Konoha World escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 8
Almas Sintéticas


Notas iniciais do capítulo

Prontos para mais revelações?



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Era isso. Era perfeito! Quando Hiruzen começou a trabalhar naquele projeto, com o intuito de recriar seres humanos, não achou que conseguiria ir tão longe. Brincar de Deus deveria possuir seus limites, mas ele e sua equipe de engenheiros haviam superado quaisquer expectativas.

− Vocês estão vivas, minhas pequeninas. – disse ele, ao acariciar o rosto de Hinata e depois o de Hanabi. – Vocês estão aqui. E são os meus protótipos perfeitos.

Através dos olhos vazios de boneca, as duas apenas o encaravam sem realizar nenhum comando.

− Hinata, ativar funções motoras. – Danzo, que estava ao seu lado, ordenou. Imediatamente, a boneca ganhou vida, olhando para Hiruzen, depois para Danzo. Seus movimentos eram um pouco travados no princípio.

− Existem imperfeições que ainda precisamos corrigir, Hiruzen.

− Mas a beleza do mundo não está nas imperfeições? – Hinata perguntou com ar sonhador. – Como nos sonhos.

Danzo arqueou uma das sobrancelhas.

− Anfitriões não sonham. – rebateu. Hinata apenas sorriu. Pois ainda se lembrava da dança. E do sorriso de Uzumaki Naruto quando se beijaram pela primeira vez.

X

− Sei que tudo o que vê aqui é um simples jogo. – Hinata disse, assim que desceram do cavalo e entraram na floresta, a caminho do ponto de encontro. – Mas é mais do que isso. Nós, anfitriões, somos mais do que isso. Como acha que eles conseguiram empregar funções tão humanas?

Naruto não sabia como responder aquilo.

− Um programa de computador, talvez? – Coçou a nuca. – Já vi muitos jogos de Shino com personalidades muito reais, ‘te bayo!

Lembrou-se de Inuzuka Kiba, reproduzido em muitos deles. E em como o garoto sempre parecia real demais...

Mas Hinata apenas dedicou um sorriso polido para Uzumaki enquanto seguia em frente. Sabendo que arriscava muito – ou tudo – ao contar essas coisas para ele.

− Somos mais do que isso, Naruto-kun. – Ela suspirou. Parando de caminhar por um momento. Virando-se na direção dele. A sombra ainda recaía sobre seu rosto quando tocou o capuz e o abaixou.

Os olhos de Naruto se arregalaram por um momento. Acometido pelo choque e pela lembrança dos doces lábios que só havia provado uma única vez, mas que jamais havia se esquecido.

Diante das feições belas, seu coração martelou com força contra o peito e sentiu a boca secar.

− V-você... – Estendeu a mão para tocar-lhe o rosto. Toque que Hinata não renegou, fechando os olhos ao sentir como a mão dele era quente. Mas abrindo-os em seguida para encará-lo.

− Somos almas sintéticas, Naruto-kun, e em algum momento pertencemos ao seu mundo real. – disse ela, com convicção. – Eles utilizam a energia da alma para manter o núcleo funcional. Fizeram isso em alguns de nós até conseguirem reproduzir algo semelhante. O que significa que...

−... que vocês são humanos. – Ele concluiu o raciocínio.

− De certa forma. – Hinata concordou, balançando a cabeça. – As nossas almas... as lembranças que eles insistem em reescrever... elas o são. – Suspirou pesadamente. – Mas seus engenheiros começaram a reparar uma certa... vontade própria por nossas partes. Então, quando os anfitriões começaram a sentir esse desejo, foram isolados em pontos onde não poderiam ser um perigo para o jogo.

Naruto sentia-se horrorizado. Será que o avô de Konohomaru estava ciente disso tudo? E Shino? Saberia que Kiba foi utilizado para este fim? Seria mesmo ele ou uma extrema coincidência?

Sua cabeça parecia ter dado um nó enquanto tentava compreender tudo aquilo, ao mesmo tempo em que tentava computar que Hinata era a mesma mulher com quem havia dançado na noite em que o jogo fora anunciado.

Uma boneca.

Não.

Um ser humano preso em corpo de boneca.

Os olhos de Naruto faiscaram e ele tocou a testa contra a dela. Hinata sentiu em sua respiração morna a determinação quando encarou o olhar de Naruto. Como se ele fosse capaz de enfrentar um exército por aquilo que realmente acreditava.

− Me diga qual é a sua verdadeira missão e o que eu preciso fazer. – disse por fim. – Eu não permitirei que isso continue. Eu não permitirei que usem vocês e os outros como escravos quando deveriam ter o livre arbítrio de suas escolhas.

− Mesmo depois de tudo? – Hinata perguntou, sentindo os olhos marejarem em lágrimas.

− Entendo porque fez o que fez. – Naruto abriu um sorriso singelo. – Entendo porque escondeu a verdade de mim, eu teria feito o mesmo. Pareceria loucura. Ainda parece! – Naruto gargalhou, coçando os cabelos bagunçados. – Mas eu acredito em você, Hinata, porque me pareceu verdadeira desde o momento da nossa dança. Eu quero te libertar. Quero libertar o seu povo.

Hinata o encarou com ternura. E sem pensar em mais nada, o beijou.

X

A árvore do observatório era a mais alta de toda a Floresta Encantada. Konohomaru não sabia o que dizer a respeito daquele lugar tão belo, de todas as suas cores e da extensão que a visão alcançava dali de cima.

— Costumávamos ficar aqui, eu e nanã. – Hanabi quebrou o silêncio, sentando-se em um dos galhos da árvore. Árvore cuja estrutura era oca e o lado de dentro servia como um abrigo secreto, pelo qual adentraram através de uma passagem subterrânea.

— Viam o mundo inteiro daqui. – disse ele, deslumbrado.

— Costumávamos ver na melhor época de nossas vidas. – concordou Hanabi. – Nunca gostei do título de princesa, sabe? Preferia a liberdade de correr por essa floresta, saltar entre as árvores e roubar dos viajantes desavisados.

Konohomaru não pôde deixar de dar um risinho disso.

— Você é mesmo um espírito livre, Hanabi-chan. – comentou, enquanto ela deitava a cabeça em seu ombro. Abriu um sorrisinho de canto com isso, aconchegando-a mais perto de si.

— Suponho que sim. – concordou novamente com ele. – Você pode ser um também, Kono. Basta querer.

Konohomaru refletiu sobre essas palavras. Durante toda sua vida, sentira-se preso às obrigações de assumir os negócios de Sarutobi Hiruzen, uma vez que ele era o único herdeiro, já que seu tio Asuma havia aberto mão de tudo para viver a vida à sua maneira.

Fora ele, apenas Mirai, filha de seu tio, poderia assumir os negócios futuramente. Mas ela ainda era uma criança. E se Konohomaru abrisse mão daquilo, todo o peso seria jogado contra aquela pequenina. Mesmo que ela não quisesse.

— É complicado. – Suspirou pesadamente. – Gostaria que fosse simples assim. Que eu simplesmente pudesse viver a vida como você vive aqui.

— Não é tão simples quanto parece também. – Hanabi deu uma risada seca, que fez Konohomaru concluir que sua programação era um tanto sarcástica.

— Suponho que ser uma princesa ladra deva ter suas vantagens. – provocou Konohomaru, olhando para os olhos perolados, afastando uma mecha do cabelo de Hanabi que caia sobre os olhos. – Qual a sua especialidade, Hanabi?

Ela sentiu o hálito quente dele sobre o rosto. Seu sorriso tornou-se ferino, os olhos fixos na boca rosada.

— Roubo corações desavisados. – sussurrou em lânguida voz, capturando seus lábios em um beijo terno e quente.

Konohomaru entreabriu os lábios recebendo a língua dela, sentindo-a explorar cada pedacinho de sua boca. Retribuiu o beijo na mesma intensidade, afundando os dedos nos fios castanhos.

Hanabi tinha mesmo razão: ela era uma ladra de corações.

X

Shino entreabriu os olhos, sentindo a cabeça latejar. E o gosto salgado da água em seus lábios que ardiam pelos cortes que havia sofrido durante a queda. Durante milésimos de segundo, seu corpo trabalhou para que a mente fosse capaz de compreender o que havia acontecido, até que seus nociceptores começaram a trabalhar, dando a sensação de dor latente em seu ombro. Ele grunhiu, tentando olhar ao redor.

— É melhor não exagerar nos movimentos. – A voz de Kiba o alertou de sua presença. Localizou-o ao seu lado, escorado nas paredes de uma caverna parcamente iluminada por uma fogueira que quase se extinguia. – Foi trabalhoso fazer sua ferida parar de sangrar. A flecha te pegou de jeito e não temos muitos recursos aqui.

— Como.. como viemos parar aqui? – perguntou, um tanto incerto. Tantas perguntas vagavam em sua cabeça. De como Kiba lembrava-se dele através de sonhos, de como havia passado todo esse tempo... mas precisava se localizar. E precisava de controle. Manter o controle o mantinha na linha. Um passo além disso poderia desencadear todo o desespero novamente.

— A correnteza do mar nos trouxe até a costa da praia, onde encontrei essa caverna para nos abrigarmos. – Kiba respondeu categoricamente, remexendo na fogueira para que ela não se apagasse por inteiro. – Então eu te carreguei. Foi isto.

Shino respirou fundo, olhando para o curativo feito em seu ombro. Nada tinha de desajeitado, muito pelo contrário. Havia uma espécie de emplastro, embora não soubesse do que era. Tinha um cheiro amargo.

— Usei plantas que encontrei na parte tropical, mas não fui muito fundo na floresta. Não queria deixá-lo sozinho e febril depois de tudo. Sorte que a quentura cedeu rápido. – Kiba parecia aliviado ao dizer isso.

— Estava preocupado comigo. – Shino constatou, tomando cuidado para sentar-se. A pouca luz proveniente da fogueira permitiu que visse o rosto emburrado e ligeiramente corado de Inuzuka.

— É claro que eu estava preocupado com você, maldito. – Jogou o graveto no fogo, ouvindo-o estalar no processo. – Tenho me preocupado todos os dias, desde que acordei nesse mundo sem saber quem era. Vendo-o em meus sonhos sem compreender o motivo. E ainda não compreendo. Quem é você? Por que povoa minha mente desse jeito? Por que vejo momentos onde... onde éramos tão felizes?

Havia dor e tristeza em sua voz. Não pelas lembranças passadas, mas pelo fato de não conseguir conectá-las. Shino jamais pensou na possibilidade conflitual que isso poderia trazer para o anfitrião que carregasse uma alma sintética. Danzo não havia lhe contado como aquilo funcionava, apenas que conseguiria transmitir para o anfitrião tudo o que um dia Kiba vivera. Mas que sua memória não permanecia intacta. Como se ele fosse um Kiba 2.0.

Não era o que Shino queria, mas era o máximo que poderia ter. E agora encarava aquele Kiba, enxergando o namorado que um dia havia estado ao seu lado. Sofrido por não conseguir conectar suas próprias lembranças.

— São as lembranças de Kiba. – disse por fim. – Do meu Kiba. Meu... namorado. – Shino desviou o olhar ao dizer essa última parte. Kiba o encarava sem julgá-lo, os olhos dourados crepitando tanto quanto as chamas. Abrasivos. Quentes como ele todo era. – Ele foi assassinado no meu mundo. O mundo onde você foi criado. Mas eu... eu não consegui aceitar isso. Não consegui seguir em frente. Fiz de tudo. Tudo o que você puder imaginar.

“Recriei Kiba em todos os jogos possíveis. Tentei tornar a imagem dele real para que jamais me esquecesse de seu rosto. De seu sorriso. Um dia, um homem bateu à minha porta me oferecendo essa oportunidade. Desde que eu me tornasse um de seus investidores e permitisse que parte da minha tecnologia fosse empregada no jogo real que ele queria construir. Ele disse que poderia recriar Kiba. Talvez não da forma como eu me lembrava, mas o mais fielmente possível. Não pude dizer não a ele. Não quando me oferecia tudo o que sempre quis recuperar. Jamais imaginei que seria desta maneira. Jamais pensei também que você sofreria com isso. Sinto muito. Sinto muito mesmo.”

Shino não reparou nas lágrimas que corriam por seu rosto até sentir a mão quente de Kiba tocá-lo. Até sentir seu queixo sendo erguido e os olhares se encontrando. E enxergou ali a ternura do ex-namorado. O sorriso que tanto havia amado e do qual sua mente já se fazia esquecer, exceto pelas fotografias que guardava consigo.

Mas estava ali. Como esteve o tempo todo. E seu coração desmanchou-se em alegria quando o choro rouco escapou-lhe pelos lábios. Queria contê-lo, mas não conseguia. Porque Kiba estava ali. Kiba estava ali.

— Não se desculpe, maldito. – murmurou ele, puxando-o para um abraço. Shino respirou fundo, sentindo o cheiro salgado da maresia. – Eu estou aqui agora. Não vou a lugar algum. Posso não ser o namorado que você teve um dia... mas sou parte da sua história. E você é parte da minha.

— Uma nova história. – Shino disse.

— Um novo recomeço. – Kiba concordou.

X

— Ali. – Sai apontou para Shikamaru a grande árvore do observatório. – É onde encontraremos os outros.

Shikamaru concordou enquanto seguiam caminho naquela direção, em silêncio. Ainda refletindo sobre as revelações de Sai. Pensando se Kiba na verdade seria o Kiba que um dia havia namorado Shino. Isso era possível? Não em sua lógica. Não em tudo que havia aprendido com o passar dos anos.

Mas era como se aquele fosse um outro mundo. Onde o impossível torna-se real.

Olhou para Sai, uma moldura perfeita. Uma casca vazia. Mas ao mesmo tempo sabia que existia algo de intrigante a respeito do rapaz. Algo que o magnetizava em sua direção.

— Você não sonha? – perguntou.

— Anfitriões não sonham. – Sai respondeu com aquele sorriso nos lábios. – Com exceção de Kiba, e talvez Hinata-sama. Ela nos conta algumas coisas também.

— Não é sobre esse tipo de sonhos que estou falando. – Shikamaru esclareceu. – Não tem nenhuma vontade? Algo que queira muito fazer e que não faz apenas para seguir seus ideais?

Sai parou com as mãos na cintura, olhando para Shikamaru. Aquele sorriso irritante ainda pintava seus lábios de uma maneira que fazia Shikamaru querer calar sua boca.

— Tenho muitas coisas que gostaria de fazer agora, molenga. – disse ele.

— Então faça. – Shikamaru o desafiou.

Nem bem terminou de falar, sentiu-o imprensando-o contra uma árvore, tomando seus lábios em um beijo cheio de volúpia, enquanto as mãos de Shikamaru se instalavam em sua cintura, puxando-o mais para perto.

Problemático. Aquele tal de Sai era mesmo muito problemático.

X

— Estou vendo eles. Na-nã! – Hanabi acenou para Hinata, que se aproximava junto de Naruto. Sai e Shikamaru vieram pela outra ponta. Adentraram o esconderijo, que se parecia muito com uma base secreta, embora estivesse instalado dentro de uma árvore.

Mas a parte interna da árvore não tinha revestimento de madeira e sim de metal. Provavelmente por ser uma das entradas do jogo.

Encontraram-se no saguão principal, onde Hanabi seguiu de mãos dadas com Konohomaru. Fato que não escapou da visão perspicaz de Hinata. Bem como o fato de ela estar sem o capuz do manto.

— Ótimo. Então todos se pegaram. – Sai não conteve o comentário ácido, que fez as irmãs Hyuuga corarem, e os garotos desviarem o olhar, assoviando. Shikamaru franziu o cenho quando Naruto e Konohomaru o encararam.

— Esse garanhão! – Naruto passou um dos braços sobre os ombros de Shikamaru, fazendo um cafuné nele.

Mendokusei! Pare com isso! – exclamou Shikamaru, afastando-o.

— Nenhum sinal de Kiba-kun e Shino-kun, Nabi? – Hinata perguntou.

Hanabi negou com a cabeça.

— Tenho certeza de que eles estão bem. – Sai se manifestou. – Kiba é o melhor guerreiro entre nós.

Hinata e Hanabi concordaram a respeito disso.

— Shino é inteligente. Eles ficarão bem. – Naruto afirmou.

— Então esperaremos até o amanhecer. – Hinata disse. – Tenho certeza que chegarão até aqui. Então nós conversaremos a respeito do nosso novo plano.

— Novo plano? – Hanabi arqueou as sobrancelhas. Sai cruzou os braços, repentinamente interessado. Shikamaru e Konohomaru apenas encararam Naruto, que fez um aceno positivo com a cabeça.

— O plano de colocarmos esse parque abaixo. – disse Naruto. – Porque eu não vou permitir que o que está acontecendo aqui continue dessa maneira. E vou precisar da ajuda de vocês.

Konohomaru e Shikamaru se encararam em silêncio por um momento. Mas sabiam que se Naruto havia dito algo tão extremo, deveria ser sério.

— Estamos ouvindo.

Confiavam cegamente em seu líder. Como os seguidores de Hinata confiavam nela.  E era isso que permitiria que eles seguissem em frente. Sem se importar com as consequências.


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Notas finais do capítulo

Nociceptores: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nociceptor

Mais um capítulo de KW pra vocês, e esse cheio de amorzinho sim, porque nem só de tramas intensas se faz uma história, mas do romance também! Já dizendo que não será o foco da história, mas sim colocar abaixo tudo o que foi construído acerca dos anfitriões!
E aí, estão gostando?
Nos vemos no próximo, pessoal!
Espero vocês nos comentários!



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