Aula de culinária é, com toda certeza, a aula que eu mais gosto e é algo em que sou muito boa, principalmente em se tratando de doces. Lógico que o trabalho dos meus pais têm total influência nesse meu gosto em particular, pois sempre que posso ajudo os dois lá na padaria.

— Muito bem classe, hoje vou escolher novas duplas para trabalharem juntos. – Ao ouvir a professora a única coisa que pode fazer é cruzar os dedos e torcer com todas as minhas forças ocultas para não ser o par da Chloé.

Do meu lado podia ouvir Alya sussurrando algo bastante parecido com o que passava pelos meus pensamentos e ao olhar rapidamente pela sala dava pra perceber que não éramos as únicas tensas com a possibilidade de ser o par da loira.

— Adrien é Marinette. — Num momento eu fiquei completamente aliviada, mas no outro estava completamente tensa de novo.

— E agora o que eu faço, Alya? – disse discretamente quando percebi que Adrien se aproxima da nossa bancada.

— Apenas aja naturalmente, Mari. Você é boa nisso.

— Oi, meninas – cumprimentou chegando ao nosso lado e no mesmo instante minhas mãos pareciam tremer levemente.

— Alya e Nino – continuou a professora.

— Bom trabalho pra vocês. – Minha melhor amiga saiu em direção ao outro garoto, mas não sem antes me lançar uma piscada de olho.

— Tudo bem, Marinette? – Perguntou Adrien.

— Claro. – Engoli em seco. — Só um pouco nervosa. – Consegui acrescentar.

Adrien sorriu sem jeito e eu tive vontade de derreter como a manteiga que estava em cima do balcão.

— Na verdade eu também estou um pouco nervoso, sabe? – Ele fez uma breve pausa enquanto me observava e eu fiquei imaginando o que poderia deixá-lo naquele estado de espírito. — Essa vai ser a primeira vez que eu cozinho algo na vida, então espero conseguir ajudar em algo. – Adrien continuava com um sorriso tímido no rosto e suas mãos passeavam pelos cabelos, desalinhando-os próximos a nuca.

— É mais fácil do que parece. – Tentei incentivá-lo.

— Agora que todos estão com seus pares vou explicar como vai ser a aula de hoje. – Todos voltaram a atenção para a professora. — Como é a primeira aula de culinária e vocês estão com novos parceiros vou deixá-los livres para escolher uma receita que os agrade, mas no final irei provar todas as receitas, por isso espero que todo mundo se esforce para realizar um bom prato. Caso precisem de ajuda estarei a disposição. — A professora se acomodou em uma das bancadas e parecia que iria cozinhar algo junto com a gente.

— Eu me nego a colocar as mãos em qualquer coisa desse lugar. – Todos ouviam a Chloé resmungar. — Imagina se vou me rebaixar a uma relés cozinheira. – Senti pena do Nathaniel, ele teria que fazer tudo sozinho.

Mas voltando para minha própria bancada eu percebo que Adrien está ansioso para começar, diferente da Chloé, ele não parecia ter medo de se sujar.

— Então como é a sua primeira vez a gente podia começar com algo simples – sugeri e fiquei impressionada comigo mesma, conseguir falar uma frase completa sem me atrapalhar ao lado dele não era algo fácil.

— Tudo bem. Você tem algo em mente? – Ele parou e observou os ingredientes na bancada.

— A gente pode fazer um bolo. – Parei um momento observando o que tínhamos de ingredientes. — Você gosta de bolo de chocolate?

— Eu adoro. O que a gente faz primeiro? – Ele estava mesmo empolgado com tudo aquilo.

— Primeiro vamos usar a batedeira e bater as claras em neve. – Ele me olhou como se não tivesse entendido nada do que eu falei e eu me assustei achando que tinha dito alguma coisa sem sentido, mas parei e pensei sobre o que eu tinha acabado de falar e foi aí que eu percebi o que Adrien não havia entendido. — Você não sabe o que são claras em neve?

— Não – respondeu constrangido.

— Tudo bem, eu vou te ensinar. – Separei os ovos e duas tigelas para começar a receita do nosso bolo. — Primeiro temos que separar a clara da gema, dessa forma. — Mostrei a ele como quebrar e separar o ovo. — Quer tentar? – perguntei estendendo um dos ovos para ele.

Adrien acenou com a cabeça e pegou o ovo da minha mão, repetindo o que eu tinha acabado de lhe mostrar.

— Até que foi fácil – concluiu.

— Tem mais dois ovos para separar. – O garoto sorriu de forma infantil e logo já estava separando os ovos restantes, parecia uma criança brincando de algo novo.

— Certo, agora a gente vai bater as claras até ficarem branquinhas e bem firmes. É isso que a gente chama de clara em neve. – Adrien estava bastante atento enquanto batia as claras e mexia suavemente o bowl da batedeira.

— Olha aqui, Marinette. Tá bom assim? – Dei uma rápida olhada na mistura.

— Tem que bater um pouco mais e deixar mais firme.

Enquanto ele estava concentrado batendo as claras deixei os outros ingredientes separados para facilitar o trabalho.

— Agora já está bom. – Adrien parou a batedeira e me olhava esperando novas instruções. — Vamos tirar essa tigela e colocar a outra com as gemas. Eu já deixei separado a manteiga e o açúcar, pode colocar e bater até a manteiga ficar esbranquiçada.

Ele concordou, colocou os ingredientes e voltou a bater todo feliz. Meu coração só faltava saltar pela boca, mas eu também estava muito contente com tudo aquilo.

Enquanto Adrien batia os novos ingredientes olhei rapidamente para a bancada da Alya e como se ela lesse meus pensamentos também olhou pra mim e fez sinal de positivo com as mãos e eu acenei de volta com um largo sorriso.

— Marinette, vem cá. Desse jeito? – perguntou.

— Aham. Agora tem que colocar a farinha, o leite e o chocolate. Depois tem que colocar as claras e o fermento. — olhei em volta e não encontrei e enquanto me abaixei para procurar não percebi que Adrien fez uma bela armadilha para nós dois.

— Adrien… – assim que levantei ele ligou a batedeira no máximo depois de ter colocado todos os ingredientes que eu tinha mencionado de uma vez.

Corri para desligar a batedeira, mas o estrago já havia sido feito. Quando olhei para ele, ele estava todo respingado de farinha, leite e chocolate e imediatamente cai na gargalhada, Adrien também ria curvado com as mãos na barriga, afinal a minha situação não deveria estar muito diferente da dele.

— A boa notícia é que achei o fermento, a má notícia é que alguém pode nos confundir com o bolo – informei enquanto tentava parar de rir.

Alguns minutos depois de muita risada e uma tentativa fracassada de retirar toda aquela sujeira com lenços de papel, voltamos a nos concentrar na preparação do bolo. Ajudei o Adrien a bater os últimos ingredientes que iriam na batedeira rapidamente.

— A farinha não pode bater demais, por causa do glúten que quando é batido por muito tempo deixa a massa pesada e nós queremos um bolo bem leve e fofinho, certo?

Ele concordou com a cabeça esperando os próximos passos.

— Nessa altura a gente já pode ligar o forno e deixar pré aquecido. — Adrien fez confirme falei. — Agora vamos misturar as claras e o fermento. – disse despejando as claras junto ao restante da massa. — Com movimentos suaves você vai pegar a massa do fundo e jogar por cima da clara, isso vai fazer com que o bolo fique aerado e consequentemente mais fofinho. – mostrei os movimentos que ele deveria fazer e devolvi a tigela. — Não pode esquecer de untar e enfarinhar a assadeira, assim o bolo não gruda e fica mais fácil para desenformar. — Esse passo eu fiz enquanto ele mexia a massa e logo em seguida despejamos a massa na forma e levamos ao forno.

— Vai levar de 35 à 40 minutos para assar – finalizei a explicação.

— Então acho que temos um tempo pra limpar essa bagunça que eu fiz e ainda limpar a nossa própria cara – comentou sem jeito pelo tanto de sujeira espalhada.

Depois de limpar tudo e tirar o bolo do forno, sentamos lado a lado para comer um pedaço e foi então que eu percebi o quanto tinha sido fácil manter um diálogo com Adrien. Um diálogo em que eu consegui me expressar sem gaguejar ou embolar as palavras, esse, com toda certeza, estava sendo o melhor dia da minha vida até o presente momento.