— A Cuca fica falando sobre dominar o mundo e que quer que eu seja seu cúmplice — explicava Edmundo a Saci. — É tão estranho... E ela tá preparando essa poção há um tempão já, parece ser mais séria do que uma sopa de menino... O que você tá fazendo? — Perguntou ao ver como Saci pulava pela caverna.

— Tô procurando a chave da cela, ué? A bruxa não tá aqui, então eu posso te tirar daí pra gente conversar melhor.

— Muito obrigado, mas você não vai encontrar a chave...

— Como não? Pra você que não sabe, eu sou muito bom em pegar coisas dos outros hahaha.

— Acontece que esta cela não tem chave, a Cuca me trancou aqui com feitiço.

— Carapuça! Agora que eu tô vendo que nem fechadura tem...

— Pois é, mas valeu a tentativa. Legal você querer me ajudar!

— Eu gosto de irritar a Cuca — Edmundo riu com a resposta de Saci. — Mas agora a gente vai ter que pensar em outro jeito...

— Bom, eu vejo a Cuca olhando pr'aquele livro o tempo todo enquanto prepara a poção — o Rei apontou para um livro que estava perto da bola de cristal. — Talvez seja um livro de feitiços.

Saci pegou o tal livro e disse:

— Ih, não dá pra entender nada do que tá escrito aqui! Deve ser outro alfabeto... Dá uma olhada, vai que na sua terra ele é conhecido — Saci mostrou o livro para Edmundo.

— Eu não conheço... Mas, não sei por que, me lembra um livro de receitas.

— Ah, então deve ser a receita da sopa, não tem nada a ver com a cela. Mas fica tranquilo, que eu sei quem pode te tirar daí.

— Sério??? Não é nenhuma outra feiticeira não, né?

— Mais ou menos... Na verdade, é mais de uma pessoa. Ah, já ia me esquecendo de perguntar: você tem alguma coisa a ver com umas crianças que apareceram aqui? Duas meninas e um menino, todos usando coroa.

— São os meus irmãos!!! Então quer dizer que a Susana e Pedro também estão aqui??? Onde você os viu?

— Lá na mata, ontem. A menina menor eu vi duas vezes, uma com os irmãos e outra sozinha.

— A Lúcia! O pior foi que a Cuca também a viu sozinha na mata pela bola de cristal.

— Eu sei, ela tava procurando por ela ontem, sorte que eu já tinha aparecido e espantado a menina.

— Você não assustou a minha irmã, né?

— Eu até tentei, era melhor que ela se assustasse comigo do que com a Cuca. Mas ela ficou bem tranquila lá, olhando o meu redemoinho, acho até que tava sorrindo... Mas a Cuca pensa que eu a assustei e que ela provavelmente não vai mais voltar aqui na mata hahaha.

— Ainda bem! Foi tão estranho quando a Cuca a viu, sabe? Parecia que ela queria...

— Comer ela?

— Não... quer dizer, ah, não sei... Mas acho que por alguma razão ela pensou em me trocar pela Lúcia no seu plano diabólico, sabe?

— Você é muito magrinho, a Lúcia é mais gordinha, é claro que fica melhor na sopa.

— Você acredita mesmo que ela só quer fazer uma sopa, né?

— Sim. De qualquer forma, vou sair daqui e procurar o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo antes que a Cuca chegue. Ah, e vou levar isso — disse, referindo-se ao "livro de receitas".

— Muito obrigado pela ajuda, Saci.

E o Saci saiu da Caverna rodando em seu redemoinho.

***

O Príncipe Escamado anunciou a todos do Reino das Águas Claras sobre o irmão desaparecido da Rainha Susana, amiga da Princesa do Nariz Arrebitado; e os animais marinhos, assim como as duas meninas, procuraram-no por todos os lados, mas, ao que parecia, o Rei Edmundo não estava por lá.

Susana e Narizinho apenas agradeceram por toda ajuda e o príncipe garantiu que ficariam avisadas caso alguém ainda encontrasse o Rei.

— Então é isso, ele está mesmo na tal Caverna da Cuca... — dizia Susana, enquanto ela e Narizinho saíam do Ribeirão.

— Talvez não. Ele ainda pode estar no Reino das Águas Claras, talvez o encontrem mais tarde.

— Acho que não, Narizinho. Eu até quis acreditar que ele estivesse lá por ser um lugar aparentemente menos perigoso, mas, por alguma razão, eu sei que é na Caverna da Cuca onde ele está...

— Espera! A gente ainda não viu como a Emília e Visconde estão se saindo, vai ver eles conseguiram encontrar o Edmundo lá na biblioteca...

— Verdade... Mas e quanto à Lúcia, o Pedro e o Pedrinho? Será que eles estão bem lá na mata ou será que a Cuca encontrou eles???

— Seu irmão tem uma espada, né?

— Tem.

— Então eu acho que a gente pode ficar tranquila.

— Acho que sim. Espero que eles consigam tirar o Edmundo da Caverna se ele estiver lá. Ei, Narizinho, eu tava tão preocupada, que esqueci de falar: o seu reino é muito lindo!

— Obrigada! Depois que a gente encontrar o Edmundo, eu posso levar todos vocês pra conhecerem o Reino das Águas Claras com mais calma.

— Seria muito legal!

***

Lúcia e os Pedros viram Cuca na mata e se esconderam.

— O que ela está fazendo? — A menina perguntou, baixinho.

— Parece desinterrar alguma coisa... — Pedro respondeu.

— A Cuca é bem estranha, mesmo... — disse Pedrinho. — Vamos sair de fininho daqui, antes que ela nos veja.

Cuca estava tão concentrada em sua escavação, que nem percebeu quando os três saíram de perto.

— A gente já tá quase chegando — afirmou Pedrinho, quando já estavam longe da Cuca e perto de sua caverna.

— Saci! — Exclamou Lúcia, ao ver o Redemoinho Risonho se aproximar.

— E aí, Pedrinho? — Disse Saci, ao aparecer.

— Que bom que você tá aqui, Saci! Esses são os meus amigos, a Rainha...

— Lúcia e o Rei Pedro.

As crianças ficaram impressionadas.

— Já ouviu falar da gente? — Perguntou o Rei Pedro.

— Sim, o seu irmão Edmundo me falou de vocês.

— Você conheceu o Edmundo?! Onde ele está??? — Questionou Lúcia.

— Na Caverna da Cuca, mas é melhor vocês não irem pra lá agora, ela pode voltar a qualquer momento. A gente precisa ir lá pro Sítio chamar a Emília e todo mundo, no caminho eu explico direitinho o que tá acontecendo. Vamos!

— Tá bom — disse Pedrinho —, mas você não tá esquecendo de nada, não?

— Claro que não. Vamos logo, antes que a Cuca nos veja!

— Acontece, Saci, que eu fiquei sabendo que você roubou um objeto da Rainha Susana...

— Ah, é mesmo! Já tinha esquecido! Hahaha. Não se preocupem, eu devolvo pra ela, até porque, ela vai precisar...

***

— É óbvio que o Edmundo não ia tá dentro de um livro, né, Visconde? — Emília reclamava, após ela e Visconde terem literalmente entrado em todos os livros da biblioteca de Dona Benta. — Que ideia foi essa?

— Ah, Marquesa, o Rei Edmundo podia estar por aqui, os livros da Dona Benta fazem parte do Sitio, então, teoricamente, ele podia estar em um dos livros... Além disso, a senhorita não teve nenhuma ideia melhor!

— Tô vendo que não progrediram muito... — disse Narizinho, que, até então, não havia sido notada pelos bonecos, assim como Susana.

— O Visconde pode até ser um gênio — respondeu Emília —, mas é um PÉSSIMO dadeiro de ideias!

— Ah, eu achei a ideia dele boa, a culpa não é dele se não deu certo...

— Obrigado, Rainha Susana!

— Se você pensa assim, tá bom, né? — Disse Emília, com indiferença.

— Também não achamos nem sinal do Edmundo lá no Reino das Águas Claras — Narizinho mudou um pouco de assunto.

— O melhor seria todo mundo ter ido lá pra Caverna da Cuca, mesmo. Se tivesse sido assim, o Edmundo já ia tá aqui. Acho que é melhor a gente ir lá pro Capoeirão procurar a Lúcia, o Pedrinho e o Pedrão.

— Não sei se é uma boa ideia, Emília — disse Visconde. — O Capoeirão dos Tucanos é muito grande, provavelmente nos desencontraríamos...

— Visconde, shiu! Quem é você pra falar da Dadeira de Ideias do Sítio? A minha ideia é ótima. E se a Cuca tiver pegado eles também? Eles não iam ter como pedir ajuda, mas iam precisar...

— Eu já falei com a Susana sobre isso, Emília: o Pedro tem uma espada, eles estão bem.

— Ah é, uma espada... — disso Emília, com um ar sonhador. — Por que o Papai Noel dá presentes tão bons pra vocês? — A boneca perguntou a Susana, que comentara em algum momento do café da manhã sobre os presentes que ela, Pedro e Lúcia haviam ganho do Papai Noel.

— Porque somos muito comportados.

— Ou seja, Emília — disse Narizinho —, pode tirar o cavalinho da chuva porque o Papai Noel nunca vai te dar um presente assim.

Emília, que sempre tem resposta para tudo, já ia dar uma muito boa, quando foi repentinamente interrompida por Visconde:

— Estão ouvindo esse barulho? Parece que tem uma ventania lá fora... Mas que estranho! Tão de repente...

Os quatro foram para fora da casa, quando viram do que se tratava:

— Não é ventania coisíssima nenhuma — disse Emília. — Olha lá, Susana, é o Saci!

— Aquele ladrãozinho... — comentou a Rainha.

— O Rei Pedro, a Rainha Lúcia e o Pedrinho o estão acompanhando — Visonde acrescentou.

— E nem sinal do Edmundo... — Finalizou Narizinho.

— Oi, gente! — Disse o Rei Pedro. — É o seguinte, o Saci disse que o Edmundo está na Caverna da Cuca e a gente precisa de um plano muito bem elaborado pra salvá-lo.

— Visconde, a sua missão é traduzir este livrinho — disse Pedrinho, entrengando o livro de Cuca ao sabugo, que imediatamente voltou à biblioteca para cumprir sua missão.

Saci, que segurava a aljava de Susana, dirigiu-se a ela:

— Rainha Susana, isto pertence a você.

— Obrigada. Pelo menos você devolveu, acho que reconheceu o erro — ela pegou a aljava de volta.

— Mas tem uma explicação pro que fiz: minha função é proteger a mata e, por mais que de vez em quando eu faça algumas brincadeirinhas com os animais, eu não posso deixar que ninguém os machuque. Quando eu vi as flechas, pensei que você fosse uma caçadora, então as peguei.

— Nossa, eu não sabia! E só fiquei pensando mal de você... Me desculpe! Sabe, pra falar a verdade, eu não gosto de atirar em animais, só faço isso quando é muito necessário!

— É verdade, a Susana não gosta de matar nem formiga! — Disse Pedro.

— Parece até a Narizinho! — Afirmou Pedrinho e os xarás ficaram rindo das meninas.

Susana, que pouco se importou com os comentários, continuou falando com Saci:

— Bom, acho que podemos ser amigos, não é? — O protetor da mata concordou, feliz.

— Que bom que vocês são amigos agora! — Exclamou Lúcia. — Então, todos juntos, vamos bolar o plano para salvar o Edmundo, antes que seja tarde!

E, com muito cuidado, eles pensaram em cada detalhe e elaboraram o plano perfeito para salvar Edmundo.