acompanhava pelo convés e corredores da embarcação, taciturno e com os grandes olhos atentos a tudo ao redor. Não falava, não se permitia aproximação, mas seguia em seu encalço e parava para ouvi-lo tocar e cantar.

Ele não precisava usar de palavras para que soubesse que ele era grato por tê-lo comprado naquele leilão. Por ter comprado sua liberdade. Era exatamente a isso que se resumia aquela compra; liberdade. O menino seguia sem amarras ou grilhões, sem castigos ou deveres e sem liberdade limitada, mas ao que parecia, o ruivo preferia acompanhá-lo como uma sombra.

E agora havia se aproximado a ponto de tocá-lo e demonstrar confiança. Sua mão então foi parar nas costas da figura sob suas asas; apenas um breve conforto no toque sobre o tecido negro antes de caminhar rumo ao caís e receber as boas vindas da ilha tartaruga.

No entanto, os passos dos dois pares de pés foram desajeitados e o aperto em sua cintura não diminuía. A cada segundo que se passava, mais tremia aquele corpo magro.

Eles jamais conversavam, jamais haviam trocado palavra alguma, mas os olhos azuis eram grandes e expressivos. Eles diziam tudo o que a voz tímida não queria falar e o medo de pisar em terra firme novamente estava explícito a cada passo.

Estevan sabia. Por isso, esperou.

Esperou alguns momentos antes de saírem da superfície de madeira e todos os que passaram trombaram neles com legítimo estranhamento, mas nenhum dos dois se moveu. Os olhos, inocentes como o céu tocado pelos primeiros raios de sol, estavam fixos no mar.

Era o mar…

A única liberdade que conhecia.

O balanço do navio, a voz baixa do homem que o salvou, as canções que ele entoava para lhe fazer dormir, o olhar sereno e o tilintar das moedas de ouro que sempre o acompanhava. Era o cheiro acolhedor de algo que, apesar de não saber identificar o que era, se tornara o primeiro cheiro bom que havia sentido.

Eram também as roupas que lhe foram presenteadas e o queijo que roubava da cozinha quando sentia fome. Jamais gritavam, não consigo. Jamais o tocavam e não se irritavam quando falavam e não recebiam respostas. Até havia ganhado um nome peculiar.

Era liberdade, era tudo liberdade.

E liberdade era algo bom, o dono, o capitão, daquele barquinho, tinha explicado que essa liberdade não seria tirada de si nunca mais.

Os dedos magros, ainda fechados nas vestes do homem, puxaram um pouco, chamando a atenção que sempre esteve voltada para ele. Era tão calado... O ruivo gostava disso.

Mouse gostava dele. Muito. Muito, muito, muito.

Porque ele entendia o medo dentro de seus olhos e não pedia sua voz em troca.

Eram assim, silenciosos, mas companheiros.

Estevan apreciava a companhia do nomeado Mouse e o brilho que os olhos dele ganhavam quando sua canção envolvia o ar. Tocaria para ele mais tarde, antes, precisavam avançar pelas ruas de pedra até a modesta construção do outro lado da ilha, mas quis prolongar um pouco do caminho.

Quando chegaram em casa, as tímidas estrelas estendiam-se pelo manto negro e o brilho sútil de uma meia lua os acompanhou pelo caminho. A escuridão dos cômodos ganhou o bruxulear das chamas que acenderam-se tão logo passaram pela porta, tremulando e jogando sombras às paredes. Não era como o aconchego de um verdadeiro lar, mas era seguro e consideravelmente limpo.

Os dedos enluvados retiraram a capa negra que foi posta em um dos ganchos ao lado da porta e o jovem de cabeleira ruiva se revelou no brilho aquecido das velas. Foi sem pensar e em um sutil erguer da mão, que o tocou nos cabelos cortados de maneira desigual, um rápido contato antes de se afastar para abrir as cortinas pesadas da janela. Era o que podia fazer por ele, em retribuição a tudo o que Mouse já havia passado e por ele também; pela calma que sempre conquistava quando estavam juntos.

A noite estava mais tímida que o de costume, cintilando em suaves reflexos prateados. Estevan não irradiava luz, mas era como aquela noite, mais escuro e retraído. Os olhos atentos decorando as constelações, desenhos muito parecidos com o pontilhado no rosto de certo ruivo.

"Estevan…"

A voz tímida que testava seu nome soou pelo ambiente silencioso e o corvo parou onde estava.

Não conhecia aquela voz.

Quando se virou, depressa, acabou encontrando um rosto sorridente e olhos muito curiosos. Os dedos apertavam os lados das calças muito largas que vestia e os ombros estavam escolhidos como se tivesse sido pego fazendo alguma travessura. Era um sorriso largo, que deixava o rosto sardento diferente e o nariz fino enrugado.

"Estevan!" Ele repetiu, mais seguro que antes. "Frio..." E não demorou para que os pés rápidos o levassem para perto do músico outra vez, puxando a camisa negra que ele vestia de maneira desajeitada. "E eu quero queijo."

Como em tempos não acontecia, a surpresa coroou as faces do mais velho e um curvar de lábios se fez presente momentos após ouvir aquele agradável som. Podia se acostumar àquela voz, como já havia se acostumado a presença singular do ratinho.

“Para o frio.” Falou ao ajeitar o casaco que vestia sobre os ombros do ruivo. As feições logo se tornaram pensativas. “Teremos queijo para o jantar, ratón.” Acabou por decidir e os dedos novamente correram pelos fios vermelhos. Queria que aquele sorriso perdurasse pelo fim da noite e pelos outros dias também.

Era por isso que se entendiam. E também foi por isso que Mouse decidiu deixar a voz escapar. De alguma forma, aquele homem lhe deu vontade de falar e falar sem nunca parar, apenas para ver aquele sorriso de novo.

Aquela foi a primeira vez que se falaram e o assunto não poderia ser mais singular e combinar tanto com ambos.

 


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Notas finais do capítulo

Vocês GOSTARAM?

Contem aqui pras tias se isso não 'tá uma fofura? Esses nenéns ainda vão matar a gente ♥

Deixem suas opiniões, isso nos motiva a continuar e adoramos saber o que acharam dos capítulos!

Bjuss galera e até a semana que vem O/



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