Konoha World escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 4
Olhos de Perdição


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês, pessoal!



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Certa vez, eu vi um anjo no topo de uma escadaria. Ainda me lembro de suas feições suaves, do sorriso belo no rosto de porcelana. Me lembro das mãos delicadas de dedos longos. Mãos de pianista, eu tinha certeza.

E me lembro do vestido preto e esvoaçante, longo e de alças finas que realçavam os seios fartos e a cintura delgada.

Me lembro dos cabelos escuros presos em um coque alto e nos brincos de rubi que faziam par com o colar em seu pescoço, vermelhos como seus lábios pintados de batom.

Mas eram os olhos que haviam me prendido. Olhos de tom cristalino, como dois pares de pérolas, quiçá diamante preciosos, que brilhavam de maneira tão intensa. E brilhavam para mim, eu tinha certeza.

Mesmo vendo-a acompanhada de um velho decrépito que segurava seu braço. Era em mim que seus olhos estavam focados.

E ela me sorriu.

Caminhando como se flutuasse, leve como uma andorinha enquanto descia as escadarias.

Soltando-se do homem ao ouvir um murmúrio em seu ouvido e concordando de maneira leviana enquanto ele se afastava.

E então, existíamos apenas nós dois quando a música começou a tocar. O anjo aproximou-se de mim, fazendo uma mesura com a cabeça baixa, segurando as pontas da saia de seu vestido até que o rosto quase tocasse o chão. Sorri, reconhecendo naqueles passos de dança um estilo medieval e agradecendo internamente à minha avó Mito por ter insistido que eu aprendesse tanto sobre dança em sua escola quando mais novo, colocando a mão esquerda para trás e a direita para frente, em uma mesura de resposta.

Esperei que meu anjo se levantasse, minha mão direita apoiando sua cintura enquanto ela tocava suavemente meu ombro com a mão esquerda e entrelaçava nossos dedos das mãos livres antes de começarmos a valsar. Como dois soldadinhos de chumbo, levados pelo ritmo da canção que eu não me lembrava de conhecer, imerso naqueles olhos que tinham cinquenta tons de perdição matizados com a intensidade da paixão que me arrebatara naquele mesmo instante. Quando a música acabou e nos afastamos, rodeados pelo silêncio, eu sabia que aquele era o meu fim e que ela era a minha sina.

X

Naruto entreabriu os olhos sentindo a cabeça latejar. Parecia que tinha engolido um saco de areia, mas quando olhou para o lado, viu que não era o único naquela situação.

Konohomaru tinha uma cueca de corações na cabeça. Shikamaru estava vestindo um collant todo preto com um cartaz no peito dizendo que ele era o homem sombra. E Shino, bem, ele era o Shino. Nada estranho precisava acontecer com ele.

E isso tudo em um ambiente medieval, criado apenas para você. Ou ao menos era esse o slogan da propaganda que haviam visto no panfleto que anunciava a Taverna do Gordo, um dos pontos mais frequentados no Konoha World.

Naruto tentou se levantar da cama onde estava, sentindo um braço que ladeava sua cintura. Vendo então uma mulher nua que o abraçava e parecia ressonar baixinho. Bem, pelo menos havia tirado a sorte grande.

− Oe, bando de preguiçosos! Hora de acordar! – Agarrando um balde d’água que estava ao seu lado na cama, lançou-o na direção dos amigos que estavam adormecidos entre o chão e a cama ao lado. O grito foi famigerado, com xingamentos que variavam de Naruto para sua mãe. – Nada de xingar a dona Kushina, datte bayo!

− Caralho, nii-chan! – Konohomaru limpou a água do rosto. – Isso foi tão... ei, o que é isso na minha cabeça?! Ew!

Ele largou a cueca no chão. Shikamaru chutou-a para longe.

− O que exatamente nós bebemos ontem, Naruto? – Shino questionou, colocando os óculos escuros. Sentindo que seus olhos queimavam como se tivessem jogado ácido neles.

Naruto apenas riu. Pois não fazia a mínima ideia!

X

Mas ainda sentia-se como se tivesse a pior ressaca de sua vida, e tudo ao redor girava. Naruto entreabriu os olhos, encarando os olhos perolados de Hinata. Querendo dizer qualquer coisa, mas sua boca ainda estava seca.

− Aqui. – disse ela, oferecendo-lhe o cantil. – Beba devagar ou vai engasgar.

Naruto queria beber rápido, mas obedeceu. Apoiado em seu colo, sentindo as mãos passearem pelos fios loiros, sorveu cada gole como se fosse um néctar do Nirvana.

Era uma água pura, diferente das garrafinhas caríssimas com as quais estava acostumado. Tinha o gosto de barro que sentia-se nas reservas naturais. Ou ao menos ele achava que deveria ser sentido. Mas ainda era melhor que a cerveja artesanal que Konohomaru tentara criar certa vez com a ajuda de Udon e Moegi, amigos de infância de longa data. Naruto tinha quase certeza que tinha gosto de ranho.

Tentou olhar ao redor, mas tudo o que captava eram borrões. O rosto daquela mulher misteriosa era a única coisa que conseguia focar, mas sem muito sucesso.

− O-onde estamos? – Arriscou perguntar.

− Em segurança. – Hinata limitou-se a responder, deixando que ele se sentasse devagar. Somente naquele momento, Naruto notou que estava de mãos atadas.

− Parece que estou um pouco preso aqui. – Deu um risinho. – É algum tipo de quest secreta?

Hinata entreabriu os lábios para responder, mas quando ia fazê-lo, um dos homens aproximou-se num rompante. Era o selvagem, que vestia pele de lobo sobre os ombros e deixava o peito nu exposto, com uma cicatriz em forma de garras que devia ter sido causada pelo lobo branco cujo qual ele trajava a pele.

− Hinata-sama, Hanabi está te chamando. Disse que é urgente. – disse ele com a voz grossa. Naruto inclinou o rosto para o lado, como se o achasse familiar de alguma forma.

− Certo, diga que estou indo. – Hinata ergueu-se, batendo a poeira do manto esverdeado.

− E-espere! Vai me deixar aqui sem nenhuma resposta? – Naruto questionou. – Não deveria você me liberar a quest agora?

Hinata apenas sorriu-lhe de canto. Que inocente ele era, achando que aquilo tudo fazia parte do jogo!

X

− O que houve, irmã? – Hinata perguntou, vendo Hanabi andar de um lado para o outro um tanto quanto afoita.

− Achei que o sobrenome dele era um tanto familiar. – disse ela. – Isso porque é parente do dono do jogo! Tem noção da magnitude que isto pode tomar?!

O sorriso de Hanabi mal cabia no próprio rosto. Tinham tirado a sorte grande! Pelo menos era o que achava.

− Mas também significa que enviarão reforços logo que sentirem sua falta. – Sai acrescentou, um tanto quanto pensativo.

− Não arriscarão fazer nada enquanto tivermos os quatro sob nosso poder! E talvez... talvez até possamos ganhar a confiança deles! – Hanabi exclamou, os olhos brilhando de maneira ardilosa.

− Que está pensando, irmãzinha? – Hinata resolveu dar-lhe voz. Kiba era uma estátua ao seu lado.

− Não tenho certeza ainda, mas...

− O loiro pensa que isso faz parte do jogo. – Kiba finalmente se manifestou. – Talvez possamos levar eles nessa crença. De que isso tudo é uma quest. Que serem raptados fazia parte disso.

Os olhos de Hanabi faiscaram.

Lá vem, Hinata pensou.

− Podemos fazer melhor que isso. – disse ela. – Podemos fingir tê-los salvo de algo pior. Arquitetar uma história. Deixe isso comigo, nanã!

Sai e Kiba olharam para a líder, esperando seu aval.

− Só não vá fazer nada para machucá-los, Nabi! – Hinata disse em tom sério, mas na verdade confiava em sua irmã de todo coração.

− Você não vai se arrepender de deixar isso comigo, nanã! – Hanabi pulou em seus braços, risonha. Pois tinha o plano perfeito!

X

Shikamaru, Shino, Naruto e Konohomaru foram levados até a sala onde Hanabi e Hinata estavam, sob a escolta de Sai e Kiba. O primeiro não oferecia qualquer perigo visualmente: magro, com o corpo esguio e a pele de alabastro. Mas o outro, de pele trigueira queimada pelo sol, e músculos proeminentes nos braços de abdômen deixava certo receio nos rapazes, que ainda tinham os pulsos amarrados.

A sala para onde foram levados parecia uma espécie de bunker antigo, construído em um período que talvez relembrasse a Primeira Guerra.

Todo o revestimento das paredes parecia ser feito de chumbo, e caixotes de madeira se empilhavam sobre pallets, mantendo seus conteúdos em completo sigilo.

Havia um conjunto de quatro caixotes onde eles foram colocados sentados. Hinata e Hanabi também estavam sentadas sobre acomodações similares. A irmã mais nova vestia-se com uma calça bastante masculina para os padrões dos anfitriões, de tecido parecido com os spandex que Rock Lee, amigo de longa data deles, costumava usar. Porém um pouco mais confortável. E, claro, num tom de marrom que era menos berrante que qualquer coisa que Lee vestisse. Tinha na cintura uma espada, e  usava um colete vinho sem mangas por cima de uma camisa de seda branca com mangas longas que terminavam nas mãos enluvadas de couro. A mulher ao seu lado permanecia um mistério com o rosto coberto pelo capuz do manto.

− Me solta, seu brutamontes! – Konohomaru bradou, fazendo força contra o empurrão de Kiba, até sentir a mão dele repousar pesadamente sobre seu ombro, pressionando um nervo que por pouco não o fez chorar, mas que o colocou sentadinho sobre o banco improvisado. – Quando meu avô ficar sabendo disso, vai te mandar direto pra reciclagem!

− Pare de agir feito um bebê chorão, Konohomaru, datte bayo! – Naruto ralhou. – Não vê que isso tudo faz parte do jogo?! Interprete!

Mas em resposta, Konohomaru apenas bufou. Hanabi, que até então assistia a cena de maneira divertida acompanhada da irmã, estalou a língua no céu da boca, fazendo um barulho que ganhou a atenção de seus convidados.

− Esperamos não ter parecido muito rudes com a nossa interação inicial. – disse ela. – Oras, onde estão meus modos? Soltem eles, garotos!

Sai e Kiba direcionaram um olhar à Hinata, que fez um mero aceno com a cabeça.

Então ela é a cabeça, Naruto pensou. Mas logo sentiu as mãos serem desatadas, quando as garras de Kiba, afiadas feito navalhas, soltaram as cordas que lhe prendiam. E posteriormente aos seus amigos.

Naruto massageou os pulsos doloridos fazendo uma careta, mas se divertindo com o rumo que as coisas tomavam. A verdade é que se o jogo não tivesse algumas pequenas surpresas como aquela, perderia totalmente a graça e propósito!

Afinal, como se sentiriam na Idade Média bebendo Filico direto da garrafinha? Não! A graça era experimentar o novo, o desconhecido. E era isso que Naruto sentia enquanto seu coração pulsava de excitação para ver o rosto por trás daquele manto encapuzado.

− Já era hora. – Konohomaru bufou, massageando os punhos e somente naquele momento dando-se ao trabalho de olhar na direção das irmãs misteriosas. Notando aquela de vestes um tanto masculinizadas para o padrão da época, e que também era a mais desbocada. Suas sobrancelhas se arquearam, a boca formando um ‘O’ ao notar a beleza por trás do sorriso cheio de malícia e más intenções.

O caminho para a perdição, Konohomaru pensou. Pois os olhos pareciam duas joias; pérolas raras que cintilavam como se carregassem consigo os mais intensos mistérios que habitavam as águas profundas do oceano. Os cabelos escuros, de um tom castanho intenso, contrastavam com a pele alva. Mas era a boca pintada de vermelho naquele sorriso de perdição que o ganharam completamente, deixando-o completamente desprovido de qualquer argumento ou palavra que fosse.

− E então, o que querem conosco? – Shikamaru resolveu se pronunciar, visto que Konohomaru agia como um idiota completo e Naruto só tinha olhos para encarar a mulher misteriosa. Shino permanecia calado, sem se mover. Parecendo mais estátua do que gente. Atitude típica do amigo, sobretudo se estivesse tentando analisar uma possível solução para aquele problema.

Mas Hanabi apenas sorriu daquele jeito meio inocente, meio perdição do qual Konohomaru não conseguia tirar os olhos, tendo o maxilar ainda travado na mesma posição como se a irmã Hyuuga fosse a Medusa que o tivesse petrificado naquela forma.

− Primeiro, precisamos nos desculpar pela maneira que os tratamos. Como se fossem bárbaros selvagens, e o único que temos aqui é o Kiba. – Piscou para o rapaz cujo rosto era pintado por marcas triangulares vermelhas e que apenas grunhiu em resposta. – Mas achamos que fossem os Uchihas que vêm do outro lado da fronteira, causando caos e discórdia por onde quer que passem. Eles... – E nesse momento Hanabi baixou os olhos chorosos. - ... vêm tentando nos destruir há anos. Acabando com nossas terras e não apenas por conquistas, mas pelo mero prazer de destruir tudo o que se coloca em seu caminho.

Mas Shikamaru não comeu essa corda.

− Por que nos mantiveram cativos mesmo depois de saberem que não éramos esses tais Uchihas? – questionou.

− Porque, geniozinho, precisávamos ter certeza de que não eram espiões a mando deles. – Sai entrou no jogo, provocando Shikamaru com um de seus sorrisos falsos.

− Feh. – Ele cruzou os braços, tentando parecer imune às provocações de Sai.

− Mas e agora? – Shino finalmente manifestou-se. – Ainda estamos cativos ou estamos livres para ir?

Hanabi arqueou as sobrancelhas ao ver que o rapaz que se vestia com um sobretudo longo e tinha uma besta presa às costas quando os encontraram, era capaz de falar. Pois até então, havia permanecido taciturno e misterioso por trás das lentes escuras de seus óculos.

− O território ainda é muito perigoso, e gostaríamos muito de contar com a ajuda de vocês, nobres cavalheiros, se estiverem dispostos a isso. – Hinata se manifestou, as mãos em concha sobre o peito. – Sei que não começamos da maneira certa aprisionando-os desta maneira. E que fomos levados pelo medo, mas... peço encarecidamente que nos ajudem a chegar ao nosso destino! Se fizermos isso, poderemos destruir juntos esse mal que aflige o nosso reino de Konoha! Pois outrora fomos princesas, mas nos tornamos prisioneiras daquela torre onde nossos amigos bravios eram guardas. Sentimos muito e compreenderemos se quiserem ir embora, mas por favor, nos ajudem!

Hanabi não quis dizer nada, mas ficou surpresa com a dissimulação nas palavras da própria irmã. Até onde Hinata estaria disposta a ir para fugirem dali?

− Vamos ajudar. – Naruto limitou-se a dizer, arrancando exclamações de surpresa de Shikamaru e Konohomaru. Shino, por sua vez, apenas ajeitou os óculos.

− Naruto-nii-chan! – Konohomaru exclamou. – Nem sabemos o que devemos fazer!

− Mas é para isso que estamos aqui, não é? – Naruto ergueu-se, o sorriso voltado para a mulher que se escondida por trás do manto. E estendeu uma das mãos para ela. – Vamos te ajudar, senhorita. É uma promessa.

Algo no peito de Hinata pareceu aquecer-se naquele momento, enquanto encarava aqueles olhos de céu. E ela não sabia dizer se era simplesmente esperança ou algo mais. Pois embora Naruto e seus amigos não soubessem, eles eram a chave para libertar todo seu povo daquela maldição.


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Notas finais do capítulo

Finalmente, mais um capítulo. Esse aqui saiu ainda essa semana porque eu tinha grande parte dele pronto, mas tem sido difícil manter as atualizações em dia porque estou em dois empregos! Sim, mas apenas neste mês. O mês que vem, junho, tudo se normaliza, o que significa que eu vou poder voltar a escrever mais tranquilamente. Até lá, as minhas fics não terão data certa pra postagem e peço desculpas por isso, e para que vocês não desistam de mim! E aí, o que acharam da narrativa do Naruto no início do capítulo? E da trama? Espero a opinião de vocês! Beijinhos!



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