Destiny escrita por oicarool


Capítulo 11
Capítulo 11




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Na semana que se passou, Elisabeta declinou de todos os convites e programações feitas por Darcy e Lizzie. Em princípio Darcy apenas atribuiu ao incômodo que Elisabeta poderia ter sentido ao conhecer Ludmila. Mas Jane também dava notícias vagas sobre Elisabeta, e em uma tarde ensolarada, ele mesmo foi até a residência dos Benedito.

Foi recebido por uma falante Dona Ofélia, que em seus resmungos característicos, informou que Elisabeta havia saído com Tornado. Completamente alheia ao que acontecia, disse que a filha voltava ao velho hábito de cavalgar sem rumo, retornando apenas quando o sol já não estava no céu.

O coração de Darcy apertou-se um pouco com a informação. Lembrava-se bem do dia em que a conhecera, e do olhar um pouco perdido, os olhos vermelhos. Com o passar do tempo, ao conhecer Elisabeta, dera-se conta de que a havia conhecido em um dia ruim. Preocupava-se que suas cavalgadas sem rumo pudessem ser a tentativa de Elisabeta encontrar o seu caminho, e que de alguma forma pudesse ter contribuído para a confusão dela.

A verdade é que a temporada em São Paulo, e os dias que se seguiram ao retorno dele e Lizzie ao Vale do Café haviam sido transformadores. Amava Elisabeta, e aos poucos sentia que encontravam a paz. Ao menos era o que pensava antes dela sair de sua casa naquela tarde.

Mas não poderia ser apenas isso, porque certamente Jane já desfizera qualquer confusão a respeito de sua relação com Ludmila. Jane frequentava sua casa quase todos os dias, estava cada vez mais próxima de sua amiga, e não havia como não ter sido informada que era tudo um mal entendido.

Quando retornou à Fazenda naquela noite, precisou explicar mais uma vez para Lizzie que Elisabeta estava ocupada. E o incomodava ter de dizer isso à filha. Era o receio que tinha a respeito do envolvimento deles em primeiro momento, o quanto poderia afetar a filha qualquer tipo de desencontro ou separação.

— Jane, podemos dar uma palavra no escritório? – perguntou subitamente, causando estranheza à todos.

— Claro... – a moça respondeu educadamente.

Tão logo chegaram ao escritório, Darcy encostou-se na mesa, a postura tensa, olhar preocupado. Jane o observou assustada.

— Me desculpe, Darcy, mas você está me preocupando. Aconteceu alguma coisa? – perguntou ansiosa.

— Jane, eu... – ele pausou, e então fitou os olhos de Jane, tão parecidos e tão diferentes dos de Elisabeta. – Eu preciso saber de Elisabeta.

Jane soltou a respiração que nem sabia que prendia.

— Darcy, eu queria poder dizer mais alguma coisa. Mas a verdade é que Elisa é reservada, sempre esconde os problemas de todas nós. Eu também não sei direito o que está acontecendo.

Darcy baixou os olhos, pensativo. Era difícil para ele expressar seus sentimentos, ainda mais para alguém com quem não tinha tanta intimidade. Mas Jane era uma moça de olhar bondoso, a escolhida de Camilo, e conhecia Elisabeta melhor do que qualquer pessoa.

— Você disse a ela que Ludmila é apenas uma amiga? – ele perguntou, inseguro.

— Ela sabe. – Jane tranquilizou-o, ficando em silêncio em seguida.

— Eu... gosto de Elisabeta, Jane. Acho que já deve ter percebido. – ele confessou, em voz baixa.

— Se me permite uma observação, Darcy, acho que você e Elisabeta tem alguma dificuldade com seus sentimentos. – Jane sorriu tranquila.

— É uma maneira sutil de pontuar. – Darcy também sorriu.

— Minha irmã parece uma pessoa independente, e provavelmente me mataria se soubesse que eu disse isso a você, mas é também muito insegura. Nossa mãe sempre tentou forçar Elisabeta a sonhar com filhos e casamento, e Elisabeta sempre quis o mundo.

Darcy a observou.

— E você e Lizzie são um pacote completo. Suspeito que Elisabeta esteja tentando dominar o que sente, e se me permite a observação, acredito que você esteja fazendo o mesmo.

Jane se aproximou de um Darcy silencioso, segurando a mão dele na sua e o surpreendendo.

— Mas eu garanto a você que minha irmã vale todo o trabalho que dá. – Jane riu, fazendo Darcy rir também. – E eu adoraria tê-lo na família.

E com um sorriso e leveza que não poderiam ser de ninguém além de Jane, ela despediu-se, deixando Darcy com seus pensamentos e sentimentos. Percebia que para ter Elisabeta em sua vida, precisaria batalhar por ela, mas o primeiro passo era encontrar a dona de seu coração.

No outro dia Darcy deixou as rodas de lado, selou um dos cavalos de Julieta, e rumou para o desconhecido. Passou próximo a casa dos Benedito, e cavalgou pelos caminhos do Vale do Café. A busca foi mais demorada do que Darcy planejou, mas só desistiu quando o sol sumiu do céu. Não havia pista de Elisabeta e a frustração o atingiu ao chegar em casa.

O dia seguinte nasceu com nuvens no céu, e Darcy teve a esperança de que encontraria Elisabeta em casa. Mas ela foi logo desfeita por Jane, que sequer vira a irmã sair. E mesmo preocupado com o tempo, Darcy novamente subiu nas costas do cavalo e foi a procura da mulher que tirava seu sono.

A tarde avançou e Darcy já estava quase perdendo as esperanças quando avistou Tornado amarrado a uma árvore, sem nenhum sinal de Elisabeta por perto. Estava tão atordoado com a busca que só notou onde estava quando desceu do cavalo e olhou em volta.

Estava a alguns passos do topo de uma colina que tinha vista para todo o Vale do Café. Seria o lugar perfeito para qualquer pessoa que precisasse refletir, e alguns meses atrás acharia que tudo era obra da coincidência. Mas ao avistar Elisabeta sentada em uma pedra, com um olhar perdido em direção a única casa próxima àquele descampado, um arrepio o percorreu.

Aproximou-se aos poucos, em silêncio, e Elisabeta parecia atordoada demais para nota-lo. O céu anunciava a tempestade que se aproximava, e o vento bagunçava os cabelos de Elisabeta e os dele. Sentou-se ao lado dela, fazendo Elisabeta sobressaltar, mas seus olhos não mudaram de rumo.

— O que faz aqui? – perguntou tranquila.

— Estava a sua procura. Há alguns dias. – ela assentiu ao ouvir.

— Como está Lizzie?

— Sentindo sua falta. – ele a observava, enquanto Elisabeta mantinha o olhar turbulento no infinito.

Uma lágrima caiu deslizou pelo rosto de Elisabeta, sendo limpa quase com fúria.

 - Eu também senti sua falta. – ele acrescentou, fazendo os olhos dela voltarem-se para os dele pela primeira vez.

— E Ludmila? – Elisa perguntou direta, sem desvios.

Darcy sorriu, levando uma de suas mãos ao rosto dela, arrumando uma mecha que insistia em cair nos olhos dela. Elisabeta fechou os olhos brevemente com o contato desavisado, abrindo-os logo em seguida.

— Ludmila é uma grande amiga. Tornou-se grande amiga da Mary e nos reencontramos em São Paulo.

Elisabeta assentiu novamente, voltando seu olhar para a paisagem à sua frente. Darcy agiu rapidamente, puxando levemente o rosto de Elisa para a sua direção, voltando o olhar dela para o seu.

— Me desculpe por não ter explicado. Eu jamais imaginei que você pensaria que era qualquer coisa além de amizade. – ele soltou um suspiro, seu olhar sério, o dela indecifrável.

— Você não me deve nenhuma explicação. – Elisa disse simplesmente.

E ele sentia que ela estava fugindo, desviando do contato dele. Era como a primeira vez que tinha repousado seus olhos nela, o mesmo escudo que a protegia do mundo, que a protegia dele. E seu coração apertou-se por ela pensar que precisava se proteger dele.

— Elisa... – era a primeira vez que ele a chamava pelo apelido, e os olhos dela se fecharam ao ouvir. – Eu só tenho olhos pra você desde que te conheci. Quando a vi pela primeira vez com Lizzie o meu mundo parou, e cada momento longe de você é um tormento.

Ela o escutou com atenção, sem deixar as emoções chegarem aos seus olhos. Seu peito ardia e seus olhos queimavam, e nunca sentira-se tão instável e sem rumo como nos últimos dias. E as palavras de Darcy acalmavam sua alma.

— E eu sei que parece improvável, e que por vezes não nos entendemos, mas eu não quero viver sem você, Elisabeta.

E ela não queria viver sem ele, mas não confiava em suas palavras naquele momento. Não confiava no poder de suas emoções e na instabilidade de seus pensamentos. Mas confiava nele, e na luz que ele trazia para aquele dia em que a escuridão entrava em sua mente.

Não pensou duas vezes antes de aproximar-se dele e colar seus lábios nos dele, esperando que suas ações pudessem responder por ela. Deu abertura para Darcy, que tocou a língua na dela com cuidado. A mão dele repousou com calma no rosto de Elisabeta, e Darcy a beijou com a calma que não sentia, mas que ela precisava.

Elisabeta entregou-se ao beijo, deixando que Darcy comandasse suas ações. Mas de alguma forma ele sabia, ele sentia, e foi como um carinho, gentil e apaixonado. Encerrou o beijo e beijou a testa de Elisabeta, puxando-a para seu peito e acalmando-a em seu abraço.

O silêncio dominou os dois, enquanto Darcy acariciava com suavidade os cabelos de Elisabeta. Aos poucos ela começava a dominar suas emoções e a nuvem negra dos últimos dias se dissipava. Suas inseguranças haviam dominado sua mente e não ser suficiente para Darcy e Lizzie tornou-se sua certeza.

E com essa certeza veio a perspectiva de deixá-los, de buscar outro caminho, e toda vez que pensava nessa possibilidade, seu coração se quebrava. Era como tentar nadar contra a correnteza de um rio e nunca chegar a margem. Mas então Darcy aparecera com suas palavras mansas e seu toque cuidadoso.

Quando os pingos grossos começaram a cair, os dois permaneceram ali, na mesma posição. A mão dela acariciava a dele, e em seus braços Elisabeta buscava sua paz. Quando ele a sentiu tremer em seus braços, a beijou novamente, aquecendo brevemente seus corpos, antes de afastar-se e levantar.

Desamarrou os cavalos e então ofereceu sua mão à Elisabeta. Desceram a colina com calma, com os animais atrás deles, suas mãos dadas. Bastaram alguns minutos para que chegassem a casa ao pé de onde estavam. Darcy guiou os animais para os estábulos, e Elisabeta sentia que estava em uma experiência fora de seu corpo.

O frio já a dominava, e o cansaço das noites mal dormidas e dias turbulentos a atingia. Darcy a puxou de encontro a seu corpo, rumando para a casa principal ao lado dela. Entrou pela porta dos fundos, e subiu as escadas com Elisabeta a seu lado, inerte e entregue à seu comando.

Chegaram a um quarto grande e arejado, e Elisabeta não pensou duas vezes antes de jogar-se tranquilamente na cama que estava no centro. Ela adormeceu rapidamente, sob o olhar preocupado de Darcy. Com cuidado Darcy tirou parte das roupas molhadas dela, o suficiente para que ela não se sentisse exposta. Secou o que pode de seus cabelos com uma toalha e a cobriu com um cobertor pesado.

Acendeu o aquecedor à lenha e logo a noite invadiu o quarto. Suas roupas começaram a secar aos poucos, e a respiração tranquila de Elisabeta o acalmava. Estava preocupado com ela, mas sentia que havia feito progresso. Era uma questão de tempo, e seus caminhos estavam traçados, não tinha qualquer dúvida.

Porque ela não havia questionado ou percebido, mas Darcy não a levara para uma casa qualquer. O lugar que Elisabeta escolhera para refletir e buscar seus pensamentos era parte da propriedade que seria dela um dia, e estava a apenas alguns metros da casa que ele havia comprado pensando nela. A casa que ele aos poucos mobiliava e organizava.

E agora Elisabeta repousava no quarto que Darcy escolhera para ser o deles, quando a hora chegasse. Agora não tinha mais dúvidas que o destino guiava seus caminhos, e que era preciso paciência e perseverança para vencer qualquer obstáculo. Era questão de tempo.


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