Castle escrita por Romanoff Rogers


Capítulo 10
X - Vai ao funeral de quem?




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Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso a experimenta apenas uma vez. - William Shakespeare


 
Bucky

Fechei os olhos, passando as mãos pelos cabelos, e fiquei agarrado a esse ardor por um tempo. Merda, merda. Senti lágrimas se formando em meus olhos também. Meu Deus. Steve não merece isso. Não merece. Ele nem pôde se despedir.  Eu só queria acha-lo e abraça-lo o mais forte que eu puder.

— Onde está o príncipe Steve? - perguntei urgentemente.

— Não voltou de Stark ainda.

É minha vez de encara-la, surpreso. Olhei para Wanda, que me lançou um olhar apreensivo. Meu coração começou a bater mais rápido. Tem algo muito errado.

— A senhorita é a única da realeza aqui, princesa. O controle do castelo nesse momento crítico está nas suas mãos.

Wanda apertou a minha mão mais forte. Além do medo de perder quem ama, liderança é um dos seus piores.

— Você consegue. - falei a Romanoff aterrorizada ao meu lado, assentindo, para não dizer "Você precisa". Ela continuou me olhando, e respirou fundo. - Coragem, meu amor.

Ela assentiu, incapaz de sorrir, e endireitou o corpo.

— É só imitar a Natasha, certo? Me leve até o rei. - ela ordenou, e a mulher rapidamente voltou a andar. Mal notei meus passos, me senti dormente. Eu não sei se Steve se recuperaria desse baque um dia. Vai ser como um tiro no coração do meu melhor amigo, e eu não posso fazer absolutamente nada. Apenas consola-lo.

A porta estava aberta, dentro da sala há apenas três criadas e dois soldados na porta. Aquele cômodo extremamente gelado assumiu um ar de completa morte. Não consegui mais respirar, mas a mão de Wanda me manteve de pé. E acho que foi o mesmo com ela. Assim que chegamos perto, uma criada levantou o lenço branco que cobria seu rosto, revelando o rei. Morto.

Wanda se virou rapidamente, tampando boca em direção a janela, mas eu continuei olhando. Seus olhos imóveis, fechados para sempre, a pele azulada. Sangue inundou seu nariz e sujou todo seu pijama listrado. Abaixei os olhos cheios de lágrimas, engolindo em seco. Me lembro de Joseph Rogers como um pai para mim, sempre tratando-me com um amor imenso que nunca recebi do meu pai. E... Ele amava Steve incondicionalmente, e ele ama o pai da mesma forma. Foi um baque quando a mãe de Steve morreu. Derrubou todo mundo. E agora... Todos amam o rei a minha frente, e por isso vejo lágrimas em cada canto ali.

 


Seguro sua mão fria, morta com ternura e senti as lágrimas escorrerem.

— Vamos tomar conta de Steve. Ele vai ficar bem. Descanse em paz. - murmurei, de olhos fechados. Fiquei assim mais um tempo, sentindo o buraco no estômago se abrir mais.
Depois, levantei. Encarei Wanda, com lágrimas nos olhos e abalada de costas para mim, e me aproximei dela.

— Cubra-o, por favor. - pedi a criada chorando em silêncio, e ela obedeceu no mesmo instante.

— Às suas ordens, princesa. - falei, ela respirou fundo, e saímos do quarto. Ali estavam os conselheiros, membros do conselho de guerra, criadas e generais esperando ordens. Da Wanda.

— O rei de Roger está... morto. Seu povo merece saber. - ela começou, mais firme do que eu esperava, e no mesmo instante senti orgulho dela. - Mas o príncipe Steve não sabe da morte de seu pai. E Hm.. Ninguém vai contar a ele senão eu. Vamos... hastear as bandeiras de luto assim que o príncipe ordenar. Por que o reino está em luto. - a frase sai firme de seus lábios, e as pessoas em silêncio abaixam a cabeça. 

Ela olhou para mim.

— Procurem notícias do paradeiro do príncipe Rogers e da princesa Romanoff.

E saiu andando, desviando de todos no corredor. Assim que saímos de vista, ela relaxou, se sentando no primeiro sofá que vimos.

— Você foi incrível. - comentei, e ela deu de ombros.

— Tenho pavor disso. - ela murmurou.

Tapei os olhos com as mãos, apoiando meu cotovelo no joelho. Aquilo não estava acontecendo. Minha preocupação com Steve e Natasha só aumentava cada vez mais. Ele não gosta de festas, nunca ficaria até de madrugada em uma. Algo estava muito errado.

— Vem cá. - Wanda murmurou, com os olhos vermelhos, e olhei para ela, sinalizando para eu deitar em seu ombro. O fiz, segurando sua mão. - Sinto muito, James.

— Eu também. - respirei fundo. - Eu também.

(...)

Natasha

Foi uma viagem não tão longa, mas chata. Eu odeio viajar, embora não conheça muita gente que gosta. Meu único passatempo é encarar as árvores verdes, bolar estratégias e arrumar um jeito de dizer ao Steve que meu pai colocou Clint para matar seu melhor amigo.

— No que você está pensando? - ele perguntou, e eu mudei meu olhar em direção aos seus olhos. Que coisa. Por que ele me conhece tão bem?

— Meu pai... Mandou Clint matar Bucky. - seus olhos se arregalaram, e Steve se inclinou mais para frente para continuar ouvindo. 

— Como é que é? - ele rosnou, completamente chocado.

— Por causa da Wanda. Ele é o melhor, se quisesse Bucky já estaria morto nesse instante e ninguém acharia o corpo, muito menos descobriria que foi ele.

— Ele não quer isso? Vai desobedecer Volo Romanoff? - Steve ergueu as sobrancelhas, sabendo muito bem o que acontece com quem contraria Volo Romanoff.

— Ele não quer, mas não é exatamente o que vai acontecer. Você precisa proibir a entrada do Clint em Roger, assim ele terá uma chance... - respirei fundo. - Mas talvez ele o mande entrar mesmo assim.

— Tive uma ideia. - ele falou, voltando a analisar as árvores lá fora. Nem perguntei. Mas ele continuou incomodado, tentando me contar alguma coisa que não sabia como.

— O que foi? - eu disse, por fim, fazendo-o respirar fundo.

— Seu pai tirou os grãos de uma vila no norte para punir revoltosos. Eu ouvi uma criada dizendo. - fechei os olhos, único sinal com meu desconforto. Eu sabia que alguma hora ele falaria algo assim.

— Hm... - eu falei, tentando fazer ele prosseguir.

— Eu só me pergunto se você vai seguir o caminho dele. - disse, e eu não fui capaz de encara-lo, e cruzei os braços.

— Não acredito que você disse isso. - murmurei, fechando as mãos para pararem de tremer. - É assim que funciona.

— Daqui a pouco é inverno e aquelas pessoas não vão poder plantar e morrerão de fome. Não é assim que funciona. - ele disse, em tom de acusação e isso me irritou profundamente.

— Eu não sou meu pai, Rogers. - explodi, desejando que ele saísse voando daquela carruagem.

— Eu não disse isso.

— Disse sim.

— Seu pai é um tirano. Você não é assim, Nat. Só não sei se você sabe disso.

Tudo bem, chega. Me afundei mais no banco, encarando o céu nublado como se minha vida dependesse disso. Ficamos em silêncio até chegarmos em Rogers, Steve permaneceu tentando ler o livro que Clint achou, sem sucesso.

E quando chegamos, eu soube. 

A carruagem entrou no castelo e eu vi a expressão no rosto das pessoas. Tristeza. As bandeiras não estavam hasteadas. Ah não. Não, não, não... Minhas mãos começam a tremer, e meu olhar encontrou o rosto de Steve, que estava sem notar o que aconteceu.

Não, droga, ele não pode estar morto. Não assimNão com seu filho fora. Queria agarra-lo e tira-lo dali, protege-lo. Mas ninguém pode proteger Steve da morte. Antes que eu pudesse raciocinar, a porta da carruagem foi aberta. Eu não consegui me mexer, sentindo o ar ficar pesado. Ah, meu Deus.

— Você não vem? - ele perguntou, e eu fechei os olhos, assentindo. Ele desceu na frente, seguido por mim logo atrás, e todos os guardas e criadas ali desceram numa reverência, fingindo não notar nossos ferimentos. As criadas de Romanoff passaram muita maquiagem em nós dois, mas não cobriu absolutamente tudo.

Mas esse definitivamente não é o meu maior problema agora.

Wanda estava lá, Bucky estava lá. De preto. Haviam criadas, os membros do conselho, os generais. Ninguém disse nada, Steve só começou a tremer, com os olhos nos de Bucky. Vi suas mãos tremendo, notou que algo estava errado. E sabia exatamente o que, só precisava ter a absoluta certeza de que seu pai estava morto. Ele não se mexeu, muito menos eu.

 


Bucky conduziu seus passos vacilantes e olhos cheios de lágrimas até ele. E foi quando ele teve sua certeza. Seu rosto assumiu um tom pálido, seus olhos azuis passaram a refletir como um espelho coberto de água. Lágrimas. Tentava com toda sua força não desmoronar. Seus dedos tremiam, ele não respirava.

— Não. - Steve murmurou, com a voz embargada. - Não diz. Por favor.

Fechei os olhos, colocando as mãos unidas na frente da boca.

— Longa vida ao Rei.— Bucky bradou, encarando Steve com a pior expressão do mundo. Uma expressão de morte.

— Longa vida ao Rei.— todos responderam, enquanto Steve estava entrando no mais terrível dos colapsos. Ele estava desmoronando.

E foi quando Steve começou a correr. Vi ele sumir pelo hall e subir as escadas como um raio. Suspirei, abraçando o corpo. Joseph foi pra mim um pai melhor que o meu próprio. Assim como foi para Bucky, Wanda. Tony. Um buraco se abriu em meu peito, um nó se formou em minha garganta.

E nem assim eu consigo chorar.

Wanda veio até mim e me abraçou, com as lágrimas escorrendo devagar. Ela as limpou rapidamente, se separando de mim. Abracei Bucky também. Nada importava agora.

— O que infernos aconteceu com vocês? - ela perguntou, analisando meu rosto machucado.

— Guerra. - respondi, e a expressão dos dois ficou séria. Selada. Quebrada. Conhecemos a guerra como um velho irmão. - Agora, com licença, tenho um noivo para consolar.

(...)

Eu sabia onde ele estava. Todos sabiam, tanto que ninguém passou naquele corredor frio. Encostado na porta, encarando fixamente a parede a sua frente. Sem derrubar uma lágrima. Elas estavam presas, congeladas em seus olhos azuis. E as mãos juntas nas costas.

Eu não sou a melhor pessoa para consolar, mas conheço Steve. Ele não me olhou quando me aproximei e me coloquei apoiada na parede ao seu lado. Sei que ele vai falar quando quiser.

— Eu não consegui entrar. - ele murmurou, e devagar mexi a cabeça para encara-lo. - Não tenho coragem nem de entrar no quarto, eu sou um covarde.

Uma lágrima caiu, mas ele logo a limpou com urgência.

— Você não precisa fazer isso, Steve.

— Não posso abandona-lo. - ele falou, e percebi que o controle se esvaia de suas mãos como água. Logo não sobraria nada.

— Você não vai. - pela primeira vez ele muda a direção de seu olhar vermelho e o para bem nos meus olhos. Eu havia esquecido o quanto odiava ver Steve chorando. Era melhor levar um tiro.

— Eu preciso fazer isso. - disse, e assenti, segurando sua mão gelada e tremendo, e devagar entramos no quarto. Senti ele recuar. Andar de novo. Recuar. Mas sempre com coragem e apertando minha mão mais forte.

O quarto estava escuro, iluminado só pela luz que vem da porta. Gelado. Morto. Seus dedos tremendo foram lentamente em direção ao lençol, lentamente tirando-o do seu rosto. E quando o fez, ele abaixou a cabeça, soltando um murmúrio de dor terrível, fechando os olhos. Isso fez lágrimas escorrerem, quentes e velozes. Não o tocou, não abriu os olhos novamente, apenas se virou, largando minha mão, e começou a andar para fora. Cada vez mais rápido. Desmoronando.

Tampei o rosto de Joseph Rogers novamente, sem pressa. Não iria a lugar nenhum mesmo. 

— Ah, Joseph. - murmurei, completamente devastada.

O deixei quando saí e Steve  já entrava em seu quarto, deixando a porta aberta, sinal que eu podia segui-lo.Entrei e a fechei, e abracei Steve. Senti seu corpo forte desmoronar em meus braços, ficar frágil num movimento. Minhas mãos acariciaram duas costas devagar, sentindo soluços que passaram a virar pânico. Ele estava completamente aterrorizado. E eu com o coração partido

Depois de alguns minutos soluçando descontroladamente, rapidamente ele se ergueu, me soltando e limpou as lágrimas, deixando só as olhos e manchas vermelhos. Devagar, seus passos foram até a varanda na janela e ele se apoiou lá, olhando para baixo. O deixei pensar sozinho por um tempo, e me sentei na cama, encolhendo meu vestido preto de seda fino. Pelo menos já estava vestida para a ocasião. Os comentários sarcásticos de Wanda faziam sentido agora, e por isso ela não diria "está indo ao funeral de quem?" hoje.

Eu me deitei encolhida na cama, fitando-o triste. Ele limpava as lágrimas, tentando se ordenar a parar de chorar. Mas não conseguia. Depois de muitos minutos Steve se dei ao meu lado, olhando para o teto. Devagar, uni a minha a dele, transmitindo um aperto suave.

— Eu estou aqui okay? - eu falei, e Steve assentiu lentamente. Seus olhos estavam tão vermelhos que o tom se misturou ao azul e quase virou roxo. - E nunca vou embora.

Steve apertou minha mão mais forte, fechando os olhos.

 

 


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