Révélation escrita por Bia


Capítulo 3
Capítulo II - Encontro às Escuras




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— Olha, eu estava pensando e talvez devêssemos fazer outra noite de filmes como a da semana passada… Garota, você está péssima!

Marinette levantou minimamente a cabeça da mesa, apenas suficiente para liberar sua visão em direção à Alya, que acabara de chegar, com sua expressão otimista de sempre, e colocara a bolsa em cima da mesa, ao seu lado, sentando-se logo em seguida.

— Oi, Alya – Marinette respondeu, antes de um longo bocejo. Seus olhos insistiam em fechar, implorando por uns míseros minutos de descanso, ao que Marinette não decidia se cedia ou mantinha-se acordada.

Alya esperou que a garota dissesse pouco mais que um cumprimento, talvez uma explicação do porquê estava tão exausta, principalmente no meio da semana. Mas Marinette lentamente pousou a cabeça novamente na mesa e permaneceu por alguns segundos.

— Hm… Marinette? – Alya insistiu abaixando a cabeça em uma tentativa de enxergar o rosto da amiga.

Antes que pudesse ter outra chance de acorda-la, uma batida estrondosa veio do outro lado da sala, o que fez todos, inclusive Marinette, olharem assustados para a fonte do barulho.

— Como eu disse, é uma relíquia. É praticamente a única cópia existente e o meu pai me deu. – Chloè estava com as mãos espalmadas sobre a capa de um livro grosso, o qual acabara de bater contra a mesa, provocando o estrondo que alarmou toda a turma.

A menina loira olhou de canto para Marinette e, percebendo que a última ainda estava com uma expressão assustada tentando processar o que havia ocorrido, abriu um sorriso diabólico de canto.

Alya prontamente ligou os pontos e entendeu que o objetivo principal de Chloè não era apenas se exibir com uma nova aquisição “valiosa”, e sim provocar Marinette ao ver que ela tomaria o maior susto com qualquer batida alta. Por essa razão ela decidiu que deveria falar algo para defender sua melhor amiga, no entanto, ao abrir a boca, a professora entrou em sala e nada mais pôde ser dito. Todos sentaram-se em seus respectivos lugares e tentaram relevar o alarme anterior.

— Você está bem? – Alya perguntou, não podia simplesmente não falar nada, já que não poderia defender sua amiga, ao menos a confortaria.

— Estou sim – Marinette respondeu aos sussurros para que não atrapalhasse a aula que acabara de se iniciar – Eu passei a noite trabalhando em um projeto.

— Assim como nas últimas duas semanas. – Alya disse em um tom de repreensão – Sinceramente, Marinette, se o seu hobby está fazendo mal a sua saúde, não deveria limita-lo um pouco? Você já passa horas por semana aqui na escola trabalhando em seus desenhos e peças de roupas, não acha que virar noites fazendo isso é um pouco demais?

— E é claro que a senhorita Césaire adoraria compartilhar conosco sua pesquisa. – A professora Bustier aguardou por uma resposta enquanto a turma se virava para Alya, esperando uma resposta – A pesquisa que foi passada na última aula, Alya. Tenho certeza de que você nos surpreenderá com algo curioso, como sempre!

Antes de Alya começar a apresentar sua pesquisa, que tinha sido sim surpreendente, alguém bateu na porta e a abriu.

— Com licença, professora. Será que eu ainda poderia entrar? – Adrien sorriu enquanto perguntava.

— Mas é claro, senhor Agreste, junte-se a nós! Alya estava pronta para começar sua apresentação.

— Na verdade, professora – Chloè interrompeu –, o que quer que ela tenha trazido para mostrar não deve ser nada interessante, muito menos comparado ao livro que eu obtive com muito esforço…

— Ela deve ter mencionado isso pro mordomo dela e ele sim teve muito esforço para encontrar. – alguém no fundo da sala disse, trazendo uma série de risadas abafadas.

A senhorita Bustier interviu:

— Alya, você se importa em ceder a sua vez para a senhorita Bourgeois?

— Não, professora. – Alya respondeu sentindo-se um tanto contrariada, mas não seria mesquinha como Chloè ao ponto de gerar uma confusão por ordem de apresentação.

Ao ouvir que a vez seria sua, como ela queria, Chloè deu um sorriso de superioridade e prosseguiu.

— Como eu dizia antes do senhor Nathaniel Ninguém interromper, eu consegui esse raro exemplar com muito esforço e fiz questão de trazer algo tão interessante para a minha apresentação. E agora que não está faltando mais ninguém importante, eu posso finalmente satisfazer a curiosidade de vocês. – Chloè caminhou para a frente da sala.

Apesar de estar ouvindo cada palavra, Marinette não conseguia descobrir o sentido delas nem qual a ideia que elas juntas formavam. Apenas lutava para se manter acordada e aparentar minimamente atenta, o que estava sendo muito difícil considerando em quem deveria prestar atenção.

A verdade era que Marinette realmente passara a noite costurando, mas seu principal motivo era desviar os pensamentos das preocupações que insistiam em reaparecer na sua mente. Ela precisava se distrair, e fazer algo que tanto gostava era sua melhor opção. Fazia isso até adormecer todas as noites há semanas, o problema era que nos últimos dias, realmente custara para o sono vir. Mesmo quando acabava de chegar cansada, tarde da noite, de algum ataque de alguém que foi akumatizado, não conseguia pegar no sono imediatamente, passava pelo menos meia hora costurando ou desenhando alguma coisa. Ela precisava desesperadamente de uma boa noite de sono. E foi o que tentou ter naquela noite.

Ao chegar em casa depois de ter passado a tarde no colégio trabalhando em seus projetos, e depois de jantar com os seus pais, subiu para o seu quarto e se convenceu de que só sairia dali quando fosse dormir. Deitou em sua cama e fechou os olhos. Passaram-se dez, quinze, vinte minutos e nada. Mas ela não desistiria, uma hora iria conseguir.

Após mais de uma hora ela se levantou, se não conseguiria dormir, precisava utilizar seu tempo para fazer alguma coisa. Ela passou pela porta acima de sua cama que dava para a cobertura, observar o céu, talvez. Quando olhou para as ruas viu que havia pessoas correndo, todas para a mesma direção, todas corriam da mesma coisa. Ela olhou na direção oposta a qual as pessoas corriam, vinha água, muita água. No mesmo momento transformou-se em Ladybug, precisava ver o que estava acontecendo, precisava salvar aquelas pessoas, tirá-las dali. Jogou seu ioiô para longe, mas antes que pudesse puxá-lo para ser puxada até onde ele havia se prendido ouviu uma voz familiar atrás de si.

— Marinette? – Chat estava de cócoras com os joelhos próximos ao peito, seu bastão apoiado no chão ajudava-o a se manter em equilíbrio.

Ladybug enrubesceu fortemente, parte da vermelhidão sendo escondida pela máscara.

— Chat? – Ela parou por uns momentos – Não é o que você está pensando...

— Não é o que eu estou pensando? Esse tempo todo... Sempre foi você? Mas...

Ela esperou que ele terminasse, estava paralisada, não diria alguma coisa mesmo que soubesse o que dizer, sua garganta não deixava.

— Mas você é ridiculamente desastrada. Não tem a mínima possibilidade de...

Houveram mais gritos.

— Bem – Chat prosseguiu depois de suspirar pesadamente, não havia tempo a perder – Deixe que eu cuido dessa sozinho, quando você vir um akuma, a sua única função vai ser desakumatizá-lo, entendeu? Não tem como você estragar tudo se for só isso. Não tem. – ele repetiu a última parte mais para si mesmo, como em uma tentativa de se convencer disso.

Ele saiu atrás de qualquer que fosse o problema. Apesar de magoada e sem conseguir expressar o que sentia, Ladybug foi atrás dele, não é porque ela era Marinette que todo o trabalho que ela teve até aquele momento seria simplesmente anulado, não ficaria assim.

Em um dos telhados pelos quais percorria, encontrou Master Fu.

— Marinette. Eu preciso do seu Miraculous de volta.

Marinette acordou assustada. Ela conseguira dormir no final das contas, mas não do jeito que esperava. Ela precisava de ar fresco, estava se sentindo claustrofóbica e extremamente incomodada com aquele ambiente, sentia-se suada como se realmente houvesse saído correndo atrás de um akuma, mas sem a roupa da Ladybug.

Sentou-se em uma cadeira na cobertura, estava frio, mas aquilo ajudaria a dissipar o calor que sentia mais rápido. Respirou fundo algumas vezes e tentou tranquilizar os músculos que percebera que estava tenso.

— Marinette – A voz de Tikki soou, ela quase esquecera de que ela estava ali – Está tudo bem?

— Foi só um pesadelo, Tikki. Vai ficar tudo bem.

Nesse momento ela viu uma estranha movimentação em um telhado distante. Chat Noir. O que o gatinho estava fazendo acordado em uma hora daquelas? Isso era o que ela iria descobrir. Será que havia um ataque akuma ao qual ela estava perdendo? Talvez seu sonho não tivesse sido inteiramente só um sonho, afinal.

— Tikki, transformar!

Ao tempo que voltou a procurar Chat Noir pelos telhados, ele já havia sumido de vista. Mas não deveria estar muito longe. Ela andou uns poucos quarteirões até que o avistou de longe pulando de um telhado para o outro. Alcançou quando ele estava prestes a pular novamente para outro telhado.

— O gatinho não consegue dormir?

Chat sobressaltou-se levemente, estava prestes a pular para seu quarto pela janela aberta e se destransformar, já havia andado por Paris o bastante naquela noite. De fato sentia falta de sua lady, mas o que poderia fazer se não sabia sua verdadeira identidade e ir atrás dela quando desejasse?

Ele virou para trás e deu de cara com uma Ladybug sorrindo levemente, sentada em uma parte mais elevada na beira do telhado. Linda, como sempre. Ela levantou e se aproximou dele, sentando-se na borda do telhado em que ele estava. O menino sentou-se ao lado dela, mas não a olhou. Pensou no flagra que estava prestes a ser pego, se ela tivesse demorado dois segundos a mais ou se não tivesse dito nada, certamente saberia sua verdadeira identidade, não que fosse de todo o ruim, em seu pensamento, de fato já seria algum começo, poderiam ficar mais íntimos, se conhecerem melhor. Mas Ladybug não concordava com isso, até mesmo uma parte sua não concordava com isso.

— O que faz aqui? – Chat perguntou suavemente, ainda sem olhá-la.

— O mesmo que você, acho.

— Insônia?

— E pesadelos. – Ladybug completou.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Você quer falar sobre? – Chat perguntou a olhando pelo canto do olho. Ladybug respirou fundo.

— Eu não sei se você entenderia. – O olhar dela era distante, triste, sua mente estava presa em seus medos, mesmo estando como Ladybug.

— Você pode tentar... – ele incentivou, fazendo com que ela forçasse um sorriso fraco.

— Já... Já se sentiu como... Como se não fosse bom o suficiente?

Ouvir aquilo na voz dela o deixou completamente desconcertado. Nunca, em toda a sua vida, imaginaria Ladybug insegura, principalmente sobre em não ser boa o suficiente. Ela era a heroína de Paris, é claro que ela era boa o suficiente, mais do que isso até! Não queria perguntar para que ela aprofundasse a pergunta com receio de ela entender como se ele não tivesse a mínima noção de como era isso. Afinal, é claro que ele tinha! Constantemente precisava ficar se aprimorando em tudo o que fazia, em uma tentativa desesperada de receber o amor do pai, porque ser ele mesmo, sem precisar ser o melhor em nada, parecia não ser o suficiente. Na verdade, ser o melhor em várias coisas ainda parecia não ser o suficiente. Mas mesmo assim ele se contentava com o que já tinha, procurava apenas não se preocupar tanto com isso, gostava de pensar que isso não era culpa dele, que a ausência de seu pai não era culpa dele, acreditava cegamente nisso algumas vezes. Ele era bom em convencer as pessoas, vez ou outra até a si próprio.

— Já sim...

— E como você lida com isso?

— Bom... Eu tento me convencer de que não é real. Hora ou outra acaba dando certo por um tempinho. É uma coisa pra se trabalhar a longo prazo.

Ladybug permaneceu em silêncio, Chat não sabia se havia dito a coisa certa, ficou receoso por um instante.

— Obrigada – ela sorriu, ainda sem olhá-lo.

— Ao seu dispor, my lady.

Ele queria abraça-la, mas não faria nenhum movimento brusco, não por enquanto. Ele já sabia se controlar, constantemente queria tocá-la, isso não significava que iria invadir o espaço dela.

— Por que você está acordado? – foi a vez dela perguntar, finalmente olhando para ele. Ele a olhou de volta.

A luz vinha apenas da iluminação pública da cidade e da lua, o que deixava parte dos seus rostos meio azulada, pela sombra.

— Andar faz eu me sentir melhor.

— Melhor sobre o que? – ela insistiu.

— Se eu contar mais, pode ser que seja uma pista sobre a minha verdadeira identidade – ele disse sem sarcasmo, sem brincadeiras, apenas sua voz sincera e suave falando abertamente com ela, que entendeu a seriedade daquilo – É isso o que você quer? – ele completou, não foi uma pergunta retórica, no fundo ele queria que ela respondesse sim.

— Não – a palavra saiu como um suspiro. Ela já não olhava mais para ele.

Chat ficou um pouco decepcionado com a resposta. Ele virou o rosto novamente para frente, para a sua casa. Ninguém estava sentindo a sua falta ali, será que na casa de Ladybug alguém sentia a dela, se estivessem acordados?

—Você está com sono? – Ladybug perguntou, recebendo um balanço de cabeça em sentido negativo como resposta – Eu também não. – ela completou.

Passaram mais algum tempo em silêncio, ora observando as estrelas, ora a parte da cidade que dava para ver dali.

— A gente deveria fazer isso mais vezes – Chat Noir começou, sem saber qual seria a reação dela. Mas Ladybug não respondeu – Você sabe... Conversar em um momento que não seja salvando a cidade... – Novamente sem resposta. Ele suspirou baixinho de frustração, não foi mesmo uma boa ideia.

— Eu gostaria muito... Mas não podemos correr o risco de acabar nos revelando... – E então ela percebeu o que estava dizendo. Se estava recusando se encontrar outras vezes com ele para que não acabasse revelando suas verdadeiras identidades, então também não deveria estar ali naquele momento. – Eu sinto muito, Chat. Eu preciso ir. Eu gostei muito de conversar com você, mas não podemos fazer isso, me desculpa. – Ela saiu antes que ele tivesse a chance de falar mais nada.

Mesmo que houvesse recusado a proposta dele, ela gostara da conversa, gostava de falar com ele. Não eram apenas parceiros, eram amigos, ele só queria saber o quão amigos. Contentou-se em ela gostar de conversar com ele, aquilo era o bastante, ao menos por ora. Sorriu para o nada e, dessa vez olhando ao redor antes, pulou para dentro de seu quarto, onde finalmente se destransformou.

Se não fosse o risco de acabarem se revelando, eles poderiam se encontrar mais e conversar mais. Talvez houvesse um jeito para que isso acontecesse. E se houver, ele acharia.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente! sorry pela demora em postar e bem-vindos, novos leitores!
Espero que vocês possam me perdoar, as coisas vêm sido bem corridas, mas eu espero poder postar o próximo capítulo em breve!
Adoraria saber as opiniões de vocês e suas especulações para o proximo capítulo!
Vejo vocês em breve!



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