Fica Combinado Assim escrita por Carol Coelho


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=b-I2s5zRbHg
Boa leitura :-)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760965/chapter/1

Começou como uma brincadeira. Ele era novo na cidade. Alto, charmoso, misterioso. Uma combinação perigosa e terrivelmente atraente. Pedro Henrique conheceu Lorena por acidente e, por acidente, ele gostou dela. Mas ele estava ciente de sua condição. Era um homem inescrupuloso da forma que a profissão pedia. Não podia nem sonhar em estar com alguém de verdade, mas Lorena não pareceu se importar. Combinaram de manter tudo casual e sexual e tudo fluiu muito bem dessa forma. Mas nada dura para sempre e o inevitável aconteceu.

Encontros ocasionais devido a amigos em comum os aproximaram. Ele costumava brincar que Lorena era um imã para más companhias e ela sempre concordava, sem ter ciência do quê isso significava. Eles eram algo interessante e se divertiam com isso. Era agradável.

Agora já era uma brincadeira que durara quase um ano.

Com medo, eles se afastaram, mas o inevitável aconteceu de novo. E de novo. E ela havia se traído novamente, como sabia que faria, e se encontrava nos braços dele mais uma vez, mas agora ela tinha um motivo plausível para sua promessa quebrada: Pedro Henrique estava indo embora.

Tarde da noite os dois correndo pelas ruas, ansiando por algumas horas de privacidade. Lorena fora surpreendida tardiamente pelo rapaz à sua porta prometendo arrastá-la para a melhor noite de sua vida. Ela tentou refutar e mandá-lo embora, como havia prometido a si que faria, mas ele estava tão convicto. Mesmo com o sorriso contido tomando-lhe a face, ela sabia dizer que havia algo de errado porque ela o conhecia. Conhecia aquele sorriso triste. Quando lhe perguntou o que houve, ele respondeu apenas que estava indo viajar e queria se despedir.

Na mesma hora, Lorena colocou seu casaco e trancou a porta da frente, indo ao seu encontro na rua deserta e escura. Aquele momento quebrava tudo o que haviam combinado. Desde o começo ele lhe avisara que não era bom, que era um problema, uma encrenca maior do que ela podia imaginar. Ela, com sua mania de consertar as coisas, havia topado entrar na aventura que estava se encerrando naquela madrugada por motivos que Pedro Henrique havia se recusado a contar.

— É sério, você não precisa saber — respondeu após a segunda vez que ela perguntou. Estavam na metade do caminho para o hotel barato no centro comercial da cidadezinha pacata e adormecida.

— Você adora se manter uma incógnita, não é? — ela perguntou, olhando seu belo rosto de soslaio.

— É a única arma minha que eu consigo manter em pé perto de você, Lorena — respondeu, devolvendo o olhar de canto.

Lorena sorriu e voltou a mirar a rua à sua frente, sem ter ideia do quão literal aquela frase havia sido. Apertou a mão dele que segurava a dela, gelada de frio. Ele correspondeu ao aperto de uma forma que fez apertar também o coração de Lorena. Uma coisa era estar distante, porém saber que podia alcançá-lo quando precisasse; outra era perder total contato com Pedro Henrique, porque ela sabia que era isso que aconteceria. Ela tinha consciência dos riscos.

Eles tinham combinado, é claro, que não tinham nada de especial. Era pra ser uma coisa casual e despretensiosa, mas agora eles estavam dando uma última caminhada juntos até o hotel barato e ambos sentiam o peso disso.

Lorena se preparou para dizer algo quando eles entraram na avenida do hotel, mas, como se lesse sua mente, Pedro Henrique parou de forma abrupta e se colocou na frente de Lorena, a olhando nos olhos quase com raiva.

— Olha, a gente sabia tá? Que esse momento ia chegar, eu te avisei. Te falei que com a minha vida… — ele desviou o olhar e engoliu em seco, sem conseguir terminar.

— Eu sei — foi tudo que Lorena respondeu.

— Te avisei — repetiu — que eu não sou cara pra se envolver. Que droga, Lorena! — exclamou a puxando para um abraço apertado.

Lorena mordeu os lábios para não chorar e fechou os olhos com força.

— Eu sabia, eu sabia — frisou repetidas vezes. — Eu sei, porra. Eu não queria, tá?

— Eu sei — ele sussurrou. — Só quero deixar tudo claro. Sempre quis, você me conhece. Falei que eu não presto. Falei pra não tentar me arrumar. Não é pra você ficar triste, inferno!

Com muito custo, o abraço se partiu.

— Vamos? — sugeriu Lorena, tentando afastar aquela nuvem negra de cima daquele momento. Não era assim que ela queria passar sua última noite com Pedro Henrique. O puxou pela mão na direção do hotel querendo que aquele caminho durasse para sempre.

 

Agora estavam os dois deitados na cama, cobertos pelo lençol branco em um silêncio quase doloroso que ninguém tinha coragem de preencher. A cabeça de Lorena repousava sobre o peito nú de Pedro Henrique que lhe acariciava o cabelo curto em um gesto muito atípico. A lua entrava pela janela de cortinas finas junto com a luz vermelha do letreiro do hotel, deixando tudo com uma cor bonita e melancólica.

— Se você não vai me dizer por quê você vai embora, sabe me dizer quando você volta? — ela perguntou, olhando-o nos olhos. De certa forma ela já sabia a resposta.

Pedro Henrique suspirou antes de responder e retirou a mão dos cabelos da moça para pousá-la no ombro da jovem, a puxando para perto, como se quisesse fundir seus corpos para que não precisassem se separar.

— Eu não… — ele deixou a frase morrer. Não teria coragem de completá-la com a verdade de que não voltaria. — Eu não sei. — suspirou por fim, desconversando.

Pedro se esticou até o criado mudo e puxou um cigarro do maço, acendendo-o e jogando a fumaça para cima. Lorena mateve a cabeça repousada em seu tronco enquanto o rodeava com os braços, tentando memorizar o corpo dele no seu próprio.

— Vou para o interior amanhã de manhã. Você não vai mais saber de mim, Lorena — falou, tentando soar indiferente.

Lorena ergueu a cabeça para olhar em seus olhos escuros. Era sempre através deles que ela conseguia enxergar a tristeza que se escondia atrás do sorriso contido. Eles prometeram nunca dizer “eu te amo”, mas naquela noite a promessa parecia quase impossível de ser mantida.

— Pedro? — chamou. Ele abaixou a cabeça para olhar em seus olhos. — Me conta.

Pedro travou o maxilar e engoliu em seco, balançando a cabeça.

— Você sabe que eu não sou um homem bom, Lorena — respondeu simples antes de tragar profundamente mais uma vez. — Só mais um trabalho que me fodeu. Não posso mais ficar aqui.

— Não pode? — indagou.

— E não quero — mentiu.

O silêncio pairou mais uma vez.

— Olha, não é nesse clima deprimente que eu quero passar essa última noite, tá? Fica combinado assim: nada está acontecendo. É só mais uma noite insana de um sexo maravilhoso no nosso hotel podre favorito. Deixa pra se preocupar com o depois depois, Lorena.

Ela assentiu e se inclinou para beijá-lo, sentindo o gosto de nicotina em seus lábios. Era algo tão característico dele que ela nunca conseguiria odiar, desde que fosse ele. Fez uma promessa mental de que ela não se relacionaria mais com fumantes.

— Nada está acontecendo, certo? — ele partiu o beijo para perguntar. — Estamos combinados?

— Sim, estamos combinados.

Ela se inclinou para beijá-lo novamente, mas ele a impediu.

— Você me perdoa? — perguntou ele.

— Perdoar pelo que? — Lorena quis saber.

— Pelo que poderíamos ter sido e não fomos.

— Você não tem culpa — ele sorriu tristonho perante essa frase. Ela não tinha ideia de como estava errada.

Pedro Henrique a abraçou sem querer soltá-la. Era a melhor coisa que havia lhe acontecido. Era a única pessoa que o fez questionar suas decisões, mas ele já estava muito fundo para conseguir voltar para a superfície.

Lorena tentou alcançar seus lábios e foi interrompida mais uma vez.

— Você promete que vai ficar bem?

— Eu prometo.

Foi um relacionamento construído com promessas quebradas. Eles se traíam e contradiziam todas as vezes que se encontravam. Prometeram não se envolver, se envolveram. Prometeram manter casual e sexual, se apegaram e se tornaram portos seguros um para o outro. Prometeram nunca dizer eu te amo, mas não precisava ser dito: estava em tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigada pela leitura ♥ me deixe saber o que você achou da história!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fica Combinado Assim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.