shhhhh, Longbottom!

Frank suspirou, enquanto se inclinava para trás com a cadeira mais uma vez, tentando enxergá-la mexendo nas prateleiras em busca de algum livro. Era sábado e a maioria de seus amigos estavam fazendo algo divertido (Remus tinha até mesmo o convidado para participar de uma pegadinha junto com os outros marotos e ele tinha gentilmente negado), mas Frank estava ali, sentado na biblioteca e recebendo olhares feios de Madame Pince sempre que ele respirava alto demais.

Era uma porcaria estar apaixonado.

Pelo menos era isso que ele pensava agora. Ele tinha apenas 14 anos (faria 15 em breve, graças a Merlin!) e já estava absolutamente enjoado da ideia de gostar de alguém. Tudo bem que Alice (doce Alice!) era incrível. Com seus longos cabelos chocolate e sua risada extremamente fofa, Frank não pôde nem ao menos evitar se sentir completamente caído pela morena, mesmo que os dois fossem só amigos. Talvez fosse um pouco ridículo alguém como ele (um tanto quanto desengonçado e extremamente péssimo em esconder seus sentimentos) estar tão bobo por alguém tão forte e decidida como ela, mas ele não conseguia simplesmente seguir em frente e ignorar seus sentimentos.

Droga, ele era um verdadeiro idiota.

O garoto suspirou mais uma vez, esfregando o rosto e observando o livro que estava na sua frente. Era o primeiro livro que ele tinha visto e ele apenas o tinha pego para fingir que estava fazendo algo menos constrangedor que observar a garota que vagava pela biblioteca com calma, passando os dedos pelas lombadas dos livros com delicadeza tentando escolher algum.

Por Merlin, ela era adorável.

Frank balançou a cabeça, levantando-se. Era uma ideia estúpida ficar ali só para a observar (e também, nada discreta), então era melhor sair antes que ela o visse. Pelo menos, ele evitaria mais algum constrangimento.

Mas é claro que não funcionou sair da biblioteca de forma discreta. Ele tinha que esquecer onde o livro que estava usando como objeto de distração ficava e receber um olhar ameaçador da Madame Pince antes que ele pudesse sair correndo dali e largar o livro em cima da mesa.

— Porcaria — o moreno resmungou, segurando o livro e finalmente leu o título do livro, “Poções para jovens bruxas prevenidas”. Sentiu seu rosto corar levemente e a vontade de sair correndo da biblioteca apenas aumentou. Onde tinha pegado aquele livro? Por Merlin, ele nem fazia ideia.

Ainda parado em frente à mesa que estava anteriormente sentado, Frank resistiu ao impulso de folhear o livro e tentou pensar. Provavelmente o livro ficava na corredor de livros sobre poções, claro. Decidiu testar e andou até o corredor rapidamente e de cabeça baixa, segurando o livro firmemente nas mãos. Quando chegou ao corredor, passou os olhos pelas prateleiras rapidamente, procurando o lugar certo do livro que ainda estava em suas mãos. Estava tão distraído que nem ao menos notou que alguém se aproximava.

— Precisa de ajuda? — uma voz doce perguntou, fazendo Frank dar um pulo de susto e soltar o livro, que caiu com um baque no chão. Tentando recuperar o fôlego e os batimentos cardíacos acelerados quando reconheceu a voz, Frank se abaixou de forma desengonçada para pegar o livro, mas a garota tinha sido mais rápida e já estava com ele nas mãos. Levantou-se rapidamente junto com ela e respirou fundo.

— Eu não… Eu só não sei o lugar certo desse livro. — disse ele baixinho, erguendo o olhar para encarar os olhos castanhos aveludados de Alice. Sentiu seu rosto queimar de vergonha enquanto pegava o livro das mãos da garota que encarava a capa com uma sobrancelha arqueada.

— Eu sei, não se preocupe — ela deu uma risadinha, pegando o livro das mãos de Frank mais uma vez, inclinando-se para colocar o livro na prateleira atrás de Frank. O garoto arregalou os olhos levemente, sentindo o perfume dela com a proximidade inesperada e deu um passo para trás, encostando na prateleira logo depois que ela depositou o livro. — Desculpe, isso foi uma invasão de espaço pessoal, não é mesmo? — a garota riu nervosamente, finalmente se dando conta de quão perto tinha ficado de Frank naquele momento. Mas ela não ligava muito realmente, na verdade, até tinha apreciado sentir o cheiro dele tão de perto. Afastando-se, Alice o encarou com uma expressão amena e um leve sorriso nos lábios — O que você está fazendo na biblioteca em pleno sábado?

— Eu estava lendo, claro — respondeu Frank sorrindo de forma nada convincente, o que fez a morena dar uma risada baixinha e balançar a cabeça negativamente.

— Sobre poções para jovens bruxas prevenidas? Que divertido — ela brincou, balançando a cabeça mais uma vez — Por que eu tenho a impressão de que você devia estar aprontando algo com os marotos e não estar aqui? — questionou sorrindo, fazendo o garoto sorrir também. Ela era tão linda. Tão, tão linda.

— Porque você está certa — ele acabou confessando, dando de ombros — E eu nem cheguei a abrir aquele livro. — confidenciou Frank, rindo junto com a morena.

— O que você está fazendo aqui então, Longbottom? — Alice questionou, sorrindo. Era claro que ela tinha percebido que ele estava ali a observando. Ele era tão óbvio. — Observando alguém em especial?

E naquele exato momento, Frank teve a certeza de que ele era realmente horrível em esconder seus sentimentos.

Alice sabia da existência deles. Com toda a certeza sabia.

— Eu… — ele estava sem palavras. Os dois eram amigos, não tão próximos, mas mesmo assim era um tanto quanto desconcertante estar naquele corredor com ela. Estar perto e falando com ela.  — Talvez. Quer dizer, eu… — ele só não sabia o que dizer. Não sabia como dizer tudo que estava engasgado dentro dele: que ele gostava dela. Que ela era absolutamente linda e fantástica. Que ele era um maldito idiota.

Porque ele realmente era.

— Você é fofo, sabia? — Alice deu uma risadinha, se aproximando dele. Ele abriu a boca para responder, mas ela colocou os dedos em seus lábios. — Shhhhh, faça silêncio, Longbottom — murmurou ela antes de se aproximar e depositar um beijo leve em seus lábios.

E ele continuou estático, sem saber como agir. Apenas fechou os olhos e retribuiu o beijo, mas não teve coragem de levantar os braços e abraçar a garota. Seu cérebro parecia estar virando geleia de abóbora e seu coração parecia querer sair pela boca, de tão acelerado. Frank não sabia reagir. Não sabia o que diabos estava acontecendo, mas estava adorando cada segundo.

Quando Alice se afastou, abrindo os olhos lentamente, ela sorriu mais uma vez para o garoto e deu uma risadinha pela sua expressão de choque.

— Tenha um bom sábado, Frank — sussurrou de forma graciosa, antes de se afastar e acenar para ele, saindo do corredor sem olhar para trás.

Frank permaneceu parado e levou as mãos aos próprios lábios, sorrindo para si mesmo.

Aparentemente, ir até à biblioteca aos sábados podia ser realmente uma ótima ideia.

E não saber disfarçar seus sentimentos também.