Ainda lembro de nós dois.

A batida na porta às oito da noite foi extremamente estranha. Não esperava por ninguém e tinha planos de dormir por horas para não pensar nas coisas que me corroía, não pensar em oitos anos de puro erro.

Era Sasuke na porta, fazendo o meu coração parar. Eu esqueci completamente como se deve lidar em situações em que minhas pernas ficavam bambas e quase encontrei o chão ao tentar me afastar em desespero.

Mas abri a porta vencida pela vontade de olhá-lo nos olhos e matar toda a saudades avassaladora. Com as mão trêmulas, eu cruzeis os braços para não parecer tão nervosa.

A respiração dele estava ofegante e se apoiava no batente da porta a procura de oxigênio. O cabelo, um pouco maior do que da última vez que o vi, se encontrava em uma perfeita bagunça e a barra do terno estava suja de lama.

Ele desatou o nó da gravata, umedeceu os lábios e tentou respirar fundo mais uma vez antes de dizer algo.

— Você não tem vergonha, Sakura? Por Deus, você devia ser presa.

Eu me assustei com a pergunta. Meu cérebro congelou e uma dor aguda se espalhou quando parei para pensar melhor no dia.

Quis chorar ou gritar? Não sabia direito.

Uma das poucas coisas que eu tinha certeza naquele momento era que ele continuava lindo. Na verdade, no meu ponto de vista ele estava mais belo do que nunca. Sasuke Uchiha, definitivamente, era quase um vinho que só melhorava com o tempo.

Desejei beber o licor que ele era, mas meu peito pesava com a ideia de que havia estragado todo o seu futuro. Devia me sentir feliz naquele momento? Estraguei o casamento do amor da minha vida e ele estava bem na minha porta, totalmente sem ar e, aparentemente, havia fugido da cerimônia.

Abri mais a porta para lhe dar passagem e ele entendeu apenas com o olhar que eu lancei. Não teve dificuldade em ir até a minha cozinha, como se fossemos íntimos, e beber toda água gelada que eu tinha na geladeira. Literalmente toda a água.

— Você não devia estar na igreja?

— Você me manda uma carta daquela e espera que eu case como se você fosse um nada? Como se meu coração não desejasse bater junto com o seu?

O quarto copo secou junto com a minha garganta. Não soube o que falar e pude sentir minha voz falhando antes mesmo que eu começasse a pronunciar algo.

— E eu sou algo importante? — abracei meu próprio corpo, tentando espantar o arrepio que subiu a minha espinha.

— Eu corri, sem parar, por 40 minutos. Saí daquela maldita igreja e corri até você com a mais pura certeza que você era a minha escolha certa, sempre foi. E você me pergunta se é algo importante?

— Não devia estar aqui. Céus, você devia estar seguindo a sua vida ao-

— Lado de um novo amor sem pensar no passado pois demos certo no pequeno espaço de tempo que ficamos juntos? — eu congelei por alguns segundos e mordi os lábios sem conseguir encontrar uma resposta para cobrir o que foi lançado em minha cara. — Você não é a única que conversou com Temari no nosso término, Sakura. Conheço essa bosta de discurso de trás pra frente e não quero ouvir na sua voz, obrigado.

Ele não disse mais nada. Fez questão de lavar o copo quando terminou.

Não fui e nem seria capaz de responder, mas senti alívio ao notar que seu dedo estava sem a aliança, provando que ele estava mesmo livre... Céus, pensar nisso era loucura.

Devia me sentir bem ou estava sendo mais egoísta? Estraguei um casamento e não duvidava que, enquanto eu sentia meu peito cheio de alegria, uma noiva abandonada chorava.

Também não era possível negar que havia arrancado Sasuke de um futuro estável com uma boa mulher. Trouxe ele para um maldito redemoinho de confusões e instabilidade.

— Eu não devia ter mandado aquela carta.

— E por que acha isso?

— Porque te arrastei para o pior lugar possível. Sou uma mulher de 28 anos fodida e afogada em problemas. Mandei uma carta por puro capricho sem pensar em consequências. Céus, eu nem sabia que isso ia te atingir deste modo-

— Adoro quando você está nervosa ou empolgada e fala céus igual o C-3PO. Só falta o “oh” na frente, mas sei exatamente de onde tirou essa mania encantadora.

Eu me calei e corei enquanto ele se aproximar com passos curtos e firmes. Por que sorria para mim daquele modo? Por que eu queria sorrir junto? Não podia esquecer que havia acabado de foder com a vida de uma garota que não tinha nenhuma relação com aquela história.

— Você sempre desvia do que é importante, droga — neguei com a cabeça enquanto passava as mãos pelo meu rosto.

— Vou tentar ser focado, pode ser? — soltou o ar pela boca. Os olhos escuros percorrendo todo o ambiente eram a maior prova de que ele estava tentando achar algo para falar sem fugir do foco principal. — Me perdoa. Você pediu desculpas, mas quem vacilou de verdade fui eu.  Não te dei a devida atenção.

— Eu fui egoísta, não notei que você só estava pensando em algo maior.

— Sakura, para de me cortar, essa sua mania é extremamente irritante — sorriu de lado — Eu que tenho que falar agora, não você. Como eu disse, eu não te dei a atenção que você merecia naquela época. Como você disse, eu pensei no futuro e esqueci do presente. Criei aquele penhasco horrível e estraguei tudo.

— Estragamos — Sasuke jogou seu melhor olhar de reprovação divertido e negou com a cabeça, ele estava se rendendo ao fato que eu nunca perderia minha mania de cortá-lo.

— Sakura, acho que você já falou demais através daquela carta — engoli a seco quando ele tocou meu rosto como tanta tranquilidade, como se todo o tempo longe não tivesse acontecido — Quer saber do que eu lembro? Dos S’s gravados na árvore da sua casa. Dos seus olhos me admirando toda vez que eu tentava de explicar alguma coisa e você só concordava, mesmo sem entender. Da gente prometendo que não teríamos mais ninguém em nossos corações se terminássemos.

— Somos péssimos com promessas, não acha? — ri desviando o olhar quando encara-lo começou a virar uma missão impossível.

— É aí que você se engana, Haruno. Ninguém nunca ocupou o meu coração. Ninguém nunca foi capaz de te tirar dos meus pensamentos, mesmo depois de quase dez anos. Sinceramente, ao ler aquela carta eu senti que as coisas não estão tão diferentes para você. E olhando para s seus olhos agora, vejo nitidamente e quanto você quer me beijar da mesma forma que eu quero.

Eu quis chorar, não fui capaz de distinguir se as lágrimas seriam de emoção, nervoso ou tristeza, mas o nó pesado se formou em minha garganta. Dei dois passos para trás na tentativa de mantê-lo longe, mas ele parecia ter seus próprios planos.

— Não temos mais 18 anos para viver em um conto de fadas. Acho que você deve voltar e seguir sua vida, Sasuke.

— Tem razão. Não tenho idade para viver em conto de fadas e é justamente por isso que eu estou aqui tentando te mostrar que eu ainda lembro de nós dois. Você é real, nós fomos reais e nosso sentimento ainda é real. Conto de fadas era todo aquele noivado encenada que eu estava me metendo.

— Sasuke…

— Acha mesmo que vou ser feliz longe de você? Oito anos se passaram e durante todo esse tempo eu só conseguir pensar em tudo que podíamos ter vivido juntos. Só conseguir pensar em como as coisas seriam se estivéssemos juntos hoje.

— Por favor, para com isso. Você está com um casamento marcado e isso é a única coisa real e boa que você tem.

— Real? Por Deus, Sakura! Meu noivado era o mais superficial da história. Fechamos negócio com a empresa do pai dela, juntar a família com os negócios pareceu uma boa ideia. Sinceramente, é mais baixo eu casar com ela por um motivo idiota do que você me mandar uma carta dessas nas vésperas do meu casamento.

— Você sabe que poderia amá-la verdadeiramente se convivesse com ela...

— Oh, e isso funcionou muito bem com você. Você superou tudo muito bem e eu sou apenas uma lembranças distante.

Aqueles três segundos de silêncio pareceram mais longos do que qualquer coisa em minha vida.

— Eu precisei de um carta, algumas lágrimas na sala do bispo e um Naruto chato pra caralho gritando para eu correr até aqui. Precisei de tudo isso apenas para notar o óbvio, notar o que é real e essencial para mim. E o real é que eu não posso, de forma alguma, ser feliz com outra pessoa além de você. Eu me condeno por esperar tanto tempo para tomar uma atitude e posso ver em seus olhos que você sente o mesmo. Não deixe nossa chance passar, já perdemos tempo demais.

Entrei em pânico quando sentir a parede gelada e notei que não havia mais para onde fugir da proximidade dele.

— Sei que sente o mesmo, então pare de negar e fingir que eu não sou o que você quer agora. Te olhando agora, sinto que até nosso término foi algo que só serviu para provar que nosso amor é maior que isso, para mostrar que somos as pessoas certas um para o outro, apenas não era o nosso momento. Oito anos se passaram e eu ainda gosto de você com a mesma intensidade.

Mordi os lábios quando um sorriso escapou junto com uma fina e quente lágrima teimosa.

Nenhuma palavra mais foi pronunciada. Era sempre Sasuke que começava os nossos beijos e eu senti que era a minha vez de tomar uma atitude naquele momento. Era a minha vez de mostrar o que eu estava sentindo.

Tomei os lábios dele da mesma forma que ele fez a quase dez anos atrás, tentando ignorar cada medo e não pensando em meus furos arrependimentos que viram após aquele ato insano. Me entreguei para cada sentimento que estava preso em minha garganta, deixando todo aquele amor guardado sair em forma de lágrimas de euforia.

— Eu senti tanto a sua falta, Sasuke… Cada segundo da minha vida.

— E eu senti o mesmo.

Ver ele chorando, se mostrando tão vulnerável, foi o que eu precisava para ter certeza que eu ainda queria protegê-lo de tudo que existia de ruim no mundo. Era a minha segunda chance de arrumar tudo que bagunçamos.

— Criar novas lembranças a partir de hoje me parece uma boa ideia, não acha? Quero escrever que lembro de tal coisa quando estivermos comemorando nossa boda de prata.

Ri chorando enquanto assentia com a cabeça. Abraçar ele, sentir aquele cheiro único que só era possível sentir nele… Era daquilo que eu queria lembrar quando estivesse com 40 anos. E queria lembrar com ele ao meu lado, sem repetir cada erro idiota já cometido.

Tudo seria diferente.

— Já está pensando nas bodas?

— Eu já estou pensando em tudo, meu amor. Planejando cada pedacinho do nossos futuro que tem tudo para ser brilhante — o sorriso dele diminui um pouco e ele me encarou levemente sério — Eu devia ter vindo muito antes. Devia ter tacado pedra na sua sacada e me declarado. Me perdoe por demorar tanto, Sakura.

— Fala como se eu tivesse sido muito rápida, Sasuke — ele sorriu junto comigo, mas meu sorriso morreu após pensar um pouco. — Céus, e sua noiva, como fica?

— Tenho certeza que ela vai ser mais feliz com alguém que ama ela de verdade e não está preso em uma outra pessoa. Só esquece isso agora e foca no que é importante.

— E o que é importante? — mordi os lábios enquanto acariciava sua nuca e bagunçava seus cabelos. Já me sentia aquela mesma garota apaixonada, como se o tempo não tivesse passo para nós dois.

— Eu e você somos importantes, Sakura. É a única certeza que tenho.

Quando eu assenti sorrindo e ele secou minhas lágrimas sem desviar os olhos do meu, eu soube onde aquilo ia chegar.

Sasuke sempre me beijava doce. Começava com beijos estalados antes de se entregar a intensidade que existia entre nós. Sempre abraçava minha cintura e me trazia para perto, me dando o conforto que eu precisava.

Eu não era mais uma garota virgem quando ele me colocou na cama naquela noite. Ele não era mais um rapaz inexperiente que não sabia como agradar uma mulher. Conhecíamos bem o corpo um do outro com a palma de nossas mãos.

Os oito anos só serviram para que tudo fosse mais mágico naquele nossa primeira vez depois depois de tanto tempo.

Ele ainda me olhava nos olhos como se fosse a única coisa que ele que ele desejava ver.

Ele ainda arrumava meus cabelos para que meu rosto ficasse mais visível.

Ele ainda era extremamente quente e me abraçava carinhoso quando eu ficava por cima.

— Eu amo você, Sasuke.

Fui eu quem disse o que sentia primeiro no nosso recomeço.

E foi Sasuke que me abraçou dizendo que sentia o mesmo com todo o seu coração, acolhendo tudo que sentíamos um pelo outro sem medo. Disposto a começar do zero pelo simples fato de ainda lembrarmos de nós dois.