A sensação dos braços da garota em volta do corpo de Cat Noir fazia com que ele se esquecesse do real motivo de estar ali agora. O coração de ambos estava acelerado. Marinette apertava o gatinho em seus braços em uma tentativa de fazê-lo se sentir melhor. Pelo menos era o que dizia a si mesma. Apesar de tudo ela se importava muito com ele, afinal, eram melhores amigos. Agora que sabia que os sentimentos do herói por Ladybug eram realmente reais a menina sentia um desconforto no peito ao pensar que a conversa dos dois mais cedo parecia uma despedida, não um adeus de verdade, mas de certa forma ela percebeu que o gatinho estava desistindo de sua paixão pela heroína de Paris.

Cat Noir se afastou um pouco da garota e mergulhou seu olhar nos dela. Aquelas duas bolas azuis como o mar o hipnotizaram. Como não havia reparado como ela era linda? Eles foram colegas de sala por tanto tempo e Adrien nunca observou o quanto aquela garota era incrível. Só recentemente ele foi perceber o quanto ela era maravilhosa.

A respiração do loiro estava descompassada enquanto ele colocava uma de suas mãos no rosto da menina e a acariciava levemente com o polegar. Sua outra mão a envolveu pela cintura mantendo seus corpos muito próximos.

A menina ficou um pouco surpresa com a atitude do gatinho, mas não se afastou. Tudo o que conseguia pensar enquanto se perdia naqueles lindos olhos verdes era em como seria mais fácil se ela conseguisse ama-lo. Seu coração ainda era de Adrien, então porque esse frio na barriga agora que estava tão perto de Cat Noir?

O gatinho sem solta-la aproximou seu rosto do dela, as mechas de seu cabelo faziam cócegas nas bochechas da pequena de cabelos azuis. Seus olhos foram até os lábios da menina. Seu estomago parecia estar cheio de borboletas, uma sensação que ele já estava familiarizado em sentir quando estava com Ladybug. Como ele queria beija-la ali agora...

Marinette estava paralisada. Os corpos dos dois colados e por algum motivo que a garota não conseguia entender ela não queria se afastar. Cat Noir esteve tão preocupado com ela mais cedo e vê-lo mal havia a abalado. O gatinho, apesar das piadas, era sempre tão gentil.

— C-cat N-noir...

Ouvi-la gaguejando o seu nome pareceu faze-lo acordar de seu transe. Ele se afastou e virando de costas para ela passou a mão pelos cabelos já bagunçados.

O que diabos ele estava pensando em fazer?

Não podia beija-la como Cat Noir, isso dificultaria as coisas. Estava ali agora para saber como ela estava e descobrir se ela estava brava. Ele queria tanto poder continuar ali a abraçando, mas e se ela começasse a se apaixonar por Cat Noir? Ele queria que ela o amasse, amasse Adrien, e não seu alter ego. O gatinho seria o amigo e o loiro seria o amante. Isso é como as coisas deveriam ser.

A menina sentiu suas bochechas queimando quando Cat Noir se virou para ela novamente. Ele realmente ia beija-la? E ela ia deixar? O que é que Marinette estava fazendo? Os dois eram apenas amigos e seu coração ainda estava uma bagunça, agora mais do que antes. Desviando seu olhar do rosto dele, fitou os próprios pés, em uma tentativa disfarçar que havia sentido algo de diferente com aquela proximidade.

O gatinho suspirou profundamente enquanto tentava se recompor, antes de perguntar como se nada tivesse acontecido:

— Princesa, se eu te perguntar uma coisa você me responde com sinceridade?

— C-claro — Gaguejou ela observando Cat Noir se sentar ao seu lado.

— Quando eu cheguei escutei você falando sobre amar alguém. Então... você vai me contar?

— C-contar o que?

— Princesa, pensei que fossemos amigos de confidencias – ele disse rindo fracamente enquanto olhava para Marinette que deu um leve sorriso – você falava do garoto que me contou aquele dia? O que te fez chorar?

A menina estava com os sentimentos tão bagunçados que era complicado saber de quem ela estava falando. Adrien, Luka, Cat Noir. Todos eles estavam mexendo com o coraçãozinho da pequena, mesmo que ela não quisesse admitir que o gatinho estava ganhando um espacinho em seus sentimentos amorosos também.

— Eu nem sei mais, gatinho. Minha cabeça está tão confusa. Eu conheci um garoto hoje e ele é tão diferente do Adrien – Marinette tampou a boca com as mãos ao perceber que disse o nome do loirinho, suas bochechas queimavam – quer dizer... bem... ele...

Cat Noir ficou tão surpreso quanto ela ao ouvir o próprio nome sair da boca da menina.

— Espera aí! O garoto que você disse que gostava, o que te machucou, sou e... é o Adrien? Adrien Agreste?

Cat Noir estava com os olhos arregalados observando a menina que olhava o chão, suas bochechas tão coradas que a faziam ficar ainda mais linda. O susto em saber que o amor da pequena era ele mesmo fez com que quase revelasse sua identidade, por sorte percebeu e consertou suas palavras antes de dize-las. Marinette se sentiu estranha por dizer ao gatinho quem era o garoto do qual estava apaixonada e mais ainda por perceber que ele sabia quem ele era. Cat Noir colocou a mão no queixo dela o levantando levemente para que ela o olhasse nos olhos.

— Princesa, você está me dizendo que você está apaixonada pelo Adrien Agreste?

— E-eu... b-bem... na verdade... eu gostava dele. Só que decidi que o melhor a se fazer é esquece-lo — disse ela se desvencilhando da mão de Cat Noir ao mesmo tempo que tentava convencer a si mesma de que se afastar de Adrien era o melhor a se fazer.

— Então... v-você não o ama mais?

O gatinho perguntou sentindo uma tristeza profunda tomar conta de seu corpo. Ela o amava e ele havia estragado tudo.

— Bem... eu... não é fácil esquecer o primeiro amor — disse ela se levantando e indo até a sua janela — ainda estou tentando apaga-lo do meu coração.

Cat Noir sentiu um alivio ao ouvir aquelas palavras. Isso significava que ele ainda poderia consertar as coisas, ele ainda poderia reconquista-la.

— Mas porquê esquece-lo?

— Porque estou cansada de sonhar acordada com algo que nunca vai acontecer, estou cansada de amar alguém que não me ama.

— Você não sabe, ele pode sentir o mesmo.

— Não, ele não sente — ela parecia estar convencida disso — Quando fomos tomar sorvete ele me disse que estava apaixonado por uma pessoa e não era por mim. E ele também fica sempre dizendo que somos “apenas amigos”. Ele não gosta de mim, pelo menos não como eu gosto dele.

Naquele momento, ao ouvir aquelas palavras Cat Noir sentiu um aperto profundo em seu peito. Ele nunca imaginou que a menina nutria esse tipo de sentimentos por ele. Será que era por isso que sempre gaguejava quando conversavam? O gatinho já havia percebido que quando ele era Cat Noir ela não tinha problemas com as palavras. Como ele podia ser tão idiota. É claro que ela gostava dele, agora tudo fazia mais sentido. Ele ficou feliz por um segundo até se lembrar que ela acabara de dizer que queria esquece-lo, o que fez seu peito doer.

— Princess...

Ele começou a falar, mas a garota o interrompeu.

— Gatinho, a verdade é que eu não sei mais o que fazer com a minha vida. Estou cansada de amar quem não dá a mínima para mim.

Cat Noir era o melhor amigo de Ladybug, consequentemente era um dos melhores amigos de Marinette, mesmo que ele não soubesse disso. Ela precisava desabafar com alguém, geralmente o papel de ouvinte era de Alya, mas ela não estava ali agora e o gatinho era de confiança. Então, a menina resolveu abrir seu coração mais uma vez para o amigo.

Cat Noir se aproximou da pequena e a envolveu em seus braços antes de falar:

— Eu entendendo como é isso. Sei o que é amar alguém que não te ama, mas, acho que devemos pelo menos tentar.

Ela se lembrou do que ele havia dito a Ladybug antes de lhe dar aquela carta, com certeza aquela era a última tentativa de conquista-la. Se afastando dele ela o encarou enquanto perguntava:

— Você não acha que eu faço o certo em tentar esquece-lo?

— Eu acho que ele não fazia ideia da garota maravilhosa que o ama em segredo. Ele com certeza não sabe o que está perdendo. Não acho que deva esquece-lo. Quem sabe ele não tenha ficado com um pouco de ciúmes desse garoto novo.

— Duvido, ele não dá a mínima para mim.

— Princesa, ele é um idiota se não gostar de você — ele falou enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha de Marinette.

Os dois se olharam por alguns instantes e o coração de ambos acelerou ao mesmo tempo em que seus rostos coraram.

— Você acha mesmo isso?

— Claro, princesa — falou Cat Noir sorrindo — Dê mais uma chance para ele, tente pelo menos mais uma vez dizer como se sente.

Marinette deixou que ele a convencesse, ela daria uma última chance ao seu amor por Adrien e se ele mostrasse que não queria nada com ela, desistiria.

Naquela noite os dois ficaram até tarde conversando sobre todo tipo de coisas. Eles riram com as piadas de Cat Noir, ambos adorando a companhia um do outro. Eles sabiam que a daquele dia seriam amigos para a vida inteira e que estariam sempre ali quando precisassem. O que eles não sabiam, era que o amor estava mais perto do que imaginavam.