Entre o amor e o ódio escrita por Mel Armstrong


Capítulo 5
Capítulo 4: Âmbar e verdes: cores que não se misturam


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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                A cor dos olhos é caracterizada por ser uma herança genética que se assume particularmente como um caso de interação gênica denominada Herança Quantitativa. Também chamada de Poligenia, essa variação ocorre devido à atuação de diversos pares de genes para a definição final de apenas uma característica. Em relação aos olhos, essa variação acontece através da produção de proteínas que delimitam a deposição de melanina nas estruturas. Na realidade, a “cor dos olhos” que chamamos é primariamente a “cor da íris”, pois as demais regiões dos glóbulos oculares são brancas ou transparentes.

                Assim sendo, a variável de cores que encontramos na íris de todos os habitantes da terra se associam a três elementos principais: a quantidade de melanina depositada no epitélio (a parte mais a fundo dos olhos, ainda na íris), no estroma (parte frontal) e a sua densidade. Se houver uma grande quantidade de melanina em relação aos demais pigmentos que formam a coloração, os olhos serão negros ou castanhos. Caso haja pouca quantidade, os olhos serão azuis.

                O Âmbar é uma cor laranja-amarelado que recebeu o nome de um material conhecido como Âmbar Báltico, uma resina sólida fossilizada de árvores de 50 milhões de anos – utilizada para inúmeras funções, especialmente como pedras ornamentais. Apesar de ser mais comumente chamada de “cor-de-mel” – o que é uma similaridade, não uma igualdade -, olhos com tal cor existem em todo o mundo, apesar de serem muitos raros. Eles se originam da deposição de uma pequena porção do pigmento Lipocromo no estroma. Esse pigmento insolúvel indica sinais de lesão, porém não é nocivo às células. Traços como esses também estão presentes nos olhos verdes.

                - Que merda você pensa que está fazendo?! – A voz rouca de Soren Craig ecoou pelo ambiente impecavelmente limpo e lustroso da empresa Dalton&Blake.

                Devido ao ataque direto do belíssimo homem à sua frente, Christine manteve-se impassível, estagnada sob os olhos amarelados, apenas esperando o próximo passo daquele que um dia ela jurou amar independentemente das dificuldades. No entanto, com o silêncio profundo que se seguiu, ela lhe dirigiu a palavra secamente, tratando-o com frieza:

                - Há quanto tempo, Soren. – Sorriu falsamente. – Admito que eu fiquei muito surpresa ao encontrá-lo naquela sala de reuniões e, principalmente, muito magoada por você de fato não me reconhecer, mesmo com todos os anos que se passaram. Eu não-

                - Chega de jogos, Christine! – Ele interrompeu-me com fúria. Sua face não demonstrava o quão raivoso ele se encontrava (verdadeiramente, não havia nada naquele rosto esculpido), porém todos os seus sentimentos estavam nítidos naqueles lagos dourados que eram os seus olhos. – Me diga o que você quer. Rápido.

                Imóvel no corredor da empresa, sob o piso laminado de marfim pérola, Soren se destacava diante de toda a decoração clara que havia ao redor. Trajado com um terno Dolce&Gabbana azul marinho e um sapato social lustroso, o empresário carregava consigo uma aura de impessoalidade e arrogância que a irritavam demasiadamente.

                - O que eu quero? – Perguntei cínica. “Como ele pode me perguntar isso? Soren, quantas decepções eu já tive com você? Não aumente a sua cota ainda mais com perguntas tão idiotas. ” – Ora, Soren, pare de achar que tudo se trata de você, não somos tão jovens para tal. Cresça! – Suspirei resignada. – Agora, se me der licença, eu tenho mais o que fazer.

                - Nem ouse me dar as costas e ir andando, Christine! – Ele se aproximou velozmente. Com tal movimento, tudo se moveu igualmente veloz. Mason, que estava quieto ao meu lado, tomou a minha frente e permaneceu sólido, como uma enorme muralha, encarando o outro seriamente. Olhos castanhos com âmbar.

                 Surpresa por tê-lo esquecido, Christine voltou-se para Mason, notando seus nós dos dedos esbranquiçados, sobre os braços cruzados, diante da força que este fazia para conter-se. Jamais havia o visto daquela forma, o que a deixou perturbada quanto a ocasião. Não gostaria que houvesse tal reação de Mason, pois isso evidenciava sensações e sentimentos das quais ela ainda não estava apta para corresponder. Tal descoberta a deixou desconcertada e a abalou para o que veio a seguir. A postura tensa do amigo/ guarda-costas evidenciava que ele não estava para brincadeiras, e isso ficou ainda mais evidente quando ele a encarou, dizendo:

                - Acho que devíamos ir, srta. Blake. – Sua voz exalava frieza, porém ela podia notar a raiva que ele tentava esconder nas entrelinhas do seu comportamento e, devido a isso, acatou sua “sugestão”, entrando no elevador atrás de ambos.

                Após entrar no elevador e assumir sua posição no cubículo de metal, Christine assistiu Mason adentrar no mesmo local e apertar o botão da garagem para que ambos pudessem partir. Entretanto, antes das portas se fechassem, Soren ainda se intrometeu, ao colocar as mãos a frente da porta – impedindo o movimento destas ao se fecharem -, e continuou:

                - Só me diga, Chris, por que está fazendo tudo isso? Por onde você esteve todos esses anos? Como se manteve isolada e escondida em Nova Iorque? Como conseguiu se tornar a vice-presidente dessa empresa? – Soren permanecia encarando-me enquanto questionava-me. Seus olhos, agora sem qualquer sinal de fúria, se mantiveram obstinados sobre os meus e tentavam me dizer algo do qual eu não fui capaz de desvendar. – Me diga: como?

                Mason tentou tirá-lo do elevador, porém, antes de aproximar-se mais do empresário, Chris o deteve com um simples aceno. Ficara instigada com todos os questionamentos dirigidos a si, seus olhos corriam rapidamente por algum outro detalhe, senão a informação secreta sob os olhos raros. Além disso, apesar de jamais admitir em voz alta, fora bom ouvir seu nome sendo dito mais uma vez por aquela boca. No entanto, precisava cortar todo aquele mal que tentava crescer dentro de si novamente; apenas o que ela queria era a sua vingança e que todo o resto se queimasse, assim como o seu passado, restando apenas cinzas, das quais ela varreria para sempre para debaixo do seu tapete.

                - Não é da sua conta, Soren, mas, entendo que se sinta tão curioso ao meu respeito, afinal dessa vez quem está ganhando... sou eu. – Sorri ao notar que minhas palavras o haviam provocado algo. Meu sorriso se alongou quando este afastou-se e recolheu as mãos, permitindo que as portas metálicas enfim realizassem os movimentos designados – Te vejo na próxima reunião, sr. Craig. Espero que os papéis estejam corretamente assinados. Sua colaboração fará dessa incorporação um grande sucesso. Tenha um bom dia.

                Lentamente as portas deslizaram e, segundos antes de se fecharem, revelaram um olhar âmbar fosco presente num rosto contorcido por algum sentimento que a bela mulher loira não soube solucionar, seguido por um sussurro rouco que arrepiou-lhe os pêlos do corpo: - “Chris...”

                Seus olhos se fecharam com a sensação que lhe percorreu, mas esta durou muito pouco, pois foi afastada violentamente por sua mente e as mágoas que assolavam seu coração. “O que eu estou pensando afinal? Este é o mesmo homem de oito anos atrás, Christine! Não se iluda! ”, gritou mentalmente em resposta à suas reações. “E agora você tem outro assunto para tratar...”  Desviei o meu olhar das portas de metal fechadas à minha frente e encarei o homem parado ao meu lado. Sua expressão permanecia séria, porém sua respiração estava pesada e isso se dava devido às ações que refreara anteriormente. Me compadeci à forma em que ele se encontrava e toquei-o levemente no braço.

                - Mason? – Chamei-o suavemente até observar seus olhos voltarem-se para mim e continuei – Não precisamos do carro agora. Estava pensando em tomar café no Spring’s, você me acompanha? Sei que já está tarde, mas acabei te atrasando hoje de manhã e não tivemos de tempo comer algo. O que você acha? É no fim da rua.

                Suas feições, então fechadas, se suavizaram e seu olhar tornou-se um pouco mais vivo ao dizer: - Só comerei naquele lugar, se você não pedir aqueles malditos waffles que você tem costume de comer. – Seu rosto tornou-se falsamente indignado - Como você se satisfaz com aquelas coisinhas? Por isso você continua tão magra, sabia? Mulheres americanas devem saber apreciar um pouco dos nossos maravilhosos ovos e do bacon.

                Gargalhei em resposta. “Como é bom ter você de volta, Mason. ”

(...)

À medida que a Lua viaja ao redor da Terra ao longo do mês, ela passa por um ciclo de fases, que resultam do fato dela não ser um corpo luminoso, e sim um corpo iluminado pelo Sol. Apesar de não irradiar luz própria, o satélite natural da Terra brilhava sobre o céu pontilhado e repleto de corpos de plasma brilhantes, denominados estrelas, daquela noite de fim de agosto.

Admirando a noite, sob o gélido fluxo de ar que esvoaçava seus fios dourados, Christine – recostada no parapeito da janela de seu quarto – bebericava sua cerveja silenciosamente enquanto deixava-se flutuar, envolvida pelo gosto levemente amargo da bebida. Infelizemnte, toda ambientação e a pose que demonstravam calma e maresia, não passavam de fachada. No seu interior, Chris estava enfurecida e decepcionada com o atraso que seus planos sofreriam com a decisão de Soren.

“- O que você disse, Madison?! Dois meses? Soren exigiu um prazo de 60 dias?! – Chris ergueu-se da cadeira aonde se encontrava e contornou a mesa de vidro do seu escritório. O cômodo estava frio devido ao ar condicionado, porém a vice-presidente sentia-se em chamas. Seus olhos arregalados, mostravam a fúria que transpassava por todos os seus neurônios. Suas unhas, cuidadosamente pintadas de preto, arranhavam nervosamente a calça verde-musgo aveludada do seu terno social. Seus saltos ecoavam ruidosamente sobre o piso laminado da sala, enquanto Christine cruzava a sala em zigue-zage. – Então, Madd, não vai dizer mais nada? Por que você não pressionou-os? Por que deixou que eles ditassem as regras? Que ele ditasse as regras? Por favor, Madison!

— Já se acalmou, Chris? – Madison, que permanecia do mesmo modo em que estava quando anunciara a notícia mais recente sobre a incorporação da impresa, mirou uma irada Christine. Andando calmamente, Madd seguiu, atravessando a sala e parando exatamente à frente da belíssima loira. – Você esperou oito anos, Christine Blake. Oito anos! Sei que você quer acabar logo com isso, mas eu não posso “pressioná-lo”. Oras, eu não sou do tipo que faz ameaças...

— Ora, por que você não me chamou então? Que droga.

— Acalme-se, Chris! Que coisa... você já está muito crescidinha para bater as pernas, tomar pirraça e exigir algo longe do meu alcance. Se recomponha, que iremos dar um jeito e, se não houver nada a ser feito, aguardaremos os dois meses estipulados. Tudo bem? – ela suspirou pesadamente, após falar calmamente como se falasse com uma simples criança.

— Você não vê? Ele está me torturando de propósito! Ou melhor, ELE está brincando comigo! Maldito! – bufou Christine, retornando ao seu assento. -  Eu só quero deixar tudo pra trás. Depois de tirar tudo o que ele tem, com a empresa dele em mãos, eu quero olhar para aqueles olhos âmbar e mandá-lo tomar no...

— Olha a boca, Christine! – Madison interrompeu-me com uma careta engraçada. Aproximou-se da mesa, inclinou-se levemente sobre ela e apoiou sua mão sobre a minha, que estava depositada sobre a mesa, e completou: - Você realmente vai se satisfazer com isso, amiga? O que você vai fazer quando tudo isso terminar, ein? Já pensou nisso?”

                “O que eu vou fazer?”, Christine pensava. Seus olhos, que vagavam pela imensa colcha estrelada, focaram-se na cerveja praticamente intocada em seu copo de vidro. Amarelo. Âmbar. Soren... “Maldito! Saia dos meus pensamentos, insolente! Por que você tem que dificultar tudo?!”, Bufando, ela bebeu todo o líquido já quente. Fazendo uma careta, ela deixou o copo sobre a mesa de mogno ao lado da janela e voltou-se para a paisagem a fora do seu escritório/ esconderijo. Ainda não sabia lidar muito bem com festas em sua casa, mesmo sendo ela a responsável por todas elas acontecerem. Admitia, até gostava de festas. Beber até esquecer-se dos problemas e sentir as pernas bambas é uma sensação incrivelmente boa, mas não estava tão animada para aquela “festa” que inventara. O motivo para tal se tornou incerto agora, graças ao moreno infeliz que sempre atrapalhava a sua vida. “Muito obrigada, Soren!”.

                A felicidade que lhe atingira ao terminar aquela reunião durante a semana, havia sido mortalmente destruída após o anúncio de Madison no dia anterior, porém não poderia cancelar a comemoração, pois já havia comprado a cerveja e, ingerir toda aquela bebida sozinha não seria saudável. Agora, isolada em seu escritório, ela podia ouvir os barulhos vindos da sala no andar de baixo, assim como as diversas risadas de Madison e de Emma. O sorriso que rapidamente surgiu ao imaginar as duas amigas gargalhando bêbadas, morreu à medida que seus pensamentos retornaram para o seu atual problema.

                “Quando tudo terminar, o que eu devo fazer?”, Chris pensava enquanto se debruçava mais no parapeito da janela distraída. “Eu vou continuar administrando a empresa ao lado de Madd, isso é certo. Mas, acho que procurarei relaxar mais. Estou precisando mesmo. Mas, fazendo o que? Viajando?”. Sorriu com a ideia, enquanto o diálogo em sua mente se desenrolava. “Comprar um carro apropriado para viagens seria uma boa. Um Chevrolet Capitiva 2018 talvez. Ou um automóvel com o motor híbrido?” Balançou a cabeça negando mesmo com todas as ideias ainda fervilhando. “Um motor híbrido - apesar de ser muito interessante por obter a característica de motor elétrico alinhado ao uso de gasolina -, seria um problema, pois em uma rodovia não utilizaria menos de 100 km/h; e conhecendo um motor com este, a energia elétrica seria eficaz para uma velocidade bem menor, como vias que permitem apenas a velocidade de 40 km/h.”

                Seus cabelos, ainda revoltos devido aos ventos do ambiente exterior, lhe trouxeram para a realidade. Segurou-os, tentando contê-los, enquanto organizava-os inutilmente. Ao alisar os longos fios, lembrou-se de quando possuía mechas tão curtas quanto ao cabelo masculino. Sorriu com o novo pensamento que tomou a sua mente. “E se eu o cortasse?” Seus olhos vagaram por toda a noite novamente, relembrando todas as decisões que ela tomou a partir do momento em que decidiu deixar os cabelos crescerem. Por fim, ela retornou ao presente, decidida à tomar as rédeas da sua vida e largar o passado para trás. “Eu vou cortar! Quem sabe até pintá-lo...” Sorriu. “É isso! Vou pintá-lo de castanho, talvez; ou quem sabe, preto? Mason morreria se descobrisse no que estou pens-!”

                O choque de lembrar-se de Mason tomou-a por inteiro. Imaginar os olhos castanhos doces de Mason encarando-a, deixaram-na com o coração acelerado e um rubor tingiu-lhe a face. Instantaneamente, suas mãos foram aos seus lábios e sua mente a traiu com memórias de todos os momentos que ambos passaram juntos. Não gostava de admitir em voz alta, mas se algum dia se separassem, ela sentiria muita falta do segurança/ melhor amigo que ela adquirira ao longo daqueles oito anos. “Será que Mason sentiria o mesmo?”, pensou, enquanto uma centelha calorosa vibrava em seu corpo conforme a sua imaginação fluía.

                - Se continuar desse jeito nesse parapeito, Chris, vai acabar caindo daí. - uma voz rouca ecoou pelo ambiente escuro, assustando-a. Como mágica, Mason fora “chamado” pelos seus pensamentos e agora adentrava no mesmo cômodo em que se encontrava, fechando a porta com pouca dificuldade, enquanto carregava duas garrafas de cerveja nas mãos e dois copos. – Não sabia se tinha um copo, então trouxe dois... Agora me diga: O que você estava fazendo aqui sozinha e no escuro?

                Chris, afastando-se da janela e recuperando-se da surpresa que recebera, caminhou em direção à pequena mesa de madeira escura (entre duas poltronas amadeiradas no escritório), na qual Mason depositava as cervejas e sentou-se em uma delas. Postas ao lado de um sofá médio recostado na parede oposta à janela, a loira sentava-se confortavelmente enquanto era servida por sua companhia. Agora, banhados pela luz da lâmpada de led do escritório, ela podia admirá-lo detalhadamente como costumava fazer em todas as ocasiões.

                Mason Nght estava comumente bem arrumado. Tendo naturalmente um dom para roupas, o belíssimo homem vestia uma simples T-shirt branca – um pouco mais larga que o devido -, e calças jeans desbotadas. Coturnos pretos terminavam o look despojado. A camisa estava alguns centímetros enrolada nas mangas propositalmente, destacando um dos braços cobertos pelas tatuagens que impressionavam a bela empresária. Seu cabelo castanho rebelde estava atado a um nó frouxo no alto da cabeça. “Pois é, tenho tendência a ser seduzida por homens com cabelos longos”. Sorriu para o rosto másculo coberto por uma barba castanha que lhe contornava a mandíbula; que lhe encarava.

                - Ainda não respondeu a minha pergunta, Christine. Está perdida em minha beleza? – sorriu sensualmente à medida que me provocava. “O Mason está bêbado?”, pensei retribuindo-lhe o sorriso. “Ele não costuma a investir dessa maneira, tão direto; será que seria uma boa ideia provocá-lo?”

                - Bom, “Masie”, estava me perguntando se você estava sentindo realmente a minha falta lá embaixo ou veio até aqui com outras intenções.

                - Outra intenções, Chris? Como o que? – ele bebeu um pouco da cerveja que havia em seu copo e continuou: - E não me chame de “Masie”. Isso é ridículo, sabia? Sinto-me como um animal de estimação. Talvez um gato peludo, como aqueles que moram como velhinhas solteironas.

                - Gato peludo?! – gargalhei – Você está certo por dois motivos, Mason. Você realmente é um gato – pausei propositalmente, encarando-lhe sapeca – e peludo, mas não mora com nenhuma velhinha solteirona. Pelo que me lembro bem, você morava em um apartamento com uma loira muito inteligente, no auge dos seus vinte e quatro anos e, sendo sincera com você, muito gostosa.

                A risada rouca de Mason alegrou o ambiente e aqueceu o coração de Christine, que se deixava ser embalada por todo aquele calor que os envolvia. “A cerveja está fazendo efeito muito rápido. Como é surpreendentemente engraçado vê-lo assim, tão fora de suas barreiras”. Levantou-se da poltrona alegre e sentou-se no sofá, aproximando-se mais do outro.

                - Ora, Chris, pelo menos dessa vez, concordamos em algo. – sorriu maroto – E devo dizer que, mesmo após ser abandonado por essa “colega de apartamento”, há três anos, ela não deixou de carregar esse título. Na verdade, se isso for possível, acredito que ela até conseguiu se tornar mais bela.

                - Cuidado aonde pisa, Mason, eu não vou lhe dar um aumento apenas porque você está me bajulando, tudo bem? – deixei o copo de vidro sobre a mesa e deitei-me no sofá. Meus cabelos se espalharam e formaram uma lagoa dourada ao meu redor. Assim, notei que Mason ainda permanecia encarando-me fixamente, seguindo todos os meus movimentos. Virei- me para ele seriamente. – Mas, retomando à sua pergunta, estava apenas pensando.

                - Pensando? Tenho que me preocupar?

                - Está me dizendo que eu não posso pensar? – falsamente chocada, me levantei, apoiando o peso nos meus braços.

                - Claro que pode, mas é muito raro, não? – sorriu sapeca.

                - Meu Deus, que arrogante! – joguei-lhe uma almofada que estava enfeitando o sofá no qual estava deitada. “Pare de sorrir desse jeito, homem!”, pensei sorrindo. No entanto, logo a felicidade se foi e voltei-me para aqueles olhos castanhos, apreensiva. – Mas, é sério. Estava precisando de um tempo, sabe? Organizar as ideias.

                - O que houve, Christine? – sua feição se compadeceu com a minha.

                - Acredita que aquele maldito homem estendeu o prazo da incorporação para daqui a dois meses, Mason?! Isso não deveria ser possível! EU achava que isso era impossível! – disse tudo rapidamente. – Aquele insolente está brincando comigo...

                - Então é isso, Chris? Ele de novo? – disse ele em um suspiro. Mason apoiou o copo de cerveja, que estava em suas mãos, na mesinha à frente do sofá e tomou meus pés, pensativo, enquanto os massageava cuidadosamente.

                - O que quer dizer com “ele de novo”, Mason? – estava confusa agora.

                - Ora, Chris, você sabe muito bem do que estou lhe dizendo. – Os belos olhos castanhos voltaram-se para os olhos verdes, sérios. – Você sempre fala dele. Não há um dia que o nome “Soren Craig” não esteja presente entre as suas palavras. Já se passaram oito anos, Christine, você já conseguiu o que queria, ele está pensando no assunto e daí? Eu também pediria um tempo se a minha ex-mulher vingativa e lunática retornasse de “sei-lá-onde” e quisesse fazer uma incorporação com a minha empresa. Eu ficaria preocupado com você e com o que poderia surgir dessa fusão, isso é óbvio.

                - Me chamou de lunática?! – Ofeguei, chocada, retirando meus pés de seu colo e erguendo-me do confortável sofá.

                - Isso é sério, Christine? De todas as palavras que saíram da minha boca, você só pode ouvir “lunática”?  – Mason levantou, enraivecido, posicionando-se a minha frente em desafio.

                - É óbvio que não, Mason! Eu escutei tudo o que você me disse, mas eu estou cansada de todos vocês sempre me dizerem as mesmas coisas. Que droga! Sou bem crescidinha já, será que não percebem?! Eu só quero relaxar depois de todo esse tempo. Isso é pedir demais?!

                - É exatamente por isso que eu e Maddison nos irritamos com você, por isso que sempre estamos brigando quando o “assunto Craig” se torna o ponto da conversa! Você está cega, Christine! Tão cega para tudo que não percebe que você perdeu anos da sua vida por alguém que não lhe dá a mínima! – a voz rouca de Mason ecoava pelo cômodo, enquanto o meu sangue fervia com cada letra que ele adornava o discurso da qual estava fazendo.

                - Eu não perdi nada, que droga! Eu precisava disso! Precisava me tornar independente para mostrar o que eu podia fazer! Eu era tão feliz, Mason, e ele me tirou tudo! Até a minha família! Essas foram as “únicas” coisas que eu perdi, não entende? Tudo por culpa dele! – gritei conforme a minha angústia se tornava raiva e meus olhos brilhavam por lágrimas contidas.

                - Não! Até isso você não consegue ver, meu Deus! – ele bradou em seguida. Seus braços, antes erguidos, caíram ao lado de seus quadris, aparentemente cansados. Aproximando-se ainda mais do meu corpo, e encarando-me friamente, ele continuou: - Tudo o que houve foi culpa sua. Única e exclusivamente sua. Se você ouvisse mais o que seu pai lhe dizia, você te-

                - Cala a boca! – gritei. – Você, seu ma-

                - Gente, tudo bem? – uma terceira voz, melodiosa, ecoou pelo cômodo, interrompendo-me.

                Maddy encontrava-se na soleira da porta do escritório. Trajando uma calça jeans simples e uma blusa azul de mangas longas, a mulher que se encontrava preocupada com uma garrafa de cerveja em uma das mãos, em nada se assemelhava a impecável diretora empresarial da qual todos conheciam. Com o cabelo preso por uma trança mal feita, Maddison Dalton estava humildemente linda, mesmo estando um pouco corada pela bebida. Seus passos não foram notados pelo corredor, devido à acirrada discussão que estava havendo dentro do cômodo, e por isso Chris se sentia culpada por encará-la no momento. Odiava quando deixava a amiga preocupada.

                - Vocês não me responderam: Vocês estão bem? – ela voltou a perguntar.

                Retirando-se primeiro do transe do qual ambos haviam entrado, Mason sorriu sutil para Madd, tentando apaziguar todos os sentimentos que ainda haviam no ar.

                - Estamos ótimos, Maddy, já você eu não sei, não é mesmo? Essa é a sua décima garrafa de cerveja? – Mason tentou descontrair enquanto aproximava-se de Maddison, tentando inutilmente roubar-lhe a garrafa. Mas, a brincadeira não durou muito e Maddison voltou séria para os olhos verdes que ainda continuavam a brilhar pelas lágrimas que anteriormente surgira.

                - E você, Chris? Tudo bem? Conseguimos ouvir vocês lá de baixo... – A voz de Maddy sumiu aos poucos, à medida que seus olhos dançavam entre os olhos do “casal”.

                - Eu estou bem, Maddy-bobona. – forcei um sorriso, tentando confortá-la – Você por outro lado... Está mesmo aproveitando de todo o meu dinheiro gasto lá em baixo, e acho bom mesmo! Todas aquelas bebidas me saíram muito caro!

                - O problema é todo seu! – Maddy gargalhou, já se esquecendo da discussão ocorrida. – Eu e Emma estamos aproveitando por vocês dois, seus idiotas!

                - Duvido muito. Eu já irei descer para mostra a vocês o que é “beber de verdade”! – Mason disse animado enquanto empurrava suavemente Maddison para fora do cômodo.

                - Tentem não se matar, tudo bem? – Maddison gritou enquanto descia as escadas para o primeiro piso da imensa casa.

                - Tente não desmaiar até eu chegar ai! – Mason gritou em resposta.

                - Vá se fud- - Maddy mal concluiu a frase e Mason já havia fechado a porta. Um suspiro rouco escapou-lhe dos lábios conforme seus ombros pendiam e sua cabeça permanecia encostada na madeira clara da porta.

                “O que viria a seguir?”, eu me perguntava. Entretanto, não tinha forças ao menos de tentar compreender o que havia acabado de acontecer naquele escritório frio. As longas mechas douradas encontravam-se totalmente descontroladas e isso ocorrera devido às diversas tentativas frustradas de se controlar enquanto gritava com Mason. Esse era o grande problema. Perdera o controle com ele. Obviamente já haviam brigado milhares de vezes anteriormente, mas ela sempre se sentia arrependida. “Arrependimento? Mas, pelo que?”, pensava curiosa. Não havia pelo que se arrepender, só estava se defendendo, não é? Ou estaria ela mentindo para si mais uma vez?

                - Não devia fazer essa cara, sabia? Eu vou me sentir mal.

                Assustei-me ao deparar com Mason à poucos centímetros de distância de onde eu estava. Suas mãos se moveram calmamente até o meu rosto, aonde se embrenharam por todo o dourado que havia ao meu redor. Seus dedos, de forma carinhosa, deslizavam suavemente sobre as minhas bochechas coradas. Seus olhos límpidos e tão brilhantes focaram nos meus e se mantiveram fixos até se perderem em meus lábios. “O que está acontecendo, Mason? Me diga”. Eu pedia em meus pensamentos.

                - Me desculpe por tudo o que eu disse. Não deveria ter sido tão rude com você. – sua boca se manteve entreaberta, convidativa, até que seus olhos, agora risonhos, voltaram para os meus brilhantes devido as lágrimas contidas. – Afinal, você poderia me demitir, não?

                - Acho que você não pensou nisso antes de me chamar de lunática, não é? – não pude deixar de sorrir, enquanto secava discretamente as lágrimas que teimavam em me incomodar nos olhos;  em meio ao clima leve que instaurou ao nosso redor.

                - Ainda presa nessa palavra, Christine? – sorriu, entrando na brincadeira.

                - Ora, não é sempre que te chamam assim.

                - Não? Pois bem, como é lamentável que nenhum outro seja tão corajoso quanto eu, deixe-me que faça as honras: Christine Blake? Você é uma lunática!

                - O que?! – Afastei-me de seu toque, boquiaberta. – Ora, seu... Me chame mais uma vez para você ver!

                - Lu-ná-tica! – Mason disse sorridente e desafiador.

                - Mason! – gritei, enquanto o perseguia pelo cômodo. Quando enfim o alcancei (afinal, o escritório nem era tão grandioso assim), meus braços logo o envolveram e não tive oportunidade de conter o suspiro que me escapou dos lábios. Estava tão relaxada que me deixei levar e pude colocar em palavras o que dominava o meu âmago naquele momento. – Por que você é assim, Mason? Tão rude em alguns momentos e logo se torna tão... você.

                - O que isso significa, Chris? – ele retribuiu o abraço que lhe dava. Sua boca logo tomou seu caminho, percorrendo meu pescoço até as orelhas, acariciando-as com a língua, sensualmente.

                - Masie-... – Não contive o arrepio que percorreu o meu corpo e muito menos o gemido que foi entrecortado por um beijo voraz do homem que me abraça com sofreguidão. Meus pensamentos foram tomados por lembranças de nossas noites no antigo apartamento, nos hotéis e nos diversos lugares extraordinários que nos consumimos, tomados por toda essa necessidade que nos persegue.

O desejo carnal é algo impulsivamente reconhecido quando duas pessoas, atraídas corporalmente, se permitem sentir. No entanto, o que acontece quando o coração resolve se meter em assuntos da carne? Chris não sabia o que lhe perturbava mais naquele momento: Soren Craig, que estava lhe torturando com a demora em lhe dar uma resposta para a incorporação das empresas; Mason Night, seu segurança particular, seu melhor amigo e seu amante sedento que lhe deixava com o coração acelerado e as pernas bambas; ou a maldita porta de acesso ao escritório que ela tinha absoluta certeza que Mason não havia trancado.

“Ah, dane-se!”, Christine gritou em pensamentos, enquanto sua blusa era retirada rapidamente por mãos calejadas e agéis que lhe percorriam o corpo com sabedoria e destreza.

Deixou-se levar.

               

 

               


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Notas finais do capítulo

Meus prazos são de duas semanas, caso queiram que eu diminua, comentem, por favor. Ou se houver algum erro ortográfico, me avisem. Além disso, me mostrem suas opiniões sobre a história, eu ficaria lisonjeada de lê-los. Vocês não sabem o quanto o seu comentário faz essa aspirante a escritora feliz. Um abraço! Até mais!



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