I'm Not Okay escrita por Lyes


Capítulo 7
Foto Três - Um bom dia para se montar num dragão (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Oooooi geeeeeeeente, voltei quase um ano depois, uau. Eu realmente não tenho vergonha na cara, me perdoem. Massss eu estou aqui, com metade de um capítulo. Cara, meus capítulos são muito grandes, socorro. Então eu sempre acabo dividindo pra não ficar cansativo e eu poder pelo menos aparecer aqui às vezes (já que demoro muito pra escrever hehe).
Espero que gostem do capítulo ^^
~ deixo aqui meu agradecimento pra maravilhosa da Stelfs, hehe~



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Quando passamos a ter aquilo que poderíamos considerar uma amizade, eu já nem sabia mais o que queria te dizer e muito menos o que você pensava. Então mesmo que não faça sentido e você não tenha nada de realmente importante para me dizer… quero te ouvir. Porque foi isso que você me ofereceu quando eu estava confuso demais até mesmo para colocar meus sentimentos em palavras.

 

xx

 

Eu disse que poderia me acostumar, mas não achei que fosse ser tão rápido assim.

Cerca de duas semanas depois, tudo parecia quase normal. Até mesmo as gracinhas da Ambre pareciam suportáveis! Talvez, porque eu podia finalmente dizer que tinha amigos. A palavrinha mágica que parecia reluzir na minha cabeça e quase me fazia chorar de emoção. 

O clube de música era, sem dúvidas, um dos mais legais da escola. Era mais uma discussão sobre gostos musicais, curiosidades e fatos importantes para o mundo da música ou coisa assim. Às vezes também tentávamos improvisar uma coisa ou outra, nem sempre dava muito certo ou ficava lá muito legal, mas nunca deixava de ser divertido. Sem contar que todos os membros eram legais e Mieko e eu tínhamos uma relação muito mais próxima do que imaginava que poderia vir a ser. No meu outro clube, o de basquete, eu nunca tinha muito o que fazer, então eu só ia quando realmente precisavam de mim. Então eu dividia meu tempo entre o clube de música e o de jardinagem, que era pra onde eu fugia sempre que queria ficar um tempo sozinha ou só… pensar e tirar fotos. Jade me acolhia com um sorriso e logo voltava a seus afazeres, enquanto eu ajudava, pronta para descontar todas as minhas preocupações em ervas daninhas.

A minha relação com os meninos também estava, por incrível que pareça, dando certo. Castiel continua sendo infinitamente irritante, mas brigar com ele era uma das coisas que faziam o meu dia ser mais feliz. Sem contar com o sorriso do Lysandre, que era quase como um presente dos céus.

Em resumo, as coisas estavam tranquilas e seguiam bem. Exceto por Ken não ter mandado sequer um sinal de fumaça. Quando fui conversar com Manon, ela disse que Ken estava bem, mas sem entrar em detalhes. Quer dizer, o que diabos tá acontecendo? Até onde sei, sou namorada dele. Tecnicamente sou uma parte importante da vida dele!, e só recebo um “ele está bem, não se preocupe”. Como não me preocupar? Pelos céus.

Nesses últimos dias eu andava tão inquieta com todo esse suspense tosco que não conseguia parar por um segundo. Eu já tinha adiantado todos os trabalhos e tarefas da escola, desencaixotado tudo da mudança, limpado a casa, me livrado das coisas que não queria mais, esvaziado o cartão de memória da câmera (que estava quase cheio, porque eu e minha câmera tivemos muitas aventuras esses dias!) e, até mesmo, adiantado parte do trabalho acumulado do clube de música. Isso deveria ser animador, mas… depois de ter feito tanta coisa, esqueci o mais importante: ir ao mercado. Minha tia ainda não tinha voltado de mais a de suas viagens e eu tinha exatamente 0 coisas pra comer. 

Ninguém merece passar fome numa manhã de sábado.

Depois de me olhar no espelho e ficar por alguns minutos admirando o fato de que meu cabelo podia ser o lar de uma família de esquilos, dei um jeito de ficar apresentável, peguei meus patins e saí atrás de uma lanchonete que tivesse um café da manhã decente (ou quase).

Assim que cheguei ao que todos chamam de centro da cidade, numa rua meio escondida achei um lugarzinho simpático e com uma pegada meio retrô, que parecia ter sido cuspido de um filme. As garçonetes, assim como eu, estavam de patins! Apesar de elas serem obrigadas, eu me senti feliz e representada, então decidi entrar. E, uau, que cheiro maravilhoso! 

Escolhi uma mesa nos fundos e logo uma garota loira, mais sorridente que a Barbie de Toy Story, veio me atender.

— Bom dia! Seja bem vinda! O que você gostaria de pedir?! — Me entregou o cardápio, transbordando gentileza.

— O que você sugere? — Tentei sorrir de volta pra retribuir, mas olhar para seu sorriso de holofote estava me deixando meu zonza.

— Bolinhos! Nós temos bolinhos! De milho!

Por que diabos ela tem que exclamar toda frase que sai da boca dela?

— Ah, bem, eu quero uma porção desses bolinhos, então. E um milkshake de chocolate. — Tentei ser o mais neutra possível e disfarçar a minha cara de desespero.

— Boa pedida, garota! — E saiu patinando, ofuscando o mundo com seu sorriso de plástico.

Eu hein.

Uns 10 minutos depois uma garçonete, que tinha um sorriso um pouco menos forçado, veio trazer meu pedido. Estava tão bom que devorei os bolinhos em alguns minutos e pedi mais uma porção pra viagem.

Quando terminei de comer e paguei, percebi que mal eram 10 da manhã e que tinha um pouco de tempo livre antes de ir ao mercado, então fui dar uma volta por aí. Seria uma boa ideia ir patinar no parque, mais uma vez. Isso me lembrava da minha infância, quando meu pai me levava pra alimentar os patos e minha mãe tentava me ensinar a andar de patins. O que era meio complicado, já que eu conseguia tropeçar nos meus próprios pés estando descalça. Minha mãe patinava de um lado pro outro, enquanto eu tentava ficar de pé num lugar só e meu pai escondia as risadas por trás do jornal que fingia estar lendo. Como toda lembrança boa, parece ter acontecido ontem.

Suspirei e segui em frente, com o resto do meu milk shake numa mão e na outra, um saquinho com bolinhos pra comer mais tarde.Suspirei mais uma vez, para dar um toque de drama à situação e segui patinando ao som de risadas, gritos, conversas, pessoas cantando, cachorros latindo… sons da vida cotidiana, que fazem as coisas se parecerem um pouquinho menos loucas, sabe? 

E não é que as coisas estavam se encaixando, mesmo? As pessoas dessa cidade conseguem até ser simpáticas, tirando aquelas que estudam na Sweet Amoris, é claro. Uma moça de patins, que estava passeando com seu cachorro, acenou para mim ao passar ao meu lado e eu acenei de volta, sorrindo com a cara toda cheia de chocolate (já que sou um desastre para tomar sorvete). Até o cachorrinho dela parecia simpático. Eu adoraria tirar uma foto dele, mas estou de patins e com as duas mãos ocupadas, então não funcionaria muito bem.

Para falar a verdade, sempre quis ter um cachorro. Mas minha mãe é alérgica, então… é, eu só podia admirar os cachorros de terceiros. Quer dizer, menos o da diretora, porque o Lysandre já me avisou que é perigoso,  E acho que vou colocar mais um na minha lista, já que aquela criatura correndo solta em volta daquela árvore não pode ser um cachorro normal. Olha o tamanho daquilo! É como se o Cérbero tivesse escondido suas duas outras cabeças e viesse dar um passeio no mundo mortal. 

Ok, eu não deveria ter encarado, porque agora ele também está me olhando. Tudo  estava indo tão bem, por quê, universo? Certo, só continue a patinar, Parish. Tudo vai ficar bem. Só continue a patinar e… espera, por que ele está vindo na minha direção?  Não, ele não pode estar vindo na minha direção, simplesmente não pode. Ou... será que pode? Isso seria um problemão, colegas… mas eu não tenho nada aqui que interesse a ele, então posso seguir a vida em paz.

Espera… então por que ele continua a correr em minha direção com um olhar determinado?

Por que diabos esse cachorro está supostamente me perseguindo? Quer dizer, é só uma impressão. Ele está correndo em direção a mim, sem parecer duvidar do que quer. Mas não tem nada aqui além de mim, um par de patins e um saco de bolinhos recém saídos do forno (e que estavam com um cheiro muito bom, inclusive!). Espera… um saco de bolinhos. Com cheiro muito bom. Ele… ele estava querendo os meus bolinhos? Espero que sim, porque eu não pareço ter um gosto muito bom, então acho que o monstro não quer me devorar.

Mas ei, são os meus bolinhos! Que tipo de garota de atitude eu seria se desistisse dos meus bolinhos por causa de um cachorro provavelmente maior do que eu e que pode me engolir sem nem mesmo mastigar? Acho que eu seria uma garota sensata. Mas quem disse que eu tenho essa capacidade, não é mesmo?

Continuei tentando fugir da fera, olhando para trás a todo momento morrendo de medo de que ela me alcançasse. Como aquele cachorro podia ser tão, mas tão rápido? Ele estava quase na minha cola, isso porque eu estava dando o meu melhor patinando enquanto olhava para trás; Provavelmente era isso que estava atrapalhando o sucesso da minha fuga, agora tudo faz sentido! Quero dizer, quase, porque quando eu virei pra frente... o cenário foi desesperador. A direita, uma senhora que parecia super simpática estava passeando com CINCO cachorros e à esquerda, bem… um buraco gigante que eu não conseguiria pular e nem frear a tempo. Numa manobra de desespero, joguei meu para o lado, fora da parte pavimentada, no meio de um mato infinito em que sabe-se-lá o que tem alí no meio. Grandes chances de eu acordar em Nárnia ou no País das Maravilhas, ou só no hospital, quem sabe?

— Dragon, volta aqui, garoto! 

Ora ora se o dono do cachorro não surgiu do inferno, mas só depois de eu ter que me jogar no mato e nem sequer conseguir salvar meus bolinhos. Eu já iria me ferrar de um jeito ou de outro, de que adianta? Enfim, não consegui saber quem ele era, porque, bem, nesse exato momento eu estava caindo no meio do mato, muito preocupada com a minha vida.

 

— Ei, garota, tá me ouvindo? Quantos dedos têm aqui?

Não sei quanto tempo se passou desde que eu me joguei no mato, mas um borrão vermelho e preto estava com o que parecia ser uma mão com 15 dedos na frente da minha cara, bloqueando o maravilhoso sol do paraíso (porque com certeza eu tinha morrido na empreitada de salvar a vida da senhora, que provavelmente era mais importante que os meus bolinhos aos olhos da sociedade). 

— Sei lá, muitos? Isso serve de resposta?

— Não sei se foi só a queda ou se você realmente tem algum problema mental.  — Cara, eu conhecia aquela voz de deboche… e como conhecia. Se eu morri, com certeza não fui pro céu. Pro Castiel estar aqui me recepcionando, deve ser um lugar muito pior que o inferno. Eu mereço mesmo tudo isso por ter dado na cara da Ambre?

Grunhi e escondi meu rosto nas mãos, tentando não encarar aquela não-realidade. Se eu continuar fingindo que ele não existe, passo no teste e tudo isso vai sumir, né? Paciência é uma ótima virtude.

— Agradeço se você parar de fingir que eu não existo. 

Preciso mesmo aceitar que eu não morri? Que eu só fui perseguida por um cachorro gigante e tive que me jogar no meio do mato na frente da pessoa que mais me irrita no planeta terra? Morte, vem logo me buscar.

Virei a cabeça para o lado, tentando fugir daquela realidade macabra, mas encontrei uma coisa mais esquisita ainda. Um par de olhos escuros me encaravam com curiosidade, enquanto a respiração quente da criatura vinha diretamente na minha bochecha. A língua pingava saliva a poucos centímetros do meu nariz, por entre aquele monte de dentes afiados. Por que o monstro que me perseguia estava tão perto???

Quando quase pulei para o outro lado para continuar a minha fuga desesperada, Castiel segurou meu ombro.

— Esse é o meu cachorro, Dragon. Ele é inofensivo, você só deu o azar de comprar os bolinhos favoritos dele.

Aquele cavalo, monstro, que ainda por cima se chamava Dragon, era inofensivo? Claro, então o meu Pônei cor-de-rosa chamado Fofura é um psicopata comedor de gente, com toda certeza.

Vendo a descrença estampada na minha cara, Castiel revirou os olhos e se levantou, limpando um pouco de grama que tinha ficado grudada em seus joelhos e finalmente resolveu perguntar:

— Você está bem?

É claro que não!

— Tô sim.

— Então por que não levantou até agora?

Por que a grama tá super gostosa e confortável, é claro. Nem estou toda dolorida, tonta e confusa depois da queda, imagina.

— É verdade, tem esse detalhe…

Aceitei de bom grado a mão que ele me estendeu. Sendo duas vezes maior que a minha, eu sabia que ele não teria dificuldade nenhuma de me erguer.

— Você se machucou?

— Não — respondi com convicção, antes mesmo de checar os estragos que experiência de quase morte havia me causado.

— Claro que não. — Apesar do assustador e já conhecido sorriso de deboche, Castiel segurou meus braços com uma delicadeza que eu nunca imaginaria que ele pudesse ter, enquanto tinha o trabalho de examinar todo o meu corpo e procurar por alguma coisa de errado. — Quase tudo no lugar. Mas você ralou o joelho.

— Quase tudo? — Questionei, procurando o que mais parecia ter de errado com o meu corpo. Eu… quebrei alguma coisa??

— É, quase tudo… mas acho que o outro problema sempre esteve aí, tábua.

Tábua? Essa é nova. Do que diabos ele está debochando? Antes que eu pudesse esfregar a cara dele na grama e fazê-lo pastar, Castiel já estava indo embora, com Dragon trotando logo atrás dele.

— Você não vem? — Perguntou, sem nem mesmo ter o trabalho de parar e se virar para conversar comigo.

— Onde?

— Dar um jeito no estrago do seu joelho, é claro. Porque resolver a sua falta de peitos, bem… eu ainda não sou santo pra fazer milagres.

Grunhi, mais uma vez, e fui atrás dele sem dizer mais nenhuma palavra, ou com certeza eu acabaria jogando meus patins na cabeça dele.


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Notas finais do capítulo

Até mais, meus bibelôs (???) ♥