No começo elas se odiavam, quer dizer Kitty achava que vampira a odiava, talvez fosse pela forma que se conheceram naquela noite em que Kitty pulou sobre ela para prende-la no chão. Em retrospectiva ela precisava admitir que a ação fora estupida e impensada, ela queria tanto provar o seu valor na equipe que acabou cometendo aquele erro terrível! Quando descobriu que Vampira tinha decidido fazer parte da irmandade ela sentiu-se extremamente culpada por tal coisa: Talvez se não tivesse se metido Kurt fosse capaz de trazer a jovem estranha para seu lado.

       Quando Vampira finalmente se uniu a eles ela sentiu-se muito feliz!  Mas bastou poucos dias para a Pryde perceber o desprezo que a jovem de cabelos vermelhos sentia por si, aquilo foi um verdadeiro banho de água gelada mas Kitty estava decidida a não desistir da amizade que queria ter com Vampira e passou a fazer de tudo para se aproximar da garota mais velha.

       Então talvez não tenha sido uma boa ideia implorar ao Professor que colocassem-nas juntas num mesmo quarto, Vampira odiou aquilo. Mas Kitty ainda assim o fez, e gostou de passar mais tempo com a outra mesmo que em silêncio.

       Kitty nunca esqueceria aquele dia, a primeira conversa que tiveram de fato-antes Vampira nunca trocara mais que ‘’ oi’’ e ‘’ me passa o secador’’ ou coisas assim com ela apesar de todos os seus esforços- aconteceu em tempos confusos e estranhos para todos da mansão, coisas estranhas aconteciam o tempo todo e os hormônios pareciam de fato a flor da pele até nela.

       Kitty saiu mais cedo do colégio, sentia-se mal e achou por bem ir para casa afinal não tinha muito o que fazer ali, achava que descansar um pouco poderia lhe fazer bem mas não estava nem de longe preparada para as descobertas daquele dia.

       Kitty chegou a mansão em reconstrução e foi direto a seu quarto, ela ouviu um som estranho ainda do lado de fora. Quase todos estavam na escola e ela dividia quarto com Vampira, não fazia sentido a menina estar em casa naquele horário...e aquilo parecia muito com choro! Kitty não bateu, apenas entrou. Talvez fosse um erro, mas ainda assim parecia certo.

       _Vampira? Você está ai?

Perguntou já do lado de dentro largando a mochila no chão perto da porta, as duas camas postas no mesmo rumo com bastante espaço entre elas estavam ali, como de costume, a de Kitty com uma bela colcha rosa Pink com pequenos unicórnios desenhados perfeitamente arrumada, o travesseiro com a capa da mesma com e seu ursinho de pelúcia sobre o mesmo. A cama de Vampira tinha uma colcha simples e preta apenas e falando no diabo, a garota ruiva estava jogada sobre a cama de bruços chorando, quando ouviu a voz da castanha por um instante segurou o choro, mas não conseguiu e voltou a soltá-lo ainda mais alto sem responder ao que a menor havia dito.

       _Vampira...o que houve?

Perguntou se aproximando de forma hesitante e ficando de joelhos perto da cama, não queria invadir demais o espaço pessoal da outra

—Gambit e-ele...e-eu

Vampira dizia enquanto se ajeitava na cama agora sentando-se e abraçando o travesseiro, Kitty nunca tinha visto a garota mais velha tão fragil e aquilo apertou seu coração. Subiu na cama e sentou-se ao lado dela com uma pequena distância entre ambas, ela sabia como a outra era sobre contato físico.

—O que aquele babaca fez? Eu juro que se ele te forçou a alguma coisa eu vou quebra-lo em dois!

Falou em tom irritado fazendo sua melhor cara de malvada, não achou que alguém realmente conseguiria lhe temer mas ela faria o que fosse preciso para proteger aquela mulher.

—B-beijou a W-wanda na minha frente...ele...ele disse que só estava me usando e-e amava ela...

A garota falava gaguejando e a cada palavra que deixava seus lábios Kitty sentia seu sangue ferver

—O que? Como assim?! O que mais esse maldito disse?!

—Q-que ninguém iria gostar de uma aberração como eu, porque sequer posso ser tocada. Q-Que ele só queria meus poderes porque são úteis pro mestre dele, mas me acha uma completa sem sal....

Kitty queria dizer que foi um acidente mas não foi, ela puxou a outra garota para seu colo consciente do que estava fazendo e dos riscos que corria em relação aos poderes da outra mutante e a reação dela. Haviam as roupas no caminho das peles, haviam os braços de Kitty fortemente colocados ao redor do corpo de Vampira, a ajeitando em seu colo, descansando sua cabeça sobre a da outra e tentando acalma-la acariciando os braços cobertos com cuidado. Ela percebeu que não tinha tanto medo assim da outra. E Vampira não se afastou.

—Eu sempre achei ele um completo babacas com todo aquele jeitão de cara mal! Você consegue alguém melhor, ele nunca te mereceu!

Eram os clichês mais sinceros que Kitty já dissera em sua vida, ela sempre havia pensado aquilo.

—M-mas e se ele estiver certo e eu for uma sem sal? E quem iria querer estar com uma pessoa que não pode tocar?

Vampira murmurou baixo meio chorosa se aconchegando mais a Kitty.

—Ele não está, você é linda Vampira! Uma das garotas mais lindas daqui da mansão e ainda vão chover garotos sobre você, vamos encontrar uma forma de conter melhor os seus poderes...sei que vamos...

Ela queria ter respondido, naquela época, a pergunta sobre quem gostaria de estar com alguém que não pode tocar. Kitty Pryde gostaria de ser a garota de Vampira. Ela gostaria...mas achava que jamais poderia ser sequer amiga da outra mulher...

Kitty se lembrava bem daquela primeira conversa e de como passou horas acalmando a garota mais velha até caírem no sono abraçadas, como depois daquele dia tudo começou a mudar, como elas foram de duas pessoas que se odiavam, ou ao menos era o que todos pensavam, a melhores amigas.

Kitty se lembrava daquela primeira vez...mas era apenas um começo de todas as coisas sobre elas que Kitty Pryde jamais se esqueceria.