I'm Not Okay escrita por Lyes


Capítulo 5
Foto Dois - Se é pra dar errado, que seja com estilo (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Eu sumi, mil perdões -q
Final de semestre na faculdade, sabe como é ;-;
Nem era pra eu estar postando agora, mas percebi que teria que dividir esse capítulo em duas partes, já que ainda faltava bastante coisa pra terminar e ele já estava com mais de 6000 palavras! Então, aqui estamos.
Aaaaaah, socorro.
Queria avisar que algumas coisas no capítulo podem acabar mudando, já que não sou lá muito boa com capítulos de apresentação 3 Juro que li até a minha cabeça soltar fumaça, mas não consegui melhor muita coisa. A boa notícia é que continuo otimista.
E sobre o nome... gente, não sei. Ele me pareceu super justo e só... parece certo (momentos de tensão).
Espero que gostem, constelações de beijos. ^^



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Confesso que não sei dizer direito o porquê e nem como nós acabamos virando amigos.

Mas se tivesse que resumir a um único fator, diria que foi graças ao clube de música.

E, sim, essa é a sua foto do mural. Eu peguei durante um dos ensaios noturnos, tirei uma cópia e fiquei com a original. Se você está se sentindo honrada por eu ter roubado uma foto sua… por favor, menos. Pra começo de conversa, foi ideia do Lysandre. Tudo isso foi ideia dele, inclusive (porque se dependesse de mim e ele não tivesse insistido, você nunca estaria lendo isso aqui). Ele disse que se eu fizesse um esforço, conseguiria mostrar o quão importante você é pra mim. Espero que ele esteja certo, porque montar isso aqui tomou boa parte do meu tempo precioso.

Se até o Lysandre, o cúmulo da lerdeza, percebeu que as coisas estavam tomando um rumo completamente diferente… não preciso terminar a linha de raciocínio, preciso?

Só me lembro de detalhes desse dia porque você me contou tudo um tempo depois, numa madrugada qualquer em que estávamos sem sono. Se entendi bem, de manhã, você estava berrando e despejando toda a sua fúria (e tudo que estava dentro da sua bolsa) na Ambre. À tarde, estava tocando sua música favorita pra mim. À noite, caçando fantasmas porque foi boba o bastante pra cair na história idiota de que alguma coisa assombrava os corredores da Sweet Amoris.

Você teve um dia e tanto, garotinha.

xx

— E você tem coragem de dizer que a culpa foi dele, é sério? Sendo que era você quem vinha nos atormentar por, sei lá, existirmos? Qual é a porcaria do seu problema? — berrei, tentando fugir do “gentil abraço” que Nathaniel me dava.

Na verdade, ele só estava me segurando para que eu parasse de jogar tudo o que vinha pela frente (verbal e fisicamente) na cara de sua irmãzinha querida. É, acho que cheguei ao fundo do poço.

Agora, sentada de frente a mesa da diretora, passei a refletir enquanto ignorava seu discurso sobre os princípios morais do colégio e percebi que as coisas ainda não tinham caminhado para um estágio muito melhor do que antes. Achei que estava superando toda aquela história e que em algum momento eu poderia fazer amigos novos, mas isso não estava acontecendo porque… hm, deixo vocês adivinharem: a) eu não queria me aproximar de ninguém; b) eu ainda guardava rancor pelo que aconteceu e preferia ficar sofrendo pelos cantos, negligenciando qualquer coisa que se relacionasse àquela escola; c) estava a beira de um ataque porque Ken ainda não tinha mandado notícias; d) todas as alternativas anteriores.

Se você escolheu a a), acertou. Se escolheu a b), a c) ou a d), acertou também. Eu estava muito ocupada tentando assobiar e chupar cana, porque estava sendo meio impossível lidar com todos aqueles problemas ao mesmo tempo. Já estava no meu limite.

Até que Ambre resolveu colocar a última gota. Ou melhor, ela veio com caminhão pipa para encher o meu balde e o meu saco, ao mesmo tempo.

Parece que estou dando um ataque a todo momento, mas… ok, não tem desculpa. Eu realmente estava tendo um mini ataque a cada 15 segundos.

Em minha defesa, Ambre veio provocar.

— O seu comportamento foi inadmissível. Eu não posso tolerar esse… esse… tipo de selvageria dentro da minha instituição. Diga, em que tipo de zoológico você estudou antes? — esbravejou a diretora, enquanto caminhava de um lado para o outro da sala. Pelos boatos, eu estava ferrada de verdade, porque Shermansky já estava com o coque no modo super Sayajin e eu podia contar todas as rugas em sua cara de desgosto e ódio mortal.

É hoje, Parish. É. Hoje.

E para a sua informação, eu estudei em uma escola regida por freiras, três vezes mais rigorosa que essa. Tão rigorosa que conseguia manter os alunos sob controle, assim nenhuma patricinha atormentava gente inocente e saia impune.

Dessa vez, nem tão impune. Mas, por isso, eu também pagaria muito… mas muito caro. Tipo, muito caro mesmo. Porque eu podia ouvir o choro dramático que vinha da sala ao lado e pelo tom que o pai dela usava, as coisas não estavam muito legais pro meu lado.

— Você deixou a sua colega com um olho roxo, Srta. Clair!

Deixei, não foi? E estava muito orgulhosa de mim mesma, porque ela merecia muito mais do que isso. Digo, sei que ela poderia ter se machucado muito mais seriamente do que isso, mas nada se compararia a dor que ela causou a mim e ao Kentin.

— E agora, como pretende encarar os pais dela?

— Não pretendo, diretora. Porque eu não vou falar com eles. Não sem a presença do meu responsável. É realmente justo que uma garota indefesa seja obrigada a lidar com dois adultos sem ter a chance de se defender? — Forjei uma cara de inocente, claramente falsa, porque esbanjava do meu famoso sorriso de 2000W, cheio de dentes brancos e brilhantes, ofuscando todas as esperanças da diretora de que aquilo se resolvesse fácil e longe das mãos dela.

Oh, minha querida… nem por mil Totós.

Enfim, já posso dizer que quero ligar pro meu advogado?

Titia estava de folga e eu sabia como aquela discussão terminaria. Em lugar nenhum. Porque era tão cansativo discutir com ela que em algum momento eles desistiriam e me deixariam em paz. Pra começar, ela viria com alguma roupa esquisita ou duvidosa e com toda certeza me protegeria de qualquer um que tentasse chegar a três metros de mim. Morar com a minha madrinha, nesse aspecto, foi uma das melhores coisas que já me aconteceu, porque se minha mãe estivesse aqui… por um lado, estaria morta. Mas por outro, eles também estariam numa situação bem ruim.

Tive dois minutos para conversar com ela e pedi que viesse às pressas para a escola, antes que a diretora tivesse um ataque do coração. Por mais que ela demorasse a se arrumar, prometeu que estaria aqui o mais rápido que pudesse. E eu não tive que esperar muito. Assim que Ághata chegou, trajando um vestido que mais parecia uma toalha de piquenique gigante, me agarrou pelo pescoço em um abraço de urso, me protegendo daquelas “pessoas malvadas”.

A diretora tentou fazer com que agíssemos como pessoas civilizadas e que falássemos um de cada vez. Foi uma briga maravilhosa, porque eu quase não consegui falar tudo o que tinha a dizer sem chorar e Ambre, como a péssima atriz que era, quase não soube se defender sem a ajuda do pai. Ághata e Adelaide, em algum momento quase perderam a compostura e se renderam a famosa selvageria. Daria dinheiro para ver as duas descerem do salto e partirem pra pancadaria, mas infelizmente Sra. Shermansky chutou o pau da barraca antes que as coisas ficassem feias de verdade.

— Com o comportamento de vocês, não posso dar credibilidade nenhuma para que intervenham pelas meninas, pelos céus! — Por que mesmo ela tinha que falar metade frase pausadamente pra dar efeito dramático? — Nunca tive que lidar com tamanha… tamanha… selvageria! Então, por favor, vamos fingir que nada disso aconteceu e nada disso sai dessa sala. Não quero que manchem a reputação do meu colégio. Peço para que se retirem, assim posso resolver tudo diretamente com a Srta. Clair, depois darei retorno sobre o que resolvemos e, se necessário, marcarei reuniões individuais para atender a cada um de vocês sobre possíveis reclamações. Estamos conversados?

A diretora estava tão, mas tão nervosa, vermelha, descabelada, fora do prumo… tão louca, que ninguém discutiu. Ághata e Adelaide ajeitaram as roupas, Francis abaixou a guarda, Ambre esqueceu a dor e eu, bem… eu segurei o riso. Todos foram embora em silêncio, quase como pessoas normais. Não tão normais assim, porque conseguiram armar o circo antes mesmo do almoço.

Depois que todos se foram e a diretora se acalmou depois de alguns minutos mimando o Totó, chegamos a hora do julgamento.

Lado bom: Estava acabando, finalmente. Estava cansada de duas horas seguidas de “fortes emoções”.

Lado ruim: Vou ser castigada.

Lado pior ainda: A diretora olhava para a parede com cara de poucos amigos e quase rosnou pra mim quando ousei respirar um pouquinho mais alto.

— Você está feliz, Senhorita Parish? Sinceramente? Veja só, você acaba de provar que o mal comportamento é um ciclo infinito de puro desastre. Agora, você vai ser uma boa garota e me ajudar, não vai? — Algo errado não estava certo, ela estava usando o sorriso de 2000W contra mim. Rondando a minha cadeira, passando atrás de mim como um vulto, ela colocou a mão gentilmente sobre meu ombro. — Tudo isso poderia ter sido evitado, mas não… você tinha que jogar todos os seus livros e cadernos em cima de uma colega de classe. Então, vamos provar que uma mente ocupada não tem tempo para se focar tanto em probleminhas egoístas de adolescente. Aproveitando que a senhorita reclamou, durante nossa pequena reunião, de sua dificuldade de se integrar e de fazer amigos, vou ajudar. A partir de agora, além do clube de sua escolha, você faz parte do clube de música e está encarregada de assessorar os assistentes da professora Mieko. Você pode até achar que é uma punição leve, mas logo vai ver o que é lidar com aqueles dois. Espero que se dê bem com seus novos amigos. — debochou, cheia de uma alegria irritantemente forçada. — Agora, fora daqui, avise a professora Mieko de sua situação. Espero que nunca mais apareça por aqui. Foi uma completa decepção para a honra da nossa instituição…

Sem questionar, xingar ou reclamar, saí da sala tremendo de raiva. O que mais eu poderia fazer? Aquilo já tinha durado o bastante e eu estava cansada demais pra ficar brava. Bem, eu ainda podia me encolher como uma bolinha e respirar até o mundo desaparecer. Ou seja, só respirar, porque meus problemas não vão me abandonar tão cedo. Sendo positiva, a minha punição não foi lá muito ruim. Na minha ficha de inscrição, fui obrigada a escrever sobre mim e sobre meus interesses para que essas informações fossem usadas mais tarde na hora de escolher um clube. O clube de música era a minha primeira opção, mas não tinha mais vagas, então escolhi aleatoriamente o de basquete, já que não parecia ter tanto serviço assim. Mas olha só como o destino age por maneiras tortas. Agora sou a escrava de dois clubes, porque a diretora acha que sou uma  adolescente desocupada e egoísta.

A essa altura do campeonato, o horário de almoço já tinha passado e eu estava com 0% de fome, fui resolver logo de uma vez essa história com a tal da Mieko. Queria dizer que foi difícil encontrar a sala de música, mas… não foi. Além de ser em uma parte afastada da escola, para que o barulho não atrapalhasse os estudantes, eu podia ouvir nitidamente alguém dedilhando na guitarra uma música que eu conhecia muito bem, mas não fazia questão de me esforçar para lembrar o nome.

E também, era uma sala que parecia perdida por ali, como se tivesse caído do céu. Simplesmente construíram um quarto aleatório no meio do nada. Palmas.

Bati na porta umas 5 vezes e como seja lá quem estivesse lá dentro não tinha me ouvido, abri a porta bem devagar para não parecer (muito) mal educada.

— Hm… com licença? Estou procurando a professora Mieko?

Olhei para todos os cantos da sala, me sentindo idiota por procurar alguém que nunca tinha visto na vida. Acho que isso não vai dar muito certo, Parish. O único avanço era que eu sabia com toda certeza que nenhum dos dois garotos que estava na sala eram quem eu procurava, porque bem… eram garotos.

— Você pode falar um pouquinho mais alto? — Um deles se aproximou de mim, sorrindo sem graça, porque o outro estava ocupado demais tentando estourar os amplificadores.

— Estou procurando a professora Mieko.

— Ah, ela ainda não voltou do almoço. Posso ajudar de alguma forma? Nós estamos responsáveis pelas coisas quando ela não está. Me chamo Lysandre. Aquele alí é o Castiel.

Enquanto Lysandre vinha sendo um fofo por todo esse tempo, o tal de Castiel continuava tocando sem se importar com o resto do mundo. Estava tão concentrado que eu mal conseguia ver seu rosto, já que seus cabelos, tão vermelhos quanto a guitarra, escondiam seu rosto.

— Por hora, não, muito obrigada. Por falar nisso, me chamo Parish. — Tentei prosseguir com a conversa, fingindo que não estava tão incomodada assim com o barulho. Não era tão ruim, mas… não há necessidade de exagerar, né?

Não tinha muito o que eu podia fazer, então puxei uma das muitas cadeiras que estavam perdidas pela sala, sentei-me e fui observar como o barulhento se saia com a guitarra. Com toda a certeza, ele sabia o que estava fazendo. Seus dedos se moviam com segurança, como se a guitarra fosse mais um membro de seu corpo. Talentoso, porém barulhento.

Quando a música terminou, com direito a uma nota exageradamente alta, ele voltou ao mundo real e se deu conta da minha ilustre presença.

Nossa, até me senti importante.

— Quem é ela, Lysandre?

— Me chamo Parish, vim procurar a professora Mieko — respondi, engolindo a revolta por ele sequer ter se dignado a se dirigir a mim.

— Como pode ver, ela não está. Já pode ir, se quiser. Estamos ocupados. — Sorriu de canto, apontando para guitarra. Limpa a boca que o deboche tá escorrendo.

Assim, de graça?

— Do que você precisa, senhorita? — Ignorou a mula guitarrista e me deu mais um sorriso maravilhoso, que quase fez minhas células virarem gelatina. Esse garoto é um perigo pra humanidade! Ele nem faz esforço pra ser encantador, que injusto.

— Fui castigada pela diretora e, bem, agora sou obrigada a participar do clube como a nova assistente.

Castiel olhou-me por entre os fios de cabelo que lhe caiam no rosto, finalmente interessado em algo que eu disse.

— Então... nós temos uma escrava?

E, pela segunda vez no dia, usaram o sorriso de 2000W contra mim. Acho que já deu a minha hora, mundo. Todos aqueles dentes não podiam ser um bom sinal, ele parecia uma piranha, ou sei lá, um coiote. Qualquer coisa que tiver dentes grandes e ameaçadores deve servir pra descrever.

Mas, ei… nós? Tipo, ele e mais alguém? Assim… ele? Sério?

— Escrava, não. Assistente.

— Não me importa. Chame como quiser, mascote. Então, vejamos… — Castiel colocou a guitarra no suporte e veio rapidamente até onde eu estava, em passos largos. — Apesar de reta, parece promissora — murmurou enquanto me avaliava, rodeando minha cadeira.

Mas do que diabos esse garoto tá falando?

Lysandre ignorou a atitude dele, assim como da outra vez e continuou, sem pressa. — De toda forma, seja bem vinda. Não fazemos muito além de ajudar Mieko nas atividades do clube, pode parecer complicado, mas logo vai ver que não temos tanto trabalho assim. Espero que possamos nos dar bem. — Sorriu com o canto da boca, me olhando com atenção.

Segura suas pitangas, garota, você é comprometida.

— Mas ei, espera… você pelo menos sabe tocar alguma coisa? Nosso mascote tem que passar uma boa impressão. — Castiel lançou um olhar crítico, que me fez ter certeza de que ele estava duvidando da minha capacidade. Por que mesmo ele me trata como um cachorrinho? Espero ao menos que ele me dê um biscoito pelo bom trabalho.

— Sei me virar com o violão — respondi, transbordando má vontade.

— Ótimo. — Castiel pegou um dos violões, que até o presente eu não tinha percebido, pendurados na parede. A sala não era lá essas coisas em questão de tamanho, mas mesmo tendo aquela montanha de instrumentos ali dentro, espalhados em toda parte, não parecia bagunçada. As paredes azuis e as cadeiras dispostas em um círculo desorganizado pareciam deixar tudo um bocado mais aconchegante. — Vai mesmo ficar olhando pra parede com ar de sonhadora? Meu tempo é precioso.

Deboche, deboche e mais deboche. Me parece que, se as coisas continuarem assim, no futuro teremos uma ótima parceria… só que não.

Passei o dedo pelas cordas para perceber se estava afinado e logo fui testando os acordes pra ver se, de fato, eu ainda me lembrava como tocar uma das minhas músicas favoritas. O olhar impaciente de Castiel denunciava que eu estava a tempo demais testando o violão, então respirei fundo e dedilhei o primeiro acorde, incentivada pelo discreto sorriso encorajador que Lysandre me deu.

Don’t Try parecia se encaixar bem em qualquer momento da minha vida, sem exceção. A melodia me trazia um sentimento bom e a letra me fazia esquecer dos momentos ruins, sem falsas promessas de que tudo iria ficar melhor, deixando só a sensação de que tudo ficaria… normal. Esse pensamento nunca me decepcionava. Então era a melhor escolha levando em conta também que ficava ótima na minha voz, já que eu não me dava muito bem com músicas que precisavam de um alcance vocal muito extenso.

Por mais que eu estivesse nervosa, cantar era uma ótima forma de colocar pra fora toda aquela montanha esquisita de sentimentos que estavam embolados em algum lugar da minha garganta. Tinha esquecido a sensação de abraçar a música, me jogar de cabeça na situação e preencher as lacunas e as entrelinhas com pedacinhos de mim. Não posso dizer que o mundo a minha volta desapareceu, já que eu via muito bem cada pequeno elemento da sala, mas… toda a resistência sumiu. Todo o meu medo de deixar o mundo me envolver saia junto com a minha voz.

Quase no final da música, um clique que reconheceria a milhares de quilômetros de distância me trouxe de volta pro mundo real. Uma mulher alta, de longos cabelos castanho avermelhados tinha o rosto parcialmente escondido por uma câmera, só pude ver com clareza seu sorriso contente e brilhante. Retribuí o sorriso, em parte porque ela, mesmo sendo uma desconhecida, me passava certo conforto e segurança e também porque câmeras sempre me faziam ter pensamentos felizes, vai entender (por mais que eu estivesse um pouco distante da minha, hoje. Afinal, eu poderia mesmo fotografar o olho roxo da Ambre pra guardar de recordação?).

— Espero que não se incomode. Nós temos a tradição de tirar uma foto pro mural, de cada membro do clube durante sua apresentação oficial, mas como você não vai ter uma, resolvi aproveitar o momento. — Ela abaixou a câmera e sorriu para mim mais uma vez, sendo a segunda pessoa do dia a sorrir sem segundas intenções. —  Meu nome é Mieko, sou a professora responsável pelo clube, você já deve ter ouvido falar de mim.

Eu queria saber a quanto tempo ela estava ali, mas… era uma pergunta pra outro momento.

— A diretora te falou sobre a minha… situação?

— Bem, sim… — Mieko torceu o nariz, como se algo naquela história toda a desagradasse profundamente. — Ela veio com um sorriso maníaco e disse que uma surpresa me aguardava na sala de música. Da última vez isso aconteceu, esses dois estavam parados na porta me esperando. Não posso dizer que foi uma surpresa agradável… — Ela provocou Castiel dirigindo-lhe um sorriso atrevido, que foi respondido com um revirar de olhos. Então quer dizer que nem sempre ele se sente obrigado a soltar veneninho? Hm, interessante.  — Mas tenho certeza que vai gostar da nossa companhia, Parish. Inclusive, se quiser conversar sobre o que aconteceu mais cedo, eu…

— Não será necessário. — Cortei o assunto. Só queria deletar aquela manhã, aquela semana, essa realidade, da minha mente e seguir em frente. — E, se eu cheguei aqui agora… como você sabe meu nome?

— A diretora jogou a sua ficha em cima de mim e depois saiu cantarolando como se tivesse tirado um grande peso das costas — riu e tirou do bolso uma folha de papel dobrada, que imaginei ser a minha ficha de interesses, um dos requerimentos da matrícula.

— Por que a velhota está agindo como se a garota tivesse provocado uma guerra civil? Tenho certeza que ela está ficando caduca.

— Se considerar o motivo de estarmos aqui, não deve ser algo tão grave assim. — Lysandre sorriu e resolveu se manifestar depois de todo o silêncio durante a minha “apresentação”.

— Como se roubo e chantagem não fossem motivos bons o bastante. — Mieko retrucou, atraindo a minha atenção imediatamente. Eu estava meio distraída lutando com a minha mania masoquista de ficar me torturando lembrando de coisas que tinha prometido esquecer. E também, eu mal os conhecia e não tinha nada a ver com a conversa casual deles, mas… roubo e chantagem?

Então, Castiel se dirigiu a mim sem qualquer traço de deboche na voz, pela segunda vez naquela tarde. — Isso só me faz pensar… o que diabos você fez, garota?

Mas ele mal me deu tempo de responder e me surpreendeu tomando o violão das minhas mãos, colocando-o de volta na parede. Acho que, talvez, ele não quisesse uma resposta, não de verdade.

Confesso que fiquei um pouco aliviada com isso, já que eu realmente não queria ter que dizer que eu quase causei uma guerra civil de verdade. A mãe da Ambre estava a ponto de arrancar a maquiagem da minha tia com bolsadas e titia parecia prestes a tirar as sandálias de salto enfeitadas com rubis falsos (bem no estilo O Mágico de Oz) para acertar a cara da mãe da Ambre, como resposta. Não foi uma cena bonita, mas acharia justo se ela arrancasse uns dois dentes e aquele sorrisinho nojento da cara dela.

— Se bem que isso não interessa. — Bingo. — Agora que você provou que consegue pelo menos segurar o violão, podemos começar logo? Temos muita coisa pra fazer e eu não tô com vontade de ficar aqui o dia todo.

Ficar aqui o dia todo? Ele não pode estar falando sério...


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Notas finais do capítulo

Uuuuuh, será que eles vão ficar o dia todo? Claro que vão, que mistério mais besta.
ATÉ A PRÓXIMA?
Vou tentar não demorar com a segunda parte hehehe