Pandora escrita por Virgo


Capítulo 6
Respeito e Deuses


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Tô dodói, mas voltei!
Rezemos para não passar de 2500 pelo ritmo =D
Ou não, vai que vocês querem capítulos mais longos =X



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Mesmo entre os deuses existem problemas e discordâncias, quase nunca entravam em acordo e seus seguidores sempre tomam os exemplos.

Logo, não era porque tinha aceito a mulher que caminhava ao seu lado como uma deusa a se respeitar que seus irmãos iriam aceitar também. De sua parte ela teria respeito, mas precisava do respeito dos outros dois juízes e de seus seguidores. Era uma escada, tendo o respeito de um líder teria o respeito dos liderados; sua obrigação era conseguir esse respeito nem que fosse pela violência.

— Quem é essa que vem lá? - o tom maldoso era reconhecível de longe.

— É uma bela moça. - o tom jocoso também reconhecia de longe. - Será que é muito querê-la na cama?

A moça, com razão, se afastou um passo dos homens que apareceram por entre as sombras e pararam a sua frente com sorrisos pouco confiáveis. Um de cabelos brancos pela idade que morreu, mas rosto jovem pelo sangue divino que corria nas veias; o outro jovem e de olhos violeta, anunciando para todos a parte elemental de seu sangue. Mas o que realmente chamou a atenção da moça  foram as semelhanças entre o homem de cabelos loiros ao seu lado e os dois recém-chegados.

Os três possuíam algumas semelhanças entre si, o nariz altivo e a boca de sorriso curvilíneo eram os mesmos, por exemplo. Também tinha o jeito de olhar quando estavam sérios e o formato do rosto como um todo. Mas o que podia se esperar de filhos do mesmo pai?

Ela mirou seu acompanhante na espera de que ele dissesse algo, mas sua expressão já dizia tudo. Ele a defenderia apenas se fosse necessário, ela era uma deusa e precisava estabelecer sua autoridade sozinha.

Nunca teve liberdade para responder por si mesma, por essa razão não conseguiu evitar o sorriso.

— Não sou mulher para estar em sua cama. - respondeu com leve sarcasmos. - Procure num prostíbulo, tenho certeza de que o sucesso será maior.

— Adoro mulheres de língua ferina… - provocou o grisalho ainda sorrindo.

— Quem é ela, Radamanthys? - perguntou o outro a mirando de soslaio.

— Pergunte à ela. - respondeu dando de ombros. - Ela obviamente sabe falar.

Olhou para moça de soslaio, podia usar apenas de olhares para ensiná-la a lidar com aquele tipo. Se ela fosse esperta poderia entender as mensagens não ditas, ela precisava impor respeito por ela mesma antes que ele agisse de alguma forma; e para sua sorte, como dito pelo Senhor dos Mortos, a vida a tornou sábia e esperta.

A mulher fincou o tridente no chão ao seu lado, e cruzou os braços com um sorriso torto, demonstrando seu desagrado.

— Você está falando de mim, então está falando comigo. Saiba direcionar melhor seus questionamentos. - tendo algum apoio, podia ser tão dura quanto quisesse. - Reformule sua pergunta e talvez eu lhe responda.

— Está de brincadeira? - volveu claramente indignado. - Sabe quem eu sou?

— O filho maltrapilho de alguém ou algum filósofo de qualidades quase “divinas”. - sua arma eram as palavras, vez ou outra mirava o loiro em busca de aprovações, sabia muito bem que tudo tem um limite. - Eu exijo respeito e você vai me dar o mesmo, querendo ou não.

— Ora sua… - avançou sem nem pensar com o punho fechado sobre a mulher.

Só não esperava que o loiro fosse segurar o seu braço com uma facilidade quase injusta por sua elevada posição e poder, e ele não apenas segurou o seu braço como o torceu e rendeu o homem de joelhos apenas pela forma com que o segurava. Dentre os três ele era o mais forte e os outros dois sabiam muito bem que não era bom insistir quando seus olhos passavam do dourado ouro para o vermelho sangue, brilhantes como os olhos de um predador nas noites de pouca luz.

— Se tentar encostar nela, Aiacos, eu juro que arranco o seu braço. - seu tom era tão sombrio quanto a aura que se projetava sobre o homem de joelhos. - Isso se eu não arrancar a sua cabeça.

— Radamanthys, espera. - o outro tentou intervir pelo moreno. - Aiacos nunca teve muita noção, não exagere. Ele é uma criança perto de nós, não sabe o que está falando.

— Se não soubesse o que fala não seria um juiz. - rebateu ainda em tom ameaçador. - Fale com ela de forma decente. Agora.

Dizer que o outro não sentiu medo frente a fúria do irmão seria muita mentira. Seu lábio inferior tremia apesar de tentar manter a postura dura, estava irritado pela humilhação, mas conhecia os próprios limites e sabia que jamais poderia contra o mais velho.

O jeito era obedecer mesmo a contragosto. Aquela mulher ainda teria um longo caminho a percorrer para conseguir sua fidelidade se ela fosse realmente importante, mas até isso ocorrer ele só ficaria de cabeça baixa porque o irmão estava do lado dela.

— Minha senhora… - chamou com a voz dolorida pelo braço. - Quem és tu?... Porque carrega uma arma infernal?... E porque tem o Juiz Wyvern ao teu lado?...

A moça buscou apenas um olhar antes de responder.

— Pandora. - tomou um pequeno momento de pausa, como se tentasse lembrar de algo ou como se estivesse em dúvida do que falaria a seguir. - Deusa dos Caminhos da Morte, Senhora dos Sofreres, Mãe das Mulheres Mortais e Regente do Reino dos Mortos.

— Mão Direita do Imperador do Submundo, Hades. - completou o homem finalmente soltando o irmão e se afastando para o lado da mulher.

Naquele momento até mesmo o albino se colocou de joelhos frente a mulher, suas intenções com aquilo eram discutíveis, mas a priori ela conseguiu o que precisava, o resto poderia ser galgado com o tempo e alguns leves empurrões por parte do loiro. O homem apenas lhe direcionou um aceno curto, aprovando seu comportamento e firmando mais uma vez o juramento de que iria protegê-la de tudo e todos.

Porém, como dito antes, mesmo entre os deuses existe discórdia. E não era uma certeza que ele pudesse protegê-la do jugo de um deus, ainda mais se fosse um d’Os Três Grandes.

— Você é um mentiroso desgraçado. - o tom de voz furioso já era um costume. - Só podia ser cria de Cronos.

— Não muito diferente de você, irmão. - respondeu o deus dos mortos com um leve sorriso. - Inclusive, você é pior do que eu.

O senhor de todos os deuses estava tão enfurecido que faíscas escapavam de seu corpo e os olhos brilhavam com as cores dos raios, o senhor dos mortos se levantou do banco onde estava e se colocou entre o irmão e sua família, nunca se sabia as loucuras que ele faria naquele estado de fúria. Mas nem mesmo a fúria do senhor dos deuses se equiparava à do senhor dos mortos quando tinha sua privacidade invadida, aquele era seu precioso momento com esposa e filhos e o irmão simplesmente o invadiu. Mais desrespeitoso para com sua pessoa do que isso, seria ele invadir os aposentos reais.

Sombras começaram a escapar de seu corpo ao mesmo passo que as sombras naturais do jardim começaram a aumentar de forma amedrontadora, ele era muito mais sutil em suas demonstrações de poder e por isso o irmão demorou algum tempo para perceber que não apenas estava cercado por soldados, como também a armadura e espada do irmão estavam esperando apenas serem chamadas. Naquela altura, tanto a rainha quanto os príncipes e princesas já tinham sido levados para outro lugar bem mais seguro.

— Está é a minha casa, aqui você não tem poder e nem voz. - disse o irmão mais velho em seu costumeiro tom falsamente brando.

— Sou o Senhor dos Deuses, me deve respeito, Hades. - rebateu controlando sua energia.

— Sou o Senhor da Morte e tudo que a permeia. Você é quem me deve respeito, Zeus, não se esqueça que somos apenas imortais. - retrucou respirando fundo e voltando a se acalmar. - O que quer? E responda civilizadamente, se não for pedir demais.

— Você disse que tinha atacado a cidade de Athena para libertar Pandora, mas você não disse que iria transformá-la em deusa, ainda mais sua regente! - explicou cruzando os braços de forma orgulhosa.

— Pensei que a partir do momento que todos aceitaram a liberdade dela, estava tudo bem oferecer um lugar para a moça ficar. - gesticulava como se essa observação fosse óbvia.

— Você devia ter dito isso enquanto estava no Olimpo! Apenas eu concedo a divindade! - bradou irritado.

Viu os soldados escondidos nas sombras se colocarem em posição de ataque, os olhos faiscando em vermelho sangue e os rosnados baixos e animalescos causavam arrepios na nuca. Eles eram totalmente fiéis ao seu senhor, mais um movimento ou palavra que eles não gostassem e nem mesmo o senhor dos deuses estaria livre de sua ira desmedida.

— Não se exaspere, não vou segurar as espadas deles. - volveu o irmão com um riso baixo. - Podem se retirar, ele sabe se comportar.

Não precisou dizer mais de uma vez, logo mais todos os soldados tinham sumido ou então estavam apenas serem chamados dos cantos em que se camuflaram. Em tese os dois deuses agora estavam sozinhos para que pudessem conversar em paz sobre a situação, o senhor dos mortos, inclusive, voltou a se sentar no banco de antes.

— Ela tem sangue divino. - argumentou olhando o irmão nos olhos. - Athena é a mãe de sua alma e Hephaestus é pai de seu corpo. Ela é uma deusa antes mesmo de nascer, isso nunca dependeu do seu querer.

— Mesmo assim! Ela não devia ser sua regente, seus regentes são seus filhos! E se ela é uma deusa tão digna quanto você julga, deveria residir no Olimpo não aqui entre os Mortos! - o homem era o tipo que queria estar certo, não importando o quão errado ele esteja.

— Meus filhos são crianças, eles não possuem a capacidade necessária para a regência. - conhecia o jogo do irmão e também sabia jogá-lo. - E o que está insinuando? Minha morada não é digna de uma deusa menor? Sua filha, Perséfone, é uma deusa menor e minha rainha e você nunca se preocupou em “tirá-la” daqui. - cruzou os braços e o mirou de maneira mais severa. - Quer levá-la para cama, não é?... Você não vale nada, ao menos tenha pena de Hera…

Estavam sozinhos, não via mal algum em falar dos podres da alma na frente do único deus que tinha o direito de lhe julgar e que ainda era seu irmão mais velho. Ele lhe conhecia melhor do que ninguém e facilmente descobriu suas intenções, não tinha motivos para continuar mentindo.

— Eu não podia fazer nada sem levantar suspeitas. - respondeu soltando um riso. - Já foi difícil convencê-la sobre Ganimedes, imagina sobre mais essa. Acredite, no dia em que a vi, tive receio de entregá-la aos homens. Mas agora que você a tirou do cárcere e lhe deu poderes, não vejo porquê não.

— Você me dá nojo. - o tom de voz do irmão, sempre foi honesto, mas ele nunca se importou muito. - Não vai levá-la apenas porque quer. Vou repetir, essa é minha casa. Minha palavra é lei. Se quiser levá-la, ela tem de querer ir com você.

— Então, para quando podemos marcar a reunião? - perguntou ainda sorrindo.

O senhor dos mortos apenas respirou fundo, não tinha um bom sentimento quanto essa reunião.


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Notas finais do capítulo

Zeus... Você é um cara muito, muito, muito, muito podre...
Até a próxima!



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