Black Dog escrita por Clarinna


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fanfic sobre o Sirius, meus anzos, espero que se divirtam...
Lembrando que:
Fenerly é um local inventado por mim.
Clara é dois meses mais velha que Harry, ela nasceu em 20 de maio.



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Após ver Rabicho cortar o dedo mindinho e fugir, deixando-o como culpado não apenas de ter traído seus melhores amigos, mas causado a morte deles e de mais treze pessoas, incluindo Pettigrew, se não houvesse nada a perder, talvez ele tivesse ficado ali, imóvel no meio da rua, tomado pela dor da morte de James e Lily, esperando pelo castigo por ter aconselhado os Potter a escolher Pedro como fiel do segredo, mas havia algo a perder. Sirius foi mais rápido que os guardas de Azkaban e entrou no primeiro beco escuro para se transformar em cão e correr o mais rápido possível para casa.

Durante o caminho ele não olhou para os lados, não ouviu nada, não viu ninguém, apenas seguiu seu caminho, tão veloz que sua patas começaram a esquentar e, quando pisou na grama do jardim de sua casa, as almofadinhas estavam a ponto de entrar em combustão.

Ele se transformou em homem de novo e entrou pela porta da frente como um vendaval, subiu as escadas de dois em dois degraus e parou na frente do primeiro  quarto à direita, onde uma mulher ninava um bebê de uma forma ligeiramente desesperada, com um olhar apavorado, que direcionou a Sirius quando o viu.

— Então? – Arabella Figg questionou com a voz trêmula, ainda não sabia de nada que havia acontecido, nem sequer sobre a queda de Voldemort, só sabia que naquele dia estavam acontecendo muitas coisas.

Figg era um membro da Ordem da Fênix que normalmente não tinha muita ação nessas horas em que combates eram travados, mas ela encontrou algo em que ser útil quando Sirius precisou correr para verificar se Lily e James estavam bem. Desde a morte da mulher de Black, Florence, ele vivia sozinho com Clara, sua filha, um bebê de um ano e poucos meses então, às vezes, Arabella cuidava de Clara para ele poder continuar com suas obrigações de membro. Aquela era uma delas, e a última.

— Voldemort caiu. – Sirius tomou a criança dos braços dela com rapidez – Vá embora, corra o mais rápido que puder e não olhe para trás, eu e Clara faremos o mesmo.

— Mas... O que aconteceu? – ela perguntou enquanto assistia o homem correr pelo quarto, puxar uma grande mala rosa de um armário e passar a alça pelo corpo.

— Você não me escutou? – Sirius gritou e o bebê em seus braços estremeceu – Vá embora! Agora! Dumbledore irá te manter informada!

A mulher se sobressaltou e se retirou do quarto com passos rápidos, ainda aturdida pela atitude dele, e preocupada pela criança, mas resolveu acatar a ordem e procurar Dumbledore ou qualquer outro membro da Ordem.

Sirius vestiu uma capa e desceu as escadas pouco segundos depois de ela ter saído, parando no hall de frente para a porta. Ele olhou para a filha, tinha cabelos negros, olhos amendoados e um sorrisinho de felicidade por ver o pai.

— Você não merece nada disso. – ele sussurrou com a voz embargada.

Então fechou os olhos e se concentrou no único lugar que ele sabia que poderiam ir e não seriam encontrados. O lugar para o qual ele achou que nunca mais voltaria.

Abriu os olhos, viu formas escuras criarem forma do lado de fora da casa pela vidraça da porta, então sentiu o corpo ser puxado e tudo escureceu, só pôde apertar a filha junto de si para que ela não sentisse tanto os efeitos da aparatação.

Sentiu pousar no chão firme de novo e um vento frio tocar seu rosto, abriu os olhos e suspirou. Ele estava olhando para a casa numero 12 do Largo Grimmauld, o lugar melhor protegido de tudo e de todos.

Ao entrar, fez o mínimo de barulho possível, e viu que fez certo, pois sua mãe, Walburga Black, estava dormindo no quadro bem no começo do corredor, se fosse acordada logo por ele seria desastroso. Tentou não pensar onde estava, apenas subiu a escada que levava aos quartos vendo seus pés levantarem poeira.

Sirius sempre pensara na possibilidade de precisar fugir com Clara se fosse necessário, mas nunca para o Largo Grimmauld, sempre imaginou que seria para a casa dos Potter ou de qualquer outra pessoa da Ordem, então logo depois da morte de Florence ele havia juntado vários pertences da filha e colocado numa mala para facilitar a fuga, e realmente facilitou.

Precisou arrancar todas as cobertas e lençóis cobertos de poeira de sua cama no antigo quarto, só assim poderia colocar Clara para dormir com alguma dignidade. Ele se deitou ao lado dela e deixou que ela brincasse com sua barba e seu cabelo até pegar no sono.

— Você é tão quietinha. – ele aproximou o rosto dela para sentir mais o cheiro de bebê do que o cheiro de poeira do ambiente – Deve ter puxado a sua mãe.

Clara murmurou durante o sono e Sirius ergueu os olhos, atento. Não imaginava que conseguiria dormir tão cedo, depois de tudo aquilo.

Estava tentando manter a calma, mas ele estava em pânico por dentro, olhando para aquela casa mofada e vazia há anos, se perguntando como, por Merlim, ele poderia criar um bebê ali, completamente sozinho. Ao mesmo tempo, sua cabeça estava nublada e seu coração apertado pela falta dos amigos, que nunca mais veria, e a preocupação pelo afilhado Harry, de quem ele sequer sabia o paradeiro.

— Lily me disse que sou um bom pai para você, sabe. – ele suspirou e seus olhos se encheram de lágrimas – Nunca serei como a mamãe, mas nós vamos conseguir.

Antes que pudesse se conter, seu corpo foi sacudido por soluços incontroláveis e, se forçando a parar para não acordar o bebê, ele simplesmente ficou tremendo silenciosamente, até adormecer.

Não esperava ser acordado pelo barulho de algo caindo no chão ao lado da cama, afinal, pensava que só havia ele e Clara, uma vez que só ele conhecia a localização da casa por ser o herdeiro legítimo dela. Foi com surpresa que notou a presença de um velho elfo doméstico que se encolheu e deu vários passos para trás ao perceber que tinha sido descoberto.

— Fique longe da minha filha! – Sirius ordenou, então pulou para fora da cama e pôde ver o elfo mais de perto, o bastante para o reconhecer – Espere aí... Monstro?

— Como ousa invadir a nobre casa dos Black? Seu sujeito imundo e essa criança nojenta... – o elfo começou a praguejar com ira nos olhos.

— Cale a boca, seu verme. Sou eu, Sirius, sou “nobre senhor”. – ele disse com sarcasmo.

— Sirius Black? – o elfo se aproximou e estreitou os olhos enrugados para ele – Meu Senhor! – ele se curvou subitamente – Traidor imundo, como ousa voltar para mansão de seus pais depois de manchar o nome da família com seu sangue sujo...

— Eu estou ouvindo, Monstro. – Sirius respondeu.

— Monstro poderia saber o motivo de seu retorno? – perguntou, tentando soar educado.

— Não, não é da sua conta. – respondeu – Pensei que já tinha morrido, a essa altura.

— Não senhor, Monstro ficou aqui, mantendo a casa de sua Senhora intacta e honrando o nome dos Black. – respondeu com orgulho.

— Vejo que está intacta mesmo, toneladas de poeira protegendo cada centímetro. – debochou.

Ele se voltou para Clara e viu que ela se mexia na cama, então pegou-a no colo e a aconchegou em seu peito, fazendo Monstro olhá-lo com repulsa. Sirius analisou a situação e pensou em pedir ajuda dele para limpar a casa, porém ele parecia velho a ponto de se desintegrar em um monte de mais poeira a qualquer minuto.

— Escute aqui. – chamou a atenção do elfo – Você obedece a mim, como já sabe, então tenho algumas ordens.

— Sim, senhor. – o elfo se empertigou tentando parecer submisso, mas parecendo mais carrancudo.

— Não quero que chegue perto da minha filha, e nem que fique perambulando no quarto durante a noite. – disse com autoridade – Outra coisa, pode resmungar o quanto quiser, porquê você ficou sozinho por muito tempo, mas fique fora do meu caminho, entendeu?

— Sim, senhor. – ele balançou a cabeça e fez mais reverências – Seu moleque insolente, vergonha para toda a família, desonra para esta casa...

— Que bom que estamos de acordo. – Sirius observou a filha enrugar a testa e fazer menção de choro – Tenho um trabalho para você.

Mais ou menos meia hora mais tarde, Monstro retornou à Mansão Black depois de sair numa missão até a casa que Sirius abandonara em Fenerly, próximo de Godrics Hollow, para buscar leite e comida. Logo Clara estava agarrada em uma mamadeira de plástico enquanto Sirius comia um bife praticamente cru.

— Obrigada, Monstro. – ele disse com a boca cheia – Isso seria uma tarefa difícil sem você.

— Vivo para servi-lo, senhor. – ele fez outra reverência pequena, de mal grado, e saiu da cozinha se arrastando.

Os dias seguintes Sirius usou, principalmente, para conseguir mais comida – ele se transformava em cão e ia até mercados próximos, ou caçava algum animal não muito grande - e limpar a casa enquanto Clara dormia ou encontrava alguma coisa para brincar. Às vezes, ele se transformava em cão ou fazia magia apenas com intuito de diverti-la, pois sabia o quanto era difícil ficar preso naquela casa, sem estímulo algum de alegria. Monstro os detestava, mas raramente não estava no mesmo cômodo, supervisionando a limpeza de Sirius, tentando impedir que ele jogasse as coisas de sua senhora no lixo, ou observando o bebê com olhos cruéis, sem deixar de chamar a atenção de seu senhor quando ela chorava, até porquê a mãe de Sirius também começava a gritar no quadro quando isso acontecia e ele precisava correr e tampa-lo com um pano grosso.

— A criança imunda está berrando. – ele informava com ódio como se Sirius não fosse capaz de ouvi-la.

— Mas é claro que está, Monstro, até eu quero chorar quando olho para você. – o outro respondia.

Com uma quantidade imensa de trabalho para fazer o tempo todo, Sirius não parava para pensar no futuro e em suas perdas, só no que estava acontecendo no momento, mas eventualmente, quando Clara dormia e Monstro se escondia em algum lugar da casa, ficava sozinho perto da lareira e se permitia sentir dor e medo. Havia manhãs em que ele roubava o jornal de alguma lixeira ou porta para se informar do que estava acontecendo após a derrota de Voldemort, concluindo que tudo estava bem para todos, menos para ele e provavelmente para o pequeno e órfão Harry Potter,  quem ele jurou proteger e cuidar como seu próprio filho.

Não demorou muito até que esses pensamentos tomaram muito espaço em sua cabeça e ele começou a sair para passeios mais longos, Clara começou a chorar com mais frequência e, a medida que crescia, se tornar mais resistente aos apelos do pai para não engatinhar pela casa e mexer nos objetos e móveis espalhados por ela cheios de encantamentos e magia das trevas. Ele já duvidava da possibilidade de que tudo desse certo.

Até que um dia, exausto, mas com medo de ter pesadelos ao dormir, ele estava limpando um armário no terceiro andar que ficava se sacudindo o tempo todo, com certeza era um bicho papão, e ele se sentiu páreo para enfrentá-lo. Mas, ao libertá-lo, se sentiu mais fraco do que nunca.

O bicho papão rodopiou muitas vezes até parar e incorporar o cadáver de Clara, então o de Florence, e o de Harry, e Monstro, e logo depois o cadáver de um cachorro negro miserável. Sirius caiu de joelhos e as lágrimas escorreram por seu rosto, Clara começou a chorar no andar de cima, mas ele não se moveu.

Lembranças de sua mulher surgiram em sua mente, de como se conheceram no último ano, em Hogwarts, como ele quis odiá-la por ser da Sonserina, como acabou amando-a por ser linda e um ser humano muito melhor que ele, quando eles se juntaram a Ordem da Fênix, quando se casaram no jardim dos fundos de sua casa em Fenerly com a presença de toda a Ordem. Então veio a gravidez e o nascimento de sua filha, e todas as vezes em que ele achou que não seria um bom pai e quis fugir, mas Florence sempre estava ali para dizer que ele era maravilhoso e que eles conseguiriam juntos.

Juntos, essa era a única forma que ele enxergava de criar Clara, até receber a notícia de que Florence tinha sido morta por Comensais da Morte numa missão para Ordem. Ninguém nunca soube dizer quem eram os Comensais, apenas que ela lutou bravamente, mas que eles usaram todas as maldições imperdoáveis e magia das trevas para abatê-la. Florence tinha a alma mais pura que Sirius conhecia, nada poderia corrompê-la.

Entretanto, ele não ficou sozinho nem após sua morte, James e Lily ficaram ao seu lado o tempo todo impedindo-o de correr para longe e uivar por horas encima de algum penhasco, enquanto Harry oferecia distração contínua para Clara não sentir falta da mãe, e todos se surpreenderam como, depois de um tempo, ela conquistou a alegria da casa novamente, e Sirius se concentrou em ser o melhor pai que poderia. Mas ainda tinha amigos antes, ainda tinha aquela casa impregnada com o cheiro de Florence. Agora era só ele: um pai melancólico, seu bebê aborrecido, uma casa mofada e um elfo velho.

 Não tinha como fazer isso sozinho.

— RIDDIKULUS! – ele gritou em meio ao choro, e o bicho papão voltou ao armário.

Na mesma noite, Sirius deu ordem para que Monstro fosse atrás dele caso qualquer coisa acontecesse com Clara.

— Aonde vai o senhor de Monstro? – o elfo perguntou com desconfiança.

— Pedir ajuda a um velho amigo. – o Animago se transformou em cão à porta de entrada e saltou os degraus para a rua, pronto para correr e sentir as patas queimando pela velocidade de novo, pedindo aos céus que Remus Lupin não estivesse morto.


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